Sunday, August 26, 2007

Oi gente leitora do meu Brasil, e se tiver, de outros lugares do mundo tbm! ^^ Saudações do Louco!

Então, hoje vou passar meio depressa por aqui, q eu tô de saída! Aí, Miki, CAÍdos, tô chegando! Segura a peteca que eu tô de saída daqui a pouquinho!

No mais, forte amplexo do Louco, que termina hoje o arquivo do 'Louco Capaz até de Pilotar Aviões' ^_^

(...)

Enquanto Freya falhava em encontrar qualquer motivo para consolo na última afirmação de seu insano anfitrião, o Palão percorreu planícies e antigas estradas em ruínas enquanto deixava seu lar cada vez mais para trás até que, depois de pouco mais de uma hora de corrida desabalada, chegaram a um vasto campo deserto, onde o único sinal de civilização visível em quilômetros era um galpão antigo que parecia ter estado ali, isolado de tudo, desde os tempos anteriores às Grandes Mudanças. A questão de como deter o Palão foi prontamente resolvida por Maddock, que deixara a inércia consumir a velocidade excessiva durante o trajeto e usara freios mecânicos secundários para reduzir e parar diante do galpão sem maiores dificuldades, apenas para ser recriminado novamente por Freya.

_ Por que não nos disse que podia fazer isso desde o começo, seu mala? Quase nos matou de susto!

_ Ah, eu disse pra vocês relaxarem, não disse? – Maddock deu de ombros, deixando seu lugar e fechando o Palão atrás de si – Se eu dissesse que podia parar quando quisesse vocês iam ficar choramingando, dizendo pra eu reduzir, e eu queria que vocês se acostumassem a ir um pouco mais rápido do que de costume. Agora, pelo menos, não vão estranhar tanto.

_ Estranhar? – Freya perguntou, e Maddock piscou para ela enquanto destrancava um cadeado antigo e maciço na porta do galpão.

_ Pois é, Bibi. Estranhar. Afinal de contas, por mais ligeiro que seja O Palão...

E Maddock puxou a porta corrediça em sua direção, permitindo que a luz do dia penetrasse no espaço confinado, iluminando o nariz, as janelas frontais e a asa direita do que parecia ser mais um dos fósseis que Hermes possuía no Cemitério de Aviões... mas havia algo diferente nele, Freya percebeu. Talvez fosse um truque da luz, mas...

_ ... ele ainda não é a coisa mais rápida que eu tenho. Zero, se importa?

Animadamente o mecânico puxou a porta do seu próprio lado e sorriu ao ver os amigos olharem admirados para dentro do galpão onde Maddock, e o pai dele antes dele, escondia um antigo Lockheed Lodestar, um bimotor de porte médio para passageiros com lemes de direção duplos na cauda, tido por muitos conhecedores do assunto como um dos aviões mais seguros de todos os tempos, feito para durar e para transportar em segurança. Mais satisfatório do que olhar para a máquina bem conservada era olhar para o proprietário sorridente, feliz ao contemplar a incredulidade e admiração dos companheiros.

_ Levou um tempo, eu admito, recuperar a fuselagem depois da queda que matou meu pai... mas afinal de contas, eu não tinha muita coisa pra fazer no tempo livre, né?

_ C-como... – Freya retirou sua máscara e olhou embevecida para a máquina voadora diante dela, a materialização impossível de um antigo sonho, a mão estendida na direção do metal – Como conseguiu as peças... e, sozinho...?

_ Ah, você sabe como essas coisas funcionam – Maddock sorriu gentilmente para ela – Você cata uma coisinha aqui, outra ali... Anda, pode tocar! É de verdade.

_ E-eu... Eu não sei – ela voltou-se assustada para ele – Eu nem deveria ver isso! Maddock, se o Conselho da Avançada descobrisse...!

_ Beatriz, vem cá um pouquinho.

Ela silenciou, tão surpresa que permitiu que ele a conduzisse pela mão e pelos ombros com gentileza até poder esticar a mão e tocar a fuselagem. Sorrindo carinhosamente para ela, ele sussurrou:

_ Você também é uma restauradora. Eu não acredito que fosse fazer nada com intenção de estragar o trabalho de um colega. Anda, vai me fazer um favor se olhar e mexer à vontade. E pode perguntar o que quiser, eu respondo.

