Sunday, April 30, 2006

Olá vocês, leitores! Aqui estou eu, aí estão vocês, ali está o sol *apontando pra fora* e cá estamos todos pra mais um 'Histórias ao pôr do'...

Nah, chega. Ou o Fofão pode acabar me processando por plágio ^^

Bem, andiemo com a coisa toda. Deixa ver, na última semana *lembrando devagar* Ah, é, terminamos os 'Retalhos' com uma conversinha entre o REligioso mais querido da galera, Laírton Diógenes, e o Religioso da Cidade Sucata, Alberto. Bom, vamos começar o capítulo 'Cidade Avançada' (pq imagino q, a essa altura, ao menos ALGUÉM esteja curioso com esse lugar ^^)

Cabou a curiosidade, então. Vamos devagar, mas cheguemos lá.

Amplexos do louco (despejado do computador por uma mãe fã de Tetris Attack - e prontinha pra me atacar o_0')


XXIII – Cidade Avançada


Quando Christabel finalmente desceu de seus aposentos, todos estavam reunidos na cozinha, desfrutando de uma última refeição antes de seguirem até a Cidade Avançada. De modo geral, os humores estavam muito melhores do que na noite anterior, principalmente quando se mencionava o presente que Daniel recebera. Estava tremendamente encabulado, mas mesmo Sari ria discretamente quando Melissa contou a história:
_ Estávamos passando na frente da Ferraria. Sabem como é o Souza, disse que não dormiu desde que aquilo acabou ontem à noite, mas como sabia que não ia terminar a tempo, preparou uma coisa diferente de uma armadura completa pra agradecer ao Daniel. Por isso esse colete blindado de um braço só.
_ Ele disse que a idéia era deixar meu braço da arma livre – Daniel explicou, parecendo muito encabulado – Então, meu braço direito tem uma proteção menos pesada... Só uma cotoveleira e uma luva, enquanto o esquerdo fica totalmente recoberto... E-eu não tinha como recusar, então...
_ Também ouvi dizer que, por hoje, você foi ‘Deus’ na Cidade Sucata, amigo Daniel – Laírton comentou – Todos pareciam lembrar do acontecido da noite passada.
_ Foi bem como você disse, Laírton – Melissa riu – Vocês tinham que ter visto, aquele bando de Escavadores parrudos vindo até a gente, apertando a mão do Daniel e falando ‘Ô, meu, você é o cara!’, ou ‘Toma uma cerveja aí’, ‘Quer um cigarro?’, e por aí vai. Era muito engraçado ver a cara do Daniel, olhando de um lado pra o outro e sem saber a quem dar atenção primeiro...
_ N-não foi tão engraçado assim! – Daniel retrucou, parecendo meio incomodado que Melissa tivesse tocado no assunto – Vocês deveriam ter visto Melissa, quando aquelas moças da cidade vinham me agradecer; tinha uma aparência de dar medo!
_ Como assim, ‘de dar medo’?! – Melissa pegou um pedaço de bolo caseiro e enfiou na boca de Daniel bruscamente – Eu não dou medo nunca, seu tonto! Do que você tá falando?
Daniel estava sufocando com o bolo enquanto Melissa olhava para ele com o rosto corado e os outros riam, mas Zero foi o único a notar que Christabel, embora não risse, também não olhava para a cena com o costumeiro ar de pouco caso; antes, parecia entristecida de alguma forma, como uma criança que vê outras brincando e por alguma razão não pode se juntar a elas.
_ Tá, tá bom então gente, mas agora dêem um pouco de espaço aqui – Zero levantou-se, caminhando sem cerimônias até onde Christabel continuava de pé, e ela olhou admirada para ele enquanto começou a conduzi-la – Anda, Christie, você precisa comer alguma coisa; tá desmaiada desde ontem, e é hoje que a gente vai tirar esse treco da sua cabeça. Não tá querendo encarar uma subida até a Avançada de estômago vazio, né?
_ O... O que pensa que está...?
_ Isso se chama ‘bolo de nada’ – Zero sentou Christabel no lugar onde estivera e mostrou sem qualquer expressão o bolo caseiro em fatias – Pelo menos, foi o que o Velho Dirceu falou quando eu perguntei pela oitava vez do quê era esse bolo. E olha, é o melhor bolo de nada que eu já comi! Prova você mesma, e me dá sua opinião.
_ S-sim... Zero tem razão, Minha Senhora – Daniel voltou-se para Christabel, ainda parecendo encabulado e ansioso para deixar o assunto anterior – Não... podemos protege-la de tudo, há coisas das quais deve se precaver por si mesma; uma queda de pressão sanguínea por falta de comida, por exemplo. Deve se alimentar direito.
_ Daniel? – Sari olhou admirada para o cavaleiro, impressionada que ele parecesse assimilar o argumento de Zero tão facilmente. Aquela experiência da noite anterior realmente o mudara! E Laírton, sorrindo com serenidade, também uniu-se a eles.
_ É vital para que possa se defender, se for necessário, Alteza. Seria muito frustrante tê-la trazido por todo o caminho para vê-la adoecer por fraqueza.
Christabel olhou ao redor, confusa. Não se sentia muito à vontade com tanta atenção; não estava habituada àquilo. Mas estranhamente, aquilo pareceu-lhe menos incomum do que deveria; talvez, por sua prolongada permanência entre os viajantes. Apenas Sari mantinha uma expressão reservada, e Christabel tornou a sentir que algo mudara, mas não conseguia entender o que era. Se ao menos, aquela tiara maldita não a estivesse retendo...
_ Anda, Christie, o café tá esfriando – Zero tornou a perturbar, com ar vazio – Depois você vai ficar reclamando que tá frio, que tá ruim e não sei mais o quê, igual naquela vez do chá de ervas. E eu não vou deixar ninguém sair daqui dizendo que o café do meu velho é ruim, não.
Christabel olhou com ar aborrecido para Zero. Nunca deixaria de dizer tolices, ao que parecia.

