Sunday, March 26, 2006

'Olá crianças!'
'Ei Mikomo, ei Mikomo!'... Ah, tudo bem, vcs já sabem como isso termina ^^ Saudações do Louco!

Vamos acabar com o 'Ataque Noturno', então? ^^ Mostre a q veio, Daniel!!

(...)

Daniel correu para fora de seu quarto, notando preocupado que Irmão Laírton não estava ali, sua cama vazia. Sua intenção era dirigir-se ao cômodo onde as moças estavam, esperando que pudesse encontrar sua Rainha e Melissa em segurança... mas no corredor, viu uma luz branca intensa vindo de algum lugar no piso de baixo.
Era lá que estava Irmão Laírton. Um círculo dentro de outro círculo, e o Religioso de pé dentro deles, cabeça baixa, cajado cruciforme na mão esquerda e a direita aberta diante de si, o rosto baixo e murmurando palavras que o cavaleiro não conseguia ouvir. A atmosfera parecia menos densa ali, onde a luz afugentava a escuridão onipresente. Daniel desceu apressadamente os degraus, a princípio sem saber bem o que fazer ou se devia fazer algo, mas sentiu uma compulsão enquanto se aproximava.

Una-se a ele!

Sem saber exatamente o que esperava conseguir, Daniel penetrou no círculo traçado no solo e pareceu-lhe que a luz se intensificava. Ele então colocou sua mão esquerda sobre o ombro de Laírton, e clara como água tornou-se a voz do Religioso, como se estivesse falando em voz alta de repente:
_ ... nas águas límpidas à luz da alvorada, abandone! Desista! Renuncie ao seu controle sobre essas almas! A força do medo e da insanidade não o servirá aqui, Portador do Medo! Suas garras não têm poder aqui! Deixe este lugar...
E então conseguiu ouvir algo mais; uma voz baixa, que parecia estar sussurrando baixo ao mesmo tempo em que o Religioso recitava. Uma voz que mais parecia um calafrio, trazendo uma sensação de inquietude até mesmo ao corajoso cavaleiro.
_ ... das portas do tempo, que venham novamente o Caos e o Desespero, quando Tudo era o Nada imaculado, e suas espécies não eram sequer um conceito! Sintam o Medo, sintam a Incerteza, abram seus corações e inalem o odor de seus temores mais sombrios, e desesperem-se diante da Impotência, do que há de mais escuro...
Daniel estremeceu, mas ao mesmo tempo, um calor cresceu em seu coração. Ele enfrentava Medo, Desespero e Caos a cada dia em sua existência na fortaleza de Melk. Uma existência triste, por vezes, mas com compensações. E descobrira força ao enfrentar aquelas emoções de frente. Fora pego desprevenido a princípio, sem sequer saber o que se passava, mas agora estava ciente da ameaça, e não daria as costas a ela. Lembrou-se novamente do poderoso Capitão Marco, que costumava recitar frases de encorajamento e disciplina enquanto os recrutas praticavam:
“Se não puderem faze-lo pela Honra, então ao menos não sejam completos idiotas. Dêem as costas ao inimigo, tentando fugir, e vão facilitar demais sua própria morte. Se for pra morrer, que seja enfrentando seus demônios; ao menos há uma chance de viverem para falar disso num outro dia”.
Sem saber bem o que esperava conseguir fazendo aquilo, Daniel começou a repetir as palavras de Marco, acrescentando algumas suas próprias. E quanto mais falava, percebeu, mais evidenciava o que pensava ser verdade; era a crença que tinha em seu coração, pela primeira vez posta em palavras, quase como se fosse uma das orações de Laírton:
Se não pela Honra, então ao menos para tombar lutando! Se a Morte, o Desespero e a Escuridão são inevitáveis, se não há como fugir deles, eu não vou dar-lhes minhas costas! Se quiserem a mim, terão que pagar o preço justo! Não vou me entregar com facilidade. Se é a este espírito que querem, então terão que desgasta-lo; se é a este corpo que querem, vão tê-lo aos pedaços! Se é a este sangue que querem, vou me certificar de derramar o máximo que puder dele enquanto os enfrento!! Venham e me tomem, se estiverem preparados para a sua maior batalha!!!
Houve uma pausa no murmúrio gélido que estivera ouvindo. Uma pausa curta, mas durante a qual a voz de Laírton pareceu crescer, e havia outra voz com a dele. Daniel fechou seus olhos, mas o brilho parecia queimar sua visão assim mesmo, enquanto o calor aumentava e o frio reduzia-se mais e mais. A voz sombria voltou, mas agora era realmente um murmúrio, desaparecendo impotente enquanto voz após voz se fazia ouvir, uma cacofonia em levante que o cavaleiro de Melk já não conseguia compreender ou reconhecer. E repentinamente, tudo parou.
A sensação opressora à sua volta desapareceu, Daniel soube, assim como soubera que ela estava ali antes. Quando abriu os olhos ele olhou ao redor, mas já sabia o que veria.
_ Sim, a presença se foi, Daniel.
Laírton parecia exausto, suado e ofegante como se tivesse corrido por horas a fio, mas o bom e confiável sorriso de sempre estava em seu rosto quando voltou-se para o amigo. E Daniel indagou:
