Sunday, January 06, 2008

Hola! Saudações de ano novo do Louco! ^^

Sim, pra o primeiro... e provavelmente último... post do ano, vem aqui seu velho amigo Louco, terminar enfim com a história da Christie.

Sabem, eu tive um delírio meio estranho antes do post anterior... Uma coisa meio idiota, mas sbem como são as idéias, vêm de lugar nenhum, sem ser convidadas, nem escolher a forma. Lá vai, é só que eu não tive como não lembrar do falecido amigo Akira, que tentou umas três ou quatro vezes ler a Christie, e sempre tinha que começar de novo. Mas acho que ele nunca chegou ao ponto dahistória onde a Rainha tirava a tiara.

E me ocorreu uma idéia maluca; e se, pra os mortos, o ano ficasse se repetindo como naquele filme com o Bill Murray, 'Dia da Marmota' (acho que o verdadeiro nome em português era 'Feitiço do Tempo', mas não lembro direito), onde vc viveria o mesmo período indefinidamente até amadurecer pra seguir adiante?

Não, não quis dizer nada, foi só uma idéia maluca que veio, como eu disse. Cheguei a me sentir culpado por n ão colocar todo o final no ano passado, pra falar a verdade, pois por um momento a idéia maluca foi nítida como são aqueles sonhos (e pesadelos) que se tem, sabe? Parecia plausível demais pra não ser verdade.

Mas decidi pelo contrário, no fim. Birutice da minha cabeça, só. E se não for... *dando de ombros* ainda só vale pra quem não amadureceu o bastante, não é? ^^

Onde quer que esteja, amigo Akira, tá aqui o final da Christie. Espero que seja legal o bastante pra vc e todos os que tiveram a paciência de seguir até aqui, e que vocês tenham curtido ler tanto quanto eu curti escrever ^^

Adiante com novos projetos! As idéias, loucas ou não, sempre chegam. E pretendo colocá-las em páginas até chegar à minha própria última linha.

Um fortíssimo amplexo, muito agradecido, do Louco.

(...)


Saudações, amigos e irmãos de caminhada. Quanto tempo faz? Quanto tempo fará quando for necessário que leiam? Posso apenas conjeturar, e esperar que estejam todos bem.


Se estiverem lendo esta carta, terei enfim rendido meu encargo e ido ao encontro de Nosso Senhor em pessoa, e a essa altura eu certamente estarei sendo parabenizado pelos meus feitos, bem como repreendido pelas minhas faltas e pelas coisas que deixei por fazer. Só o que posso desejar para tal situação é que Ele, ao menos, me conceda o direito de beber algo enquanto repreendido; como devem saber, recriminações sempre soam piores a ouvidos sóbrios."


Zero, Maddock e também Melissa riram neste trecho, antes que Zero prosseguisse.


Sei que vocês terão muitos pensamentos em suas mentes quando esta hora chegar, e a única coisa que me ocorre dizer é que sigam adiante, sempre fiéis àquilo em que acreditam. Assim, quando chegar o último momento e tiverem uma oportunidade de olhar para trás e perceberem o que fizeram, terão poucos motivos para se recriminarem.

Quanto à minha partida... Caro Maddock, espero que tenha trazido algo para que todos bebam. Não à minha memória, necessariamente, mas esses momentos também são mais facilmente vividos ao sabor de um bom vinho. E, Zero, se veio até mim em outra daquelas suas máquinas, seja moto ou automóvel, espero sinceramente que se lembre o quanto é mais difícil dirigir sem toda a sua lucidez, e abstenha-se de beber. Acredite, eu vou compreender. E lembrem-se, ‘Anjos Nunca Desaparecem’. ‘Eu tomarei conta de vocês’.”


Todos se entreolharam, lembrando-se com pesar da reunião em torno da Távola Redonda, e de quando Maddock ‘devolvera’ a música de Seu Dirceu a Zero.


Não tenho certeza se Sari poderá comparecer, dada a sua escolha de caminhos. Caso ela esteja entre vocês, talvez esteja surpresa, tanto quanto vocês. Em caso contrário, explico a vocês para que transmitam a ela, se um dia a reencontrarem: sua maldição foi removida por mim. Um último pedido, quando soube que meu momento chegara.

