Sunday, December 24, 2006

Olá leitores, leitoras e gente que continua acompanhando a história! Saudações do Louco!

Sim, talvez este seja o último post do ano aqui no blog da Christie. É que assim combina com o final de mais um 'documento' com capítulos, e talvez eu deixe pra começar o próximo com o ano. Vejamos se me inspira!! ^_^

A essa altura, todo mundo já sabe quem se aproxima da Cidade Sucata, né? Se não... aproveitem pra descobrir agora! Relaxem e curtam, gente! E tentem não me bater no final do capítulo...

Amplexos natalinos do Louco, e Feliz Natal!!

(...)



Depois que as criaturas tinham se afastado, a segurança nas muralhas da Cidade Sucata tinha relaxado um pouco, e particularmente na muralha oeste, Smite estava um pouco aborrecido por não poder prestar atenção aos Sete Dragões e ao quanto os colegas os estariam ridicularizando àquela altura. Seu amigo João Quebra-Toco estava olhando para dentro da cidade do mesmo jeito, sabendo que dificilmente ia ver alguma coisa. Mas então, o Escavador percebeu algo se mover na planície.

_ Ô Toco, dá uma oiada. Tem um negócio se mexendo ali.

_ Negócio? – João se voltou para onde Smite apontava – Eita, tá levantando a maior poeira. Será que é o quê?

_ Melhor dá o alarme, tá vindo pra cá!

Ahl-Tur e Kayla passaram sobre as muralhas como os ventos de uma tempestade de areia, a Arcana abatendo os dois vigias com um gesto quase distraído de seu braço direito enquanto Tur se tornava plenamente consciente da localização de Christabel, ciente de que a Rainha também deveria poder percebê-lo agora.

E Christabel ergueu os olhos, claramente alarmada, chamando a atenção de Laírton e Zero no momento em que todos tomavam lugar no vagonete. O Irmão abriu a boca para perguntar o que se passava quando um estrondo violento fez todo aquele compartimento estremecer, e Dirceu praguejou baixinho:

_ Maldição...

_ O que foi isso? – Freya perguntou, braços separados do corpo enquanto duas pistolas de formato estranho deslizavam para suas mãos com um som metálico, e ela olhava para o alto – Parece uma explosão...

_ Esqueça, menina, é melhor subir no Vagonete também, anda! – Dirceu bronqueou, apontando enfaticamente para a dianteira do veículo – Zero não vai poder dirigir essa coisa, o esqueleto dele tá enfraquecido! Vai ficar pior do que estava com um ou dois trancos!

Os Dragões reunidos diante da casa de Dirceu foram surpreendidos pela figura humanóide do Arcano Ahl-Tur quando este surgiu do nada sobre a habitação e, ignorando a todos na rua, agitou seus braços e literalmente rasgou a casa ao meio. Um corte preciso e limpo dividiu a habitação, partes dela caíram... mas não havia ninguém ali.

Tur aborreceu-se. Suas forças estavam mais debilitadas do que pensara, nem sequer conseguira explodir a casa no primeiro movimento. Kayla surgiu à sua esquerda e o protegeu no momento em que um dos humanos lá embaixo começou a disparar contra eles.

Talos tinha a armadura mais pesada, era o Dragão Explosivo. As duas aletas em suas costas eram minicatapultas que lançavam cargas explosivas concentradas. Os servomotores a vapor eram o que permitia que pudesse mover tamanho peso, e tão logo divisou alvos, começou a disparar. Não sabia o que era capaz de fazer um estrago tão grande numa casa de tamanho médio como a de Dirceu, e nem queria saber. Ao menos, não até ter atingido a coisa com pelo menos metade da sua munição.

Tur viu admirado quando Kayla gemeu baixinho, esforçando-se em parecer firme e sem resultado. Tamanha era a força explosiva sobre a Capa Protetora de magia que ela lançara que a fêmea estava sendo empurrada em sua direção pelos disparos em sequência.

_ Está se saindo bem. Pode mantê-los ocupados?

Kayla sentira as mãos de seu mestre em seus ombros, e compreendeu. Ele precisava procurar Christabel. Não teria tempo de lidar com aqueles incômodos.

_ Não vou falhar, milorde.

Ela o viu acenar afirmativamente, satisfeito, e então mergulhar como uma bomba sobre a habitação que abrira. E destroços e impacto da explosão espalharam-se por toda volta, arrastando até mesmo os Dragões consigo.

Dirceu estava encaixando o que parecia ser um imenso tanque de gás na retaguarda do Velocípede, ignorando completamente os gritos frenéticos de Zero enquanto o fazia quando o teto sobre eles tremeu violentamente, derrubando-o.

_ Pai! Sobe aqui, anda! Pára de ficar embaçando, velho burro...!

_ Pára de berrar, menino. Eu tô bem – Dirceu levantou-se, olhando com ar de advertência para Christabel e Sari – E vocês duas, quietas! Não quero ninguém fora desse vagonete até eu dizer o contrário, entenderam?

_ Não seja tolo – Christabel retrucou, começando a sacar sua espada – Arcanos estão atacando!

_ Pela última vez, moça – Dirceu retomou com voz imperiosa – É a minha casa, e vai fazer o que eu disser. E eu digo pra ficarem quietas aí! Vai ser o diabo se não estiver todo mundo a bordo quando eu finalmente terminar de prender essa tranqueira... e não vamos a lugar nenhum se isso aqui não der o impulso inicial. Então, me façam um favor, apertem os cintos os que tiverem e se segurem os outros, porque a arrancada vai ser de lascar.

Christabel e Sari sentaram-se, visivelmente contrariadas, e Laírton, Melissa e Daniel pareceram descobrir os cintos de segurança em seus bancos. E Zero estava se movendo depressa, tanto quanto podia, completando o tambor da Marcadora com mais balas de Dragão de Fogo. Podendo aguentar o tranco dos disparos ou não, se um daqueles Arcanos descesse ali, ele não ficaria parado.

Tur olhou para os escombros aos seus pés. A presença de Christabel não se abalara em nada, mas ela não emergira. Não estava na casa.

“Abaixo dela? Engenhoso...”

Kodachi saltou, mais veloz e com maior precisão do que qualquer ser humano. Era a Dragonesa Púrpura, Mestra das Lâminas, e não existia coisa alguma que não pudesse cortar. Muito bem, fora pega de surpresa, mas ao menos agora tinha algo para distraí-la enquanto Freya se detinha. Era melhor do que ficar parada em meio aos Escavadores. Ia cortar em dois aquele estranho de pé sobre os escombros da casa de Dirceu...

Percebeu movimento á sua direita e rebateu por reflexo, sua espada oriental de metal temperado descrevendo um arco... e se partindo ao contato com a lâmina-lua de Kayla, devidamente impulsionada por magia. Sua espada era resistente, bem como a armadura da Dragonesa Púrpura, e foi apenas por isso que Kodachi não foi dividida ao meio como pretendia fazer com Tur. Mas, quando atingiu de costas e com violência uma parede ainda restante da casa de um Escavador, a orgulhosa Dragonesa já estava fora do combate.

Sagitário investiu pela frente, deslizando sobre flutuadores instalados sob suas plantas dos pés e impulsionado por um jato de vapor. Podia ser o menos sério dos Dragões, mas ninguém atacaria uma colega sua na sua frente sem pagar o preço por isso. E Kayla estava sem uma das armas, agora.

A Arcana viu o humano se aproximar e entendeu o fascínio de Tur pela estranha ‘tecnologia’ deles. A utilizavam para aumentar sua capacidade; quem mais, exceto pela vampira e por Christabel, poderia atacar um deles depressa o bastante para que não tivesse tempo de se proteger com uma de suas armas? Era o que pensava quando lançou uma Bomba de Escuridão de seus olhos.

Enquanto Kayla abatia um terceiro Dragão, Tur estava procurando. Christabel estava ali embaixo; só precisava localizá-la com precisão e poderia agir de acordo. Farejou, concentrou seu olhar...

... e Arthur surgiu detrás dele, caindo sobre o Arcano com duas espadas triangulares enormes que até então mantivera embainhadas em suas costas. Não muito honrado, mas não facilitaria para alguém capaz de destruir uma casa com tamanha facilidade. Só precisava de um movimento, e então...!

Tur voltou-se depressa, sentindo a presença de jóias Dragão de Fogo. O ataque fora veloz, quase sem lhe dar posição para revidar. Sequer teria tempo de puxar a própria espada, percebia, mas também notou que a guarda do outro estava totalmente aberta a um ataque de magia, e urrou Hálito de Fogo, ao mesmo tempo em que o líder dos Dragões desferiu seu melhor golpe.

_ Vórtice Extremo!

Os dois foram arremessados em direções opostas, Tur muito surpreso enquanto se dava conta de que as duas armas do Dragão tinham jóias Dragão de Fogo, uma em cada punho. Fora por isso que as espadas de Arthur puderam dividir e cortar à metade o poder de seu Hálito de Fogo, decerto salvando a vida do humano na armadura e ainda voltando contra o Arcano parte de seu próprio poder.

Uma nova explosão violenta soou sobre o porão da casa de Dirceu, e desta vez o piso abalado por dois ataques anteriores não resistiu à energia, derrubando escombros por toda a volta e também o Mestre dos Arcanos, que embora atordoado finalmente pôde avistar seu alvo com clareza. Ela se preparava para fugir...!

Dirceu era um homem prático, acostumado a pensar depressa; em especial se fosse uma situação de risco. Os tanques de propelente estavam bem presos, mas ele não encaixara ainda os ganchos que permitiriam ao condutor do vagonete ativá-los de seu assento. E não teria tempo para isso.

Mas ele ainda era o Velho Dirceu, e sabia tudo sobre máquinas. Inclusive, como colocar aquela tralha para correr antes daquele monstro ter qualquer chance que fosse de impedir. E, deu um sorriso torto com o canto da boca, sua prioridade ainda era manter o filho a salvo. Não ia conseguir isso se continuasse enrolando.

“É sempre mais difícil quando chega a hora. Pena; logo agora que ela finalmente amoleceu...! Ia adorar ver no que isso ia dar”

Zero também vira Tur caindo com os escombros, e ergueu a Marcadora, praguejando. Pesava demais! Muito mais do que devia; era quase como se seus ossos dos braços fossem feitos de borracha! Parecia que iam envergar com o peso da arma, mesmo apoiando a mão direita com a esquerda! Mas ele achava que ainda podia dar um bom disparo daquela munição especial do seu pai, quando um movimento inusitado em sua visão periférica chamou sua atenção.

Dirceu, de bengala erguida como se fosse uma marreta e olhando para baixo, na direção dos tanques de propelente. Só foi preciso um milésimo de segundo para que ele entendesse as intenções do pai.

_ Pai, não! Não faz isso...!

A atenção de cada um deles se voltou para Dirceu, que sorriu para o filho uma última vez e então bateu, arrancando a trava do tanque e arremessando o Velocípede túnel abaixo com um tranco violento e o som sibilado do gás escapando.

Erguendo-se depressa, lutando contra a confusão em sua mente, Tur ouviu o grito e o som de pancada, e sua atenção voltou-se para o vagonete que desaparecera depressa pelo túnel.

Maldição! Christabel estava escapando-lhe novamente, e naquela velocidade e sob a terra, desapareceria em questão de segundos! Sacudindo a cabeça, ele colocou-se de pé e alçou vôo, mergulhando na direção do túnel aberto.

Um estrondo à sua direita, e Tur tombou de lado novamente, sua asa direita varada por algo quente que explodiu ao contato consigo, arremessando-o contra uma das pilhas de escombros e estantes esmagadas. Aquilo ardia em seu corpo físico, e ele percebeu que o braço direito também fora atingido quando um segundo estrondo se fez ouvir, e com ele um clangor de metal pesado.

Voltou-se na direção do estrondo. Havia um humano ali, escorado contra a parede atrás de si e dentro do sistema de trilhos que regia o vagonete. Suor escorria de seu rosto, e ele acabara de jogar para o lado uma arma de fogo fumegante, de cano comprido, tendo feito uma porta pesada de ferro cair sobre a saída do túnel. E então, Tur notou que o homem parecia apoiar-se sobre uma bengala, reduzindo o peso de uma das pernas.

_ Entendo... O impulso explosivo de sua arma é demasiado para controlar com apenas uma perna sã, e precisa se apoiar na parede para atirar com precisão. Engenhoso.

_ Heh... – o desconhecido fez, abrindo um sorriso e firmando-se enquanto sua mão esquerda abria-se e se afastava do corpo, na posição de tiro – Agradecido. Não é a primeira vez que escuto isso... mas é sempre bom de ouvir.

Perdera. Tur podia perceber, a presença de Christabel se afastara demais para que ainda pudesse notá-la. Podia perseguir a trilha nos túneis, acreditava... mas primeiro, lidaria com aquele homem. Havia algo familiar nele; desagradavelmente familiar.

_ Essa arma – os olhos do Arcano estavam presos à pistola no coldre de Dirceu – Lembro-me de ter visto uma igual há pouco tempo...

