Sunday, December 24, 2006

Olá leitores, leitoras e gente que continua acompanhando a história! Saudações do Louco!

Sim, talvez este seja o último post do ano aqui no blog da Christie. É que assim combina com o final de mais um 'documento' com capítulos, e talvez eu deixe pra começar o próximo com o ano. Vejamos se me inspira!! ^_^

A essa altura, todo mundo já sabe quem se aproxima da Cidade Sucata, né? Se não... aproveitem pra descobrir agora! Relaxem e curtam, gente! E tentem não me bater no final do capítulo...

Amplexos natalinos do Louco, e Feliz Natal!!

(...)



Depois que as criaturas tinham se afastado, a segurança nas muralhas da Cidade Sucata tinha relaxado um pouco, e particularmente na muralha oeste, Smite estava um pouco aborrecido por não poder prestar atenção aos Sete Dragões e ao quanto os colegas os estariam ridicularizando àquela altura. Seu amigo João Quebra-Toco estava olhando para dentro da cidade do mesmo jeito, sabendo que dificilmente ia ver alguma coisa. Mas então, o Escavador percebeu algo se mover na planície.

_ Ô Toco, dá uma oiada. Tem um negócio se mexendo ali.

_ Negócio? – João se voltou para onde Smite apontava – Eita, tá levantando a maior poeira. Será que é o quê?

_ Melhor dá o alarme, tá vindo pra cá!

Ahl-Tur e Kayla passaram sobre as muralhas como os ventos de uma tempestade de areia, a Arcana abatendo os dois vigias com um gesto quase distraído de seu braço direito enquanto Tur se tornava plenamente consciente da localização de Christabel, ciente de que a Rainha também deveria poder percebê-lo agora.

E Christabel ergueu os olhos, claramente alarmada, chamando a atenção de Laírton e Zero no momento em que todos tomavam lugar no vagonete. O Irmão abriu a boca para perguntar o que se passava quando um estrondo violento fez todo aquele compartimento estremecer, e Dirceu praguejou baixinho:

_ Maldição...

_ O que foi isso? – Freya perguntou, braços separados do corpo enquanto duas pistolas de formato estranho deslizavam para suas mãos com um som metálico, e ela olhava para o alto – Parece uma explosão...

_ Esqueça, menina, é melhor subir no Vagonete também, anda! – Dirceu bronqueou, apontando enfaticamente para a dianteira do veículo – Zero não vai poder dirigir essa coisa, o esqueleto dele tá enfraquecido! Vai ficar pior do que estava com um ou dois trancos!

Os Dragões reunidos diante da casa de Dirceu foram surpreendidos pela figura humanóide do Arcano Ahl-Tur quando este surgiu do nada sobre a habitação e, ignorando a todos na rua, agitou seus braços e literalmente rasgou a casa ao meio. Um corte preciso e limpo dividiu a habitação, partes dela caíram... mas não havia ninguém ali.

Tur aborreceu-se. Suas forças estavam mais debilitadas do que pensara, nem sequer conseguira explodir a casa no primeiro movimento. Kayla surgiu à sua esquerda e o protegeu no momento em que um dos humanos lá embaixo começou a disparar contra eles.

Talos tinha a armadura mais pesada, era o Dragão Explosivo. As duas aletas em suas costas eram minicatapultas que lançavam cargas explosivas concentradas. Os servomotores a vapor eram o que permitia que pudesse mover tamanho peso, e tão logo divisou alvos, começou a disparar. Não sabia o que era capaz de fazer um estrago tão grande numa casa de tamanho médio como a de Dirceu, e nem queria saber. Ao menos, não até ter atingido a coisa com pelo menos metade da sua munição.

Tur viu admirado quando Kayla gemeu baixinho, esforçando-se em parecer firme e sem resultado. Tamanha era a força explosiva sobre a Capa Protetora de magia que ela lançara que a fêmea estava sendo empurrada em sua direção pelos disparos em sequência.

_ Está se saindo bem. Pode mantê-los ocupados?

Kayla sentira as mãos de seu mestre em seus ombros, e compreendeu. Ele precisava procurar Christabel. Não teria tempo de lidar com aqueles incômodos.

_ Não vou falhar, milorde.

Ela o viu acenar afirmativamente, satisfeito, e então mergulhar como uma bomba sobre a habitação que abrira. E destroços e impacto da explosão espalharam-se por toda volta, arrastando até mesmo os Dragões consigo.

