Thursday, March 25, 2004

Saudações, leitores! Numa semana q lembra muito o Space Invaders (monstrinhos descendo de todos os lados e de todos os cantos da tela, e a gente só com um canhão pra pegar todos. Assim tão minhas responsas essa semana... céus!), eis aqui Louco, abatendo mais um monstrinho! ^^

Tudo bem, tudo bem, mó nada a ver o sonho do Zero, ou talvez não. Bem, acontece q ele náo é o único q sonha aqui...

Forte amplexo do Louco. Espero q estejam gostando...



(...)


Em outra parte, enquanto isso, a Rainha Christabel também estava passando por tempos difíceis. Não se lembrava momentaneamente do que a aborrecera antes, ou de coisa alguma. Não era seu costumeiro pesadelo, tampouco, mas parecia-lhe muito estranho estar num campo deserto nevado, com mais neve caindo calidamente sobre ela. À sua volta, apenas uma árvore seca baixa demais para ser velha quando morrera. Mas ainda de pé.
Ela voltou-se. À distância haviam montanhas, mas de alguma forma ela sabia que não deveria ir até lá. Ao invés, seria muito conveniente afastar-se o máximo que pudesse, antes que...
Um tremor no solo, e Christabel amaldiçoou em silêncio, saltando para trás enquanto pedra vulcânica sólida abria-se como se fosse casca de ovos, e a imensa cabeça de uma serpente de olhos vermelhos irrompeu de sob ela. Era mais que um animal, no entanto; havia inteligência naquele olhar, e era maligna. E voltada para a Rainha. Tendo encontrado Christabel, a criatura começou a deslizar em sua direção com velocidade, mais do que o cavalo mais veloz poderia.
De algum lugar, uma lâmina longa curva surgiu na mão direita da Rainha, que esperou. A criatura parecia um tufão enquanto se aproximava, e Christabel sabia que não teria como desviar ou evita-la. Então, a melhor coisa a fazer era destruí-la em sua primeira passagem, enquanto ainda podia. E quando a cabeça reptiliana a alcançaria, Christabel saltou sobre ela, seu braço direito vibrando com o golpe frontal.
A serpente passou. Christabel rolou sobre a criatura, caindo afastada dela, seus olhos cinzentos cintilando enquanto o movimento atrás de si cessava por um momento. E de seus lábios uma maldição, enquanto sentia... sabia... que aquela criatura falava, e estava se comunicando com ela!
A cabeça de réptil voltou-se para ela, um leve filete de líquido vermelho marcando o ponto onde a lâmina curva da Rainha o atingira, mas nada mais sério para indicar que fora ferido, enquanto sua voz sibilante repleta de ‘s’es procurava tenta-la, convence-la a se unirem. Que o mundo estaria aos pés de ambos se o fizessem...
Ela colocou-se de pé, a lâmina voltada para baixo enquanto seus olhos inexpressivos fitavam a criatura, em silêncio por um momento. Já era odiada o suficiente apenas em Melk, e apontou a lâmina para a serpente, ameaçando.
Havia a indicação de um sorriso na voz da criatura quando respondeu e, ao olhar em volta, Christabel viu silhuetas diversas emergindo da neve. Vultos escuros, de animais enormes, mas ela sabia que eram mais que animais. Todos aqueles seres eram dotados da mesma inteligência maligna, cada um com seu próprio intelecto. Todos voltados para ela, e Christabel instintivamente, sem sequer perceber, esticou sua perna esquerda e dobrou o joelho direito para aproximar-se mais do solo, diminuindo a área de seu corpo que podia ser atingida. Sabia que estava em perigo. Mais; sabia que estava com medo. Só não sabia ainda que sabia disso, e até que descobrisse, levaria tantos daqueles seres quanto pudesse.