_ Arma? Fala da minha pistola? – o desconhecido sorriu mais abertamente. Estava ofegando; o esforço sobre sua perna mais fraca devia ser grande, mas ele lutava para não aparentar tal coisa – Heh... Se tem perseguido a Rainha, acho que foi o meu filho que você viu.

_ Seu filho...? – o semblante de Tur se fechou – Sim... É bem possível. Se parecem muito, um com o outro. Fisicamente e em espírito.

_ Se tiver alguma queixa dele, pode falar comigo. É o que todo mundo que o Zero incomoda faz – suspirou – Às vezes é divertido, às vezes cansativo.

_ Seu filho tem me causado muitos problemas. Vou encontrá-lo, e a ela. E a sorte que teve até aqui vai terminar.

_ Questão de opinião – já não havia qualquer sorriso no rosto de Dirceu – Perseguir alguém que quase o matou mais de uma vez... Me parece que é você quem está testando a sorte.

Dirceu sabia que tinha dito o que precisava. Infelizmente, era todo o tempo que poderia ganhar para eles. Esperava que já estivessem longe o suficiente.

Sentiu novamente, então. Era como se ela estivesse ali, do seu lado, a mão suave sobre seu ombro, dando-lhe forças uma última vez. E lembrou-se de partes de uma antiga música enquanto percebia que o outro estava prestes a atacar.


Não pergunte por quê.
Não fique triste.
Às vezes, nós todos precisamos
Alterar caminhos que planejamos.


E Tur se moveu. Mais devagar do que seria capaz normalmente, com uma asa ferida, mas ainda veloz, ao mesmo tempo em que a mão de Dirceu sacava e abria fogo, e sua mente terminava a canção.


Me deixe agora
Não olhe pra trás
Porque, lá no fundo, você sabe
Que eu estou perdido e condenado.*

* - (Kamelot, ‘Lost and Damned’)

Sunday, December 17, 2006

Domingo novo, post novo ^^ Saudações do Louco, leitores!

Nem vou tentar me desculpar das minhas demais ausências. Tem a ver com falta de tempo e inspiração, sijm,mas devo admitir que tbm tem a ver com desânimo. Ou, como dito no post anterior, sou um vagau folgado #-_-#'

A verdade, though, é que não ando muito animado pro computador e pra escrita nele. Só o 'Conto', por enquanto, e até nele ando encalhado...

Mas, não foi pra ouvir minha voz chinfrim e minhas lamúrias q vcs vieram, né? ^^ Q seja, então. Enquanto me aproveito pra reforçar a inspiração by means of videogames (tá, eu TINHA que estar fazendo alguma coisa!!) e revivendo minha gibiteca, continuemos com Christie e Zero. Se bem lembro, deixei o cara sendo esganado pelo Éderson...

(...)



Freya, Sari e também Melissa e Daniel estavam olhando espantados para Zero, que estava rindo enquanto o outro o chacoalhava e continuava a lamentar a perda da Unicórnio. O semblante velado do líder dos Dragões sem dúvida mostrava que ele preferiria ver a moto perdida ali a Zero, mas fosse como fosse, a rudeza dos Escavadores em demonstrarem os sentimentos um quanto ao outro não deixava de ser uma surpresa para os colegas do ferido. E estavam sem saber bem como agir até que Dirceu surgiu, dando uma bengalada na cabeça de Éderson por trás com uma expressão idêntica à de Christabel no rosto.

_ Chega de palhaçada, Éderson. Acha que ninguém aqui tem nada pra fazer? Sai de cima do meu filho!

_ Aaaaaauuu! Poxa, Seu Dirceu... Pegou pesado!

_ E você moleque – Dirceu deu um tapa na cabeça de Zero – Tá rindo do quê? Isso não é nada engraçado.

_ Agh, pai...! Qual é, acha que ainda... não fizeram estrago o bastante, não?

_ Pelo jeito não, se ainda tem tempo pra brincar com a molecada – Dirceu retrucou com o mesmo pouco caso – Irmão, agradeço por ter consertado o meu garoto. Mas, acho que nem todo o seu tratamento podia deixar ele novo em folha, podia?

_ Há limites para o que se pode fazer de uma só vez, Mestre Dirceu – Laírton confirmou – O sistema dele foi recuperado tanto quanto era possível, e com a ajuda de Sari, consegui regularizar seu fluxo sanguíneo. Mas ele é uma pessoa muito ativa; os ossos estão de volta aos seus respectivos lugares, e a maior parte das lesões a eles foi sanada. Para que a cura se torne permanente, no entanto, eles precisariam ficar imobilizados por mais alguns tratamentos, até que se recuperem por completo. No mínimo, deveríamos engessá-lo.

_ ‘Gesso’... – Dirceu ponderou por algum tempo, batendo uma das mãos na outra – Muito bem, acho que já sei. Por acaso vocês não teriam uma armadura sobrando dentro desse seu veículo, Dragões?

_ Uma armadura... ‘sobrando’? – Arthur parecia não poder acreditar no que tinha acabado de ouvir. Os Dragões eram tanto quanto vaidosos de suas forças, em especial suas armaduras feitas com tecnologia de ponta – S-Seu Dirceu, isso é...!

_ Tudo bem, tudo bem, esqueça – Zero olhou para o pai, sufocando um sorriso ao ver que o velho não parecia muito incomodado pelo ultraje – Foi apenas uma pergunta, só isso. Mas, se vocês não podem me ajudar... é melhor fazer algo a respeito. Por favor, me sigam. E tragam o meu filho com vocês.

Dirceu se dirigira ao grupo que estivera viajando com Zero até então e voltou-se para sua casa, os outros seguindo-o. Freya também os acompanhou, e Arthur interrompeu:

_ Freya, espere! Aonde você vai? Nosso trabalho aqui terminou!

_ Eu sei, Arthur, e vocês podem ir. Eu me encontro com vocês a tempo de fazer nosso relatório.

_ E por quê não vem com a gente? Vai ficar pra quê?

_ Eu não posso ir embora sem saber se o Zero vai ficar bem, Arthur. Ele é meu amigo desde que éramos pequenos...

_ Já tem um Religioso, o cavaleiro, aquela maga, aquela caçadora e até a Rainha Christabel pra cuidar dele, Freya! – protestou o maior deles, Talos, que também parecia ter se aborrecido com o comentário feito por Dirceu – E as regras dizem pra a gente voltar junto, lembra? Vai arriscar a levar uma bronca à toa?

_ Me arriscaria se fosse um de vocês – Freya retrucou, parecendo mais séria – Não deixo meus amigos pra trás, Dragão ou não.

Não havia o que dizer a isso, ao que parecia, e ela apressou-se a seguir o grupo que levava Zero para casa. Arthur parecia visivelmente contrariado no entanto, e isso não passara despercebido aos colegas de Zero enquanto Freya se juntava a eles.

_ Desculpe por perguntar... Freya – Daniel perguntou timidamente – mas... você não deveria ir com os seus amigos?

_ Vou depois que entender o que o Seu Dirceu vai fazer – ela voltou-se com curiosidade para o pai de Zero – Tem alguma coisa aqui pra manter o Zero parado, Seu Dirceu? Pensei que só juntava armas e munição.

_ E não está errada, menina – Dirceu distraidamente abriu a passagem para o porão – Minha casa não é tão grande pra tudo o que eu queria guardar; então, a solução foi arrumar um depósito alternativo.

(Estavam se aproximando depressa agora, seu poder oculto como o da Rainha estava. No entanto, também sabiam que ela perceberia quando se aproximassem o bastante. Teriam que ser velozes)

_ Anda, Arthur, vamos ou não vamos? – Kodachi perguntou, olhando incomodada ao redor. Era a mais orgulhosa entre os Sete, e não gostava de ficar fora da Cidade Avançada, entre os Escavadores e Mecânicos, mais do que necessário – Freya pode encontrar o caminho sozinha depois.

_ Vamos ficar mais um pouco, Kodachi – Arthur retrucou aborrecido – O grupo tem que andar junto, seja qual for o motivo. E, Sagitário! Onde você vai?

_ Ah, relaxa um pouco, Arthur – o mais novo respondeu, interrompendo a conversa animada que estava tendo com os Escavadores; ele não parecia nem um pouco aborrecido em estar na Sucata – Tô só matando um pouco o tempo até a Freya voltar.

_ Veja se não vai pra muito longe; não vamos demorar mais do que o necessário.

Agora que o dever fora cumprido, Arthur só queria sair dali. Não gostava do cheiro de poeira da Cidade Sucata e de suas casas de teto de metal, desorganizadas e mal feitas, em nada parecidas com as habitações ordeiras e primorosas da Avançada. Quando voltasse, iria pessoalmente descobrir quem dera ordens para que descessem até ali, onde nem era seu território. Afinal de contas, seu pai era influente demais para permitir isso.

No porão, enquanto isso, Dirceu estava se movendo em direção a uma estante que parecia cheia de armas, e Zero agarrou o braço de Freya próximo a si e pediu:

_ Escuta, Tata... tem que me prometer uma coisa. Pode não parecer, mas é muito sério. O que você vai ver aqui... O que meu pai vai usar agora, a maioria da galera lá em cima não sabe. Nem mesmo nossos camaradas da Sucata, e muito menos os seus chegados da Avançada. Ia arrumar a maior confusão pra ele...

_ Dá um tempo, Zero. Sabe que eu nunca ia fazer nada que pudesse dar problemas pra você ou o seu pai. Seu segredo tá seguro comigo.

_ Tá, eu sei, mas é que o véio Dirceu tava zoando as armaduras de vocês agora há pouco...

Freya bateu na testa de Zero sem a menor cerimônia, o mesmo olhar vazio de reprovação que Melissa por vezes usava. E a maga negra balançou a cabeça:

_ Se eu não soubesse, ia pensar que foi o desabamento que te deixou leso, Zero.

_ É, isso é sinal de que ele deve estar se sentindo bem melhor – Freya concordou no mesmo tom de voz – Não vai mudar nunca, pelo jeito.

_ Vocês têm uma mania estranha de querer o impossível – Dirceu comentou enquanto abria a passagem para o subterrâneo, onde antes pegara as armas extras e munição para Zero – E, Zero, eu não fiquei senil ainda. Não teria trazido todos até aqui se não achasse que podia confiar em todos. Então, pare de chatear a menina e fica quieto.

_ Ô pai, não pode falar assim comigo não, eu tô doente!

_ Vai ficar doente de verdade se continuar com manha – Dirceu resmungou, puxando uma alavanca oculta atrás da estante. E todos ouviram um som de mecanismos enquanto um vagonete metálico sobre três rodas de metal descia devagar e se detia bem no meio do salão oculto. Estava coberto por poeira, sinal de desuso prolongado, mas nem Dirceu nem Zero pareciam fazer conta disso.

_ Fechem as bocas, todos vocês. Seus queixos vão acabar caindo.

_ Foi mal nunca ter te trazido aqui antes, Li. É que não se usa o Velocípede pra qualquer coisa, e faz um tempo que a gente não precisava.

_ ‘Velocípede’...? – Melissa olhou de Zero para Dirceu, e para o veículo estranho. Agora podiam ver que havia todo um sistema de trilhos de onde o vagonete viera, e eles levavam para um túnel que desaparecia na terra. Laírton, olhando também, comentou admirado:

_ Me parece que há muito mais na Cidade Sucata do que se acreditaria numa visão superficial.

_ Aparências podem enganar, Irmão – Dirceu comentou, e Zero olhou para Christabel e abafou um sorriso, e a viu desviar o rosto enquanto o pai continuava – E certas coisas são melhor mantidas em segredo. Por exemplo, o paradeiro da Rainha. Acredito que esteja apta a se defender agora, Alteza, mas seria conveniente se passasse mais algum tempo no anonimato.

Christabel não disse coisa alguma, mas havia uma pergunta em seus olhos, e Dirceu acenou afirmativamente.

_ Cuidado não é demais. Além disso, como não exercita seus plenos poderes já há algum tempo, pode ser que precise de alguma prática antes de tornar a fazê-lo. Mais ainda, será bom se Sua Alteza tornar a desaparecer por algum tempo, e acredito que seguir uma trilha subterrânea deve ser o bastante para esconder seu rastro.

(Mais próximos agora. Ao longe, a montanha onde a outra cidade humana estava instalada era bem visível, embora não se dirigissem para ela. Seu objetivo eram as muralhas da outra cidade, mais baixa, onde ainda podiam perceber vestígios da presença dela. Christabel se detivera ali, e retornara para lá. E, àquela altura, era provável que alguns dos humanos também pudessem perceber enquanto se aproximavam)

Sunday, December 10, 2006

Mas hein? Olha eu aqui de novo! Depois de outro domingo ausente, saudações do Louco!

Sim, eu estive o domingo passado inteiro fora, aí não deu pra chegar aqui e postar. De boa, acho que vcs curtiram o momento do Zero com a Christie, né não? ^^ Espero mesmo q sim.