_ ... Está dizendo que isso voa de verdade?

Christabel olhava com algum ceticismo para a máquina escondida no galpão, mas mesmo em seus olhos era possível notar certa admiração. E Zero animadamente confirmou:

_ É sério, Christie! Voa mesmo, eu lembro do pai do Mad e do meu fazendo vôos teste nessa planície! Tá, eu era uma porcariazinha de nada na época, mas isso não é o tipo de coisa que se esqueça fácil nos tempos de hoje, né?

_ ... E ainda funciona...?

Ela lembrava-se muito bem de Zero ter contado sobre as circunstâncias da morte do pai de Maddock e do ferimento na perna de Dirceu, e se restaurar a máquina voadora parecia impossível, recriá-la a partir dos destroços de um acidente beirava um milagre. Zero parecia ter compreendido a dúvida dela, porque deu de ombros e piscou.

_ Mad não ia trazer a gente aqui à toa. Tudo bem que ele é sem noção, mas não imbecil. Não sempre, pelo menos.

_ Eu ouvi isso, ô idiota! – Maddock bronqueou enquanto baixava a escotilha de acesso. A porta abriu para fora, e sua metade inferior desdobrou-se para baixo, tornando-se numa escada de três degraus pela qual podiam ir a bordo. Hermes sorriu e acenou para que Beatriz entrasse e olhasse à vontade e deteve-se na entrada, perguntando:

_ E então, vamos pra onde daqui? Meu Rasga-Nuvens tá de caldeira cheia, o consumo tá ajustado pra baixo e não existe mais regulamento nem tráfego aéreo, o que quer dizer que podemos ir pra qualquer lugar que quisermos! Mano Zero, o que você acha?

_ Bom, acho que a Christie é quem devia decidir, Mad. E, Li... por que não tá lá dentro com a Tata, dando uma olhada no bichão? É do seu interesse também.

_ Ah, bem... – ela remexeu-se inquieta, tanto ela quanto Daniel parecendo nervosos olhando de um lado para outro para a fuselagem da máquina como se preferissem que ela não existisse. Laírton, por outro lado, pareceu superar o primeiro instante de surpresa e avançou alguns passos, acenando afirmativamente com a cabeça.

_ Um avião dos tempos antigos, restaurado e funcional... A quem quer que eu conte, dirão que estive em mais um estupor alcólico... mas preciso ver isso.

_ Por favor, esperem. Mestre Maddock?

_ Alteza?

Maddock respondeu com a devida seriedade por perceber que algo estava errado. Christabel estava séria demais. Zero também percebera, voltando seus olhos com preocupação para a Rainha.

_ Christie, o que foi? Tá sentindo alguma coisa?

_ Não... É apenas que....

Ela parecia estar reunindo coragem para decidir-se. Suspirando profundamente, Christabel ergueu os olhos e dirigiu-se a Maddock.

_ Mestre Maddock, pode por favor levar a todos até as proximidades de uma grande cidade? Tria, talvez? Algum lugar onde não vejam sua aeronave.

_ Bom, claro que eu posso, com a direção certa... mas acho que vão acabar nos encontrando de novo, Majestade. Digo, esses caras que estão atrás de você. Se o fumacinha conseguiu, pelo menos, deve ser só questão de tempo até...

_ Não virão me procurar. Irei até eles antes disso.

Zero viu suas suspeitas se confirmarem então. Christabel pretendia colocar todos a salvo e se afastar, indo lutar sozinha. Contra quem quer que fosse.

_ Christie...

_ Por favor Zero – ela o silenciou de olhos baixos, e então voltou sua atenção para todos aqueles que a haviam acompanhado até ali, menos o rapaz a seu lado.

_ Estou agindo de forma diversa ao que sempre fiz. Minha vida inteira, eu sempre confrontei meus temores ao invés de fugir deles. Por isso, pretendo seguir na direção do ‘Anjo Caído’ de quem Laírton falou, o verdadeiro senhor dos Arcanos, e acabar com isso de uma vez por todas. E devo fazê-lo sozinha.