Dirceu estava encaixando o que parecia ser um imenso tanque de gás na retaguarda do Velocípede, ignorando completamente os gritos frenéticos de Zero enquanto o fazia quando o teto sobre eles tremeu violentamente, derrubando-o.

_ Pai! Sobe aqui, anda! Pára de ficar embaçando, velho burro...!

_ Pára de berrar, menino. Eu tô bem – Dirceu levantou-se, olhando com ar de advertência para Christabel e Sari – E vocês duas, quietas! Não quero ninguém fora desse vagonete até eu dizer o contrário, entenderam?

_ Não seja tolo – Christabel retrucou, começando a sacar sua espada – Arcanos estão atacando!

_ Pela última vez, moça – Dirceu retomou com voz imperiosa – É a minha casa, e vai fazer o que eu disser. E eu digo pra ficarem quietas aí! Vai ser o diabo se não estiver todo mundo a bordo quando eu finalmente terminar de prender essa tranqueira... e não vamos a lugar nenhum se isso aqui não der o impulso inicial. Então, me façam um favor, apertem os cintos os que tiverem e se segurem os outros, porque a arrancada vai ser de lascar.

Christabel e Sari sentaram-se, visivelmente contrariadas, e Laírton, Melissa e Daniel pareceram descobrir os cintos de segurança em seus bancos. E Zero estava se movendo depressa, tanto quanto podia, completando o tambor da Marcadora com mais balas de Dragão de Fogo. Podendo aguentar o tranco dos disparos ou não, se um daqueles Arcanos descesse ali, ele não ficaria parado.

Tur olhou para os escombros aos seus pés. A presença de Christabel não se abalara em nada, mas ela não emergira. Não estava na casa.

“Abaixo dela? Engenhoso...”

Kodachi saltou, mais veloz e com maior precisão do que qualquer ser humano. Era a Dragonesa Púrpura, Mestra das Lâminas, e não existia coisa alguma que não pudesse cortar. Muito bem, fora pega de surpresa, mas ao menos agora tinha algo para distraí-la enquanto Freya se detinha. Era melhor do que ficar parada em meio aos Escavadores. Ia cortar em dois aquele estranho de pé sobre os escombros da casa de Dirceu...

Percebeu movimento á sua direita e rebateu por reflexo, sua espada oriental de metal temperado descrevendo um arco... e se partindo ao contato com a lâmina-lua de Kayla, devidamente impulsionada por magia. Sua espada era resistente, bem como a armadura da Dragonesa Púrpura, e foi apenas por isso que Kodachi não foi dividida ao meio como pretendia fazer com Tur. Mas, quando atingiu de costas e com violência uma parede ainda restante da casa de um Escavador, a orgulhosa Dragonesa já estava fora do combate.

Sagitário investiu pela frente, deslizando sobre flutuadores instalados sob suas plantas dos pés e impulsionado por um jato de vapor. Podia ser o menos sério dos Dragões, mas ninguém atacaria uma colega sua na sua frente sem pagar o preço por isso. E Kayla estava sem uma das armas, agora.

A Arcana viu o humano se aproximar e entendeu o fascínio de Tur pela estranha ‘tecnologia’ deles. A utilizavam para aumentar sua capacidade; quem mais, exceto pela vampira e por Christabel, poderia atacar um deles depressa o bastante para que não tivesse tempo de se proteger com uma de suas armas? Era o que pensava quando lançou uma Bomba de Escuridão de seus olhos.

Enquanto Kayla abatia um terceiro Dragão, Tur estava procurando. Christabel estava ali embaixo; só precisava localizá-la com precisão e poderia agir de acordo. Farejou, concentrou seu olhar...

... e Arthur surgiu detrás dele, caindo sobre o Arcano com duas espadas triangulares enormes que até então mantivera embainhadas em suas costas. Não muito honrado, mas não facilitaria para alguém capaz de destruir uma casa com tamanha facilidade. Só precisava de um movimento, e então...!

Tur voltou-se depressa, sentindo a presença de jóias Dragão de Fogo. O ataque fora veloz, quase sem lhe dar posição para revidar. Sequer teria tempo de puxar a própria espada, percebia, mas também notou que a guarda do outro estava totalmente aberta a um ataque de magia, e urrou Hálito de Fogo, ao mesmo tempo em que o líder dos Dragões desferiu seu melhor golpe.

_ Vórtice Extremo!