Mas, como rapadura é mole, mas não é doce, é preciso reconhecer que tá na hora de eu sair dessa moleza q eu ando. Estamos agora em pleno início do último capítulo de 'Vida Passageira', e depois disso teremos apenas o último bloco de história escrito até agora. Tudo bem, tá legal, tem muito o que é explicado nele, mas q eu continuo um vagau miserável e molóide, é fato >< Tá na hora de me mexer.

Então, enquanto o faço, curtam o finalzinho do 'vida' com o capítulo q inicio neste domingo. Espero q curtam, leitores!

Forte amplexo do Louco!



XXX – Os que Ficam e os Que Se Vão



Kayla tossiu sangue escuro, subita e rudemente trazida de volta à consciência de seu corpo físico. Estivera ferida, muito ferida, mas não conseguia se lembrar bem como acontecera. Abriu os olhos devagar, tentando colocar seus pensamentos em ordem.

Ahl-Tur estava ajoelhado ao seu lado, as duas mãos de palmas voltadas para baixo e murmurando sobre ela. Suas forças estavam voltando muito mais depressa, e a recuperação de seu corpo físico fora acelerada também graças a isso, sabia agora. E com esse conhecimento, suas memórias da luta anterior voltaram a ela.

_ Lorde Tur...

_ Silêncio, Kayla.

Ele completou os procedimentos e levantou-se, dando as costas a ela e se afastando para a entrada da gruta que escolhera como seu esconderijo. Kayla acompanhou seu movimento enquanto ela própria se levantava, as asas dele parecendo uma curiosa capa. Aliviada, a Arcana encontrou suas armas colocadas ao seu lado.

_ Espero que esteja refeita o bastante para o nosso próximo ataque, fêmea – Tur disse sem se voltar – Muito temos a fazer, e seu descuido já nos tomou tempo demais.

_ Meu... descuido? Do quê está falando?

Tur voltou-se para ela, e seu olhar era gelado. Sem uma palavra, ele gesticulou para que Kayla se aproximasse, e mostrou-lhe o que havia lá fora. E a Arcana percebeu que estavam em uma das encostas que rodeavam a ampla planície onde Cidade Sucata e Avançada se localizavam. De onde estavam podiam ver que o campo estava ficando mais vazio; a horda que tentara conseguir o poder de Christabel antes deles estava em debandada, muito poucos dos que ainda estavam vivos fugindo à distância. As cidades dos humanos tinham sobrevivido praticamente incólumes à maré, e a Rainha recuperara suas forças. Ela estava se contendo, procurando disfarçar sua própria magia, mas estava próxima demais, e eles conheciam sua essência bem demais para que a ocultação funcionasse.

_ Nossa missão não foi completa ainda. E a Rainha continua a nosso alcance. Devemos ir agora, enquanto estão confiantes e enquanto suas forças estão se recolhendo. Estão exaustos da batalha; temos como abatê-los se formos rápidos o bastante.

_ Deveríamos avisar nosso mestre sobre o acontecido...

_ E o que diríamos a ele, fêmea? – Tur deixou escapar um riso de ironia – Que tornamos a perder a maior parte de nosso grupo de ataque nas mãos de um humano sem poderes? Que não apreendemos Christabel?

“Nosso mestre já ouviu isso por tempo demais, Kayla – Tur continuou, seu espírito falando para o dela agora enquanto seu rosto tornava a se voltar para a planície – E minhas justificativas se acabaram; estou farto delas.”

“Então, quer dizer...”

_ Isso mesmo – Tur acenou afirmativamente com a cabeça – Não retornarei a nosso mestre sem que Christabel seja nossa prisioneira. Quer isso mude na próxima hora... ou nunca venha a mudar.

_ Acredita que falharemos novamente, milorde Tur? – Kayla adiantou-se, tentando olhar diretamente no rosto e nos olhos do seu líder. Mas Ahl-Tur não se voltou para ela, ficando em silêncio por um longo minuto.

_ Estou apenas me rendendo aos fatos, Kayla. Só isso.

_ ‘Se rendendo... aos fatos’?

Ele não disse mais nada, mas ela conseguiu sentir o rumo que seus pensamentos estavam tomando: nove deles haviam partido, porque não devia haver força no mundo capaz de enfrentar nove Arcanos de uma única vez. Nem mesmo os magos e criaturas mais poderosas existentes. Nem mesmo Christabel.

Mas dois deles haviam tombado no primeiro instante. Aquele humano que já o enfrentara antes tinha algum tipo de arma capaz de abater um Arcano com um único tiro. Ele julgara estar melhor preparado para as surpresas possíveis, mas aquilo fora um choque para Tur apesar de tudo. Além disso havia aquela vampira, a mesma que ferira Kayla e que a teria exterminado não fosse a intervenção dele.

_ Estou apenas admitindo que não conheço meu oponente. E que, por isso, devo tratá-lo com respeito.

_ Aquele humano foi soterrado no nosso último confronto, milorde. Provavelmente está morto agora. Não pode nos causar mais problemas.

_ Não, fêmea? – Tur voltou-se para ela, novamente o ar de desagrado superior em sua expressão – Como pode ter tanta certeza? Você o viu morrer, por acaso?

“Não, cara Kayla. O que estou dizendo é que não retornarei a nosso mestre, não sem que aquele rapaz esteja morto. Pois não teremos Christabel até que passemos por ele. E sugiro que leve a sério minhas palavras, pois precisarei da sua ajuda se pretendo confrontar a Rainha e todos os seus defensores.”

Kayla não conseguia entender o por quê, mas sentia uma grande devoção por Tur, muito maior do que aquela que tinha pelo seu criador. O Arcano parecia mais sábio e antigo até mesmo do que o próprio ser que dera a eles vida e propósito, e ela sabia que se Tur lhe propusesse atacar a todos os seus companheiros onde os haviam deixado nas terras Além da Fronteira, e até mesmo abrir guerra ao mestre de todos eles, ela o faria sem qualquer arrependimento no coração. Tur confiava nela. Estava pedindo-lhe que o acompanhasse em sua missão, que fosse a sua arma na próxima batalha. E sem sequer entender plenamente o porquê, Kayla sentia que era aquilo o que mais queria fazer naquele momento.

_ Estarei ao seu lado, milorde. E não vou desapontá-lo.

Tur voltou seu olhar discretamente para a cabeça baixa de Kayla, e não teve como conter um sorriso. Mais suave desta vez. Lutaria sozinho se fosse preciso, mas era bom saber que não seria necessário. E que teria a assistência de uma Arcana capaz como Kayla.

Enquanto isso, na Cidade Sucata, o veículo de transporte dos Sete Dragões passava pelos portões e era recebido pelos Escavadores e mecânicos aflitos, Éderson saltando adiante juntamente com Daniel e Melissa. O cansaço de ambos era evidente em suas feições; tinham estado lutando desde o início do plano de Zero, e isso era muito além de qualquer esforço que já tivessem feito até então. Mas a preocupação com os amigos que não esperavam tornar a rever até Christabel passar por ali com Laírton e os Dragões era ainda maior.

_ Laírton! – Melissa exclamou ao ver o Irmão saltar – E o Zero, ele tá bem? Está com vocês? Onde...

_ Por favor, Melissa, abra caminho – Laírton escancarou as portas traseiras e dando passagem a dois dos Dragões carregando uma maca na qual Zero estava estendido, e veio acompanhado de Christabel, Sari e Freya enquanto o Irmão dava o diagnóstico – Ele está fora de risco graças aos nossos esforços, mas ainda está longe de estar restabelecido.

_ Maldição, eu temia que algo assim...

_ Como isso foi acontecer?

_ Pelo que eu entendi, houve um desabamento – Freya respondeu sem tirar os olhos do rosto de Zero, que estava se esforçando para sorrir – No meio do deserto, sobre alguns dos túneis esquecidos das Minas Antigas. Talvez a luta tenha enfraquecido o terreno...

_ Nah, que... nada, Tata – Zero murmurou, tossindo um pouco e ainda sorrindo – Cês deviam... ter visto. Minha Unicórnio saiu... na Chama da Glória. Fez a casa cair, e... metade do deserto com ela. Ai... Pena que não deu pra... sair de baixo...

_ Seu tonto, ninguém está ligando pra...

_ Como é que é? – Éderson veio à frente e começou a sacudir Zero pelo colarinho – Seu cabeça de isopor, você detonou aquela Unicórnio? Cê não tem noção, Zero?? Estragou a moto!!

Freya e Sari fizeram menção de afastar Éderson, mas Christabel meneou a cabeça com ar vazio e um tanto aborrecido.

_ Esqueçam; também está demonstrando preocupação. Está fazendo o tolo rir.

Sunday, November 26, 2006

Olá leitores persistentes, teimosos e que não largham fácil sem saber do final da história... exatamente como eu ^^ Saudações autorais agradecidas do Louco!

O sistema de comentários caiu. O blogger tá anexando os textos quando bem entende. Meu computador superou todas as expectativas e só não trabvou ainda pq não percebeu que era com ele. De boa, pela primeira vez entendo como Wildstar se sentiu no final da saga do Cometa Império, com a Argo/Yamato vazando fumaça (no espaço?) pra todo o lado.

Firmeza. Enquanto ainda der pra pilotar, vou adiante ^^ Vai o resto do capítulo, e pra me lembrar de que é melhor dar uma agilizada. Agh, agora tô pensando seriamente em mudar muito um relacionamento q eu tinha planejadinho na minha cachola faz o maior tempo, e começar um outro que eu queria a todo o custo evitar...

Hein? Ninguém tá entendendo nada? Ah, firmeza, depois eu vou fazer algum sentido, espero. Aguentem bravamente até lá, please ^^.

Forte amplexo do Louco ^^


(...)



_ Acaso está esquecido do que nos prometeu, rapaz? – o homem de cabelos brancos perguntou, parecendo severo. O bastante para que mesmo Zero vacilasse – Disse que faria o que pudesse por ela.

_ É... foi isso mesmo. Mas, eu não tô faltando com a minha palavra. Fiz mesmo tudo o que podia, sério! Levei uma das minhas melhores amigas comigo, inclusive, pra manter aqueles tais Arcanos longe dela o máximo que eu pudesse. Pus meus amigos em risco, também. Tá, eles são uns tontos, quiseram pagar pra ver, mas fui eu quem começou. Mas agora acabou. O que mais cês querem que eu faça, droga?

_ O que faríamos em seu lugar – aquela dama de olhos tristes replicou, baixando a cabeça – Você ainda pode voltar, nós não. E esse foi o nosso único arrependimento quando nos separamos dela, há tanto tempo atrás. Não tínhamos meios para continuar. Seus amigos estão tentando levar você de volta...

_ Droga... Olha, eu não tô querendo ser mal educado – Zero sacudiu a cabeça em negativa – Poxa, dá pra culpar um cara por se cansar? Tô dolorido, e não quero mais sentir dor! Tô errado, e queria ficar certo agora! Tô sozinho... e queria companhia.

_ Você a tem.

Zero parou de descer, voltando-se. O casal desaparecera enquanto ele falava, e ele não tinha notado. E Christabel estava descendo a estrada também, se aproximando depressa, indo muito além do limite onde Laírton ficara. O Irmão não podia ouvir nada o que era dito até ali, mas não parecia haver qualquer problema para a Rainha.

_ Christie? O q... que cê tá fazendo?

_ Companhia a você. Quer descer a estrada, não? Acabar com a dor, com a tristeza? Vamos, então. Eu o acompanho.

_ Christie...

Ele outra vez se admirara dela. Como era capaz de dizer sempre tanto com tão poucas palavras? E a determinação em seus olhos cinzentos era forte, capaz de imobilizar a ele onde estava. Ela não estava brincando, iria com ele até o final da estrada se fosse o caso. Era loucura.

_ Menina, você... perdeu toda a noção? Sabe pra onde isso vai?

_ Melhor do que você – ela retrucou com o pouco caso de que ele lembrava tão bem, prestes a passar por ele – E, a não ser que se apresse, chegarei lá primeiro.

_ Espera, pera só um pouquinho! – Zero a deteve pelo braço – Christabel, você não tem nada pra fazer lá!

Ela olhou para a mão dele em seu cotovelo e pareceu se irritar, e seu olhar para Zero era duro quando murmurou:

_ Está apertando meu braço. Me larga.

_ Não senhora. Primeiro, você vai me prometer...

_ Mandei que me largasse!

E sacudiu o braço preso, estapeando Zero e derrubando-o de costas.

Zero sentiu-se tombar estatelado ao chão, cada ferimento do seu corpo parecendo arder mais por um instante longo. Era como se os ossos do peito estivessem quebrados e ela tivesse batido com um martelo em todos...


Chame meu nome e me salve da escuridão.


Zero piscou, os olhos escancarados e a mente lúcida novamente, certo de que estava mesmo sentindo a realidade vacilar. O que pensava que tinha ouvido não podia ser...!

Christabel estava inclinada sobre ele, ajoelhada no chão ao seu lado e com a mão esquerda sobre sua fronte, os olhos gentis fixos nos dele e... cantando?