_ Minha Senhora...

Christabel estendeu a mão na direção de Daniel e o silenciou, fazendo o cavaleiro engasgar ao conceder-lhe um lindo e raro sorriso.

_ Agradeço por sua fiel e dedicada proteção, Cavaleiro de Melk. Cumpriu seu dever e manteve sua honra. Você... Todos vocês, já fizeram muito mais do que eu poderia ter esperado ou pedido de todos. Não tenho o direito de permitir que se arrisquem mais.

Todos fizeram silêncio. Era estranho ver Christabel daquela maneira, sua tristeza costumeira expressa com serenidade ao invés de descaso e superioridade. Foi a primeira vez em que Melissa realmente compreendeu o que Zero insistira em dizer desde sua chegada a Melk. Era verdade que Christabel era, possivelmente, a mais poderosa feiticeira viva em todos os tempos, mas isso não bastava para que ela não parecesse uma moça frágil e solitária.

_ Você também fala demais, Christie.

A mão de Zero pousou gentilmente sobre o ombro de Christabel e ele a puxou para si, sorrindo gentilmente para a incomodada Rainha.

_ E tá esquecendo uma coisa importante. Se uma Rainha tem obrigações para com o próprio povo, o inverso também vale. E por enquanto, nós somos o seu povo, menina.

_ Zero... Não está me entendendo, vocês não podem enfrentar o poder deles...!

_ Não, é você quem não entende! – Melissa veio adiante, olhando com algum temor para o avião e então para a Rainha – O Zero tentou fazer a mesma coisa comigo uma vez, e se teve uma coisa que eu aprendi com o Seu Dirceu foi que ninguém escolhe meus riscos por mim! E você não vai sozinha, seja lá pra onde for! Entendeu agora?

_ M-Melissa...!

A surpresa de Christabel era ainda maior do que sua irritação por ser questionada daquela forma, e talvez apenas por isso ela não tenha conseguido dizer coisa alguma até Daniel se juntar à maga negra.

_ Com o devido respeito, Minha Senhora, Melissa está coberta de razão. É a minha Rainha e tem poder sobre mim... mas minha honra e criação têm primazia. Pelas vidas de todos os meus camaradas e pela minha própria, subirei nesta máquina infernal e a seguirei para onde for, seja de volta à nossa terra natal... ou aos portões do inferno.

_ Infernal é o caramba, Daniel! – Maddock retrucou rindo – Meu Rasga-Nuvem é o melhor transporte que vocês podem querer a essa altura, isso sim. Viaja depressa, não vai ter bicho no nosso caminho... e se eu entendi direito, Rainha, você queria usar magia pra chegar onde quer ir. Pode esquecer; já vai se desgastar antes do tempo se for assim. Basta me mostrar nosso destino, e te levo lá. Além do mais, você vai precisar do meu poder de fogo.

_ Um dia, como todos os demais servos da nossa Ordem, pretendo me encontrar com Nosso Senhor, Christabel – Laírton acrescentou serenamente – E não consigo imaginar o que responderia se Ele me perguntasse por que me desviei da missão mais importante que Me concedeu. É meu trabalho garantir que meus encargos cheguem a bom termo, e poucas vezes estive tão motivado. Por favor, peço que me poupe do embaraço de ter que recusar seu pedido novamente.

_ Laírton...!

_ Acho que vai ter que me incluir nessa rebelião, Christabel – Beatriz apareceu na escotilha de acesso, parecendo incomumente alegre e empolgada – Como Hermes disse, vocês poderão chegar a qualquer lugar nesse avião, e eu não perderia essa viagem por nada! E acho que meus professores de tiro da Sucata ficariam zangados comigo se não usar direito o que aprendi. Concorda, Zero?

_ ‘Armas de Fogo não são pra matar, mas pra proteger – recitou Zero – Não puxe pra não usar, não use pra errar, e faça cada bala valer a pena’. Pelo que disse a Christie, acho que vai dar pra seguir bem a regra, Tata.