Os dois foram arremessados em direções opostas, Tur muito surpreso enquanto se dava conta de que as duas armas do Dragão tinham jóias Dragão de Fogo, uma em cada punho. Fora por isso que as espadas de Arthur puderam dividir e cortar à metade o poder de seu Hálito de Fogo, decerto salvando a vida do humano na armadura e ainda voltando contra o Arcano parte de seu próprio poder.

Uma nova explosão violenta soou sobre o porão da casa de Dirceu, e desta vez o piso abalado por dois ataques anteriores não resistiu à energia, derrubando escombros por toda a volta e também o Mestre dos Arcanos, que embora atordoado finalmente pôde avistar seu alvo com clareza. Ela se preparava para fugir...!

Dirceu era um homem prático, acostumado a pensar depressa; em especial se fosse uma situação de risco. Os tanques de propelente estavam bem presos, mas ele não encaixara ainda os ganchos que permitiriam ao condutor do vagonete ativá-los de seu assento. E não teria tempo para isso.

Mas ele ainda era o Velho Dirceu, e sabia tudo sobre máquinas. Inclusive, como colocar aquela tralha para correr antes daquele monstro ter qualquer chance que fosse de impedir. E, deu um sorriso torto com o canto da boca, sua prioridade ainda era manter o filho a salvo. Não ia conseguir isso se continuasse enrolando.

“É sempre mais difícil quando chega a hora. Pena; logo agora que ela finalmente amoleceu...! Ia adorar ver no que isso ia dar”

Zero também vira Tur caindo com os escombros, e ergueu a Marcadora, praguejando. Pesava demais! Muito mais do que devia; era quase como se seus ossos dos braços fossem feitos de borracha! Parecia que iam envergar com o peso da arma, mesmo apoiando a mão direita com a esquerda! Mas ele achava que ainda podia dar um bom disparo daquela munição especial do seu pai, quando um movimento inusitado em sua visão periférica chamou sua atenção.

Dirceu, de bengala erguida como se fosse uma marreta e olhando para baixo, na direção dos tanques de propelente. Só foi preciso um milésimo de segundo para que ele entendesse as intenções do pai.

_ Pai, não! Não faz isso...!

A atenção de cada um deles se voltou para Dirceu, que sorriu para o filho uma última vez e então bateu, arrancando a trava do tanque e arremessando o Velocípede túnel abaixo com um tranco violento e o som sibilado do gás escapando.

Erguendo-se depressa, lutando contra a confusão em sua mente, Tur ouviu o grito e o som de pancada, e sua atenção voltou-se para o vagonete que desaparecera depressa pelo túnel.

Maldição! Christabel estava escapando-lhe novamente, e naquela velocidade e sob a terra, desapareceria em questão de segundos! Sacudindo a cabeça, ele colocou-se de pé e alçou vôo, mergulhando na direção do túnel aberto.

Um estrondo à sua direita, e Tur tombou de lado novamente, sua asa direita varada por algo quente que explodiu ao contato consigo, arremessando-o contra uma das pilhas de escombros e estantes esmagadas. Aquilo ardia em seu corpo físico, e ele percebeu que o braço direito também fora atingido quando um segundo estrondo se fez ouvir, e com ele um clangor de metal pesado.

Voltou-se na direção do estrondo. Havia um humano ali, escorado contra a parede atrás de si e dentro do sistema de trilhos que regia o vagonete. Suor escorria de seu rosto, e ele acabara de jogar para o lado uma arma de fogo fumegante, de cano comprido, tendo feito uma porta pesada de ferro cair sobre a saída do túnel. E então, Tur notou que o homem parecia apoiar-se sobre uma bengala, reduzindo o peso de uma das pernas.

_ Entendo... O impulso explosivo de sua arma é demasiado para controlar com apenas uma perna sã, e precisa se apoiar na parede para atirar com precisão. Engenhoso.

_ Heh... – o desconhecido fez, abrindo um sorriso e firmando-se enquanto sua mão esquerda abria-se e se afastava do corpo, na posição de tiro – Agradecido. Não é a primeira vez que escuto isso... mas é sempre bom de ouvir.

Perdera. Tur podia perceber, a presença de Christabel se afastara demais para que ainda pudesse notá-la. Podia perseguir a trilha nos túneis, acreditava... mas primeiro, lidaria com aquele homem. Havia algo familiar nele; desagradavelmente familiar.

_ Essa arma – os olhos do Arcano estavam presos à pistola no coldre de Dirceu – Lembro-me de ter visto uma igual há pouco tempo...