Pensei muito no que você dissera, Zero, e parte de minha peregrinação seguinte às nossas viagens foi voltada ao propósito de encontrar um meio de reverter a maldição de nossa companheira. Pretendo retornar á Cidade Sucata para contar a você, a Melissa e também a Christabel caso eu tenha sucesso, mas é necessário dizer, não parece haver forma neste mundo para levar adiante tal mudança.

Se minha caminhada terminar antes de tal descoberta, selei uma Última Vontade neste corpo, e Nosso Senhor já concordou. Contanto que eu me mantenha firme em meu caminho, imperfeito, mas buscando cumprir meu papel, a pureza do espírito de Sari decidirá por ela, e fará com que seu corpo volte à sua humanidade original, se ainda for de seu desejo. Meu único pesar é não poder estar entre vocês, para dar pessoalmente meus parabéns a ela, mas que assim seja. Simplesmente terei que aguardar um pouco mais.

Até adiante, caros amigos. Mesmo que não me notem, continuarei a zelar por todos, até o dia em que Nosso Senhor decida que nos reunamos outra vez. E muito obrigado por terem vindo.


Sinceramente, Laírton Diógenes”


... e todos beberam à memória do amigo, e passaram o resto do dia conversando e imaginando como ficou Sari, livre da maldição. Christabel, é claro, foi quem deu voz a uma preocupação que acho que todos tiveram, se o milagre teria acontecido num momento ruim para Sari – em meio a um combate, por exemplo.

Hah, não, ela não mudou tanto assim, mesmo depois de ela e Zero finalmente terem se unido. Como eu já disse, ela abandonou Melk e seguiu de volta para a Cidade Sucata com Zero. Primeiro, porque todos os viajantes queriam render uma última homenagem ao Seu Dirceu agora que a coisa toda tinha terminado. Segundo, porque Beatriz... digo, Freya, ainda tinha que descobrir o que acontecera aos companheiros Dragões, e contar a eles onde estivera e o que estivera fazendo. E terceiro... A Rainha queria um lugar tranqüilo onde ficar, agora que deixara a fortaleza para trás, e se a vida com Zero não era exatamente ‘tranqüila’, bem...


O nome da tribo não era compreensível em nenhum idioma escrito ou falado dos humanos, e embora tivessem diferentes nomes dependendo de onde eram vistos, uma aproximação de seu nome significaria algo como ‘Aqueles que Gritam’, de aparência basicamente humanóide mas de rostos parecendo desfigurados, esticados de forma horrível como se fossem máscaras de borracha. Avançavam depressa, deslizando sobre as planícies e se aproximando rápidos como o vento.

As histórias os haviam alcançado. A poderosa arquimaga humana derrotara o grande terror do passado, e embora a maior parte dos outros perseguidores tivesse desistido dela, eles ainda a consideravam um prêmio promissor demais para abandoná-la tão facilmente. Havia os que acreditavam que Christabel desistira de sua posição na guarda de Além da Fronteira por não ter mais os fabulosos poderes, exauridos por completo ao derrotar o Exilado. Uns e outros, porém, acreditavam que se ela fora capaz de derrotar e destruir sozinha a quem todos tinham se unido apenas para expulsar do mundo num passado distante, quando eram mais poderosos, buscar adquirir sua força seria suicídio básico.

Mas isso não valia para ‘Aqueles que Gritam’, nenhuma das duas hipóteses parecia plausível, e sim uma combinação de ambas. Talvez Christabel fosse mesmo poderosa demais antes da batalha, mas era inviável que uma mera humana tivesse sustentado tamanho poder depois de destruir o Exilado. Ela provavelmente se cansara tanto que seu poder se reduzira, mas ainda estava lá. Já acontecera uma vez. E apenas tolos desistiriam de tal prêmio sem certificar-se...

E em meio à sua investida, toda a hoste atacante deteve-se de súbito, congelados ao mesmo tempo no lugar em que estavam, enquanto seus comandantes sentiam-se como os maiores tolos do mundo. Pior ainda, tolos mortos. A atenção de Christabel voltada para eles, mesmo vindo de um ponto distante, era uma sensação opressora sobre todos, o olhar dela parecia pesar e queimar ao mesmo tempo, e por um momento os pretensos agressores sentiram que morreriam ali, sem sequer a chance de se aproximar dela.