Monday, April 24, 2006

E aí, gente leitora? Saudações do Louco!

Continuemos com os 'Retalhos'; ainda tem mais gente pra falar, né? ^^

Foi mal, não deu pra postar ontem... Por isso, posto hoje mesmo. Tentarei manter os prazos na semana q vem (é o melhor q dá pra promter a essa altura ^^')

Forte amplexo!!

(...)



_ Imagina, decerto, a minha surpresa quando eu percebi que era você.
Laírton sorriu, esticando a mão para servir-se do caneco de vinho que Alberto lhe servira. E respondeu:
_ Posso ao menos imaginar, sim, caro amigo. Afinal, já fazia um bom tempo.
_ Verdade – Alberto serviu-se de um caneco e olhou com alguma curiosidade para Laírton – Por onde tem andado nos últimos anos, Diógenes? Não tinha notícias de você desde aquele rumor de um ‘Dragão Negro’ no litoral.
_ Você sabe, foi considerado que eu não era seguro para grandes centros urbanos – suspirou – Uma pena, realmente. Gostaria de ao menos ter tido permissão para visitar a Cidade Avançada antes. Ao invés disso, recebi ordens para vagar pelas cidades no interior. Meu último posto foi em Garland; estive lá até recentemente, quando circunstâncias maiores me fizeram vir até aqui.
_ Abençoadas circunstâncias, então – Alberto cumprimentou com um aceno – Eu não teria conseguido enfrentar a criatura de ontem à noite sozinho. Você sabe, Diógenes... – estremeceu – Não questiono minha fé, mas não sou imune ao medo. E ontem, eu temi não poder salvar meus protegidos.
_ Sobre o que houve na noite passada, Alberto – Laírton bebeu um gole generoso de vinho – É melhor que eu conte a você; de certa forma, foi a razão para a minha vinda até aqui... e, receio, não teria acontecido se eu não tivesse vindo até a Sucata.
A reação de Alberto foi exatamente o que Laírton esperava que fosse, uma expressão de profunda surpresa e início de aborrecimento; era melhor que se explicasse.
_ Ou, talvez seja melhor dizer... Não teria acontecido se o grupo a quem estou acompanhando não tivesse vindo. Sei que parece confuso, então é melhor que eu explique.
E Laírton fez um breve resumo de tudo o que vira desde que conhecera Zero, Daniel e Melissa em Garland, do espectro até o ataque na noite anterior, tudo girando em torno da mesma pessoa. Até o final do relato breve, a expressão de Laírton era séria e Alberto já bebera mais um caneco e meio de vinho, aparentando nervosismo. E mais aborrecimento.
_ Você revelou muito a eles, Laírton – Alberto replicou ao final com ar grave – Sabe que não podemos falar tanto sobre o conhecimento da Ordem sem permissão...
_ Eles andarão sob o fogo da batalha e sob as armas de todos os perseguidores, Alberto – Laírton retrucou, erguendo o caneco – Têm ao menos o direito de saber que tipo de inimigos virão.
_ Talvez, mas ainda assim... – suspirou Alberto, dando de ombros com ar de abandono – É por isso que a Ordem nunca enviou você a uma cidade, Diógenes...!
_ Sou um servo da Ordem, amigo, mas antes de tudo, sou um servo do Senhor. Eu o sirvo à minha maneira, e posso garantir a você que foi a voz d’Ele que ouvi quando tomei minha decisão. Christabel já tem uma cruz pesada demais para carregar, e o Senhor a colocou no caminho de tantas pessoas formidáveis. Me senti honrado em poder acompanha-los; como seu companheiro de viagem, não vi porquê não lhes contar o que eu já sabia.