Um vulto que parecia um touro, de algum ponto atrás dela, exigiu que se entregasse com uma voz profunda que parecia ressoar por toda a volta. Um outro vulto, uma criatura que parecia humana, mas com cabelos de fogo, falou próximo o bastante para que parecesse ser no seu ouvido, e parecia prometer-lhe que a união de ambos faria com que ela nunca mais conhecesse o medo, e Christabel voltou sensivelmente sua mão esquerda naquela direção. Já estava farta daquilo.
Sua vontade mostrou-se absoluta então, braços abertos e rosto erguido enquanto os céus pareciam ganhar vida, nuvens estranhas e escuras correndo nos ares e o céu cinzento se tornando sombrio e perigoso como se aquilo fosse a noite. Os vultos à sua volta já não eram tão facilmente localizáveis, mas ela não se importava. Daquelas nuvens opressoras que convocara, repentinamente grandes bolas de fogo começaram a cair por toda a volta, até onde era possível ver do horizonte à sua volta. Era um dos mais poderosos ataques de Christabel, sua ‘Tempestade das Lágrimas Flamejantes’, e não havia lugar onde aqueles seres pudessem se ocultar daquele poder destruidor.
Ela não estava a par de coisa alguma à sua volta, não precisava estar. Sabia que nenhum deles deveria sobreviver àquela agressão. Apenas sentia seu poder, glorioso, fluindo de si como um gêiser rumo aos céus e lá provocando a tempestade que caía por toda a volta. E ao terminar, olhou ao seu redor.
Não havia nada vivo, de fato, por quilômetros. Era estranho, mas apesar de poder ver claramente os espaços amplos e carbonizados deixados pelos bólidos de fogo, lhe parecia estranho que houvesse neve e frio ao seu redor. Christabel percebeu estar próxima às mesmas montanhas que quisera evitar, embora não tivesse idéia de como fora parar ali. E soube então que o mundo inteiro estava vazio. Não havia mais qualquer risco para ela, porque não restara ninguém em parte alguma para ameaça-la ou afronta-la. Estava livre, finalmente. Mas...
Um vulto alto, semelhante a um homem com um manto longo, surgiu de algum lugar em meio à neve. E fez um gesto amplo com o braço direito, mostrando a ela toda a vastidão do mundo a partir do penhasco onde estavam (ela não se lembrava de subir penhasco algum; o que estava fazendo ali?). E Christabel via de alguma forma, que ainda haviam formas humanas de pé em toda a parte, mas não eram mais pessoas. Eram apenas estátuas de vidro, transparentes e insensíveis, que pouco se importavam com ela. Christabel podia ver através delas, não havia uma única estátua de vidro perfeito por toda a parte; todas tinham falhas, trincas ou sujeira dentro de si, como se tivessem sido feitas com material impuro. E a Rainha as odiou por isso, embora não entendesse porquê.
E foi como se uma tênue luz de sol irrompesse por entre as nuvens, e ela percebeu uma nova estátua, mais próxima, de feições familiares. Não haviam máculas que ela pudesse ver dentro daquela estátua, em particular. Só o que havia um grande pedaço vazio dentro de seu peito, a ponto dela se admirar. Como aquela figura humana podia se manter de pé, com tal parte de si perdida? O artesão que o construíra devia ser muito habilidoso em sua profissão...
E o homem encapuzado retornou ao seu campo de visão, andando resoluto na direção daquela estátua que Christabel admirara. De lugar nenhum, ele ergueu uma pesada maça de ferro com sua mão esquerda, e despedaçou em milhares de fragmentos a figura vítrea. E a Rainha gritou em desespero, sem entender por inteiro a sensação enorme de vazio e perda que teve então. Só sabia que algo importante fora perdido, e que poder algum no mundo poderia traze-lo de volta.