Mas Christabel estava de bom humor. A mensagem já fora dada; um passo a mais, um segundo a mais de hesitação em partir, e ela os mataria ali onde estavam. Se quisessem partir, porém, e espalhar aos quatro ventos de que ela não teria tanta misericórdia do próximo infeliz que se aproximasse dela ou de sua família, Christabel excepcionalmente lhes daria essa oportunidade.

Um sorriso leve e divertido tocou o canto dos lábios de Christabel ao sentir a debandada desordenada que seu aviso causara. Um mero aviso ao invés de incinerá-los onde estavam ou ir atacá-los pessoalmente... Até pouco tempo atrás, não desperdiçaria uma oportunidade tão boa para treinar. Devia estar mesmo se deixando influenciar por Zero.

_ Ah, você tá aí! Anda, Christie, você prometeu!

Ela voltou-se, agora parecendo assustada. Uma horda de inimigos era algo que ela podia enfrentar sem sequer mudar a expressão do rosto, mas aquilo...!

_ Não lembro de ter prometido nada! – ela protestou, as faces tremendamente coradas, enquanto Zero a puxava pelo braço – Nada além de te dar um chute!

_ É... mas essa você já pagou – ele sorriu e piscou – E foi naquela noite no Cemitério do Mad, quando a gente tava no túnel do Velocípede. A gente tava falando sobre a viagem, eu mencionei o quanto tinha gostado de te ensinar a valsa e...

_ Eu me lembro, agora fique quieto! – o rosto dela ficou ainda mais vermelho, sem poder crer que ele se recordava com tantos detalhes – Está me constrangendo...!

_ Desculpa – ele parou de rebocá-la, enfim, e olhou sério em seus olhos – É só que, da última vez, eu não pude te trazer direito pra dançar, Christie, porque a gente não queria arriscar. Mas, lembra, isso me faz pensar nos meus pais, e eu ia achar muito legal se você aceitasse ser meu par nas três valsas da Praça de Tria. Mas... se você não quiser mesmo, eu entendo... Você nunca gostou muito de multidões, né...?

A decepção dele era patente em seu rosto, e seria mesmo se ela não pudesse mais sentir as emoções das pessoas à sua volta. Era como se uma luz tivesse sido apagada em Zero. Ele não a forçaria a aquilo, mas dançar sem a preocupação de ocultá-la devia ter ficado na mente dele desde sua visita anterior a Tria, um ano antes. E a resposta dela foi categórica.

_ Não, não quero.

Mas sua mão tocou o rosto dele e o fez olhar para ela.

_ Não quero ir até a praça. Não poderíamos... dançar naquele corredor de novo? Só nós dois, como da última vez? É assim que... Q-que eu imaginei que seria...

E o sorriso voltou ao rosto dele, agora mais gentil, e ele inclinou-se para beijar sua fronte. Era claro, deveria ter imaginado; um ano ou mil vivendo entre os Escavadores não mudariam Christabel tanto assim. Ela podia estar um pouco mais extrovertida, e podia ser romântica, mas não as duas coisas ao mesmo tempo. Ainda não, pelo menos. E ele piscou:

_ Bom... Acho que eu vou ter que convencer aquele tiozinho a alugar o andar inteiro pra nós, só pra garantir, então.

_ Não vai ser preciso...

_ Nah, vai sim – ele sorriu mais abertamente, puxando-a para si e pondo-a no colo – Não vou querer que ninguém interrompa a gente. Anda, vem comigo! Vamos ter que correr pra chegar na estalagem a tempo de dançar as três, então.

_ M-muito bem, mas... pode me colocar no chão! Eu posso andar sozinha...!

_ Claro que pode, Christie – ele sorriu carinhosamente para ela, correndo agora para a estalagem e imaginando que chegariam em cima da hora – Eu é que não posso perder essa chance de te pegar no colo... Cê fica tão bonitinha com vergonha...!