_ Você, sempre o mesmo – Alberto fez que não com a cabeça, bebeu mais um pouco e começou a se servir de mais vinho ao perguntar – Não parou um instante para pensar no que viria depois, não? Diógenes, se sua protegida é a Rainha de Melk, ela é um alvo móvel agora que está aqui! Faz idéia disso, não faz? Todo o tipo de criatura virá até ela, e é de se esperar que os mais poderosos venham persegui-la; provavelmente o ser que expulsamos na noite passada foi o mandante do ataque a eles em Garland!
_ Sim, eu já ponderei sobre isso – Laírton concordou de cabeça baixa.
_ Ela é uma ameaça a cada pessoa à sua volta, então! – Alberto enfatizou – Se vocês vão acompanha-la, bem, é uma escolha individual, e devem fazer como acham melhor. Mas as pessoas desta Cidade Sucata, bem como aquelas em Avançada, não têm qualquer idéia de porquê as criaturas estão vindo. Vocês não têm o direito de coloca-las em risco!
_ Eu bem sei disso – Laírton olhou com seriedade para Alberto – Mas, entenda, não há qualquer outra escolha neste momento. Essa é a rota de ação mais segura para todos os envolvidos, inclusive seus inocentes em risco, caro Alberto.
_ Segura?? – Alberto derramou parte do vinho – Eu não vejo como!!
_ Eu já disse a respeito da limitação sobre Christabel, a forma como os conselheiros puderam afasta-la de seu posto. Enquanto estiver assim, por poderosa e determinada que seja, ela será pouco mais que uma jovem humana. Forte de espírito, sem sombra de dúvida, mas com poucos recursos para se proteger. Apesar de fora de seu alcance, no entanto, o imenso poder que ela porta continua lá, pronto para ser abusado pelo primeiro Rei das Trevas que for capaz de subjuga-la. Só há uma forma segura de impedir que tal coisa venha a acontecer.
Alberto sentou-se novamente, sem dizer palavra, enquanto o conhecimento do que Laírton dizia descia sobre ele. Não tinham realmente qualquer opção, nenhuma que não fosse...
_ Exato – Laírton tornou a encher seu caneco – Christabel agora está na mira de cada potencial rei das outras espécies, e não pode ser evitado. Mas, se os esforços da Cidade Sucata e Avançada unidos puderem liberta-la de seus grilhões, ao menos ela poderá se defender por si mesma. Como tem feito a cada dia de sua vida, ela se afastará de outros que possam se ferir e travará sua batalha, até estar fora do alcance de quem quer que seja. Ou arriscamos seus protegidos, Alberto, ou desprotegeremos todo e qualquer ser humano, esteja próximo à Rainha ou não.
Alberto nada disse por algum tempo, limitando-se a olhar para seu próprio caneco de vinho. Por fim, quando voltou a falar, tinha um tom de voz resignado.
_ É por esse tipo de circunstância que não permitem que fique em qualquer cidade maior, Diógenes – Alberto sorriu com ar contrariado para Laírton – Você os colocaria a todos em risco em nome de uma única pessoa, se fosse confrontado com essa possibilidade.
Laírton sorriu de volta, mais amplamente e erguendo o caneco como em saudação. Para ele, aquilo fora um grande elogio.
_ E o que torna a vida de várias pessoas, caro Alberto, mais importante do que a de uma única delas?

Sunday, April 16, 2006

Ceeeeeerto!! saudações leitores! Louco, querendo ficar gripado (como dizia minha vó), postando mais Retalhos!!