Como você consegue ver dentro dos meus olhos
Como portas abertas
te conduzindo direto ao meu interior,
Onde eu me tornei tão insensível?
Sem uma alma.
Meu espírito adormecido em algum lugar frio,
Até você encontrá-lo lá e conduzí-lo de volta ao lar*.


_ Christie...!

_ Agora que eu sei o que me falta – Christabel murmurou, as faces coradas e o mesmo semblante triste – você não pode simplesmente me deixar. Me traga de volta à vida. *

Zero também estava corado... mas não sentia mais dor. Não havia como.


E no mundo físico Zero tossiu, sentindo o gosto incômodo de terra em sua garganta e muita dor no corpo inteiro. Mas, desta vez, não era só o que havia para ele, e abriu seus olhos.

Christabel estava ao seu lado, segurando suas mãos na dela. Acabara de abrir os olhos cinzentos e sorria discretamente para ele. À sua volta, Laírton, Sari e também alguém que não via havia meses olhavam para ele com espanto e alívio.

_ Oi... E aí, gente? Firmeza?

_ Zero!

_ Que bom...!

_ Seu maluco, que idéia idiota foi essa de...?

Mas ele tornara a voltar seus olhos para Christabel; mais do que qualquer outra coisa, havia uma curiosidade em si que ele não tinha como conter naquele momento.

_ N-não sabia que você... gostava de música antiga...

_ Aparências podem enganar – ela retrucou com algo da antiga superioridade – Não foi o que me disse?


(* - “Bring me to Life” – Evanescence)

Sunday, October 29, 2006

Olá gente que Lê! Saudações do Louco, em pleno domingo de novo!

Me parece que, no fim das contas, o problema era com o blogger mesmo. Tanto melhor, q eu tenho mais coisa da Christie pra colocar e, ao que parece, tá arrumado! ^_^

Ah, sim. Pedindo licença ao meu amigo Akira, que abriu espaço pras minhas opiniões lá no writer's house, e agora q meu sistema de comentários do blog foi pro espaço, qualquer crítica ou comentário sobre a história da Christie, por favor, dêem uma passada no Writer's House e deixem lá. A troca de posts é menos frequente do que deveria ser, mas eu sempre leio e respondo a comentários. Ao menos isso, né...? ^^'

Bom, lá vai capítulo novo. Depois de vermos a Christie demolindo os perseguidores como só ela sabe fazer... vejamos o que houve com o Zero.

Amplexos dominicais d'El Loco.




XXIX – “Sim, Eu Estou Tão Cansado...”



Depois da partida expressa de Christabel, os Dragões tinham se reunido ao redor de Laírton e Sari, e as perguntas eram inevitáveis:

_ Ei, vem cá, aquela era mesmo ‘a’ Christabel? Aquela de Melk?

_ Bom, com certeza o que ela fez agora podia ser coisa ‘daquela’ Christabel, sim.

_ Sair correndo daquele jeito...! Desse jeito não vai sobrar nada pra nós fazermos!

_ Viu, mas então pra quê foi que mandaram a gente...

_ Fiquem quietos, todos vocês! Que coisa!

Os outros seis silenciaram, o líder dos Dragões franziu a testa, contrariado. Sua noiva Beatriz também era a amiga de infância de Zero, e ele e o outro tinham se dado mal desde o dia de seus nascimentos, ele pensava. Provavelmente, tinha a ver com a rixa hereditária entre os pais de ambos. Ver sua noiva inclinada sobre o outro, acompanhando a bela caçadora de cabelos prateados e o Irmão Laírton, não estava melhorando muito seu humor.

_ Tudo bem, Freya, mas é melhor você se afastar. Deve estar atrapalhando os...

_ Não, está tudo bem – Laírton respondeu sem se voltar, fingindo ignorar o desconforto do outro. Dragões se chamavam por codinomes o tempo todo, mas não era difícil para Laírton deduzir quem era o líder deles a julgar por suas reações quanto a Zero e pela história que ouvira quando fora até a Cidade Avançada – Na verdade, ela está ajudando. Mais do que o corpo, o espírito dele também ficou abalado com o ferimento. Presenças familiares ou carinhosas podem fazer uma grande diferença.

_ Se é esse o caso, é melhor você vir pra longe dele, Arthur – outro Dragão, um que parecia ser o caçula deles, comentou de modo distraído – Quanto mais perto você chegar, menos à vontade o Zero vai ficar...

Arthur deu um murro no outro quase sem se voltar, e Sari arriscou uma olhadela com o canto do olho para Freya, a amiga de Zero. Ela podia sentir a preocupação genuína dela, a moça concederia energia, sangue ou qualquer coisa que fosse necessária se pudesse ajudar; o visor de sua armadura podia esconder suas feições, mas sua alma era um livro aberto para a caçadora. Alguém tão íntimo talvez pudesse ajudar.

_ Você... faz alguma idéia do por quê, Freya? – Sari perguntou – Eu não consigo entender, a consciência do Zero parece estar muito longe... nas profundezas...

_ Também percebeu, Sari? – Laírton indagou, visivelmente surpreso – É, ele parece ter se recolhido dentro de si mesmo. Estou chamando por ele praticamente desde que me inclinei aqui, mas ele se recusa a responder. É como se estivesse me ignorando, ou não me ouvisse.

_ Provavelmente... deve ter sido o desabamento – Freya segurou a mão esquerda de Zero, ainda agarrando a Marcadora, e Sari percebeu que Arthur virara o rosto para longe – Um dos maiores medos de qualquer Escavador é acabar soterrado em uma mina... e o Zero passou por isso quando ainda era uma criança. Deve ter ficado assustado. Muito assustado.

_ Zero já esteve soterrado? – Laírton perguntou, a compreensão iluminando suas feições – Entendo; agora tudo faz sentido! Sari, quanto mais pode manter-se assim, fornecendo energia para ele? Imagino que você tenha um limite, também.

_ E tenho, Laírton. Não é seguro se eu continuar por muito tempo, mas, ao menos por enquanto, não preciso me preocupar. Por quê pergunta?

_ Tentarei trazer de volta a consciência de nosso amigo de uma forma um pouco mais direta – passou o cajado para a mão direita e colocou a esquerda sobre a fronte de Zero – Quando ele sentiu que caía e que era soterrado, sua mente decerto sentiu-se soterrada, também. Por isso é tão difícil despertá-lo. Vou tentar ir atrás dele, mas preciso que mantenha sua condição estável até que eu retorne. Pode fazê-lo?

_ Vá em paz, Laírton – Sari colocou as duas mãos sobre o peito de Zero – Vou cuidar dele pelo tempo que você precisar.

_ Devo pedir também a vocês, Dragões, que vigiem os arredores – Laírton voltou-se – Sua Alteza deve manter potenciais perseguidores longe, mas não temos como saber. Sari estará ocupada mantendo as condições de Zero, e eu vou penetrar na consciência dele. Prometo me esforçar para que isso não tome muito tempo, mas...

_ Não se preocupe, Irmão – Freya levantou-se, olhando ao redor – Tome o tempo de que necessitar. Com nós sete aqui, há muito pouca coisa que possa causar algum problema.

_ É isso aí!! – o mais novo deles se animou, batendo uma das mãos na outra – Ninguém nunca venceu os Sete Dragões, e nem vai! Dá até vontade de ver algum bicho vindo...

_ Cala a boca, Sagitário.

Arthur estava um pouco mal humorado; imaginara a cara que Zero faria ao ver que fora ele a salvar sua vida desta vez, mas não lhe agradava nada ver Beatriz grudada nele, como de costume. Podia passar mais tempo com ela agora, mas isso não mudava o fato de que o outro tinha muito mais memórias em comum com sua noiva do que ele próprio. Esperava que o Religioso despertasse Zero de uma vez.

Laírton fechara seus olhos, ainda murmurando baixinho enquanto rezava. Sua consciência estava dividida, parte de sua atenção procurando pelo espírito de Zero. Não tardou para que fizesse contato com ele; mesmo desacordado, o amigo tinha uma força de vida que era difícil de não perceber. Mas Laírton não conseguia encontrar consciência em parte alguma.

Foi quando percebeu, era como se estivesse até a cintura de escuridão. A inconsciência era como vapores escuros no espírito de Zero, e o outro não estava em lugar algum. Mas era estranho, era ali que ele deveria ao menos visualizar uma auto-imagem do amigo. Deveria ser capaz de falar a ele ali.

“A menos que...”

Laírton olhou para os vapores escuros e, depois de um instante de hesitação, mergulhou. Sentira a consciência do outro como se estivesse muito ao fundo; talvez então ele estivesse muito abaixo do nível normal de sua mente. Soterrado sob a escuridão.

Tão logo mergulhara, Laírton soube que estava certo. Podia agora sentir a presença de Zero, mas parecia que ele estava mais e mais distante a cada segundo, e tudo o que o Religioso podia fazer era nadar naqueles vapores, mais e mais para baixo. Parecia-lhe estar mergulhando não em água, mas no próprio solo. Cada movimento adiante ficava mais difícil, como se tentasse penetrar em material sólido. Como, então, Zero podia estar avançando tão rápido?

_ Zero! Zero, está me ouvindo? Onde você está?

Foi como se o solo abaixo de Laírton se fragmentasse, rompendo-se de repente e fazendo-o cair do que agora era o teto de vapores escuros. Estava no que parecia uma estrada de areia na encosta de uma montanha, grama verde crescendo ao redor, o aroma do capim aquecido pelo sol por toda a volta e pássaros cantando em árvores que a ladeavam.

E a figura de Zero, ainda que distante, era inconfundível aos seus olhos. Ao invés de subir a estrada, no entanto, ele estava tomando o rumo montanha abaixo. Mais do que depressa, Laírton se colocou de pé e tornou a chamar.

_ Zero! Até que enfim o encontrei! Estávamos todos preocupados com...

O rapaz voltou seu rosto então, e Laírton emudeceu. Os ferimentos ainda não curados em seu corpo físico também apareciam nessa visualização que Zero tinha de si mesmo. Não pareciam doer, no entanto, e também não disfarçavam o brilho estranho nos olhos dele.

_ Vai embora daqui, Laírton. Volta pra casa.

_ Eu vim para buscá-lo, Zero. Está precisando de ajuda para voltar, não?

_ Nah, nem é, Laírton – Zero sacudiu a cabeça, voltando-se na direção oposta – A gente tá muito longe pra subir tudo isso de novo, e... eu tô cansado. Muito cansado. Pelo menos, pra esse lado aqui... eu tô indo pra baixo. É muito mais fácil... E eu tô deixando aquela loucura lá de cima pra trás. Parece que... dói menos, também.

_ Dói menos porque está se desligando, Zero! – Laírton correu para junto do amigo, mas não conseguiu se aproximar o bastante para contê-lo e impedir que continuasse descendo – Se chegar até o fundo dessa estrada, vai estar morto!

_ ... Sei – e ele tornou a olhar para Laírton, uma lágrima no canto de seus olhos – Agora me conta uma novidade, Irmão.

Ele continuou a caminhar, sempre descendo a ladeira, e Laírton percebeu que não poderia continuar descendo atrás dele. Fosse porque Zero o proibira de seguir, fosse porque havia um limite até onde uma consciência viva poderia alcançar, ele não conseguia ir adiante.

_ Zero! Maldição, você tem que me ouvir! Zero!!

_ É melhor você não tá mais por aqui quando eu chegar lá embaixo, Lairtão – Zero disse sem se voltar – Não sei direito porquê, mas acho que isso não vai ser muito bom. Você ainda tem muito pra fazer lá em cima.

_ Você também tem! – Laírton esbravejou, tentando avançar mais. Era como se houvesse uma barreira sólida e transparente no meio do caminho, e ele simplesmente não conseguia ir adiante
– Estão todos esperando por você! Daniel, Melissa, Sari... Seu pai! E Christabel! Ela pediu que se mantivesse vivo, lembra?

Ao ouvir o nome da Rainha, Zero deteve seus passos por um instante. Quase voltou sua cabeça para encarar Laírton, mas acenou negativamente e recomeçou a caminhar, murmurando:

_ Eu cumpri o que tinha prometido. Tanto quanto deu. Heh... Pelo menos, vou parar de chamar ela de Christie o tempo todo. Eu tô cansado, Laírton, muito cansado. Você não faz idéia... Tem umas horas em que eu só queria jogar tudo pro alto, mandar tudo pras favas. Mas não podia, porque ainda tinha essa última promessa pra cumprir. Agora chega, o show já terminou. Tá na hora de tirar o time de campo.

_ Seu papel não terminou, Zero! A sua obrigação cont...

_ Não vem me falar da minha obrigação, Laírton! – Zero voltou-se novamente, apontando para o Religioso – Você... não faz a menor idéia. Não sabe nada disso! Eu cumpri minha obrigação sim, uma vez atrás da outra. Tô de saco cheio agora, pombas! Chega no final de um dia cansativo, todo mundo fica louco pra socar a cabeça no travesseiro, dormir e esquecer de tudo! Por quê é que só eu não posso? Vai se danar, agora chegou minha vez!