_ Arma? Fala da minha pistola? – o desconhecido sorriu mais abertamente. Estava ofegando; o esforço sobre sua perna mais fraca devia ser grande, mas ele lutava para não aparentar tal coisa – Heh... Se tem perseguido a Rainha, acho que foi o meu filho que você viu.

_ Seu filho...? – o semblante de Tur se fechou – Sim... É bem possível. Se parecem muito, um com o outro. Fisicamente e em espírito.

_ Se tiver alguma queixa dele, pode falar comigo. É o que todo mundo que o Zero incomoda faz – suspirou – Às vezes é divertido, às vezes cansativo.

_ Seu filho tem me causado muitos problemas. Vou encontrá-lo, e a ela. E a sorte que teve até aqui vai terminar.

_ Questão de opinião – já não havia qualquer sorriso no rosto de Dirceu – Perseguir alguém que quase o matou mais de uma vez... Me parece que é você quem está testando a sorte.

Dirceu sabia que tinha dito o que precisava. Infelizmente, era todo o tempo que poderia ganhar para eles. Esperava que já estivessem longe o suficiente.

Sentiu novamente, então. Era como se ela estivesse ali, do seu lado, a mão suave sobre seu ombro, dando-lhe forças uma última vez. E lembrou-se de partes de uma antiga música enquanto percebia que o outro estava prestes a atacar.


Não pergunte por quê.
Não fique triste.
Às vezes, nós todos precisamos
Alterar caminhos que planejamos.


E Tur se moveu. Mais devagar do que seria capaz normalmente, com uma asa ferida, mas ainda veloz, ao mesmo tempo em que a mão de Dirceu sacava e abria fogo, e sua mente terminava a canção.


Me deixe agora
Não olhe pra trás
Porque, lá no fundo, você sabe
Que eu estou perdido e condenado.*

* - (Kamelot, ‘Lost and Damned’)

Sunday, December 17, 2006

Domingo novo, post novo ^^ Saudações do Louco, leitores!

Nem vou tentar me desculpar das minhas demais ausências. Tem a ver com falta de tempo e inspiração, sijm,mas devo admitir que tbm tem a ver com desânimo. Ou, como dito no post anterior, sou um vagau folgado #-_-#'

A verdade, though, é que não ando muito animado pro computador e pra escrita nele. Só o 'Conto', por enquanto, e até nele ando encalhado...

Mas, não foi pra ouvir minha voz chinfrim e minhas lamúrias q vcs vieram, né? ^^ Q seja, então. Enquanto me aproveito pra reforçar a inspiração by means of videogames (tá, eu TINHA que estar fazendo alguma coisa!!) e revivendo minha gibiteca, continuemos com Christie e Zero. Se bem lembro, deixei o cara sendo esganado pelo Éderson...

(...)



Freya, Sari e também Melissa e Daniel estavam olhando espantados para Zero, que estava rindo enquanto o outro o chacoalhava e continuava a lamentar a perda da Unicórnio. O semblante velado do líder dos Dragões sem dúvida mostrava que ele preferiria ver a moto perdida ali a Zero, mas fosse como fosse, a rudeza dos Escavadores em demonstrarem os sentimentos um quanto ao outro não deixava de ser uma surpresa para os colegas do ferido. E estavam sem saber bem como agir até que Dirceu surgiu, dando uma bengalada na cabeça de Éderson por trás com uma expressão idêntica à de Christabel no rosto.

_ Chega de palhaçada, Éderson. Acha que ninguém aqui tem nada pra fazer? Sai de cima do meu filho!

_ Aaaaaauuu! Poxa, Seu Dirceu... Pegou pesado!

_ E você moleque – Dirceu deu um tapa na cabeça de Zero – Tá rindo do quê? Isso não é nada engraçado.

_ Agh, pai...! Qual é, acha que ainda... não fizeram estrago o bastante, não?

_ Pelo jeito não, se ainda tem tempo pra brincar com a molecada – Dirceu retrucou com o mesmo pouco caso – Irmão, agradeço por ter consertado o meu garoto. Mas, acho que nem todo o seu tratamento podia deixar ele novo em folha, podia?