Wednesday, March 17, 2004

Nossa, perdi anoção do tempo...

Saudações de novo, galera! Louco tá de volta, insistindo na história

(foi mal, mas tem coisa demais em andamento, e muito ainda por acontecer; vou ter q continuar mais um pouco, receio...)

Como vcs podem imaginar, aventuras estranhas têm momentos estranhos. Hora de um deles. Quem aí tava sentindo falta de irrealidades?




VIII – Delirium

Melissa sabia o suficiente para descrever com precisão a situação de Zero depois de ter doado sua energia à Sari; ele de fato não perdera energia suficiente para se tornar num vampiro como ela. Mas não ficara muito longe disso, tampouco, e sua noite de sono imediata àquilo foi no mínimo peculiar.
Ele usara os últimos vestígios de energia que ainda tinha para chegar ao próprio quarto, e começara a insistir com Sari, Melissa e Daniel de que não precisaria de mais ajuda por aquela noite, que ficaria bem sozinho, mas desmaiou pouco depois de chegar lá, e foi deitado pelos amigos. E Sari ficou para tomar conta dele, visto que Melissa estava esgotada demais para ficar e também foi descansar, amparada por Daniel. E Zero ficou febril naquela noite.
Sua mente, no entanto, não tomava consciência disso. De repente, ele estava novamente nas passarelas das muralhas de Melk, e o fato de a muralha leste não estar demolida depois do que Christabel fizera, ou de não haverem mais marcas cortadas em todas as outras não o perturbava em nada. A única coisa que o estava deixando um pouco desconcertado era o fato do ar da fortaleza parecer um tanto nebuloso, como se nuvens visíveis de neblina estivessem por toda a volta. Não o incomodava, bem entendido; Zero adorava fenômenos meteorológicos, como tempestades e névoa. Só lhe parecia ter algo de errado com aquela, em específico.
Olhou em volta. Era estranho, também, o quanto Melk parecia deserta. Era noite, claro, mas era mais do que o silêncio da noite. Não haviam sentinelas à vista em parte nenhuma, e ele quase sabia que, se derrubasse uma pedra do lugar onde estava, teria um eco alto em resposta.
_ Que catzo...?
_ Saudações, viajante.
Zero sobressaltou-se e se voltou, deparando com duas figuras que lhe eram desconhecidas. Nunca os tinha visto na fortaleza antes, estava certo, e também não os vira quando olhara naquela direção um instante antes. Mas estavam ali naquele momento.
_ Ah... Oi. Desculpem o susto, acho que eu tava distraído... Têm alguma idéia de pra onde foi todo mundo?
_ Acredito que você, no fundo, sabe a resposta – disse a segunda pessoa, uma mulher de cabelos escuros – Sua mente racional apenas não aceitou ainda.
_ Aceitou? – Zero olhou com curiosidade – Não aceitou o quê?
_ Isto não é real – disse o primeiro, um homem alto de cabelos claros – Não em sua maioria.
_ É, eu... acho que sabia, mesmo. Quero dizer, quantas vezes você vê esse lugar tão parado, né? Mas... sei lá, então eu tô sonhando?
_ Algo parecido – disse o homem – Peço desculpas por isso, mas você é a única pessoa com quem conseguimos falar em muito tempo.
_ Vocês tão com algum problema? – Zero perguntou, sem levar mais em conta o quanto aquilo lhe parecia estranho – Podem falar; eu não sei bem o que é ainda, mas se puder ajudar...
_ Você é uma boa pessoa – a mulher disse, e ele achou poder ver a sombra de um sorriso no rosto dela. Os dois pareciam ter os rostos um tanto encobertos em sombras – Não a julga; mais ainda, gostaria de ajuda-la.
_ Quem...? – ele perguntou, mas achava que também sabia a resposta. E o homem alto falou, segurando a mão da mulher:
_ Ela corre perigo. Não sabe ainda, não realmente, mas o tempo a deixou superconfiante demais. Ela acredita que estará segura, que pode se proteger sozinha. Mas não pode. Levou tempo, mas agora eles sabem como destruí-la.
_ Deviam falar pra ela, então – Zero retrucou, preocupado – Ela não gosta de mim, e se é tão urgente, não tenho tempo suficiente pra faze-la confiar...
_ Não temos como falar com ela – a mulher de cabelos escuros baixou o rosto, parecendo pesarosa – Ela fez tamanho esforço para se proteger, se isolar contra todos, que mesmo nós não podemos falar. Não conseguimos alcança-la.
_ Velamos por ela à distância, tanto quanto podemos – o homem disse – mas a crise que se aproxima está além do nosso alcance. E você...
Zero estava despertando. Não tinha como saber, mas muito tempo se passara, e a primeira coisa que viu foi o rosto aliviado de Sari olhando para ele.
_ Até que enfim, Zero! Eu estava começando a perder as esperanças!
_ S-Sari...? Onde... Onde eu tô...? O quê... Cadê os dois?
_ Está falando de Melissa e Daniel? Se retiraram, ela estava muito exausta depois...
_ Não, eu... – procurou sentar-se – Eu queria dizer aqueles dois...
_ Olhe, é melhor ficar quieto – Sari repreendeu, forçando-o a deitar-se novamente – Sua febre baixou, mas ainda está fraco demais para qualquer extravagância.
_ N-não, eu... – mas estava mesmo fraco, e ela o deitou de volta sem dificuldade – Eu tô bem, eu... preciso achar aquele casal...
_ Do quê está falando? – Sari indagou, levemente curiosa, e mesmo atordoado em sua fraqueza Zero notou que não conseguiria convence-la, ainda que suas condições fossem melhores – Bem, seja o que for, me conte amanhã depois que dormir. Agora é melhor que fique quieto e repouse.
Zero fechou os olhos e sentiu que eles ficavam pesados, enquanto sua consciência começava a vacilar novamente. Antes de adormecer, no entanto, ele ainda murmurou:
_ Vou fazer... o que eu puder. Prometo...