Dessa vez, um retalho do amigo Zero. Qualé, ele é o personagem principal secundário (a primeira é nossa Rainha); é ruim q ele ia ficar sem.

Afinal, heróis tbm precisam de um momento sozinhos pra ponderar sobre o q catzo tão fazendo ali, e se precisam continuar.

Amplexos semanais do louco!!

(...)


_ Te chamei aqui, menino, porque tem algumas coisas que preciso te passar.
_ Hein?
Zero não estava entendendo nada. O pai geralmente não era tão formal.
_ Pai, isso vai ser rápido? Eu preciso ir pegar a Unicórnio antes da gente subir pra Avançada...!
_ Isso vai demorar o tempo que for preciso – Dirceu retrucou, um tanto de mau modo – Cala a boca e me acompanha!
O pai estava indo para o porão, mas Zero não podia ver coisa alguma que tivesse para buscar ali. A menos que...
Dirceu passou adiante, movendo uma alavanca e afastando uma das estantes. A porta oculta para a passagem do subterrâneo. Zero admirou-se. Não iam até ali desde que Melissa chegara para treinar e aprender com eles.
_ Você tá querendo ir até a casa do Mad, pai? Ou quer que eu chame ele?
_ Nem uma coisa nem outra. Ao menos, ainda não. Por enquanto, só vou te dar uns lembretes, e coisas que você vai precisar.
Havia um salão muito amplo abaixo do porão da casa de Dirceu, com espaço suficiente para um túnel a parte, que desaparecia no subterrâneo. E também havia armários, uma parede repleta deles, do lado oposto da passagem do túnel. Foi até eles que o velho foi.
_ Você tem certeza de que vai querer ir até o fim disso, menino? Sei que você é meio maluco, e mais do que ninguém, eu sei porquê. Mas isso pode ser demais até pra você.
Zero desviou o rosto, parecendo um pouco contrariado. Sabia do que ele estava falando. Mas, sim, o pai conhecia seus motivos. Conhecia muito bem.
_ Ela precisa de ajuda, pai. E não só com essa coisa de lutar, sabe... Pra falar a verdade, acho que é lutando que a menina sofre menos. Ao menos nessas horas, ela só precisa bater até o que tá incomodando cair ou morrer. A ajuda que eu quero dar tem a ver com as outras horas, aquelas quando a gente fica sozinho e não tem tiro nem magia que consiga despachar os fantasmas.
_ E acha que está à altura da tarefa, Zero? – agora a voz de Dirceu era tranqüila, a mesma de quando tirava o filho dos problemas em que costumava se meter – Acha que consegue chegar ao final disso, não importando o que custe? Porque, uma vez que aceite, não vai haver volta. Não importa o quanto se arrependa ou o que queira, você não vai ter. Você agüenta, menino?
Zero pesou o que tinha ouvido. O pai conhecia melhor que ninguém sua motivação, e não ficaria contra ela, mas queria ter certeza de que era aquilo mesmo o que ele queria. Seria possível que se arrependesse? Que naquela busca ele hesitasse o bastante para cometer o erro que lhe custaria a vida?
Acenou com a cabeça. Dificilmente. Ele não podia deixar Christabel sozinha, não até ter certeza de que ela ficaria bem, pelo menos. Lembrava-se muito bem de como era estar onde ela estava, e não desejaria tal coisa a ninguém. Era de esperar que tal caminho tivesse riscos; achava que os maiores deles tinham sido deixados para trás, quando ela ainda não tinha qualquer confiança nele. Ao menos agora, sabia que ela dificilmente lhe faria mal.
_ Eu falei pra ela, pai. Ela mesma perguntou isso, e eu disse que agora que comecei, vou até o final. Detesto deixar coisa por terminar. Além disso – baixou os olhos – ninguém devia encarar a barra que ela tá encarando. Vou fazer o que for preciso pra ela sair de lá.
E Dirceu sorriu. Fracamente, com um pouco de pesar, mas satisfeito em seu interior. Não esperava menos do filho.
_ Então, você já está pronto pra ajudar Christabel fora de batalha. Mas, como a companhia da moça é perigosa demais pra você ficar desarmado...
E abriu o armário às suas costas. Armas de fogo, várias delas, e munição o suficiente para todas por muito tempo, ou para uma única batalha muito longa. Até mesmo Zero ficou surpreso.
_ Pai, tudo isso...! Mas, como...?