_ Zero...

Laírton nunca teria imaginado que, em seu interior, Zero pudesse trazer tamanha tristeza. E viu duas figuras desconhecidas parecerem surgir do nada à esquerda do caminho onde o outro passaria, um homem de cabelos brancos longos e uma jovem senhora de feições exóticas, talvez orientais. Deviam ser casados; davam essa impressão, ao menos, e Laírton não conseguia ouvir o que diziam, nem o que Zero estava dizendo a eles. Parecia que o amigo o tinha desligado.

Zero podia sentir claramente as dores nos braços, pernas, tórax, costelas... Todo o corpo doía. Ao menos, ainda doía. Mas seguir estrada abaixo estava fazendo as dores passarem aos poucos, e embora ele não fosse mais capaz de pilotar sua Unicórnio para percorrer a longa distância, sempre teria suas pernas para levá-lo onde quisesse ir. Estavam muito feridas também, mas ele conseguia usá-las. E cada vez melhor, à medida que se afastava da névoa escura. Mas parecia que seu caminho estava fadado a ser interrompido o tempo todo.

_ Primeiro o Laírton, agora vocês. Qualé? Me dêem um tempo!

Sunday, October 15, 2006

Hã... Oi visitantes. Er... saudações do... do Louco, é...

*olhando ao redor com ar vago*

Acho que eu devo ter postado na época errada, ou o calendário do meu computador tava errado... Digo, eu até ando meio relapso, mas não lembro q faça taanto tempo desde minha última visita, não...

Bom, o bixim tá meio zoado, tendo q ser acertado a cada ligada, então tô mais disposto a acreditar que é isso mesmo. E... Tô falando, eu podia jurar que tinha postado um arquivo a mais da Christie, terminando a parte do 'Retorno da Rainha' até então.

Ah, que seja, eu termino agora ^^

Forte amplexo do Louco!

(...)


O primeiro dos Símios mal percebeu quando uma forma humana saltou sobre seu peito e o lançou de volta na direção de seus irmãos, mais dois tombando com a surpresa, enquanto Christabel se atirava de volta para trás. Podia aproveitar o número de oponentes contra eles próprios, então, só precisando estar alerta.

O primeiro dos Ferais viu a Rainha caindo em sua direção e estendeu a bocarra, quase sem poder acreditar na própria sorte. E ainda estava de boca aberta quando a espada de Christabel girou, separando sua cabeça do corpo, e a Rainha caía entre os demais.

Um movimento para trás, e ela atingiu outro deles. Girou o corpo. Outro. Abaixou-se, a lâmina erguida e o pé direito afastado do corpo. Mais um. Já conseguira a atenção deles, acreditava.

Mais quatro Ferais saltaram de quatro pontos diferentes sobre ela, mas Christabel saltara novamente na direção dos Símios, agora avançando sobre ela com suas armas em riste. A Rainha deslizou no terreno arenoso e atirou mais pó na direção deles, que baixaram suas foices e lanças sobre ela num movimento conjunto.

Christabel conteve as armas deles com a sua própria e a dose certa de magia, reduzindo o peso de tudo que caíra sobre si. Estava praticamente deitada no solo, e os passos saltados dos Ferais se aproximavam.

Ela se colocou de pé com um único movimento, empurrando as armas dos Símios para o alto e saltando sobre o que parecia o líder deles, agarrando-se ao seu ombro. E os Ferais já estavam quase sobre eles.

Christabel lançou-se para trás da primeira linha de Símios, empurrando o líder adiante enquanto o fazia, e a primeira horda de Ferais e de Símios caiu sobre si mesma enquanto ela rolava para diante, se embrenhando mais entre os gorilas gigantes e apenas afastando as armas deles com sua própria espada.

Ferais a estavam tentando alcançar enquanto se movia, mas ela sempre estava um passo adiante, deixando apenas um Símio em seu lugar para ser atacado por um Feral. Quando chegou ao fim da linha dos gorilas, todos estavam ocupados lutando com um dos lobos gigantes e nem um nem outro grupo de perseguidores tinha tempo para ela.

O solo começou a estremecer, e Christabel quase sabia o que a esperava, e tornou a correr para longe dos atacantes. Era veloz demais para que a maioria deles pudesse impedí-la, e os poucos que tentavam tombavam com um golpe rápido de sua espada ou eram expulsos para trás por quilômetros com sua versão da magia Impulso.

E uma segunda Serpente de Fogo ergueu-se em meio ao deserto, empinando-se sobre seu corpo por um momento para então localizar a Rainha fugitiva e começar a deslizar em sua direção. E embora pudesse ser mais rápida, Christabel ainda estava guardando suas forças. Estava se saindo muito bem sozinha, sabia que poderia manter-se lutando até eliminar todos os que a perseguiam, mas sua intuição avisava para que se poupasse. E, não precisava ficar fugindo se não quisesse.

Correu na direção de uma formação rochosa mais a oeste. Estava começando a ficar aborrecida da batalha, e continuava preocupada com aqueles a quem deixara para trás. Mas precisava manter os perseguidores afastados deles, e achava que agora podia fazer isso de forma mais prática. A serpente estava se aproximando dela e enquanto se afastava, olhou para trás ainda uma vez. Era apenas uma questão de agir no momento certo.

A cabeça flamejante da serpente ganhou terreno, mas então Christabel chegou à base da elevação rochosa e saltou nas escarpas, subindo mais e mais com seu peso nulo enquanto a serpente a seguia, quase parecendo hesitar antes de subir.

Após um segundo tentando decidir, a serpente percebeu; Christabel pisara em falso! Parecia muito segura de si no início, mas o solo acidentado do deserto a traíra e uma das escarpas na qual se apoiara se partira sob ela, e agora a Rainha cairia. Era a sua chance, e a serpente deu um bote veloz para cima, as mandíbulas escancaradas.

Christabel olhou para a criatura de chamas que se aproximava, e sorriu com confiança. Estava na hora de usar um pouco mais de magia, ao que parecia.

Cravou sua espada na encosta rochosa e subiu no punho dela enquanto a bocarra se erguia sobre o corpo flamejante. O interior da serpente sem dúvida era um inferno de chamas, capaz de consumir praticamente qualquer coisa. Mas ela estava em posição para um teste definitivo.

_ Impacto!

Através da lâmina de sua espada, Christabel mandou a magia de cinese para dentro da escarpa rochosa com o poder de uma explosão enquanto saltava para longe, e com um estrondo surdo todo o topo da elevação onde estivera desabou sobre a serpente, próxima demais para sequer fechar as mandíbulas.

Toneladas e mais toneladas de rocha caíram no interior flamejante da Serpente de Fogo, que ainda subia com seu primeiro impulso. No entanto, blocos de rocha empurrando ar e mais rocha para baixo entraram por sua boca, e suas chamas não podiam consumir aquilo instantaneamente como faziam com qualquer ser vivo que devorava. Sem nenhum aviso, a serpente explodiu, da mesma maneira que aquela que caçara a Unicórnio.

Chamas espalharam-se por centenas de metros do ponto da explosão, auxiliadas por um vento não natural que soprou de seu interior e pela altura na qual estava quando as rochas a fizeram explodir. Fogos e rochas incandescentes voaram em várias direções, e mais dos perseguidores se viram diante do poder de uma chuva de mil chamas. E no centro de tudo, descendo ao solo como uma folha de árvore flutuando no ar, Christabel olhava ao redor. Algo de seus trajes ficara chamuscado, e também seu rosto estava um pouco marcado pela fuligem e algumas mechas de seus cabelos tinham sido levemente queimadas nas pontas. Suspirou, um pouco aborrecida. Não fora ruim, mas tinha espaço para muita melhoria.

Olhou à distância, na direção da Cidade Sucata. Sentiu seu peito se contrair, e lembrou-se de que não tinha tempo para vaidades ainda. Estava livre dos perseguidores por alguns minutos até que pudessem lhe sentir a presença novamente; deveria aproveitar esse tempo de forma útil.

Sunday, October 08, 2006

Senhores e senhoras, passageiros e passageiras, bem vindos a bordo. tivemos um certo momento de turbulência, perdemos contato e comunicação e perdemos at~e mesmo o ar de nossa cabine, com penalização de semanas de afastamento e ausência. Mas agora, estamos de volta. ^_^

Enquanto eu me reencontro aqui, na versão melhorada do Covil do Louco (sim, as mudanças foram pra melhor. Agora só falta eu me acostumar ^^'), sigamos adiante com a Rainha. É ruim que eu vou deixar a Christie, ou meus eventuais leitores, na mão!!!

Forte amplexo, e vamos nessa!


(...)


O primeiro dos Símios mal percebeu quando uma forma humana saltou sobre seu peito e o lançou de volta na direção de seus irmãos, mais dois tombando com a surpresa, enquanto Christabel se atirava de volta para trás. Podia aproveitar o número de oponentes contra eles próprios, então, só precisando estar alerta.

O primeiro dos Ferais viu a Rainha caindo em sua direção e estendeu a bocarra, quase sem poder acreditar na própria sorte. E ainda estava de boca aberta quando a espada de Christabel girou, separando sua cabeça do corpo, e a Rainha caía entre os demais.

Um movimento para trás, e ela atingiu outro deles. Girou o corpo. Outro. Abaixou-se, a lâmina erguida e o pé direito afastado do corpo. Mais um. Já conseguira a atenção deles, acreditava.
Mais quatro Ferais saltaram de quatro pontos diferentes sobre ela, mas Christabel saltara novamente na direção dos Símios, agora avançando sobre ela com suas armas em riste. A Rainha deslizou no terreno arenoso e atirou mais pó na direção deles, que baixaram suas foices e lanças sobre ela num movimento conjunto.

Christabel conteve as armas deles com a sua própria e a dose certa de magia, reduzindo o peso de tudo que caíra sobre si. Estava praticamente deitada no solo, e os passos saltados dos Ferais se aproximavam.

Ela se colocou de pé com um único movimento, empurrando as armas dos Símios para o alto e saltando sobre o que parecia o líder deles, agarrando-se ao seu ombro. E os Ferais já estavam quase sobre eles.

Christabel lançou-se para trás da primeira linha de Símios, empurrando o líder adiante enquanto o fazia, e a primeira horda de Ferais e de Símios caiu sobre si mesma enquanto ela rolava para diante, se embrenhando mais entre os gorilas gigantes e apenas afastando as armas deles com sua própria espada.

Ferais a estavam tentando alcançar enquanto se movia, mas ela sempre estava um passo adiante, deixando apenas um Símio em seu lugar para ser atacado por um Feral. Quando chegou ao fim da linha dos gorilas, todos estavam ocupados lutando com um dos lobos gigantes e nem um nem outro grupo de perseguidores tinha tempo para ela.

O solo começou a estremecer, e Christabel quase sabia o que a esperava, e tornou a correr para longe dos atacantes. Era veloz demais para que a maioria deles pudesse impedí-la, e os poucos que tentavam tombavam com um golpe rápido de sua espada ou eram expulsos para trás por quilômetros com sua versão da magia Impulso.

E uma segunda Serpente de Fogo ergueu-se em meio ao deserto, empinando-se sobre seu corpo por um momento para então localizar a Rainha fugitiva e começar a deslizar em sua direção. E embora pudesse ser mais rápida, Christabel ainda estava guardando suas forças. Estava se saindo muito bem sozinha, sabia que poderia manter-se lutando até eliminar todos os que a perseguiam, mas sua intuição avisava para que se poupasse. E, não precisava ficar fugindo se não quisesse.

Correu na direção de uma formação rochosa mais a oeste. Estava começando a ficar aborrecida da batalha, e continuava preocupada com aqueles a quem deixara para trás. Mas precisava manter os perseguidores afastados deles, e achava que agora podia fazer isso de forma mais prática. A serpente estava se aproximando dela e enquanto se afastava, olhou para trás ainda uma vez. Era apenas uma questão de agir no momento certo.

A cabeça flamejante da serpente ganhou terreno, mas então Christabel chegou à base da elevação rochosa e saltou nas escarpas, subindo mais e mais com seu peso nulo enquanto a serpente a seguia, quase parecendo hesitar antes de subir.

Após um segundo tentando decidir, a serpente percebeu; Christabel pisara em falso! Parecia muito segura de si no início, mas o solo acidentado do deserto a traíra e uma das escarpas na qual se apoiara se partira sob ela, e agora a Rainha cairia. Era a sua chance, e a serpente deu um bote veloz para cima, as mandíbulas escancaradas.

Christabel olhou para a criatura de chamas que se aproximava, e sorriu com confiança. Estava na hora de usar um pouco mais de magia, ao que parecia.

Cravou sua espada na encosta rochosa e subiu no punho dela enquanto a bocarra se erguia sobre o corpo flamejante. O interior da serpente sem dúvida era um inferno de chamas, capaz de consumir praticamente qualquer coisa. Mas ela estava em posição para um teste definitivo.