Wednesday, March 10, 2004

Olá de novo, gentes e gentas presentes! Louco de novo, depois de oito ou nove dias afastado (caramba, até eu tinha perdido a noçaõ do tempo)

Terminando mais um capítulo, começando um tomo novo da história enquanto isso, vou deixando pra vcs mais uma palhinha de Christabel, e espero q vcs gostem. Sério mesmo. Afinal, a gente escreve pra isso mesmo...

(nah, a verdade é q adoramos contar histórias!!! ^^)

Amplexos do Louco, posteiro.


(...)


Zero sentiu o tranco em si no momento em que Sari começou a tirar-lhe energia; lembrou-se de ter tomado um choque elétrico uma vez, numa das últimas visitas à Cidade Avançada, e no primeiro instante achou que a sensação era idêntica, mas mudou de idéia pouco depois, enquanto sentia que seu corpo ficava mais e mais pesado. Olhou para Sari, vendo no rosto da moça a vitalidade voltando aos poucos; o olhar dela estava mais focalizado, sua respiração estava se normalizando e, sim! A força do aperto em suas mãos estava melhor, as mãos dela já não tremiam...
E então ele situou aquela sensação com uma realmente semelhante que já vivera, enquanto a lembrança invadiu sua mente: paredes desabadas à sua volta, escombros por toda a parte depois que um túnel caíra sobre ele... Sangue ao redor, escapando dele, levando sua vida embora por entre as rochas que haviam caído... Mas Sari podia precisar de mais, e ele concentrou-se em se manter firme, tanto quanto pudesse...!
E Melissa tirou a luva de sua mão direita e agarrou o antebraço de Sari, também sentindo um tranco em si quando sua energia começou a fluir para a vampira. Estava com medo, muito medo, mas um olhar lhe mostrou que Zero, sozinho, não seria capaz de reviver Sari. E também, que Sari sozinha talvez não fosse capaz de se deter antes de ter retirado energia demais de Zero, ainda que já tivesse tirado o suficiente.
E viu outro par de mãos unirem-se às suas, olhando admirada para a sua esquerda. Daniel ajoelhara-se ao lado dela, olhando determinadamente para seus olhos e sorrindo, ainda que seus olhos traíssem a mesma sensação de enfraquecimento. Ela ficou infinitamente admirada, mas também feliz com a atitude dele. Zero era sua obrigação; prometera ao Seu Dirceu que o levaria de volta em segurança, e também era seu melhor amigo. Daniel não tinha qualquer obrigação com ele, mas a estava ajudando... e Melissa sorriu para ele em gratidão.
E Sari sentiu tudo aquilo. O carinho dos dois inesperados doadores a arrancou da avidez por saciar sua fraqueza, e ela percebeu que não precisaria de mais. Zero já estava consideravelmente enfraquecido, mas se mantendo firmemente agarrado às suas mãos, disposto a dar a ela tanto quanto pudesse sem queixar-se. Os outros dois, talvez não o tivessem feito por dedicação ou amizade a ela, mas haviam sido muito corajosos em sua atitude... e a haviam impedido de causar danos a Zero, mesmo que não estivessem a par disso, e ela então soltou as mãos do mecânico, rompendo o contato.
Os olhares dos habitantes de Melk encheram-se de temor, enquanto recuavam involuntariamente um passo e Sari sentava-se. Isso irritou Christabel, que estava respirando depressa em sua irritação. A caçadora fora salva, e o impulso de Melissa e Daniel sem dúvida haviam salvo Zero também. Ela estava irritada com ele, mais do que poderia dizer ou compreender, e com um olhar duro na direção do viajante ela voltou-se e partiu.
Sari parecera perceber isso, voltando-se por um instante na direção da Rainha. Havia uma energia diferente emanando dela; forte, mas escura. Rancorosa. Ela se concentraria mais naquilo, mas a voz de Zero a trouxe de volta; ele estava muito fraco.
_ S-Sari... Você tá... legal?