_ Eu escolho como me pagam, lembra? Aqui, essa pode ser uma boa – puxou uma espingarda do armário, apoiando-se antes de puxar a trava – Dois cartuchos de pólvora pura, cheios. Você sabe tão bem quanto eu o estrago que podem fazer. E também, que são mais demorados pra repor do que os da sua Quatro-Tiros. Então, use com cuidado, e só quando for muito necessário. Toma aqui as recargas.
Um cinturão repleto de cartuchos da espingarda, pequenos tubos vermelhos de fundo achatado e largo, e Zero estava se sentindo entre tolo e impressionado enquanto o prendia. Um segundo veio em seguida, e um terceiro.
_ Isso deve dar, ao menos até você poder fazer ou encontrar mais recarga que essa. E, é melhor levar isso aqui também.
_ P-pai, mas isso... Isso aqui é a sua Marcadora!
_ Moleque tonto, eu sei muito bem o que é! – e Dirceu olhou com carinho para a pistola de quatro tiros cromada, como quem revê um velho amigo – O tambor tem o mesmo tamanho que o da sua, então o intervalo de recarga é o mesmo. O equilíbrio de peso é perfeito, é leve e fácil de sacar, e a mira é ajustada, tendo chegado a um nível bem próximo da perfeição. Nas mãos de um Atirador com a experiência mínima, ela praticamente atira sozinha. Aponte pro alvo, e a Marcadora encontra ele.
_ Eu já tenho uma pistola, Velho Dirceu, e você vai...
_ Não vou precisar da minha tanto quanto você, guri – Dirceu fez um gesto de pouco caso – Uma pistola a mais pode ser muito útil.
_ Um único Atirador com duas pistolas, pai – Zero parecia ter acabado de ouvir um absurdo – Sabe o tempo que faz que isso não acontece?
_ Sei melhor do que você – Dirceu retrucou – Não estou dizendo pra jogar no ralo tudo o que fiquei te ensinando sobre disparar com precisão, menino. Só que você deve precisar de uma boa pistola a mais, além de mais munição... e uma última dica. Olha com atenção.
E Dirceu retirou de um bolso em seu peito uma bala de pistola. Uma bala diferente, como Zero nunca tinha visto antes; parecia cintilante em trechos rajados de sua estrutura, como se fosse incrustada de jóias. E o pensamento deu-lhe a resposta ao que ia perguntar. Dirceu fez que sim com a cabeça.
_ É, Dragão de Fogo. Estava trabalhando nesse tipo de bala desde antes de você e a Melissa irem até Melk, e quando sua mensagem chegou, procurei fazer tanto quanto deu. Aqui, tenho um estojo com quatro dúzias.
_ Não entendi nada, pai. Pra quê isso? Balas revestidas de jóia...?
_ Você sabe, as Dragão de Fogo podem servir pra intensificar ou bloquear campos de magia. Pelas histórias que ouvi da sua viagem, eu calculo que vocês vão topar com tipos perigosos de inimigos, particularmente criaturas dotadas de poder mágico. Algumas, inclusive, poderosas demais pra se destruir com pólvora, mesmo da espingarda. Nessa hora, lembre de ter pelo menos uma pistola carregada com essas balas. Eu não testei, não tive como... mas acho que isso pode ser a diferença, uma coisa contra a qual bicho nenhum que cruzar o caminho de vocês vai ter imunidade. Quanto mais poderoso, mais passível de ser afetado.
_ Pai, valeu... mas não acha que tá exagerando? Christie deve recuperar os próprios poderes em pouco tempo, não?
_ Você mesmo disse, Zero; não está nessa só pra proteger a moça contra inimigos que se pode ver. E enquanto estiver andando com ela, convém estar preparado – sorriu – Além disso, se um dia sentir que não precisa mais, você sempre pode me trazer a Marcadora de volta. E, uma última coisa... quando tudo o mais falhar, se for preciso fugir... lembre do Maddock. Acho que essa rota vai estar livre, e você sabe que quando o assunto é velocidade, ninguém vence o Hermes.
Zero olhou com alguma preocupação para o pai. Mais do que os avisos, a natureza deles trazia uma espécie de aviso, uma premonição que causava algum desconforto. Amarrando o segundo coldre à cintura para acomodar a Marcadora e aceitando o coldre às costas para a espingarda, ele perguntou:
_ Tá tudo bem, pai?
_ Ora, claro! Por quê pergunta?
_ Não sei... Besteira minha, acho, mas o jeito que você falou... Mesmo que eu vá embora por um tempo, eu vou voltar depois, pai. Você sabe disso. Meu lugar é aqui.
Dirceu deu um sorriso tranqüilo, e acenou com a cabeça enquanto o filho prendia a espingarda às costas. Tanto melhor. O menino percebera, mas não tudo. Era melhor assim.
_ Claro que é, Zero. Eu sei que é. Sempre vai ser.