_ Impacto!

Através da lâmina de sua espada, Christabel mandou a magia de cinese para dentro da escarpa rochosa com o poder de uma explosão enquanto saltava para longe, e com um estrondo surdo todo o topo da elevação onde estivera desabou sobre a serpente, próxima demais para sequer fechar as mandíbulas.

Toneladas e mais toneladas de rocha caíram no interior flamejante da Serpente de Fogo, que ainda subia com seu primeiro impulso. No entanto, blocos de rocha empurrando ar e mais rocha para baixo entraram por sua boca, e suas chamas não podiam consumir aquilo instantaneamente como faziam com qualquer ser vivo que devorava. Sem nenhum aviso, a serpente explodiu, da mesma maneira que aquela que caçara a Unicórnio.

Chamas espalharam-se por centenas de metros do ponto da explosão, auxiliadas por um vento não natural que soprou de seu interior e pela altura na qual estava quando as rochas a fizeram explodir. Fogos e rochas incandescentes voaram em várias direções, e mais dos perseguidores se viram diante do poder de uma chuva de mil chamas. E no centro de tudo, descendo ao solo como uma folha de árvore flutuando no ar, Christabel olhava ao redor. Algo de seus trajes ficara chamuscado, e também seu rosto estava um pouco marcado pela fuligem e algumas mechas de seus cabelos tinham sido levemente queimadas nas pontas. Suspirou, um pouco aborrecida. Não fora ruim, mas tinha espaço para muita melhoria.

Olhou à distância, na direção da Cidade Sucata. Sentiu seu peito se contrair, e lembrou-se de que não tinha tempo para vaidades ainda. Estava livre dos perseguidores por alguns minutos até que pudessem lhe sentir a presença novamente; deveria aproveitar esse tempo de forma útil.

Sunday, September 10, 2006

Etcha, fala gente! Saudações do Louco!

É, foi o q eu disse. A Rainha tá de volta ^^ E agora, vamos ver o quanto ela tá diferente, e o quanto continua a mesma. Heh, posso adiantar q ela continua falando pouco ^^

Amplexos antes da chuva!

XXVIII – O Retorno da Rainha



A expressão da Rainha era indecifrável quando olhou para baixo, deparando com uma Arcana tombada ao solo, um segundo deles flutuando diante dela e de Sari, no solo lá embaixo. Ela ocultara sua própria presença até chegarem ali tanto quanto pudera, e também por isso devia agradecer aos esforços conjuntos dos Escavadores e dos Sete Dragões da Cidade Avançada, mas isso ficaria para depois. Sob sua fachada de indiferença, ela estava aflita com o que presenciava.

Vira à distância os restos da Unicórnio. Reconhecia vestígios de essências de inimigos abatidos ao redor da cratera, uma delas pertencente ao monstro Sáurio, que tinha enfrentado em sua jornada. E sabia, sem precisar perguntar, que aquilo fora trabalho de Zero.

Mas ele não estava em parte alguma para ser visto. E o número de escombros no piso lá de baixo era mais que suficiente para que ela deduzisse que ele devia estar sob aquelas pedras. Trouxera o Irmão Laírton consigo; um Religioso dotado nas artes da cura seria essencial, imaginara. Mas duvidava que mesmo Laírton pudesse trazer os mortos de volta...

Despertou de seus temores. Podia sentir a presença de Zero em algum lugar ali perto, só não sabia bem aonde. Primeiro, era preciso que se livrasse do Arcano.

_ Enfim apareceu, Majestade – Tur voltou-se ligeiramente para ela, embora mantivesse a atenção em Sari também – Já imaginava que teria fugido.

_ Então é um tolo maior do que eu pensei – o olhar cinzento de Christabel parecia indiferente como sempre – Não aprendeu coisa alguma de nossos confrontos.

Tur ficou visivelmente irritado, suas feições duras voltadas para Christabel. E a Rainha displicentemente levou a mão esquerda à bainha de sua espada.

_ A menos que tenha vindo aqui apenas para desperdiçar meu tempo, sugiro que tome logo uma atitude. Não é o único a quem devo dar atenção hoje.

Ahl-Tur também levou a mão à própria espada, mas deteve-se. Kayla estava enfraquecida, ele próprio não estava no auge de sua forma... e Christabel se recuperara. Ele podia sentir, o poder fluía gloriosamente ao redor da Rainha. Era o que ele fora buscar ali, e no entanto, sabia não ter condições de derrotar às duas oponentes ao mesmo tempo. Se tinha alguma intenção de retornar a seu mestre com seu dever cumprido, só havia uma ação a tomar.

_ Aproveite, Rainha. Já me escapou por tempo demais.

Ele desceu depressa até onde Kayla estava caída, fechou ambas as asas sobre a fêmea, e ambos desapareceram numa explosão surda de fumaça escura. Christabel podia sentir o rumo que haviam tomado, poderia até mesmo tê-los perseguido, impedido que se recuperassem se fosse o caso. Mas ainda tinha muito para fazer ali.

Voltou-se. Sari se voltara para os escombros onde Zero devia estar, foi até eles e então deteve-se, olhando para ela. Podia retirar as rochas, mas a magia de Christabel sem dúvida o faria mais depressa, se ela ainda fosse capaz de tal.

Christabel estendeu a mão esquerda, e os escombros moveram-se ao seu comando. Não era preciso esforço, podia inclusive fazê-lo mais depressa, mas estava sendo cautelosa, levando em conta o risco de esmagar Zero com uma retirada feita às pressas. Alguns passos atrás dela, Laírton observava a cena acompanhado de mais sete pessoas, os líderes dos Dragões, defensores da Cidade Avançada. O líder deles, usando uma armadura metálica em tons de verde e branco, perguntou discretamente:

_ E agora, o quê ela está fazendo?

_ Imagino que esteja resgatando nosso amigo ferido – Laírton respondeu sem se voltar, olhando preocupado para a cratera – Acredito que ainda tenhamos tempo de resgatá-lo, se formos rápidos.

_ Zero vai ficar bem, Irmão?

Laírton voltou-se. A pergunta fora feita por uma das três moças entre os Dragões, a única que realmente não parecera se importar em sair dos muros e ir procurar por Zero. Parecia ser uma velha amiga de infância de Zero, e ele respondeu:

_ Eu tenho como auxiliá-lo, mesmo que esteja seriamente ferido. Mas apenas a Rainha pode retirá-lo depressa o suficiente.

_ Ela é mesmo a Rainha Christabel de Melk? – o líder perguntou – E o que está fazendo aqui?

_ Isso... é uma história muito longa, Mestre Arthur. Receio que tenha que perguntar diretamente a ela, quando tudo isso terminar.

_ Eu o retirei, Laírton. Agora, caberá a você.

Christabel voltara-se lentamente para eles, a mão direita voltada para cima sustendo alguém. Zero flutuava no ar diante dela, e o espanto dos Dragões em vê-lo naquela situação, ou à Rainha Christabel movendo-o com magia juntou-se ao que a maioria deles teve ao ver Sari saindo da cratera aberta no deserto com um mero salto. E ela fora a única capaz de ouvir o que Christabel murmurou quando Zero chegara à tona, e o semblante da Rainha parecera entristecido por um momento:

_ Me perdôe. Eu me atrasei.

Ela estava diferente, Sari podia sentir. Algo havia mudado. Mas não era a hora nem o lugar para perguntas, ou para demora. O tempo era essencial.

_ Depressa, temos que levar Zero de volta à Cidade Sucata! Se não o tratarmos logo...

_ Não podemos tirá-lo daqui ainda, caçadora – Christabel respondeu sem se voltar, depositando Zero com cuidado no veículo que os conduzira até ali – Irmão?

_ Sua Alteza tem razão, Sari – Laírton aproximou-se, curvando-se sobre a forma inconsciente do amigo e baixando o cajado até que estivesse próximo ao rosto dele – Não é uma viagem simples; os campos ainda têm inimigos a serem combatidos e a estrada é irregular demais. Zero não pode ser transportado em tais condições; os primeiros socorros devem ser ministrados aqui, sem movê-lo.

_ Nada seguro, pelo que estou vendo – um dos Dragões comentou nervosamente, batendo os imensos punhos de metal um no outro – Deu pra pôr os bichos no nosso caminho pra correr, mas se eles resolverem dar o troco...

_ Não vão fazê-lo – Christabel respondeu, se afastando devagar – Ao menos, não enquanto eu puder impedí-los. Laírton, de quanto tempo precisa?

_ Quanto puder me conceder, Alteza – Laírton respondeu sem se voltar. E os Dragões mais próximos viram admirados enquanto alguns dos cortes superficiais ou profundos no corpo de Zero se fechavam aos poucos até se fecharem totalmente... mas então, tornavam a se abrir, e Laírton praguejou – A situação dele é séria, seu sistema está muito fraco. Tenho como acelerar a cicatrização, mas os ferimentos tornam a se abrir.

_ Ele ficou soterrado por tempo demais, perdeu muito sangue – Sari se aproximou, visivelmente preocupada – O pouco que resta em seu sistema não tem força o bastante para curá-lo. Eu posso injetar energia nele, restaurar os fluxos normais do organismo; talvez assim ele comece a reagir. Mas não há como ter certeza de coisa alguma.

_ Estão vindo! – outro dos Dragões, posicionado sobre uma das rochas próximas, avisou – Uma massa das criaturas, que estava em retirada. Estão vindo direto pra nós!

_ Vou afastá-los – Christabel caminhou no rumo que o Dragão mostrara, mas deteve-se para olhar para Sari – Faça o que puder, caçadora. Farei o mesmo.

_ Espere, você não deveria ir sozinha...

Christabel ignorou o líder dos Dragões, segurando a bainha de sua espada com a mão esquerda e começando a correr na direção da ofensiva. E corria muito, tão veloz que logo estava além do alcance da voz de qualquer um deles, deixando uma nuvem de poeira atrás de si e o Dragão de boca aberta, sem completar a frase.

E Sari acenou afirmativamente com a cabeça. Era a primeira vez em que Christabel não olhara para ela, Laírton ou Zero com superioridade ou pouco caso. Seu olhar era sério, mas não estava dando ordens a ela; só lhe fizera um pedido. Nada além do que era capaz.

_ Boa sorte, Christabel.

As hostes em debandada haviam se dispersado. Alguns deles continuavam a fugir, outros moviam-se na direção em que os humanos em veículos tinham seguido. Os mais atentos tinham percebido novamente a presença de Christabel, mais clara do que estivera até então. Alguns deles sabiam o que aquilo significava, e achavam que era melhor ir buscar seus mestres. Outros achavam que era melhor tentar apreender Christabel enquanto ela ainda se refazia; talvez tanto tempo de confinamento a tivesse deixado enfraquecida de algum modo.

A Rainha certamente se sentia assim. Era como tornar a se mover depois de muito tempo parada na mesma posição, com o corpo encolhido. Seu poder estava de volta, tanto quanto quisesse... mas ela sentia que não seria muito sábio exagerar ou fazer uso de grande quantidade dele ainda. A falta de costume de dias faria com que se cansasse muito depressa se tentasse. Mas, como de costume, estava muito longe de estar indefesa.

Magias de cinese e gravidade consumiam pouco esforço, aprendera isso durante seu confinamento. Com esforço mínimo de atenção agora que a tiara fora removida, ela estava se deslocando depressa sobre o terreno acidentado em direção aos atacantes, e apesar da preocupação com os que deixara atrás de si, não podia conter um pequeno sorriso de satisfação. Era muito bom poder lutar apropriadamente outra vez.

Havia Flamejantes se aproximando diretamente à sua frente. Sua mão direita agarrou o cabo da espada curta enquanto ela se aproximava depressa, e de repente eles perceberam a nuvem de pó que vinha no sentido contrário. E também a presença que a prenunciava.

O primeiro movimento de Christabel no momento em que alcançaria a massa de oponentes foi saltar sobre um deles, e puxar sua espada. Ela não corria mais, mas deixou que sua velocidade se consumisse enquanto saltava de um Flamejante para outro como se não tivesse qualquer peso, como se a espada fosse uma extensão de seus braços ou como se não estivesse ficando sozinha em meio a uma legião de inimigos.

Ela por fim parou de se mover, a lâmina da espada voltada para baixo e o braço erguido, e o cerco foi se movendo para ficar à sua volta. Os Flamejantes pelos quais passara tinham tombado, rolando sobre si mesmos, abatidos num único golpe.

Místicos começaram a enxamear, descendo em círculos ao redor dela e abrindo espaço entre os demais. Suas rajadas de fogo tinham a intenção de atordoar a Rainha como pudessem, pois ainda pretendiam capturá-la com vida se tal coisa fosse possível.

Christabel ergueu os olhos, vendo os jorros de fogo que desciam em espiral. Estava cercada, não teria para onde escapar se tentasse. Ficou de pé e estendeu a mão esquerda aberta na direção dos ataques, quase com displicência.