_ Não foi apenas um sonho, foi? Aquilo que estava aqui há pouco...
_ Tão real quanto eu e você, amigo – Laírton pareceu inclinar-se sobre o cajado, quase sem conseguir manter-se de pé – E terrivelmente poderoso, e maligno. Encobriu a cidade inteira em seu manto, e aproveitou-se do estado adormecido da maioria de vocês para base de seu ataque. Contra as vontades de tantos, eu e o único outro Religioso presente, o residente da Cidade Sucata, podíamos fazer muito pouco.
_ C-como pôde... – Daniel estava confuso. Estava habituado a ameaças estranhas, mas num modo geral ele sempre podia ataca-las com sua lança de uma forma ou outra. Daquela feita, no entanto, nem sequer vira seu inimigo! – Diz ‘vocês’ como se aquele poder não o tivesse afetado.
_ Faço orações para proteção antes de me deitar, todas as noites – Laírton sorriu, deixando-se cair no sofá da sala – Costume comum dos Irmãos da Ordem; nos torna excepcionalmente resistentes a magias de influência ou ataques sorrateiros. Baseadas no poder da fé, elas formam uma proteção considerável, como pôde presenciar. Sempre incluo todos a meus cuidados em meus pedidos, mas como eu disse, a força da proteção depende da fé dos protegidos no Senhor. Contra um poder sombrio tão imenso, apenas a vontade combinada de todos poderia erguer uma barreira satisfatória. Isso quase foi nossa perdição, pois eu não podia despertar a todos sem desproteger o alvo principal do ataque.
_ Alvo principal...? – e Daniel entendeu, olhando para o alto e pensando nos companheiros de viagem, que não apareciam – A Rainha Christabel!
_ Sim, ela era o maior interesse do nosso atacante – Laírton olhou com seriedade para o alto – Eu e Alberto, o Irmão que acredito ser responsável por esta cidade, tínhamos como impedir que a influência se ampliasse mas não podíamos faze-la recuar. Ao mesmo tempo, eu não podia voltar minha atenção para despertar Christabel, ou a influência ficaria forte demais para que Alberto sozinho a impedisse de tomar a todos. Sinceramente, cheguei a ficar muito preocupado até o momento em que senti sua presença, caro Daniel. Uma surpresa imensa, mas mais do que bem vinda. Vejo que Irmão Cristóvão fez um ótimo trabalho na doutrinação em Melk, pois sua oração foi poderosa.
_ E-eu... Desculpe se parecer estranho, Laírton, mas na realidade não era uma oração. Era só algo que o Capitão Marco sempre dizia, e alguma coisa que não sei bem de onde veio. Acho que... é o que há no pensamento de cada soldado de Melk. Não se entregar ao desespero.
_ E era exatamente o que cada um da Cidade Sucata precisava ouvir naquele momento – Laírton tornou a sorrir, ouvindo os sons dos companheiros de viagem que deixavam seus quartos – Nosso inimigo estava usando todo o peso de sua influência nas mentes e espíritos de cada ser humano dentro das muralhas, mas eles também podiam nos ouvir. Quando você recitou suas palavras de coragem, eles as ouviram, e folgo em dizer que há muito poucas pessoas de espírito fraco neste lugar. Seus espíritos despertaram para a luta, cada um deles ecoando à sua maneira o que você disse, e a vantagem dos números do nosso inimigo acabou se tornando em sua desvantagem, pois assim como eu e Alberto, ele também não podia influenciar tantas vontades opostas sozinho. E foi forçado a abdicar de todos, e expulso. Deve estar tão exausto quanto eu, ou muito mais, pois foi repelido. Deverá retornar em breve para tentar outra vez, no entanto... mas agora estaremos de sobreaviso.
_ Dan!
Daniel voltou-se, e Melissa atirou-se sobre ele, os bracinhos envolvendo seu pescoço enquanto os cabelos loiros e o longo vestido de pijama esvoaçavam, e ele tombava surpreso para trás. Pouco depois, Zero começou a sacudir a mão do cavaleiro, falando alto e animado enquanto Seu Dirceu contemplava a cena de longe, sorrindo e fazendo que não com a cabeça.
_ Parem com isso, vocês dois, ou vão acabar matando o rapaz! Deixem um pouco dele para a gratidão dos outros amanhã.
_ Aí, pai, nada a ver! – Zero estava puxando as duas pernas de Daniel para cima, tornando impossível que o pobre coitado se erguesse – Não vem com conversa, que foi você quem me ensinou essas manias!
_ Verdade. Mas você cresceu um pouco desde essa época, pelo que me consta.
_ Nah, nunca se é velho demais pra isso! – ele sorriu, e então olhou para Melissa, ainda abraçada a Daniel – E, é melhor deixar ele respirar um pouco, irmãzinha, ou periga ele acabar morrendo mesmo.
Melissa soltou Daniel então, parecendo um pouco corada mas sem deixar de olhar para o cavaleiro. E, com todos ocupados felicitando o amigo, não pareceu que qualquer um deles tivesse percebido que Sari, no alto da escadaria, se mantinha à parte da comemoração. E seu semblante permanecia sério e pensativo.