_ Vocês não estão me ouvindo...!

_ Já deveria ter se acostumado, Christabel.

Sari estava parada diante da Rainha, mortalmente séria. Acenando negativamente com a cabeça, ela continuou:

_ Este é um grupo unido. Nenhum de nós é capaz de partir, sabendo que os demais vão seguir uma trilha perigosa. Mais do que companheiros de viagem, cada nova pessoa que chega é como parte de uma grande família. E para onde um membro desta família for, os outros irão.

_ Caç... Sari...?

_ Como disse Laírton, não temos como nos separar. Não, até saber que os demais ficarão bem – Sari deu um sorriso fraco – Acredite, sei do que estou falando. Mas já deixei uma família uma vez, e não pretendo fazê-lo novamente. E agora, vejamos como é esse seu ‘avião’, Maddock...

_ Opa, chega junto, Sari! Você vai adorar, precisa ver o motor que eu bolei...!

Os demais desapareceram dentro da fuselagem do Rasga-Nuvens, e a voz animada de Maddock explicando podia ser ouvida de quando em quando. Christabel estava confusa e um tanto desarvorada com a reação dos demais, e voltou-se para Zero, que continuava sorrindo diante da situação dela. Apertando a Rainha contra si, ele murmurou:

_ Acho que você se lembra. Eu te disse que pra onde fosse, eu estaria junto. Mas não me lembro de ter dito que ia sozinho.

_ E-eu – ela baixou os olhos, parecendo vermelha – Gostaria de evitar que se arriscassem...

_ E é o que todos gostaríamos de fazer por você. Como não dá, vamos nos arriscar juntos. É o mesmo princípio de Melk, menina.

Christabel então abraçou Zero, de forma que ele não pudesse ver nada além de seus cabelos escuros enquanto estivessem juntos. Mas ele sorriu, percebendo pela voz dela como se sentia.

_ Estou... comovida. Muito comovida.

Sunday, August 19, 2007

Olá gente leitora do meu Brasil! Quer estejam aí ou não... -_-' Saudações do Louco!

Se não me engano, não apareci por aqui semana pasada. Foi mal, minha irmã tomou conta do lugar. Mas, volto a dizer, estamos cada vez mais próximos do fim. Deve ser o penúltimo post do arquivo atual, 'Um Louco Capaz até de Pilotar Aviões'. E o próximo, 'Nova Era', deverá ser o último.

Espero que estejam curtindo tanto quanto eu. Se quiserem curtir mais, legal! ^^

Amplexos do Louco!

(...)

O Pala ganhou a quarta marcha e sua velocidade aumentou, mediante o desconforto de Daniel e a mão de Melissa na dele, tentando acalmá-lo. A bem da verdade, porém, todos estavam começando a ficar desconfortáveis com a velocidade do carro. Mesmo Laírton, agarrando-se ao teto e firmando-se como podia entre os solavancos, não pôde reprimir um comentário:

_ Devo reconhecer, ao menos diante de amigos, que mesmo minha fé não me isenta por completo do medo...

_ Sei que vocês não estão acostumados com esse tipo de situação – Zero mencionou, disparando para trás – mas tentem relaxar um pouco que a gente tá em boas mãos. Quando o assunto é velocidade, ninguém é melhor que o Mad.

Foi inevitável que os presentes voltassem sua atenção para o piloto, que trocou de marcha novamente e desviou para direita enquanto cantava:

Terminei com a minha mulher

Porque ela não conseguia

Me ajudar com a minha mente.

Dizem que sou insano

Porque fico carrancudo o tempo todo... *

(*Paranoid – Black Sabbath)

_ Ele é louco, Zero! – Freya exclamou.

_ Verdade – Zero confirmou, guardando a Marcadora com ar resignado – Mas também pilota pra caramba.

O mais estranho era que Zero parecia realmente relaxado, apesar da perseguição. Ele não mostrava qualquer insegurança com a velocidade que estavam alcançando, ou com o modo como Hermes estava dirigindo. Ficou evidente para a maioria que Maddock não era o único louco presente, para desamparo de Freya, e Melissa preferiu mudar de assunto.