As chamas abriram-se como pernas de aranha por toda a volta, os jorros caindo para todas as direções e atingindo as criaturas ao redor de forma explosiva, esparramando-se onde tocavam. Os Místicos lá em cima detiveram-se ao ver que não estavam chegando nem perto de sua presa... e a espada dela fincou-se entre os olhos no peito de um deles, que caiu abatido.

O Místico ainda não ficara imóvel quando Christabel recuperou sua espada com um movimento simples, como se a puxasse. E Espideros lançaram-se sobre a Rainha, passando sobre as chamas no terreno e disparando suas teias na direção dela.

Christabel saltou para trás recuando poucos passos, mas tendo eliminado o próprio peso, cada passo fazia com que cobrisse alguns metros, se colocando além de qualquer teia que pudesse cobrí-la. E quando a última delas se perdeu, ela começou a avançar.

As aranhas gigantes ainda eram perigosas, e menos preocupadas com sua integridade física do que os Místicos. Se não podiam confinar a Rainha, pretendiam envenená-la ou contê-la com suas pinças como pudessem, e várias delas ergueram-se sobre quatro patas para formarem verdadeiras barreiras com pernas avançando na direção de Christabel.

Novamente, a Rainha corria sobre os inimigos mantendo a espada para trás de si, na posição da Lâmina Perseguidora. Sua espada podia facilmente esmagar qualquer um dos Espideros que avançava; no entanto, ela não tinha a menor intenção de fazê-lo.

As pinças dos Espideros gotejavam veneno enquanto viam a Rainha se aproximar mais e mais deles; alguns dos mais próximos dispararam teias novamente...

... e Christabel moveu a espada adiante, golpeando o solo à sua frente como se a arma fosse um martelo. No ato, estilhaços de rochas e uma nuvem espessa de poeira ergueram-se por todo o lado com um estrondo surdo, e toda a visibilidade desapareceu.

Os Espideros se detiveram. Alguns, mais próximos, tinham sido abatidos pelos destroços de rocha, enquanto outros tossiam e ofegavam, procurando ao redor. Christabel sumira completamente.

Um deles tombou, e outro, e mais outro. Um quarto pareceu reparar na movimentação e então suas pernas pararam de sustê-lo e ele tombou na areia. E a última coisa que seus oito olhos viram foi o vulto sobre ele com a lâmina erguida.

Mal abatera o último dos Espideros, Christabel voltou sua atenção para esquerda de onde estava. Símios, dos mesmos que tinham enfrentado Sari e Zero anteriormente. Não tão velozes quanto a maioria dos outros, talvez, mas consideravelmente mais fortes em poder físico. Do flanco direito, uma alcatéia de Ferais. Estavam chegando mais depressa.

Então, era preciso que fosse mais rápida.

Sunday, September 03, 2006

Olá Leitores! Olá Leitoras! Olá gente q passa aqui pela pri eira vez, procurando Samuel T. Coleridge, essa é a Christabel errada, mas bem vindos assim mesmo! Fiquem por um spell, e vejam se não curtem a minha versão da moça ^^

E isso tbm vale pros veteranos. No nosso último episódio, Sari tava se saindo muito bem com os Arcanos, especialmente se pensarmos q ela tava sozinha.

E aí, como isso termina?

Amplexos do Louco!

(...)

Sari não entendeu de pronto quando Kayla recuou de repente, um salto amplo para trás enquanto era contida. Aquilo não valeria em nada para a Arcana, a menos que...

Kayla sorriu ao ver a compreensão no rosto de Sari e lançou sua lâmina esquerda, agora coberta com chamas de magia. Lançou-a na direção dos escombros onde Zero jazia, e havia muito pouca dúvida de que o impacto do metal incandescente nas rochas mal empilhadas seria ruim para o mecânico caído ali.

Sari praguejou, movendo-se depressa como podia. Estava atrasada demais, não teria como alcançar a lâmina a tempo por si mesma... mas podia lançar sua própria lâmina como uma flecha, sua força de arremesso tinha que ser suficiente para impedir o pior.

A katana colidiu com a lâmina em lua de Kayla, e as chamas explodiram. Cada arma caiu para um lado, nenhuma das duas chegou às rochas ou retornou para a sua respectiva mestra. A katana de Sari foi lançada para o outro extremo da caverna, fumegando ao chocar-se contra uma parede. E a lâmina em lua de Kayla rodopiou no ar até atingir a parede oposta, também fumegante e fincando-se no paredão de rocha.

Mas Sari já sabia o que veria ao voltar-se para a Arcana. Kayla saltara sobre ela, um sorriso de triunfo na expressão enquanto sua lâmina restante erguia-se para o golpe final. Sari não teria como deter aquele golpe sem sua arma, nem tinha uma segunda como ela própria. Acabara.

Com um tranco seco, ambas se detiveram. Os olhos de Kayla estavam arregalados, os de Sari apertados de dor, e determinação. A outra fora inteligente com sua idéia, mas estava equivocada ao pensar que não havia defesa possível para ela.

O metal da lâmina de Kayla enterrara-se em seu ventre, mas sua mão esquerda adiantara-se e agarrara o pulso da Arcana, impedindo a intensidade do golpe. Tivera que se deixar atingir para conter a outra e ferí-la o bastante.

Sua mão direita estava enterrada no peito de Kayla. Um ferimento mortal para um humano, de seriedade considerável para alguém como a Arcana. Nada que fosse matá-la, mas reduziria sua capacidade de combate à metade. Isso, se Sari fosse apenas um ser humano. E não era.

Kayla gritou de dor quando Sari começou a drenar suas energias. A outra resistia muito, mas estava perdendo terreno. Arcanos confiavam demais em sua virtual imortalidade, sendo quase impossível que algo ou alguém ferisse seu corpo espiritual. Mas Sari estava pressionada pelo tempo, e irritada pela tentativa da outra de prejudicar Zero ainda mais. Estava lutando por outra pessoa, enquanto Kayla tentava proteger a própria vida. Sua determinação sem dúvida era poderosa, mas naquele momento, Sari era mais poderosa do que ela.

_ Você me irritou de verdade – os olhos de Sari cintilaram para a expressão confusa de Kayla – Não vou deixá-la escapar.

_ N-não... Pare! – Kayla tentou livrar-se, mas seu pulso ainda estava preso pela mão esquerda da caçadora, enquanto a direita parecia apertar seu coração – O q-que pensa que está fazendo...?

_ Você sabe.

Kayla não podia aceitar aquilo, era algo ainda mais fora da realidade do que tudo o que vira até então. Aquela humana a estava aprisionando, ferindo... e de repente, ela percebia que não tinha forças para resistir totalmente. Estava, sim, lutando. Era capaz de retardar o processo... mas não era capaz de impedir! Por mais que tentasse...!

“N-não acredito...! Então, é assim que é... m-morrer...?”

_ Afaste-se dela.

Sari voltou seus olhos para a voz que chamara sua atenção, mas Kayla continuava presa, e ferida. Não conseguia se soltar. Não conseguia se voltar. Mas reconhecia a voz que falara.

_ M-Mestre... Tur...!

Sari não se movera. Mais um Arcano. Estava tão concentrada na luta com a outra que não reparara no outro sobrevivente. Era aquele que falara, o líder deles. Ele descobrira sobre ela não ser Christabel, e sobre o plano de Zero.

_ Eu não estou brincando, mulher. Afaste-se, ou sofra as consequências.

_ Não pode me atacar – Sari moveu-se, colocando Kayla entre ela e Tur – Seu corpo danificado pode ter forças para isso, mas se tentar vai apressar o fim desta aqui.

_ Tente – Tur abriu os braços, flutuando lentamente – Posso não impedir a sua intenção, mas acreditei que gostaria de salvar seu companheiro. É rápida o bastante para matar Kayla e me deter?

Sari se deteve. O outro não estava blefando, ela sabia. Poderia derrubar o resto da caverna com muita facilidade, e então nem mesmo ela poderia salvar Zero. Já seria algo difícil na situação atual, e impossível com mais escombros sobre ele.

_ Como vou saber que não vai fazê-lo, não importando o que aconteça?

_ Não vai saber.

Sari procurou pensar depressa. Não tinha qualquer garantia que o outro fosse mesmo manter sua palavra. Por outro lado, aquela lâmina em seu ventre estava doendo. Seu maior aborrecimento, no entanto, era não ter como atingir ao oponente suspenso no ar. Isso a deixava numa situação difícil, pois não acreditava que o Arcano permitiria que se fossem. Ainda mais depois de tê-los enganado, e de Zero ter conseguido acabar com vários dos seus. Deviam ser orgulhosos demais para tal coisa passar em branco.

Empurrou Kayla para longe de si, olhando desconfiada para Ahl-Tur, esperando qualquer movimento brusco ou suspeito. Ainda tinha um ou dois recursos para utilizar, coisa que poderia se dar ao luxo de fazer com a energia que possuía. Se era a melhor chance que teria de libertar Zero, teria que arriscar.

Tur viu Kayla cair ao solo, ferida com seriedade. Um ferimento que podia derrubar até mesmo um Arcano era algo interessante e digno de respeito, ele precisaria verificar as condições de Kayla com cuidado. E, também, não seria bom perder a última dos que o haviam seguido até ali. A dúvida era, o que fazer exatamente?

Olhou para a rival lá embaixo, que continuava atenta a ele. Podia enfrentá-la em suas atuais condições, dependia disso na verdade. Não tinha como voltar ao seu mestre sem Christabel mais uma vez, não tinha como relatar outra perda de Arcanos sem ter nada a mostrar. E Kayla semi-morta não era algo que fosse melhorar sua situação em qualquer maneira.

Sari sentiu a intenção dele; era visível em sua energia. Ele ia atacar. Não podia ser de outra forma. Ela estava longe de sua espada, mas tinha seus recursos. Era apenas uma questão de esperar o momento certo... e isso podia fazer toda a diferença.

Foi quando o som aproximou-se deles, o som alto de tiros, explosões e urros de criaturas. Mais ainda, havia uma presença familiar se aproximando, tão forte que parecia estar empurrando as demais para fora de seu caminho ou em direção a eles. Um motor suavizado foi a próxima coisa que ouviram, pouco antes de um veículo prateado deter-se a poucos metros da entrada da caverna lá em cima. E os dois sabiam quem era o vulto que parou na borda, olhando para eles.

Christabel.

Sunday, August 27, 2006

Leitores e leitoras, e toda a galera de plantão, saudações do Louco!

Sim, enquanto assisto Rose Red (a versão de Stephen King pra A Casa Amaldiçoada... mas não se enganem. Essa história do Mr. King é mais antiga q o filme com Liam Nesson. A história onde isso se baseou, uma casa q crescia a cada pessoa q morria, era It Grows on You, a menos que eu esteja muito enganado), vai mais um pouco da luta!

E mantenhamos o passo. Hmmm... Acho que tá na hora de voltar a escrever a Christie. Minha margem de segurança tá acabando.

Forte amplexo do Louco, e boa semana!!

(...)


Sari praguejou em silêncio. Abatera o único Arcano que vira cair ali tão depressa quanto pudera e, interiormente, estava muito satisfeita consigo mesma. Por poderoso que fosse, o outro não fora capaz de resistir a ela atacando de surpresa, e ainda restabelecera totalmente suas forças. Sari estava em melhores condições do que quando a louca escapada pela planície começara; sentia que poderia lutar por dias seguidos, se preciso fosse.

No entanto, estava preocupada por não ter podido livrar Zero. Ele não tivera tempo, ou não quisera dizer a ela o que ia fazer para não ser ouvido pelos temíveis Arcanos. Fora um ato suicida o dele, causar a explosão da caldeira de vapor de sua moto a uma distância tão reduzida, mas também fora a melhor estratégia para eliminar os Arcanos, ao que parecia. Pensando na motocicleta como um meio de transporte, ninguém teria atinado com a ameaça que ela era. A própria Sari, tão temerosa de viajar com Zero a princípio exatamente pelo risco da caldeira explodir, não imaginara que ele faria aquilo.

O mergulho na vala aberta pela erosão sem dúvida salvara a vida de ambos. Ela poderia ter se tornado em névoa se imaginasse o que seu amigo pensava em fazer, mas Zero sem dúvida pereceria mais facilmente do que os Arcanos se fosse atingido pelos estilhaços da moto. No entanto, o desabamento os lançara num túnel subterrâneo juntamente com metade do deserto, ao que parecia. Não fora um desafio para ela se tornar em névoa e escapar dos destroços, aproveitando a situação para deixar seu capacete para trás. Mas...

“Zero... Sua energia está diminuindo rápido...!”

Não poder ver o corpo de Zero não queria dizer que os sentidos de Sari não podiam localizar sua força vital em meio aos escombros. Mas essa mesma força o estava abandonando depressa. Ela teria como salvá-lo... mas primeiro era preciso eliminar as distrações. Percebera a confusão no rosto do Arcano que caíra próximo a ela e fora rápida para abatê-lo, mas agora, a segunda dos três sobreviventes emergira das pedras.

_ Afaste-se!