_ Há limites para o que se pode fazer de uma só vez, Mestre Dirceu – Laírton confirmou – O sistema dele foi recuperado tanto quanto era possível, e com a ajuda de Sari, consegui regularizar seu fluxo sanguíneo. Mas ele é uma pessoa muito ativa; os ossos estão de volta aos seus respectivos lugares, e a maior parte das lesões a eles foi sanada. Para que a cura se torne permanente, no entanto, eles precisariam ficar imobilizados por mais alguns tratamentos, até que se recuperem por completo. No mínimo, deveríamos engessá-lo.

_ ‘Gesso’... – Dirceu ponderou por algum tempo, batendo uma das mãos na outra – Muito bem, acho que já sei. Por acaso vocês não teriam uma armadura sobrando dentro desse seu veículo, Dragões?

_ Uma armadura... ‘sobrando’? – Arthur parecia não poder acreditar no que tinha acabado de ouvir. Os Dragões eram tanto quanto vaidosos de suas forças, em especial suas armaduras feitas com tecnologia de ponta – S-Seu Dirceu, isso é...!

_ Tudo bem, tudo bem, esqueça – Zero olhou para o pai, sufocando um sorriso ao ver que o velho não parecia muito incomodado pelo ultraje – Foi apenas uma pergunta, só isso. Mas, se vocês não podem me ajudar... é melhor fazer algo a respeito. Por favor, me sigam. E tragam o meu filho com vocês.

Dirceu se dirigira ao grupo que estivera viajando com Zero até então e voltou-se para sua casa, os outros seguindo-o. Freya também os acompanhou, e Arthur interrompeu:

_ Freya, espere! Aonde você vai? Nosso trabalho aqui terminou!

_ Eu sei, Arthur, e vocês podem ir. Eu me encontro com vocês a tempo de fazer nosso relatório.

_ E por quê não vem com a gente? Vai ficar pra quê?

_ Eu não posso ir embora sem saber se o Zero vai ficar bem, Arthur. Ele é meu amigo desde que éramos pequenos...

_ Já tem um Religioso, o cavaleiro, aquela maga, aquela caçadora e até a Rainha Christabel pra cuidar dele, Freya! – protestou o maior deles, Talos, que também parecia ter se aborrecido com o comentário feito por Dirceu – E as regras dizem pra a gente voltar junto, lembra? Vai arriscar a levar uma bronca à toa?

_ Me arriscaria se fosse um de vocês – Freya retrucou, parecendo mais séria – Não deixo meus amigos pra trás, Dragão ou não.

Não havia o que dizer a isso, ao que parecia, e ela apressou-se a seguir o grupo que levava Zero para casa. Arthur parecia visivelmente contrariado no entanto, e isso não passara despercebido aos colegas de Zero enquanto Freya se juntava a eles.

_ Desculpe por perguntar... Freya – Daniel perguntou timidamente – mas... você não deveria ir com os seus amigos?

_ Vou depois que entender o que o Seu Dirceu vai fazer – ela voltou-se com curiosidade para o pai de Zero – Tem alguma coisa aqui pra manter o Zero parado, Seu Dirceu? Pensei que só juntava armas e munição.

_ E não está errada, menina – Dirceu distraidamente abriu a passagem para o porão – Minha casa não é tão grande pra tudo o que eu queria guardar; então, a solução foi arrumar um depósito alternativo.

(Estavam se aproximando depressa agora, seu poder oculto como o da Rainha estava. No entanto, também sabiam que ela perceberia quando se aproximassem o bastante. Teriam que ser velozes)

_ Anda, Arthur, vamos ou não vamos? – Kodachi perguntou, olhando incomodada ao redor. Era a mais orgulhosa entre os Sete, e não gostava de ficar fora da Cidade Avançada, entre os Escavadores e Mecânicos, mais do que necessário – Freya pode encontrar o caminho sozinha depois.

_ Vamos ficar mais um pouco, Kodachi – Arthur retrucou aborrecido – O grupo tem que andar junto, seja qual for o motivo. E, Sagitário! Onde você vai?

_ Ah, relaxa um pouco, Arthur – o mais novo respondeu, interrompendo a conversa animada que estava tendo com os Escavadores; ele não parecia nem um pouco aborrecido em estar na Sucata – Tô só matando um pouco o tempo até a Freya voltar.

_ Veja se não vai pra muito longe; não vamos demorar mais do que o necessário.

Agora que o dever fora cumprido, Arthur só queria sair dali. Não gostava do cheiro de poeira da Cidade Sucata e de suas casas de teto de metal, desorganizadas e mal feitas, em nada parecidas com as habitações ordeiras e primorosas da Avançada. Quando voltasse, iria pessoalmente descobrir quem dera ordens para que descessem até ali, onde nem era seu território. Afinal de contas, seu pai era influente demais para permitir isso.