_ Deixa isso pra lá e me responde, por que tá parando de atirar? Aquelas suas balas de Dragão de Fogo não funcionam naquele monstro?

_ Acabei de esvaziar um tambor delas, e tenho certeza que acertei, Li – Zero abriu o tambor, deixando a carga vazia cair – Acho que esse corpo do filho da mãe é grande demais pra munição convencional. Eu ia precisar de um míssil revestido com jóia pra, talvez, dar resultado.

_ Então, pouco importa que eu atire também – Freya murmurou, guardando as pistolas em sua braçadeira – Só o que podemos fazer é fugir.

_ Pelo menos por enquanto – Zero voltou a atenção para frente, examinando a distância a percorrer – Tudo agora depende do Mad, e do Palão ser ligeiro o bastante pra chegarmos primeiro na Porta de Maddock.

_ Chegar primeiro onde?

_ ‘Porta de Maddock’, Tata – Mad respondeu sem se voltar – Meu pai foi quem deu o nome pra a coisa. É um paredão de rocha onde a única passagem é um estreito bem estreito mesmo, parecido com aquele ‘Desfiladeiro das Termópilas’, onde...

_ E é nossa melhor chance, agora que as balas do meu pai não podem ajudar – Zero comentou, olhando preocupado para Christabel – E agora que a Christie não tá acordando.

_ Nosso perseguidor não se atreveria a enfrentá-la em tais condições e não pretende perdê-la agora, que não tem mais como alcançar a alma de Melissa – Laírton opinou, agarrando-se firme ao banco – Mas, se nosso veículo pode passar...

_ Eu cuido disso, Irmão – Mad continuou a acelerar, enquanto a quinta marcha era engatada e o motor a vapor parecia à beira de alcançar seu limite – Sari, vai ficar por sua conta. Preciso que você abra fogo com os faróis do Palão quando eu te der o sinal. Tudo bem?

_ Claro, Maddock... mas...

_ Você vai entender na hora – ele sorriu entre dentes, a atenção voltada para diante – E vai ser logo; olha lá, a Porta de Maddock!

Diante dos fugitivos e do perseguidor uma imensa colina crescia, ocultando o horizonte atrás de si exceto por uma passagem estreita em seu centro, para onde o Palão se dirigia com a massa de escuridão a perseguí-los. E Freya deu o alarme:

_ Precisamos ir mais depressa, Maddock! A avalanche está ganhando terreno!

_ Como é?

_ Eu tinha reparado – Maddock retrucou, parecendo incomumente sério – Vi no retrovisor. Ele tá deixando de quebrar pros lados e reduzindo o deslocamento lateral, caindo sempre na nossa direção. Com tanta massa e cobrindo menos terreno, ele ganha velocidade.

_ Mel, não pode fazer alguma coisa? – Daniel perguntou, e a namorada sacudiu a cabeça.

_ Se eu entendi direito, meu poder passa diretamente por ele, Dan! Consegui pegá-lo de surpresa antes, mas agora...

_ Agora a conversa é comigo, Melissa.

Sari particularmente ficou muito admirada ao ver o semblante de Maddock tão diferente. Ao invés do ar alheio de costume, a diversão habitual vinha com um olhar firme e brilhante, e a força de vida dele pulsava uma confiança inabalável, como apenas as pessoas que superaram seu maior desafio são capazes de fazer. E apesar da escuridão crescendo sobre eles e do carro estremecer cada vez mais, a caçadora teve certeza de que escapariam.

_ Você pode ser o bom à noite, quando a gente tá sozinho e com medo do escuro, seu xexelento... – Maddock murmurou, e Sari provavelmente era a única capaz de ouví-lo – Mas nada nem ninguém corre mais que Hermes Maddock, o filho do Capitão Maddock! Sari!

_ Ah... S-sim!