Monday, April 10, 2006

Escapou um pouquinho... saudações do Louco!

Sigamos em frente. Como decerto vão perceber, eu tava meio sem rumo qdo bolei esse capítulo aqui. O nome não podia ter sido mais apropriado, considerando a forma como foi posto...

Vejam vcs mesmos ^^ Amplexos autorais do Louco!


XXII – Retalhos


Seu Dirceu despertou um tanto abalado no dia seguinte. Fosse resultado do pesadelo que o atacante da noite anterior tinha causado ou alguma outra razão, ele sabia que tivera um sonho curioso pouco antes de despertar. Aliás, fora realmente um sonho...?
Olhou ao redor. Estava sozinho em seu quarto, e tudo ao redor estava escuro; o sol ainda não saíra.
Meneou a cabeça. Não dormiria mais, mesmo que quisesse. Até porque, a presença dela continuava à sua volta.
“Não sentia isso há quase dez anos. Mpf...”
Precisava se apressar. Podia estar apenas exagerando, mas convinha estar preparado para qualquer eventualidade, e se sua intuição estava correta, não teria tanto tempo quanto gostaria. Uma pena, realmente. Gostaria de estar por perto para ver no que a confusão mais recente de seu filho resultaria. Suspirou, meneando a cabeça uma vez mais, e foi até o porão onde tentara retirar a tiara de Christabel no dia anterior.


(...)


A manhã encontrou a caçadora prateada Sari sobre uma das muralhas da Cidade Sucata, olhando para o horizonte por onde viera, acompanhando o grupo de Christabel até ali. Ou talvez fosse melhor dizer, o grupo de Zero...
O vento da manhã começou a soprar seus cabelos para trás, e mais de um dos Escavadores na rua lá embaixo olhou admirado para as madeixas cintilantes da moça enquanto ela continuava pensativa. Estava dividida entre o desejo de partir e o de ficar. Se ficasse, talvez a situação mudasse; rejeição demais poderia cansar até mesmo o espírito de Zero, e ela não sentia como se Christabel fosse mudar de atitude. Não parecia provável. No entanto...
Ela estava levando a idéia da mudança em conta, pensando que Zero poderia se cansar da vigília depois de algum tempo. Mas era sensata o bastante para cogitar que o inverso também podia acontecer. Há quanto tempo Christabel se isolava das outras pessoas? Quanto tempo fazia desde que ela se impusera ser solitária? Não havia como saber, e nem isso era o mais importante. Como ela já dissera a Zero uma vez, nenhum ser vivo vivia daquela forma, aquilo levava à autodestruição. O que ela não mencionara era que Christabel já deveria ter se autodestruído muito tempo antes, e a única explicação para a vida dela por tanto tempo era algum forte propósito que a mantinha ali.
Mas propósito algum seria capaz de preencher a solidão que tal atitude trazia. A verdadeira questão não era quanto tempo Zero podia insistir em gostar sem retribuição, e sim quanto tempo Christabel não retribuiria enquanto ele insistisse. Não importando o quanto estivesse determinada a ignora-lo, ela devia estar faminta por contato humano já havia muito tempo, e isso tornava sua teimosia algo temporário. E a essa altura, ela já percebera que Zero podia ser muito teimoso, também. Ele devia estar disposto a esperar pelo tempo que fosse necessário.
E era com isso em mente que Sari estava pensando em partir. Seu peito doía, e ela não gostava do que tinha pensado na noite anterior. Sabia, claro, que sua vontade tinha sido influenciada por algum fator externo. O que a perturbava, no entanto, era que ela se sentira muito bem durante o que deveria ter sido um pesadelo. Quase lamentara, de fato, perceber que o que vira e fizera não era real.
“O fato de saber que não era real não muda a intenção que tive. Eu... deveria partir.”
Mas ela não conseguia...


(...)