No porão, enquanto isso, Dirceu estava se movendo em direção a uma estante que parecia cheia de armas, e Zero agarrou o braço de Freya próximo a si e pediu:

_ Escuta, Tata... tem que me prometer uma coisa. Pode não parecer, mas é muito sério. O que você vai ver aqui... O que meu pai vai usar agora, a maioria da galera lá em cima não sabe. Nem mesmo nossos camaradas da Sucata, e muito menos os seus chegados da Avançada. Ia arrumar a maior confusão pra ele...

_ Dá um tempo, Zero. Sabe que eu nunca ia fazer nada que pudesse dar problemas pra você ou o seu pai. Seu segredo tá seguro comigo.

_ Tá, eu sei, mas é que o véio Dirceu tava zoando as armaduras de vocês agora há pouco...

Freya bateu na testa de Zero sem a menor cerimônia, o mesmo olhar vazio de reprovação que Melissa por vezes usava. E a maga negra balançou a cabeça:

_ Se eu não soubesse, ia pensar que foi o desabamento que te deixou leso, Zero.

_ É, isso é sinal de que ele deve estar se sentindo bem melhor – Freya concordou no mesmo tom de voz – Não vai mudar nunca, pelo jeito.

_ Vocês têm uma mania estranha de querer o impossível – Dirceu comentou enquanto abria a passagem para o subterrâneo, onde antes pegara as armas extras e munição para Zero – E, Zero, eu não fiquei senil ainda. Não teria trazido todos até aqui se não achasse que podia confiar em todos. Então, pare de chatear a menina e fica quieto.

_ Ô pai, não pode falar assim comigo não, eu tô doente!

_ Vai ficar doente de verdade se continuar com manha – Dirceu resmungou, puxando uma alavanca oculta atrás da estante. E todos ouviram um som de mecanismos enquanto um vagonete metálico sobre três rodas de metal descia devagar e se detia bem no meio do salão oculto. Estava coberto por poeira, sinal de desuso prolongado, mas nem Dirceu nem Zero pareciam fazer conta disso.

_ Fechem as bocas, todos vocês. Seus queixos vão acabar caindo.

_ Foi mal nunca ter te trazido aqui antes, Li. É que não se usa o Velocípede pra qualquer coisa, e faz um tempo que a gente não precisava.

_ ‘Velocípede’...? – Melissa olhou de Zero para Dirceu, e para o veículo estranho. Agora podiam ver que havia todo um sistema de trilhos de onde o vagonete viera, e eles levavam para um túnel que desaparecia na terra. Laírton, olhando também, comentou admirado:

_ Me parece que há muito mais na Cidade Sucata do que se acreditaria numa visão superficial.

_ Aparências podem enganar, Irmão – Dirceu comentou, e Zero olhou para Christabel e abafou um sorriso, e a viu desviar o rosto enquanto o pai continuava – E certas coisas são melhor mantidas em segredo. Por exemplo, o paradeiro da Rainha. Acredito que esteja apta a se defender agora, Alteza, mas seria conveniente se passasse mais algum tempo no anonimato.

Christabel não disse coisa alguma, mas havia uma pergunta em seus olhos, e Dirceu acenou afirmativamente.

_ Cuidado não é demais. Além disso, como não exercita seus plenos poderes já há algum tempo, pode ser que precise de alguma prática antes de tornar a fazê-lo. Mais ainda, será bom se Sua Alteza tornar a desaparecer por algum tempo, e acredito que seguir uma trilha subterrânea deve ser o bastante para esconder seu rastro.

(Mais próximos agora. Ao longe, a montanha onde a outra cidade humana estava instalada era bem visível, embora não se dirigissem para ela. Seu objetivo eram as muralhas da outra cidade, mais baixa, onde ainda podiam perceber vestígios da presença dela. Christabel se detivera ali, e retornara para lá. E, àquela altura, era provável que alguns dos humanos também pudessem perceber enquanto se aproximavam)

Sunday, December 10, 2006

Mas hein? Olha eu aqui de novo! Depois de outro domingo ausente, saudações do Louco!

Sim, eu estive o domingo passado inteiro fora, aí não deu pra chegar aqui e postar. De boa, acho que vcs curtiram o momento do Zero com a Christie, né não? ^^ Espero mesmo q sim.