Ainda que achasse algo para dizer, Christabel não seria capaz de encontrar a própria voz.


... mas basicamente, foi assim que tudo terminou.


_ Mas pera um pouquinho, moço – interrompeu o filho de um dos vizinhos, que fazia o mecânico lembrar-se de um velho desafeto, Vander – Isso aí não pode ter sido de verdade, pode? Como é que você sabe de tudo isso?

_ Ô Rogério, tá querendo dizer que meu pai é um mentiroso, é?

Ele sorriu ao ver o filho mais velho, Leandro, ficar de pé. O menino tinha a sua energia e a severidade da mãe; ele ainda estava tentando decidir se era uma boa mistura. E os outros três filhos se puseram de pé para apoiar o irmão.

_ Você não precisava ter vindo, se era pra ficar colocando gosto ruim! – Vanessa, a menina mais velha, indignou-se. Caio e Luisa, os dois caçulas, também se manifestaram contra o outro e o mecânico abriu a boca para encerrar a discussão quando uma voz baixa veio de algum lugar atrás de si.

_ Já chega de histórias por hoje. Todos para a cama.

Ele sorriu ainda mais amplamente, voltando-se para ver a fisionomia severa de sua esposa e outra vez admirando-se da capacidade dela de expressar tudo o que tinha em mente com o mínimo possível de palavras. Se a velha teoria do psicólogo da Cidade Avançada, Dr. Edmundo, sobre conservação de energia mental por meio do relaxamento e silêncio fosse verdadeira, ela viveria duzentos anos a mais do que ele, no mínimo. Os filhos dos vizinhos nem pestanejaram antes de se retirar, mas seus próprios filhos, mais acostumados, ainda esboçaram uma tímida resistência:

_ Aaaah, mãe, mas ainda tá cedo! – Luísa, a caçula, protestou.

_ A gente ainda não tá com sono, e eu queria ouvir outra história do Tio Mad! – Caio apoiou a irmã, segurando nas mãos dos dois mais velhos, pedindo mais apoio. E eles certamente o fariam, se os olhos cinzentos da mãe não tivessem baixado sobre o quarteto, severos e luminosos enquanto ela quase parecia surpresa de ouvir alguma réplica dos próprios filhos.

_ Achei que tinha dito para irem para a cama...!

O contador de histórias sorriu ao ver a pressa dos filhos em correrem para dentro. Ela não perdia a majestade, pouco importando qual fosse o seu reino. A mãe ficou onde estava até o som de seus passos desaparecer dentro da casa, e pouco depois a porta do quarto fechou-se com um baque. Ele ainda tinha seu sorriso divertido e um ligeiro ar de reprovação no rosto quando sua esposa voltou-se, caminhando com a graça que sempre tivera em sua direção.

_ Um pouquinho de gentileza ia bem, sabe; dizem que é a mãe que a maioria dos filhos vê como a boazinha do casal.

_ Crianças precisam de disciplina, desde pequenos, ou um dia nos colocam para fora de casa – ela retrucou sem cerimônia, sentando-se ao lado do marido e também olhando para o horizonte. O sol se pusera havia muito, mas as nuvens esparsas sopradas pelo vento e banhadas de lua eram belas de se ver. E ele continuou insistindo:

_ Tá, eles precisam mesmo de disciplina, mas você podia pegar um pouco mais leve, Christie. Se continuar como vai, eles podem acabar ficando com medo de você.

A moça então voltou-se para fitar os olhos castanhos do marido e conteve a custo um sorriso ao vê-lo arfar. Antigamente era ela quem ficava nervosa quando ele se aproximava demais. E então disse:

_ Ao menos um de nós tem que estabelecer certos limites. Você os estraga demais, Zero!

E então recostou-se nele, a cabeça sobre seu ombro esquerdo, e enquanto ele a puxou para mais perto de si e passou o braço sobre os ombros dela, a moça murmurou com ternura:

_ Já sou permissiva demais; eles têm você o dia inteiro. Ao menos por algumas horas, quero meu marido só pra mim.


Sou do tipo que você gostou

E não quer mais gostar.

Sou do tipo que você não gosta,

Mas um dia vai gostar.*



(*Inundação de Amor – IRA!)