Daniel reuniu suas coisas, preparando-se para outra partida. Rira, um pouco embaraçado, quando Zero e Melissa sugeriram que toda a cidade viria até ele para agradecer pelo apoio e pelo que fizera na noite anterior, mas além de um pouco nervoso com a perspectiva, ele também era um soldado, e protetor da Rainha. E podia imaginar a reação que o povo realmente teria ao saber de todos os detalhes. Fosse o que fosse aquilo que os perturbara e quase tragara na noite anterior, dificilmente teria voltado sua atenção para a Cidade Sucata se não fosse a presença de Christabel.
E seria demais esperar que a consideração dos Escavadores e mecânicos por sua Rainha fosse a mesma que a demonstrada por Zero. Gostara muito de ir até ali, estava fascinado pela atmosfera estranha da Cidade Sucata, da qual já tinha ouvido falar antes... e apesar do desconforto inicial, era ótimo ver o entusiasmo de Melissa no seu segundo lar. Ela insistira em leva-lo para dar uma volta pela cidade e, depois de alguns minutos de discussão argumentando que ele tinha seu dever de estar por perto, se deixara convencer. Laírton, Sari e Zero estariam próximos, e a própria Christabel não era exatamente um alvo fácil; mais ainda, ele sentia... sabia... que o Capitão Marco em sua visão de alguma forma estaria ali, tomando conta dela, também. E não ficaria longe por tanto tempo.
“Então, é conveniente que eu faça meu turismo depressa” – ele pensou. “Pode ser minha última oportunidade de conhecer a cidade, e seu povo.”

Sunday, April 02, 2006

Opa, quase deixando quebrar a periodicidade de novo! Saudações do Louco, em cima da hora!!

Ei, alguém ouviu falar do filme sobre a Janis Joplin? E sobre as atrizes cotadas pra fazer o papel dela...?

Cara... Janis Joplin interpretada pela cabeça de alfinete da Britney Spears...! A pobre Janis vai rolar no túmulo se tal coisa se der...

Ah, bem, isso não é lista de discussão, é só o espaço da Christie, né? E ela ficaria injuriada se eu colocar outra rainha no pedaço dela ^^ Então, andiamo ragazzi!