Mas, como rapadura é mole, mas não é doce, é preciso reconhecer que tá na hora de eu sair dessa moleza q eu ando. Estamos agora em pleno início do último capítulo de 'Vida Passageira', e depois disso teremos apenas o último bloco de história escrito até agora. Tudo bem, tá legal, tem muito o que é explicado nele, mas q eu continuo um vagau miserável e molóide, é fato >< Tá na hora de me mexer.

Então, enquanto o faço, curtam o finalzinho do 'vida' com o capítulo q inicio neste domingo. Espero q curtam, leitores!

Forte amplexo do Louco!



XXX – Os que Ficam e os Que Se Vão



Kayla tossiu sangue escuro, subita e rudemente trazida de volta à consciência de seu corpo físico. Estivera ferida, muito ferida, mas não conseguia se lembrar bem como acontecera. Abriu os olhos devagar, tentando colocar seus pensamentos em ordem.

Ahl-Tur estava ajoelhado ao seu lado, as duas mãos de palmas voltadas para baixo e murmurando sobre ela. Suas forças estavam voltando muito mais depressa, e a recuperação de seu corpo físico fora acelerada também graças a isso, sabia agora. E com esse conhecimento, suas memórias da luta anterior voltaram a ela.

_ Lorde Tur...

_ Silêncio, Kayla.

Ele completou os procedimentos e levantou-se, dando as costas a ela e se afastando para a entrada da gruta que escolhera como seu esconderijo. Kayla acompanhou seu movimento enquanto ela própria se levantava, as asas dele parecendo uma curiosa capa. Aliviada, a Arcana encontrou suas armas colocadas ao seu lado.

_ Espero que esteja refeita o bastante para o nosso próximo ataque, fêmea – Tur disse sem se voltar – Muito temos a fazer, e seu descuido já nos tomou tempo demais.

_ Meu... descuido? Do quê está falando?

Tur voltou-se para ela, e seu olhar era gelado. Sem uma palavra, ele gesticulou para que Kayla se aproximasse, e mostrou-lhe o que havia lá fora. E a Arcana percebeu que estavam em uma das encostas que rodeavam a ampla planície onde Cidade Sucata e Avançada se localizavam. De onde estavam podiam ver que o campo estava ficando mais vazio; a horda que tentara conseguir o poder de Christabel antes deles estava em debandada, muito poucos dos que ainda estavam vivos fugindo à distância. As cidades dos humanos tinham sobrevivido praticamente incólumes à maré, e a Rainha recuperara suas forças. Ela estava se contendo, procurando disfarçar sua própria magia, mas estava próxima demais, e eles conheciam sua essência bem demais para que a ocultação funcionasse.

_ Nossa missão não foi completa ainda. E a Rainha continua a nosso alcance. Devemos ir agora, enquanto estão confiantes e enquanto suas forças estão se recolhendo. Estão exaustos da batalha; temos como abatê-los se formos rápidos o bastante.

_ Deveríamos avisar nosso mestre sobre o acontecido...

_ E o que diríamos a ele, fêmea? – Tur deixou escapar um riso de ironia – Que tornamos a perder a maior parte de nosso grupo de ataque nas mãos de um humano sem poderes? Que não apreendemos Christabel?

“Nosso mestre já ouviu isso por tempo demais, Kayla – Tur continuou, seu espírito falando para o dela agora enquanto seu rosto tornava a se voltar para a planície – E minhas justificativas se acabaram; estou farto delas.”

“Então, quer dizer...”

_ Isso mesmo – Tur acenou afirmativamente com a cabeça – Não retornarei a nosso mestre sem que Christabel seja nossa prisioneira. Quer isso mude na próxima hora... ou nunca venha a mudar.

_ Acredita que falharemos novamente, milorde Tur? – Kayla adiantou-se, tentando olhar diretamente no rosto e nos olhos do seu líder. Mas Ahl-Tur não se voltou para ela, ficando em silêncio por um longo minuto.

_ Estou apenas me rendendo aos fatos, Kayla. Só isso.

_ ‘Se rendendo... aos fatos’?

Ele não disse mais nada, mas ela conseguiu sentir o rumo que seus pensamentos estavam tomando: nove deles haviam partido, porque não devia haver força no mundo capaz de enfrentar nove Arcanos de uma única vez. Nem mesmo os magos e criaturas mais poderosas existentes. Nem mesmo Christabel.