Ela voltou-se. Ele estava cambaleando, só com muita teimosia se mantendo consciente e sentado, mas nem isso o manteria por mais tempo, e ela se debruçou para frente para segura-lo. Melissa e Daniel também o estavam amparando, ainda que também parecessem estar cansados. Os cidadãos de Melk olhavam inquietos na direção de Zero e Sari, mas Melissa ergueu a mão esquerda, com a exaustão evidente em seu rosto.
_ S-sei o que... estão pensando, mas... ele ainda está bem.
_ Como podemos saber? – Marco perguntou, sombrio – Você é amiga dele.
_ Zero teria... que perder totalmente os sentidos pra... p-pra ser transformado de verdade – Melissa cambaleou um pouco, atordoada, mas Daniel a amparou – E isso só aconteceria... depois de três dias de inconsciência.
Os olhares dúbios ao redor eram mais que suficientes para mostrar que eles não estavam bem convencidos. Sari impacientou-se um pouco, olhando ao redor, mas foi detida por Zero de mostrar sua indignação quando ele pediu:
_ D-dava pra... me dar uma forcinha aqui, Sari? E-eu acho que... não consigo me levantar.
_ Zero...
Sem mais uma palavra, ela ergueu-se e o ajudou a ficar de pé. A princípio pareceu que ele não conseguiria, mas firmou-se um pouco e então susteve-se. A expressão de Sari era séria e solene quando ela curvou a cabeça diante de Zero suavemente, num cumprimento.
_ O que fez por mim hoje... Se houver alguma forma de retribuir, Zero, eu gostaria que me dissesse...
_ Bom...
Ele novamente oscilou, ondulando para os lados um pouco e então tombando na direção dela, que novamente o amparou. E com a voz terrivelmente cansada, mas outra vez com seu tom divertido, Zero respondeu:
_ Se quiser... me dar uma força pra chegar no meu quarto... já vai ser muito legal, Sari. E-eu acho... que não consigo sozinho.
Sari estava um pouco incomodada com os olhares e o silêncio das pessoas à volta, mas o importante naquele momento era fazer o que Zero tinha pedido, e Daniel estava ajudando Melissa a caminhar ao lado deles, a multidão abrindo espaço para que passassem. A respiração dele estava muito acelerada, como se tivesse corrido por uma longa distância, mas a sua voz ainda era de quem brincava quando dirigiu-se a Melissa:
_ E você, Li... s-sei lá o que passou pela sua cabeça... Q-que idéia foi aquela...?
_ Escuta aqui, Zero...!
Mas ela emudeceu ao ver que ele estava sorrindo para ela, erguendo o polegar.
_ F-foi mal por... ter gritado com você, Li. S-se continuar assim, você vai... tomar o meu lugar de maluco da turma.
_ Nah, acho que não... – ela sorriu de volta, com ar cansado – Você tá muito na minha frente... e isso é muito perigoso. Pode ficar com o título.
_ Como podem brincar com isso? – Daniel perguntou, olhando de um para o outro com ar perplexo e um tanto severo – Foi sério o que acabou de acontecer...!
_ Depois de um tempo você se acostuma, Dan – Melissa fez um gesto de pouco caso, ainda sorrindo – Eu comecei assim, também.
_ E falar nisso, Daniel... bem vindo à bordo – Zero estendeu a mão direita com dificuldade, embora Daniel tenha deixado que ela caísse uma vez antes de aceita-la, na segunda tentativa do mecânico – Foi legal você ter ajudado... a minha irmãzinha. Vê se toma conta dela direito... ou vai se ver comigo, hein?
_ Pelo jeito, você já está bem melhor, Zero – Sari comentou, o braço esquerdo do amigo passado sobre seus ombros – se já consegue até provocar Melissa desse jeito.
_ Ah, é uma das funções de irmão maior, Sari... É minha obrigação...
O quarteto estava muito animado enquanto se retirava, apesar do ar perplexo de Daniel. E Christabel os estava observando, sem entender muito bem como aquilo pudera acontecer. Ou por quê estava tão aborrecida.