_ Não, humana – Kayla sacudiu os cabelos, livrando-se da poeira, e puxou devagar suas duas lâminas curvas – Seu companheiro deve saber onde está Christabel e, agora, não vai mais nos causar problemas. A menos que você queira revelar tal segredo, vou ter que retirá-lo dele.
Foi inevitável para Sari voltar-se por um instante. A vida de Zero estava se escoando rápido. Ela fora capaz de eliminar rapidamente um Arcano pego de surpresa, acreditava ter forças para eliminar aquela ali também... mas isso levaria tempo. Tempo que não podia desperdiçar.

Mas Zero nunca a perdoaria. Arriscara a si mesmo, sua cidade e seus amigos para garantir tempo precioso a Christabel, mesmo quando a própria Rainha rejeitara sua idéia. Se ela comprasse a vida dele usando a da outra... Sacudiu os longos cabelos prateados, firmou a katana em suas mãos e encarou Kayla.

_ A terceira opção é você se retirar. Recupere-se e volte depois, se tiver coragem. Mas se me enfrentar nesse estado, eu mato você. Como fiz com seu amigo.

_ Hmph – Kayla olhou com pouco caso para Sari, enquanto caminhava devagar para a direita e ambas se mediam – Não deixe um golpe de sorte subir-lhe à cabeça. Confiança demais pode ser a sua ruína.

Sari sorriu com superioridade. A outra a estava retendo, desperdiçando o tempo que até então trabalhara a favor deles. Mas ela sabia como apressar o duelo. Caminhando para a direita também, esquerda da outra, ela comentou displicentemente:

_ Fala por experiência própria, não?

Funcionara. As feições de Kayla escureceram diante da provocação e ela investiu, rápida demais para que qualquer ser humano a enfrentasse com igualdade.

Mas Sari era uma vampira, de reflexos, capacidade física e resistência que no mínimo se equivaliam às dos Arcanos. Estava no auge de sua forma, graças ao fato de ter se alimentado da essência de Val-Aret, e era movida pela urgência de salvar Zero. Que nada nem ninguém ficasse em seu caminho.

Ahl-Tur despertou devagar, e a primeira certeza que teve era de estar ferido. Consideravelmente ferido. Ao longe, parecia ouvir o som de metal contra metal, e aquilo o auxiliou a focalizar a realidade. Havia combate nas proximidades, e era onde ele precisava estar.

Tentou se mover. O corpo físico estava preso sob escombros de rocha, e ele podia sentir o cheiro da poeira, de terra recém-movida e também... vapor. Uma garoa fina de vapor, que talvez os humanos nem notassem. Mas ele sim. E então lembrou-se do que acontecera.

“A explosão...! Miserável...”

O dito protetor de Christabel novamente. Tur nunca imaginara que o transporte dele também fosse sua melhor arma, causando tamanha devastação. Não conseguia sentir mais a presença da maioria dos seus, restando apenas Kayla. Provavelmente era ela quem lutava nas proximidades. Ele precisava se levantar. Não sabia quem a estava enfrentando, mas se Kayla não fora capaz de eliminar com poucos golpes, não era um mero humano.

Rochas moveram-se sensivelmente, agitando-se mais aos poucos e finalmente tombando para direita, revelando a mão direita de Ahl-Tur. Sua cabeça seguiu-se, agitando os cabelos para livrar-se do excesso de poeira. Aquele vapor estava impregnado da essência de uma Jóia Dragão de Fogo, pois Zero exercitara todos os limites de sua Unicórnio em sua última cavalgada. Aquilo perturbava Tur de uma forma muito semelhante à sensação que enfrentara em Melk. Seu poder não estava sendo contido ali, mas algo não estava correto, tampouco.

O som de metal contra metal atraiu novamente sua atenção. Kayla estava duelando, uma bela humana de cabelos e trajes de prata a confrontava com habilidade e força. Se não era superior à Arcana, também não perdia em nada para ela.

Kayla lançou sua lâmina direita, semelhante a uma lua crescente, e atacou Sari pela frente com a lâmina esquerda.

A caçadora saltou para frente, deixando a lâmina arremessada passar sob ela e atacou por cima, sua katana e a lâmina esquerda de Kayla retinindo na imensa caverna.

A lâmina direita voltou em curva para a mão de sua mestra, sibilando no ar enquanto o fazia e prestes a enterrar-se nas costas da oponente.

Sari relaxou, parando de fazer força. Todo o impulso de Kayla subitamente lançou a caçadora para o alto e ainda desequilibrou a Arcana, que cambaleou alguns passos antes de apanhar a própria arma.

Sari agarrou-se ao teto da caverna, lançando dardos de metal sobre Kayla e se lançando rumo ao solo quase no mesmo movimento.

Kayla girou a lâmina esquerda em sua mão, bloqueando os dardos de Sari. E viu a caçadora quase sobre ela, rápida, a katana erguida para o golpe final.

E as lâminas em lua tornaram a girar em suas mãos, confrontando a katana e defendendo sua mestra enquanto Sari a forçava para os fundos da caverna por alguns passos para depois ser contida e forçada novamente para trás.

Tur percebeu a intenção da outra, então. Seus movimentos eram impressionantes, não totalmente humanos, mas ele podia perceber afobação nela, também. E, mesmo durante a confrontação com Kayla, ela procurava se manter próxima de um certo ponto da caverna onde o solo estava coberto de destroços. Não foi preciso muito para que entendesse que Zero, o dito protetor da Rainha, devia estar ali. Provavelmente, sob ferimento mortal.

Entre saltos, ataques e contra-ataques, Sari e Kayla estavam se enfrentando em igualdade de condições. A Arcana não conseguiria derrotá-la apenas com força física, Sari sabia, e perguntou-se quanto tempo levaria até a outra começar a usar de magia. Era uma coisa arriscada, a caverna ainda devia estar instável depois da explosão, e qualquer feitiço mais poderoso podia fazer com que mais dela viesse abaixo. E em sua atual situação, ela não conseguia abrir a guarda da outra tampouco.

“Se ao menos eu conseguisse pegá-la desprevenida...!”

O mesmo pensamento ocorrera à Kayla. Ela estava irritada e sentindo cansaço, mais do que deveria com tão pouco tempo de batalha. Mais ainda por não conseguir, com duas armas, abrir espaço para atingir Sari.

“Se eu arriscar um único movimento a mais, poderei atingí-la... mas vou abrir minha própria guarda por tempo demais! Se houvesse como eu...”

E então lhe ocorreu; claro que havia! Era fácil! Só precisava do incentivo certo.

Sunday, August 20, 2006

Oi gente! Apesar da entrada estilo Ely Corrêa, na verdade é só o velho Louco de sempre!

Espero não ter injuriado ninguém demais; acabei atrasando uma semana inteira, e deixei os leitores na pindura. No entanto, vou demorar mais um pouquinho antes de voltar pra Christie ^^

Qualé? Não queriam saber do Zero?

Amplexos do Louco ~_^



XXVII – A Balada da Caçadora


As chamas causadas pela explosão da imensa Serpente de Fogo continuavam a queimar. Vários daqueles que perseguiam à Rainha Christabel tinham sido consumidos pelo incêndio, outros haviam se dispersado ao perceber, em seu estado fragilizado, que os temidos perseguidores de Além da Fronteira se aproximavam. Não confiavam uns nos outros para enfrentá-los se estivessem no auge de suas forças; depois daquela desastrosa explosão, então, era melhor que se fossem.

Ainda estavam se afastando quando uma segunda explosão se dera. Vários deles admiraram-se. A explosão seguinte eliminara todos os sinais da presença de Christabel, bem como dos emissários de Além da Fronteira. Após um instante de hesitação, os grupos começaram a dirigir-se para a área onde Christabel desaparecera, e a movimentação dos primeiros motivou os demais a se apressarem.

O clangor de metal era fácil de ouvir aos que se aproximaram. Ainda assim, não havia qualquer evidência nas proximidades de onde podia ser aquela batalha. Uma nuvem de vapor quente permeava os arredores a partir de um certo ponto, e em meio ao seu conflito os perseguidores se aproximaram com dúvida e cautela. Uma explosão, não havia como negar as evidências: formações rochosas tombadas como se tivessem sido empurradas; restos de vários deles espalhados por toda a volta, como se estivessem próximos demais no momento do ataque de um dragão; pó fino do deserto caindo devagar, formando uma nuvem ainda mais espessa à medida em que se caminhava no mesmo rumo que a fugitiva tomara...

Em meio à poeira e à cortina de vapor na superfície havia uma imensa cratera. Como Zero se recordara, aquela era a direção das Minas Antigas; algumas das escavações, inclusive, já alcançavam o trecho onde a Unicórnio finalmente tombara diante da chegada de Sáurio. Apesar da luta sobre si, o terreno ainda era sólido o bastante para manter-se firme diante de praticamente tudo. O que se dera, no entanto, fora uma das exceções à regra.

Finalmente acuado pelos Arcanos que o cercavam, Zero disparou uma vez à esquerda e uma à direita, baleando dois deles com as balas de Dragão de Fogo da Marcadora. Por serem poderosos física e espiritualmente, os perseguidores sombrios eram especialmente vulneráveis a tal munição. O fato de não acreditarem que um humano pudesse ferí-los com máquinas também auxiliou, tornando sete dos nove descuidados.

Ahl-Tur e Kayla avançaram ao mesmo tempo, dois alvos móveis e incrivelmente velozes, bem afastados um do outro. Zero sabia que tinha munição, mas não condições de atingir a ambos. Um dos dois chegaria a ele, e estaria morto.

Assim, ele largou a espada, guardou a Marcadora e puxou sua Quatro-Tiros num único movimento elástico para trás. Sari, ainda coberta com o capacete, teve apenas tempo de vê-lo lançar-se com ela para uma das valas abertas pela erosão no terreno enquanto dois tiros explosivos alcançaram o tanque de vapor da Unicórnio. Um tanque espesso cheio de água fervente e com um exemplar de bom tamanho de Jóia Dragão de Fogo.

A Unicórnio explodiu, estilhaços de metal, Dragão de Fogo e vapor escaldante liberados com violência para absolutamente todos os lados em meio ao som ensurdecedor da caldeira que se rompia. Tamanha violência foi suficiente para fender o solo até as minas, e uma porção considerável da área de batalha desceu ao subsolo.

Quatro dos sete Arcanos ainda vivos morreram, uma dor insuportável torturando seus espíritos enquanto seus corpos eram atingidos pelos estilhaços de metal e Dragão de Fogo; outro deles conseguira se proteger por reflexo, mas foi surpreendido pela súbita mudança do terreno, caindo com as rochas. Os outros dois foram engolidos pela terra, juntamente com os dois humanos a quem caçavam.

Val-Aret levantou-se, desnorteado. Seu ombro esquerdo doía muito, atingido por algo muito pesado e rápido quando ele tombava naquela vala. Era capaz de isolar aquela dor, desligando seu espírito daquela parte do corpo. Reagiria com mais lentidão, mas ao menos podia se concentrar melhor naquele absurdo. Mortos! Seis Arcanos mortos por um humano, quatro ao mesmo tempo! Ele sentira a surpresa e agonia dos tombados, alguns deles ainda não totalmente livres em seus espíritos. E onde é que estava...?

Uma forma veloz saltou por trás dele, atravessando seu peito onde estaria o coração num ser humano, e ele tentou voltar-se. Atacado? Que tipo de ser humano podia se refazer tão depressa de tamanha explosão, daquele desabamento...?

Seu braço direito golpeou para trás e foi prontamente agarrado e empurrado de volta. A espada em seu peito foi puxada para fora e girou no ar, e Aret sentiu a cabeça de seu corpo físico tombar. Destruído! Não tivesse ele a existência separada de seu espírito, estaria morto!

E então sentiu; seu eu espiritual estava sendo sorvido por seu atacante. Não parecia provável, mas era exatamente o que acontecia. Seu corpo físico tombou com uma forma esbelta sobre ele, a espada novamente em seu peito prendendo-o ao solo enquanto duas mãos tocavam o espaço onde antes a cabeça estivera... e através daquele toque, o atacante estava absorvendo sua energia.

“... V-vampiro... N-não é possí.... vel...”

O corpo físico logo enfraqueceu demais para que se movesse, e ele soube que terminara. Sua surpresa durou até o fim.

Kayla ergueu-se com dificuldade. Era mais forte do que um ser humano de boa musculatura, era verdade, mas estava soterrada sob escombros pesados. Seu corpo físico fora ferido, mas sobreviveria ainda daquela vez...

E sentiu outra morte perto de si. Como podia ser? Nove Arcanos reduzidos a dois por míseros humanos? Estava certo, Tur os advertira, mas ela não podia aceitar tal absurdo com facilidade. Olhou na direção em que sentira o morto mais recente, Aret, desaparecer.

O corpo físico decapitado do Arcano estava tombado no solo, e havia alguém sobre ele. A humana, aquela que simulara ser Christabel, estava retirando sua espada do peito do outro e voltou-se para ela. Do outro, o atirador, não havia qualquer sinal.