Saturday, March 18, 2006

Vamos q vamos, gente! Lento, devagar, quase parando (tá, tudo bem, parado mesmo! Mas, continuo adiantado, ao menos por enquanto), saudações do Louco!

Tá feia a coisa. Será q o Daniel acerta isso? Sozinho, ainda por cima?

Vejam vcs ^^

(...)
Os vultos sombrios pareceram acumular-se diante dele, trazendo-lhe algo consigo. Um embrulho manchado de líquido escuro, que jogaram em sua direção. Ao cair nos degraus descendentes ele pareceu abrir-se um pouco, e Daniel conseguiu perceber algo claro brotando da boca do embrulho; pareciam fios de tecido prateado. Fios... longos, lisos, que o faziam lembrar-se de algo mais.
_ C-cabelos...? De prata?
Ele achava saber, agora, o que havia no embrulho. Não podia ser...! Não podia! Sacudiu sua cabeça, recusando-se a aceitar, negando-se a ver o que mais podia estar dentro daquele pacote. E um dos vultos encapuzados veio adiante, portando um anel metálico entre as duas mãos. Um anel que reconhecia, pois fora a principal razão de sua viagem até então... E palavras ditas antes vieram à sua mente:

Acalme-se, cavaleiro. O sangue não é da Rainha...