Tuesday, March 02, 2004

Olá mais uma vez, leitores invisíveis!! Outra vez comentando, postando, lembrando e suando (calor desgraçado...), Louco vem à tona pra colocar algo do mistério de SAri às claras!!

Tá, a essa altura os meus espertinhos do peito já descobriram qualé a da menina, mas caso não tenha rolado ainda, vamos esclarecer qualé que é!

(Enquanto isso, no estúdio do Covil do Louco, Loucomon apronta o capítulo dezessete...)

Amplexos distantes de Andrecity, a cidade incandescente

Louco



(...)




Ela voltou-se ao ouvir uma certa comoção. Boa parte do grupo de soldados estava afastando os monstros reunidos na Muralha Oeste, mas havia uma pequena multidão reunida no alto de uma das passarelas, e a Unicórnio parada próxima deixou claro para Christabel quem estava ali. Suspirando e perguntando-se o que aquele tolo exibido estava fazendo daquela vez, a Rainha dirigiu-se para o centro da comoção.
Zero estava gritando por um médico que não aparecia, sua amiga Melissa e Daniel próximos a ele, mais uma multidão de curiosos reunidos ao redor. Christabel podia sentir o temor supersticioso de seu povo novamente, e adivinhou antes mesmo de ver o que estava acontecendo: a natureza de Sari devia ser evidente agora, pois era a caçadora quem Zero mantinha abraçada junto a si, semidesfalecida, e havia satisfação em seu rosto quando percebeu que até Melissa parecia assustada e um tanto reticente.
_ Anda, será que eu tô falando grego? Cadê o maldito médico? Ela precisa de ajuda, caramba!
_ Zero, ela... Ela é... – Melissa balbuciou, e Zero voltou-se furioso para ela.
_ Eu sei quem ela é, Li! O que eu não sei ainda é quem é o desgraçado do médico, que nem pra dar as caras serve! Minha amiga tá morrendo, caramba! Se a gente não tirar essas flechas...
_ Não são as flechas que a estão matando, Mestre Zero – Christabel avançou calmamente de dentro da multidão, que abriu espaço enquanto ela se aproximava – É a perda de sangue, e da energia nele. E se não se afastar, talvez perca a sua quando ela chegar ao ponto crítico.
_ Dá pra ser mais clara ou tá difícil, Majestade? – a multidão ao redor recuou mais de um passo, temerosa da reação da Rainha com a brusquidão de Zero, mas Christabel sorriu suavemente. Era a primeira vez que não via Zero senhor de si mesmo, e ela sentia um estranho prazer ao vê-lo daquela forma. Então, ele não era realmente imune a tudo. Teria ficado em silêncio, saboreando o momento por mais algum tempo, mas foi Melissa quem explicou ao amigo:
_ O... A cor do sangue dela, Zero... você não tá vendo? – e apontou para o líquido prateado que escorria das feridas e da boca de Sari – Ela não é humana; a-acho que Sari é uma vampira!
_ Como é que é? Isso não é hora pra variar, cacete, ela vai morrer se continuar desse jeito...!
_ Sua amiga diz a verdade, Mestre Zero – Christabel interrompeu, sua voz impessoal e o olhar gélido disfarçando a enorme satisfação em ver o mecânico finalmente alterado – A caçadora depende de energia dos seres vivos para se manter viva. Ferimentos como estes não podem mata-la; eles se fechariam sozinhos assim que as setas fossem arrancadas. Mas a perda de sangue a está enfraquecendo, e ninguém vai se aproximar dela neste estado. Se ela chegar ao estágio crítico, vai atacar qualquer ser vivo ao alcance para tirar sua energia à força; você é um alvo muito fácil aí, como está.
_ É verdade, Mestre Zero! – Marco, Capitão da Fortaleza, deu um passo adiante com sua espada já meio desembainhada – Afaste-se dela e nos deixe fazer o que deve ser feito antes que ela nos ataque. É tarde demais para salva-la.
_ Ninguém chega perto! – Zero sacou sua pistola e apontou para Marco, que pareceu admirado e afrontado ao mesmo tempo, assim como os demais à medida em que Zero movia a pistola à sua volta – Só tenho quatro tiros, todo mundo sabe, mas eu garanto que mato os quatro primeiros que encostarem um dedo na minha amiga!