Encontrando os gatilhos que Maddock indicara, Sari fez com que os faróis do Palão, transformados em duas metralhadoras embutidas, começassem a disparar contra o estreito rochoso diante deles. E Zero agarrou o banco do piloto, murmurando tenso:

_ Hermes Maddock, é melhor você ter certeza disso... Se a gente não passar antes daquelas pedras caírem, eu vou ficar muito puto com você...

_ Cala a sua boca, pirralho, que aqui mando eu – Maddock murmurou de volta.

_ A parede está cedendo! – Daniel gritou lá atrás, enquanto as bordas do estreito começavam a ruir sob a artilharia cerrada do Palão. E Maddock, olhos fixos na passagem, parecia esperar por algo.

Bem acima de onde eles passariam, a parede começou a ceder. Uma rocha de tamanho considerável soltou-se e deslizou, precipitando-se sobre a estreita passagem e arrastando metade do paredão consigo.

Era o que Maddock aguardava. Sua mão direita soltou o volante e destravou uma válvula abaixo do painel, e um tanque de propelente instalado na traseira do Palão deu a eles um impulso súbito e duplicou sua velocidade.

E o deslocamento extra os fez passar entre o estreito pouco antes das primeiras rochas caírem sobre o caminho, e de toda a muralha natural desabar para lacrar a passagem ao som ensurdecedor de avalanche, da massa quase sólida de escuridão contra a montanha e do uivo de exaltação do piloto, que celebrou.

_ Úúúúúú-húúúúúúúúúúú!! É! Aqui não tem pra ninguém! Chupa, babaca!

_ É isso, Mad! – Zero apertou o ombro do amigo fervorosamente – Daqui pra frente, cê sempre vai dirigir desse jeito quando tiver comigo, entendeu!?

_ Aquelas pedras... Ele fez cair sobre nós...! – Daniel murmurou, olhando fixamente para trás – Deliberadamente as derrubou...

_ Mas conseguiu nos fazer passar no momento preciso – Freya acenou com a cabeça, e voltou-se para Maddock – Hermes, eu... Estou impressionada. Você é incrível!

_ Um desempenho admirável, sem dúvida – Laírton acenou, sorrindo – Aceite meus cumprimentos, amigo Maddock; você faz por merecer o nome de um antigo deus da velocidade.

_ É, tá certo, você é bom mesmo, Mad – Zero olhou adiante, contemplando o horizonte que se descortinava diante deles – Mas acho que dá pra reduzir, agora; pode tirar um pouco o pé, vai.

_ Vai dar não.

_ Por que? – perguntou Daniel – Ele deixou de nos perseguir, ao menos por enquanto.

_ Porque eu ainda precisava ter dado uma apertadinha nos freios.

Silêncio sepulcral caiu sobre os passageiros do Palão, e Zero, o primeiro a se recobrar, perguntou:

_ Vem cá, mas... a gente já tinha arrumado isso antes, né não?

_ Bom, é... mas eu tive que fazer um outro ajuste na pressão do óleo depois – ele comentou em tom de desculpas, enquanto todos os outros olhavam para ele em pânico – Ficou meio tarde, eu tava com sono, pensei ‘tudo bem, eu prendo mais ou menos aqui e continuo amanhã’, digo... Como é que eu ia saber que esse idiota ia atacar a gente?

_ Sua besta! E por que não nos avisou antes?!

_ E vocês iam subir no Palão se eu dissesse que tava sem freio? Qualé Tata.

Apesar da reação compreensível da maioria dos presentes, Sari, Laírton e Zero não puderam deixar de rir, e o último perguntou:

_ Mad, só pra eu saber... Como é que você tava pensando em fazer a gente parar depois?

_ Parar? Ah, sei lá – Maddock voltou-se, rindo também para o amigo – Eu tava preocupado em correr, não em parar. Pensava nisso depois, acho.

_ Acho que agora, não temos outra escolha – Melissa sussurrou, verificando a firmeza do próprio cinto de segurança, e Daniel olhou assustado através das janelas e em meio à velocidade espantosa com o qual percorriam a planície. Percebendo que os passageiros continuavam a parecer preocupados, Maddock deu de ombros.

_ Ah gente, vocês se preocupam demais! Sentem aí e relaxem! Só preciso parar de acelerar e deixar, que o Palão perde o embalo uma hora...