Mas desta vez, era o sangue de Christabel, ele soube. Enfim, a tiara fora tirada de sua fronte, mas... a julgar pelo estado do metal...!
E então ouviu um som que parecia algo desaparecendo nas chamas, enquanto o clarão da fogueira aumentava por um curto espaço de tempo, como se a pira tivesse sido alimentada novamente.
Daniel afastou seu rosto, mas não havia como evitar a consciência de que fracassara miseravelmente. Seu lar, pois de alguma forma ele sabia que aquilo devia ser Melk, caíra e ele não estava lá para protege-lo. Não cumprira também com seu papel na viagem; abandonara seu lar para proteger a Rainha e seus amigos, e fracassara nisso também. Até mesmo com a garota que amava...
_ Mel... Melissa, eu sinto muito...
_ Já basta disso, garoto. Desperte da insanidade.
Ele ouviu, então, o clangor de espadas. A voz era baixa e severa, e ele a reconhecia também. E pela primeira vez, sentiu algo diferente de medo ou frustração desde que chegara ali. Antes mesmo de poder localizar o dono da voz, percebeu que fora libertado, e tombou enfraquecido no solo. Ergueu seus olhos, então, e viu que alguém estava diante dele.
Era um homem alto, completamente armado e de olhar severo. Era também uma pessoa que conhecia, embora a capa que parecia de tecido fino e claro como seda fosse uma novidade. Também parecia emanar uma luz irreal à sua volta, que de algum modo iluminava mais o espaço à sua volta do que o fogo do fosso atrás dele. E Daniel sentiu-se seguro, ainda que muito surpreso.
_ C-Capitão... Marco?
_ Levante-se, soldado. A verdadeira batalha está além de seus delírios, e seus amigos necessitam de sua ajuda.
_ M-meus amigos... – Daniel balbuciou, baixando a cabeça novamente – Melissa...
_ As coisas não são como parecem, garoto. Olhe novamente.
Marco apontou com a espada para o fosso, e para as chamas. Desta vez, no entanto, as chamas pareceram escurecer aos poucos até se tornarem num tipo de fumaça, uma névoa escura que estava por toda a parte. Não era noite, na verdade. Aquela névoa estava ao redor, e ele percebeu, turvava sua mente.
_ Então... era tudo falso – Daniel pôs-se de pé, e então percebeu que não estava ferido de verdade. Nunca estivera. Mas, ao olhar para Marco, percebeu que o Capitão olhava para outra direção.
_ Nem tudo, infelizmente. A fortaleza... As muralhas de Melk não estão mais de pé.
_ Mas, Capitão...
_ Esqueça – Marco voltou-se para ele, novamente parecendo severo – Não é hora para longas conversas, soldado de Melk. O dever está diante de você.
_ Capitão, como é possível... Como pôde surgir...?
_ Me escute, Daniel – Marco colocou a mão sobre o ombro do rapaz – Acima de tudo, um cavaleiro de Melk é Dever e Honra. Outros podem tomar suas armas, seu lar e até mesmo sua vida, mas só você pode se privar do que realmente o torna um homem. Seus companheiros, sua Rainha e sua amada... você pode auxiliar a todos, se partir agora. Abandone a insanidade e vá – e então sorriu, inclinando levemente a cabeça na direção do rapaz – Falaremos, cavaleiro, quando for conveniente.
E Daniel ergueu-se. E percebeu então que estivera em sua cama o tempo todo. E a noite ao seu redor parecia mais escura do que deveria ser, e silenciosa demais.
_ Isso não é apenas a noite – sua mão direita procurou por sua lança, e ele saiu da cama – É o mesmo que no meu sonho! Mel!

Monday, March 13, 2006

Pois é leitores, leitoras e curiosos visitantes, saudações do Louco em mais um tostão da história da Rainha! ^^

A trama continua. Daniel, o mino q nem toda menina faria questão de ter (mas q se esforça um bocado ^^) vai quebrar o próprio coco agora enquanto rola a ação. E, cadê o resto da turma?

Vejam vcs mesmos ~_^ Amplexos autorais!