Mas dois deles haviam tombado no primeiro instante. Aquele humano que já o enfrentara antes tinha algum tipo de arma capaz de abater um Arcano com um único tiro. Ele julgara estar melhor preparado para as surpresas possíveis, mas aquilo fora um choque para Tur apesar de tudo. Além disso havia aquela vampira, a mesma que ferira Kayla e que a teria exterminado não fosse a intervenção dele.

_ Estou apenas admitindo que não conheço meu oponente. E que, por isso, devo tratá-lo com respeito.

_ Aquele humano foi soterrado no nosso último confronto, milorde. Provavelmente está morto agora. Não pode nos causar mais problemas.

_ Não, fêmea? – Tur voltou-se para ela, novamente o ar de desagrado superior em sua expressão – Como pode ter tanta certeza? Você o viu morrer, por acaso?

“Não, cara Kayla. O que estou dizendo é que não retornarei a nosso mestre, não sem que aquele rapaz esteja morto. Pois não teremos Christabel até que passemos por ele. E sugiro que leve a sério minhas palavras, pois precisarei da sua ajuda se pretendo confrontar a Rainha e todos os seus defensores.”

Kayla não conseguia entender o por quê, mas sentia uma grande devoção por Tur, muito maior do que aquela que tinha pelo seu criador. O Arcano parecia mais sábio e antigo até mesmo do que o próprio ser que dera a eles vida e propósito, e ela sabia que se Tur lhe propusesse atacar a todos os seus companheiros onde os haviam deixado nas terras Além da Fronteira, e até mesmo abrir guerra ao mestre de todos eles, ela o faria sem qualquer arrependimento no coração. Tur confiava nela. Estava pedindo-lhe que o acompanhasse em sua missão, que fosse a sua arma na próxima batalha. E sem sequer entender plenamente o porquê, Kayla sentia que era aquilo o que mais queria fazer naquele momento.

_ Estarei ao seu lado, milorde. E não vou desapontá-lo.

Tur voltou seu olhar discretamente para a cabeça baixa de Kayla, e não teve como conter um sorriso. Mais suave desta vez. Lutaria sozinho se fosse preciso, mas era bom saber que não seria necessário. E que teria a assistência de uma Arcana capaz como Kayla.

Enquanto isso, na Cidade Sucata, o veículo de transporte dos Sete Dragões passava pelos portões e era recebido pelos Escavadores e mecânicos aflitos, Éderson saltando adiante juntamente com Daniel e Melissa. O cansaço de ambos era evidente em suas feições; tinham estado lutando desde o início do plano de Zero, e isso era muito além de qualquer esforço que já tivessem feito até então. Mas a preocupação com os amigos que não esperavam tornar a rever até Christabel passar por ali com Laírton e os Dragões era ainda maior.

_ Laírton! – Melissa exclamou ao ver o Irmão saltar – E o Zero, ele tá bem? Está com vocês? Onde...

_ Por favor, Melissa, abra caminho – Laírton escancarou as portas traseiras e dando passagem a dois dos Dragões carregando uma maca na qual Zero estava estendido, e veio acompanhado de Christabel, Sari e Freya enquanto o Irmão dava o diagnóstico – Ele está fora de risco graças aos nossos esforços, mas ainda está longe de estar restabelecido.

_ Maldição, eu temia que algo assim...

_ Como isso foi acontecer?

_ Pelo que eu entendi, houve um desabamento – Freya respondeu sem tirar os olhos do rosto de Zero, que estava se esforçando para sorrir – No meio do deserto, sobre alguns dos túneis esquecidos das Minas Antigas. Talvez a luta tenha enfraquecido o terreno...

_ Nah, que... nada, Tata – Zero murmurou, tossindo um pouco e ainda sorrindo – Cês deviam... ter visto. Minha Unicórnio saiu... na Chama da Glória. Fez a casa cair, e... metade do deserto com ela. Ai... Pena que não deu pra... sair de baixo...

_ Seu tonto, ninguém está ligando pra...

_ Como é que é? – Éderson veio à frente e começou a sacudir Zero pelo colarinho – Seu cabeça de isopor, você detonou aquela Unicórnio? Cê não tem noção, Zero?? Estragou a moto!!

Freya e Sari fizeram menção de afastar Éderson, mas Christabel meneou a cabeça com ar vazio e um tanto aborrecido.

_ Esqueçam; também está demonstrando preocupação. Está fazendo o tolo rir.