_ Por que tanta confusão?

Todas as atenções se voltaram para Christabel, finalmente desperta, que olhava ao redor parecendo mais aborrecida do que desnorteada por não despertar em sua cama. E Zero sorriu para ela.

_ Bom dia, Christie! Você tá legal?

_ Olá Zero – ela espreguiçou-se discretamente – O que foi que perdi?

_ Ah, uma perseguiçãozinha à toa, e o Mad derrubando uma parede em nós, nada tão sério – e apontou para fora – Mas acordou bem a tempo de ver o Palão bater todos os recordes em velocidade das últimas décadas, dá só uma olhada.

_ Verdade, Alteza, vocês são gente de sorte – Maddock cumprimentou ao volante – Com as reformas que o Mano Zero e eu fizemos, essa gracinha aproveita melhor a aerodinâmica que qualquer outro Pala, e com impulso extra dá pra ultrapassar a barreira dos trezentos quilômetros por hora...

_ Quer agora fazer a gentileza de dizer à Rainha sobre aquele detalhezinho, ‘deus da velocidade’? – Freya interrompeu exasperada – Aquela partezinha ‘sem importância’ sobre não termos como parar!?!?

Christabel olhou sem expressão para a Dragonesa e depois para Zero, que pareceu um pouco envergonhado.

_ Bom... Isso é verdade, Christie. O doido do Mad tinha deixado pra acertar os freios hoje de manhã, e como a gente teve que sair correndo por causa daquele fulano das trevas...

_ Entendo – Christabel suspirou – Acho que não podia ser evitado, então. Espero que saiba o que está fazendo, Mestre Maddock.

_ Ah, tudo bem Alteza – ele piscou pelo retrovisor – Deve dar pra parar até chegarmos ao nosso destino, eu acho. Na hora a gente vê.

_ Mas será que todo mundo aqui ficou louco? – Freya exclamou, e Maddock acenou para ela no retrovisor.

_ Nah, fica tranqüila, Bibi. Todo mundo aqui dentro é tão são quanto eu.

Sunday, August 12, 2007

Gente, eu voltei!!! ^^ Saudações do Louco!!

Depois de um afastamento semanal - probleminha com o pessoal da telefonica - estamos de volta pra mostrar pq, tanto, o Zero e o pai dele confiam nesse doido do Mad.

'Doido do Mad'... Olha só eu me repetindo de novo, amigo Akira...

Forte amplexo do Louco, mais uma vez ^^

Capítulo XXXVIII – Deus da Velocidade

A sensação de urgência crescia em cada um deles enquanto reuniam suas coisas. Havia uma ameaça implícita no ar que todos podiam sentir. Tomando o rumo da despensa Maddock deixou Sari sentada numa cadeira antes de puxar de seu refrigerador uma garrafa com um líquido estranho de cor marrom-avermelhada e estendê-la para a caçadora.

_ Desculpa pelo mau jeito, mas não vai dar tempo de preparar isso direito. Tome o máximo que puder de um gole só.

_ I-isso... o que...

_ Anda, Sari – ele insistiu, juntando mantimentos numa mochila – Bebe logo!

Em dúvida, a caçadora retirou a rolha e tomou um gole lento, afastando a garrafa da boca quase no mesmo instante.

_ Maddock, isso é...! O que é essa coisa?

_ Melhor você não saber – ele sorriu com impaciência – O cheiro e gosto forte têm a ver com pimenta, e é só o que eu vou contar. Esse caldo é esquisito, mas é uma tremenda vitamina; consigo trabalhar o dia inteiro sem almoçar se tomar uma dose de manhã. Talvez não seja bem o que você precisa, mas acho que vai quebrar o galho por enquanto. Anda logo, bebe!

A expressão dela deixava bem claro que só o faria pela urgência do momento e para ser educada, e que jogaria tudo pelo ralo se tivesse uma oportunidade. No entanto, ao conseguir recuperar-se o bastante do sabor forte do estranho caldo, Sari percebeu maravilhada que o torpor em seus pensamentos e a confusão tinham passado. E a surpresa dela se deu no instante exato em que seu anfitrião jogava sobre as costas a pesada mochila, com um sorriso ainda mais aberto no rosto.