(...)
Daniel estava correndo. O que lhe importava naquele momento era que estava ouvindo o som da batalha novamente, e como soldado, sempre estava pronto. O cenário, não reconhecia totalmente; parecia ser o pátio interno de sua morada, a fortaleza de Melk, mas não lhe era familiar.
Não que importasse. Sua lança dupla estava em mãos, e Místicos enxameavam no céu sobre ele. Deixaria as considerações e pensamentos para depois da batalha; aquela era a hora de instinto e estratégia, não de reflexão profunda.
Um dos monstros mergulhou sobre ele, as mãos compridas em braços delgados gesticulando enquanto o clássico jorro de chamas o precedia. Daniel usou a lança como vara e saltou para o lado, saindo do alcance do primeiro ataque.
O Místico guinchou, voltando o jorro ininterrupto em sua direção enquanto ele buscava se esquivar. Daniel rolou para frente e sob a cobertura de uma das tendas de ferreiros.
O monstro estava próximo o bastante agora, e deteve suas chamas; não lhe faria bem algum ficar disparando fogo quando chegasse perto demais, e precisava ver o alvo.
Daniel agarrara a marreta de ferreiro sobre um barril, e a arremessou de lado. A ferramenta pesada estatelou-se bem no meio da face larga do monstro, surpreendendo-o e derrubando-o. Antes que o Místico pudesse se reerguer, ou levitar, Daniel o atingiu com sua lança dupla.
_ Menos um de vocês – ele rosnou entre dentes, procurando em volta – Mas onde estão os...
Por toda a volta havia caos e correria. Aquilo não lhe era tão estranho, afinal; sempre havia grupos de fugitivos a postos para o caso de uma invasão em Melk. Aquele não era o seu lar, não totalmente, mas ele entendia a necessidade em manter sobreviventes, quer o lugar que defendia caísse ou não.
_ Mas afinal, onde é que eu estou? E...
Lembrou-se de sua função principal, proteger a Rainha Christabel; era por isso que tinha aceitado afastar-se de Melk, não? Mas não apenas ela, que quase parecia não precisar de defesa alguma. Fizera amigos no caminho, irmãos e irmãs de armas que o protegiam, e a quem ele também devia proteger, tanto quanto pudesse, da forma que pudesse. A caçadora Sari que, como Christabel, quase parecia estar além de qualquer ajuda; Irmão Laírton, de aparência simples e no entanto poderoso em seu caminho; seu amigo Zero, ao mesmo tempo beirando a tolice e a genialidade, dois opostos conflitantes numa única personalidade em tudo o que fazia. E, Melissa...
_ Mel...
Ele percebeu então, não sem receio, que não sabia onde estava Melissa. Sim, ela era uma maga negra em treinamento, lembrou-se enquanto corria. Assim como ele próprio era um cavaleiro em treinamento, ela não estava absolutamente indefesa. Pudera presenciar isso quando lutaram contra Sáurio no meio da estrada. Mesmo que fosse deixada sozinha, Melissa podia se cuidar se fosse necessário.
Mas ele não tinha como evitar preocupar-se. Não sabia onde estavam os amigos, mas tinha certeza de poder encontrar a todos depressa, ainda mais em meio á luta. Mas Melissa primeiro.
Aquilo parecia muito com Melk, mesmo que não fosse. Algo saíra terrivelmente errado, no entanto, se era mesmo o seu lar. Corpos de pessoas estavam espalhados pelo pátio, juntamente com os monstros abatidos. Fora uma batalha terrível, até onde podia ver, mas parecia que o pior já tinha acabado. Ao invés de alívio, no entanto, Daniel apertou a lança nas mãos nervosamente. Seria melhor ter morrido com honra em batalha, ajudando os companheiros como pudesse, do que chegar depois para enterrar seus corpos, sabendo que não estava lá com eles quando tinham precisado.
Não, ainda não terminara. Ainda havia monstros rondando, como o Místico que abatera, e ainda podia ouvir sons ali dentro. Avançou, tomando o rumo que, em seu lar, seria para o Portão Oeste. Mas ali, fosse onde fosse, a muralha tinha apenas um grande arco aberto, e a luz de uma enorme fogueira. Daniel correu naquela direção, e cruzou o arco.
Uma grande fogueira jazia depois da muralha, tornando a noite em dia. Não uma fogueira comum; parecia vir das entranhas da terra, num fosso circular de largura imensa. Sobre ele, uma ligeira elevação rochosa debruçava-se terminando no que quase parecia um altar de sacrifícios. Ainda havia pessoas vivas ali, gente vestida com mantos longos e escuros, entoando cânticos que Daniel não conseguia compreender muito bem.
Mas, ele podia compreender o que estava acontecendo apesar de tudo: estavam conduzindo alguém, também vestida num daqueles mantos com capuz, que parecia seguir voluntariamente na direção das chamas. Uma pessoa que, apesar da escuridão e da distância, ele conseguia reconhecer.
_ Mel! Melissa, acorde!
Se ela o ouvira, não dera qualquer sinal de reconhecimento. Drogada, hipnotizada ou enfeitiçada de algum modo, Melissa não interromperia seu andar cadenciado na direção das chamas. E aquele grupo de pessoas a estava conduzindo para o fosso.
Todas as outras preocupações recuaram; não sabia porquê estavam fazendo aquilo, mas sua prioridade era salvar a jovem maga negra. Imediatamente tomou a escadaria escarpada que conduzia para o altar, e imediatamente os estranhos encapuzados se colocaram diante dele, cada um parecendo ter lâminas em mãos.
_ Saiam... do meu caminho!
Todos atacaram em grupo, e Daniel sabia que não poderia com todos, não importando quanta habilidade tinha. Girou sua lança diante de si e investiu, derrubando alguns dos atacantes. Chegou a conseguir subir alguns dos degraus das escadarias, mas o número de oponentes parecia infinito...!
E, ele sentia, tinha sido atingido. Mais de uma vez. Era estranho, parecia não sentir dor alguma, mas sabia que estava ferido, e sabia que não adiantava debater-se quando os braços e pernas dos estranhos enfim conseguiram conte-lo. Ele continuava a espernear, pois não pareciam capazes de imobiliza-lo por completo, mas seu desespero foi grande ao notar que não conseguiria impedir o que tinha que acontecer.
_ Mel! Desperte! Por favor, Melissa, olhe pra mim! Acorde!!!
Mas, ele tinha uma estranha consciência, sua voz parecia cada vez mais baixa. Ele mesmo mal conseguia se ouvir, quase nem tinha certeza se tinha de fato gritado ou apenas pensara nisso. E seus braços e pernas pesavam tanto, e ela estava tão mais próxima da beirada...
_ Mel...!