XXI – Espírito Guardião



Christabel remexera-se inquieta em seu sono, e despertara ao sentir uma perturbação à sua volta. A noite estava quieta, no entanto, embora ela sentisse algo como vestígios de uma presença ao seu redor. A mão direita na bainha de sua espada, Christabel deixou-se ficar imóvel por minutos antes de sentir-se segura o bastante e tornar a dormir. Sua mente continuava cheia da impressão de risco, no entanto.
Ao adormecer, ela viu-se num cenário mais do que familiar. Retornara às muralhas de Melk, e estava voltada para o oeste. Era a primeira vez em sua vida que não podia sentir qualquer ameaça ali, e imediatamente soube que aquilo não era real. Não podia ser.
_ Não é realmente, minha senhora. Peço que me desculpe, mas acreditei que seria melhor que visse a si mesma num cenário conhecido.
Voltou-se. O capitão Marco estava parado a poucos metros dela, espada fora da bainha, mas voltada para baixo. Ele não parecia hostil como de costume, mas Christabel estava habituada demais à reação dos soldados de Melk à sua presença para baixar sua guarda. Aquilo lhe parecia ser mais consideração do que de costume, e ela não via razão para relaxar. E sua atitude ficou evidente para o outro.
_ Entendo que não confie em mim – Marco baixou a cabeça – Ou em qualquer um de nós. Não agimos como deveríamos com a senhora, Minha Rainha, e não tenho sequer o direito de pedir-lhe por perdão. Quero que saiba, no entanto, que ao menos agora reconheço meu erro. Escolha a reparação que quiser, estou ao seu dispor.
Christabel considerou o cavaleiro à sua frente, curvado e sobre o joelho direito. Podia sentir a sinceridade dele; se por um lado Marco nunca lhe fora simpático antes, ao menos nunca fora dissimulado. Ela sempre pudera perceber, mais facilmente do que nos muitos outros, o quanto ele se ressentia de ter que servi-la. Aquela atitude se fora.
_ Por quê? – ele ergueu seus olhos com respeito, e ela insistiu – Foi necessário que eu partisse para que reconhecesse seu erro?
_ Não – Marco tornou a baixar os olhos, e sua voz – Foi necessário... que eu morresse.
Christabel ficou em silêncio. Não estava realmente surpresa; Marco era um guerreiro, não mago. Para que se comunicasse com ela em seu sono, era a possibilidade mais provável, que estivesse morto. Mas sabia também que devia haver mais.
_ No dia após sua partida – Marco começou a narrar – os conselheiros ainda vivos me convocaram, revelaram o ardil pelo qual a haviam afastado e... me ofereceram a posição de líder de Melk, para reger em seu lugar e em nome deles.
“Sempre tivemos nossas diferenças, Christabel, e não pense por um momento que me arrependi no momento de minha morte por ter mudado de opinião quanto à sua conduta. Mesmo agora, me parece incorreto que tivesse de impor-se a nós por força, usando de seu poder como rainha feiticeira para sustentar seu posto. Isso não mudou em nada”.
Christabel olhava para Marco com um olhar sombrio. Se era para repetir o que ela já sabia, ele não precisava ter ido até ali. E ele prosseguiu:
_ Mas ao ser mortalmente ferido, eu compreendi enfim seus motivos. Por incorreto que fosse, a Rainha conseguia assim manter-se com vida em meio aos conspiradores, e apenas uma devoção muito forte ao dever de proteger seu povo podia explicar tal atitude, a de permanecer onde os demais líderes visavam sua morte.
_ Você também era um ‘líder’ em Melk – Christabel retrucou, fitando Marco nos olhos. E ele enrijeceu-se, parecendo ofendido por um instante.
_ Não precisa me acreditar, mas digo: nunca tomei parte em qualquer das conspirações contra a sua pessoa. Assim como me recusei a participar desta...
_ Mas não tentou impedi-las, tampouco.
O olhar de Christabel em sua direção foi mais que suficiente para que Marco se calasse, e refletisse. Ela estava certa. Em seu coração, ele sabia disso. Ele próprio jamais tomara parte ou planejara qualquer um dos assassinatos secretos contra Christabel, mas nunca se empenhara em desvenda-los, tampouco. Ouvia os rumores, mas sempre preferira acreditar que os boatos sobre ‘assassinos secretos’ eram apenas outra desculpa da bruxa para puni-los eventualmente. Sabia que, por sua história, Christabel trazia muita mágoa do povo de Melk e a julgara por isso, acreditando mais no espírito vingativo da Rainha do que na perversidade oculta de pessoas a quem ele achava que conhecia.
Também isso, ele percebia agora, fora razão para que seu espírito procurasse Christabel depois de sua morte. Sua alma ansiava por alguma espécie de redenção que apenas ela poderia conceder. E, ele também percebeu, ela já fizera demais por eles protegendo-os e a seu reino de forma honrada mesmo contra o desejo deles, sem nunca se queixar. E o teria feito por toda a sua vida, caso a última trama do conselho tivesse falhado. Ele não tinha direito de pedir por nada mais.
Sem qualquer outra palavra, Marco curvou-se uma última vez e voltou-se. Não era digno sequer de estar na presença dela, agora sabia, e se sua punição seria vagar para sempre, sem encontrar o repouso, era apenas adequado. Um soldado caído, que se deixava desviar de seu propósito principal. Como dissera Zero quando Marco quisera repreende-lo no torneio, ‘como pudera considerar-se capitão da Rainha com tanto medo dela?’.
_ Não dei permissão para sair.
Marco voltou-se, intrigado. Christabel continuava com a mesma postura altiva de sempre, aparentemente alheia ao que desencadeara. Por isso mesmo, suas palavras seguintes chocaram tanto o Capitão:
_ Melk ainda existe, enquanto sua Rainha e ao menos um de seus habitantes viver. Não tem permissão para abandonar seu dever, Capitão, até que o reino deixe de existir ou que eu o libere de sua obrigação. Espero não ter que repetir.
E foi ela quem se afastou, deixando o Capitão Marco confuso, dividido entre absolvição e punição. Não estava livre, ainda preso àquele mundo pelo seu dever para com Christabel e Melk... e, ao mesmo tempo, estava livre da culpa. Se podia lutar, se ainda era um protetor para a Rainha, podia redimir-se. Poderia compensar o que não fizera até então.
_ Christabel... – e colocou-se de joelhos, curvando novamente a cabeça – Minha Senhora...!
Se fora ouvido ou não, era impossível saber, pois Christabel continuou a se afastar até desaparecer, e com ela, toda a visão das muralhas de Melk.