_ Heh, eu posso até não ser um feiticeiro do passado, mas o efeito das minhas poções eu garanto! Anda gata, os outros devem estar esperando!

Ao chegar à sala principal da casa, a massa escura que fora o mestre das sombras pulsava e crescia, vapor sombrio emanando dela para todos os lados enquanto a temperatura parecia diminuir sensivelmente. Na abertura feita na parede estava Laírton, agora com seu grande cajado cruciforme na mão esquerda e com a direita estendida na direção da massa escura, murmurando palavras que ninguém conseguia escutar. E Zero gritou lá de fora:

_ Tata, Mad, Sari, venham logo! Sei lá o que tá acontecendo, mas o Laírton não vai segurar ele por muito mais tempo!

O trio irrompeu para fora da casa pela grande janela do salão para não se aproximar mais do que o necessário da criatura, que pareceu tentar alcançá-los. Laírton traçou uma última vez um sinal de cruz diante da fenda na parede antes de voltar-se para acompanhar os colegas na fuga e pedir:

_ A casa está selada por enquanto, mas o volume e a força dele estão crescendo, e não sei quanto tempo a barreira vai resistir. Francamente, não creio que possamos escapar dele...

_ Tudo bem Laírton, nós temos um plano – Zero replicou, indicando Maddock, que assumiu uma voz profunda e solene.

_ Homem de pouca fé, não confia em mim? Em minha companhia, serás mais veloz do que qualquer sombra! Contempla ‘O’ Palão!

Passaram correndo pela fuselagem sem asas de um antigo avião soviético para deparar com o veículo que o anfitrião e Zero tinham passado um tempo considerável reformando, e apesar da urgência do momento não havia como não ficarem impressionados com o resultado.

_ Nunca vi um Pala desse tamanho – murmurou Freya, voltando-se para Maddock – Colocou lataria extra?

_ Coloquei muita coisa e tirei outras dele, Bibi, mas essa não é a melhor hora pra falar a respeito.

_ Que história é essa de Bibi?

_ Ué, você não me deixa te chamar de ‘Tata’, e eu não gosto de ‘Bia’, daí...

_ E por que não ‘Freya’?

_ Você preferia?

_ Lógico!

_ Por isso!

_ Ô vocês dois, será que dá pra fazer um menos? – Zero bronqueou, dando um cascudo em Maddock – Tata, do lado esquerdo! Eu vou do direito, pra ficar com a Christie e pra garantir o fogo de lá!

_ Peraí, pivete! – Maddock bronqueou, agarrando a orelha de Zero – E eu, como fico lá na frente se precisar de ajuda? Preciso de alguém com reflexos bons pra usar os faróis, se aparecer alguma coisa na frente!

_ Posso fazer isso – Sari ofereceu-se, passando para o banco da frente sob o olhar preocupado de Zero.

_ Menina, você ainda tá enfraquecida do que aquele safado te fez, não tá? Devia descansar um pouco.

_ Tá tudo bem, Zero, ela vai ter que servir – Maddock apressou-se, tomando seu lugar e olhando para trás.

A casa de Maddock estremecia e sacudia, sem motivo aparente a princípio. Então, uma explosão no teto revelou a sombra maligna que voltou seus olhos para eles e começou a derramar-se de lá sobre eles impetuosamente. No volante do Palão, Maddock puxou a chave e fez os pneus cantarem, arrancando pelo portão.

_ Atenção senhoras e senhores, fala o comandante. Estamos de partida; coloquem seus cintos, respirem bem fundo e se tiverem algo pra atirar naquele lazarento, façam o favor de abrir fogo. A companhia agradece a consideração e a preferência...

_ Será que dá pra fazer menos gracinha e acelerar mais? – Freya ordenou, atirando sem efeito na avalanche de trevas que se derramava sobre eles – Aquela coisa tá se aproximando!

_ Seu pedido é uma ordem, minha visita. Iniciando procedimentos...