_ Z-Zero... – Sari balbuciou, entreabrindo os olhos – Me deixe...
_ Sari! Sari, você tá...
_ Quando eu estiver... fraca demais... – ela fechou os olhos, tudo parecendo um esforço grande demais – vou entrar em transe... A necessidade... mais forte que a razão... Não vou me controlar... Nem distinguir amigo de inimigo... P-por favor, Zero...
_ Agüenta firme, menina!
Christabel estava secretamente apreciando a situação; que Zero lidasse com o desespero de não ser capaz de controlar uma adversidade por uma vez, que aprendesse que sorrisos e brincadeiras não bastavam, que haviam problemas com os quais ele não poderia tratar. A vida não era uma grande brincadeira, como ele parecia imaginar. Isso lhe serviria de lição.
Zero debruçou Sari sobre seu ombro esquerdo e deixou as costas dela expostas, tomando um longo fôlego e então começou a puxar as setas uma a uma, sem cerimônia e tão bruscamente quanto podia, travando os dentes a cada gemido de dor da caçadora. Cinco vezes ele repetiu o procedimento, e até arrancar a última seta, viu que Christabel não errara em seu conhecimento; os dois primeiros ferimentos já haviam fechado, e o terceiro já não sangrava. Mas deter o sangramento, apenas, não traria de volta a força que Sari já perdera, e ele a deitou de costas na passarela, e o contato com a pedra fria pareceu dar outro momento de consciência à caçadora.
_ Z-Zero...
_ Sari, escuta! Tem como você tirar a minha energia agora? Do que você precisa?
A multidão se entreolhou com incômodo e curiosidade, e Christabel franziu o cenho. O que ele pretendia? Mesmo Sari parecia não compreender.
_ O q-quê...?
_ Se você tá precisando de energia, eu tenho bastante. Anda, me diz como é que se faz isso!
_ N-não...
_ Zero, isso é loucura! – Melissa interveio, ajoelhando-se ao lado do amigo – Se ela tirar energia demais, você também vira vampiro! Vai deixar de ser humano...!
_ Ela percebeu o perigo antes que eu, Mel – Zero interrompeu, olhando seriamente para a amiga e a fazendo calar-se – e me tirou do caminho. Era pra ser eu morrendo aí, não ela. Se Sari morrer porque me salvou a vida, nunca eu vou poder me perdoar.
O rosto dele tinha aquela resolução que Melissa já conhecia, uma teimosia absoluta que não aceitaria nenhuma outra opinião além da própria.
_ Mas Zero...
_ Além do mais – ele sorriu serenamente para o rosto combalido de Sari, que olhava para ele com olhos entreabertos – eu acabei de prometer também. Nunca volto atrás, sob circunstância nenhuma, não foi? Disse que ia estar aqui se você precisasse, Sari, e ia pegar mal pra caramba faltar com a palavra tão depressa.
_ Z-Zero...
_ Tá, tudo bem – Melissa acenou afirmativamente com a cabeça – É preciso tocar a pele dela; é como a transferência de energia acontece. Mas, você tem certeza de que...?
Zero já estava segurando as duas palmas de Sari com suas mãos, apertando-as e agitando-as um pouco, dando ênfase ao que dizia.
_ Vai Sari, anda logo! Pode pegar, eu tô te dando minha energia! Pegue o que for preciso, anda!
_ N-não... – Sari estava lutando muito para se conter – Não faça isso... O risco...
_ A energia é minha, e eu faço o que quiser com ela! Anda Sari, não me faz repetir! Manda ver!
Melissa estava aborrecida, lutando contra si mesma enquanto tentava decidir se tomaria parte ou não na mais recente loucura de seu amigo. Desde pequena, sempre tivera pavor de histórias com mortos-vivos, como zumbis, esqueletos e vampiros. E o risco...!
Sari resistiu tanto quanto pôde ao impulso de aceitar, mas Zero era insistente, e sua energia...! Ela podia vê-la, próxima como estava do transe que tiraria sua razão, tão fraca estava... A força dele, aquele entusiasmo que mantivera mesmo quando ela o vencera, aquela alegria de viver, pulsando! Transbordando ao redor dele como se fosse o calor de uma fogueira, ou o brilho de uma estrela...! Ela então fechou seus dedos, agarrando as mãos dele entre as suas, e aceitou a oferta.