Sunday, March 05, 2006

Saudações, visitantes! Nesse calorão danado, Loucomon dá as caras pra introduzir o bloco de capítulos mais repleto de ação, emoção e transpiração (até agora, pelo menos) de toda a história da Rainha Sombria Christabel: Vida Passageira.

Sim, pra quem perguntou, foi baseado na música da banda IRA!, sim, mas o bloco de histórias mesmo não tem nada a ver. Aliás, deixo vcs julgarem com o primeiro capítulo, Ataque Noturno.

Forte amplexo do Louco (nem tão forte, não. Tá calor demais pra isso -_-')


XX – Ataque Noturno


A noite caíra profunda sobre a Cidade Sucata, e as nuvens convocadas pelo sofrimento de Christabel não se dispersariam tão depressa, embora a tempestade em si já tivesse acabado. Todos tinham se recolhido, esperando pelo dia seguinte. O velho Dirceu, particularmente, tomara suas providências para que cuidassem do problema de Christabel pela manhã; era contra sua natureza não fazer todo o possível para cumprir uma promessa, e ainda tinha muito que sabia poder fazer com os recursos certos. Mas mesmo ele precisava de descanso.
Heraldo e Júnio eram os vigias sobre as muralhas naquela noite. Desde a sugestão de Mestre Dirceu, vigilância constante vinha sendo mantida sobre os muros da cidade dos Escavadores, e isso provara ser acertado nos últimos dias. Monstros da região estavam ficando mais agitados, e criaturas que pareciam ter vindo de longe estavam se organizando em bandos para atacar. Embora não fossem a Cidade Avançada, com seus modernos equipamentos de vigilância, no entanto, os mecânicos e Escavadores não eram tão facilmente surpreendidos, desde que vigias fossem mantidos de prontidão.
Uma presença sombria se aproximou, sorrindo. Ao invés de alegria, no entanto, aquele sorriso faria qualquer ser vivo que o visse ficar em pânico, temendo pela própria alma. Fosse qual fosse o motivo daquele riso sinistro, não indicava qualquer coisa de boa, pouco importando o quanto a pessoa que o visse tivesse imaginação ou esperança.
_ Christabel... você finalmente chegou.
Mesmo a voz daquele ser, antigo como o próprio mundo, parecia trazer em si uma espécie de escuridão que luz alguma poderia afastar. E se ele parecia satisfeito, alguém havia de ficar infeliz.
_ Os tolos já tentaram apreende-la... Não os culpo – ele murmurou baixo, as mãos de palmas voltadas para dentro afastando-se lentamente, enquanto algo semelhante a uma névoa escura se formava no espaço entre elas – Mas, se meu enviado não foi capaz de localiza-la para mim...
Como fumaça negra, a névoa entre suas mãos começou a espalhar-se pelo salão subterrâneo onde ele estava, e parecia capaz de atravessar o teto e as paredes à sua volta. A vigilância da Cidade Sucata era bem apoiada o bastante por instrumentos para que inimigo algum pudesse se aproximar das muralhas sem ser notado. Isso, em se tratando de inimigos visíveis, vindos de fora.
Sem ser notada, agora nada mais do que uma emanação invisível na escuridão da noite, a névoa sombria ergueu-se do próprio solo, emergindo de cada túnel de escavação e de cada poste e parede, como se a noite estivesse brotando outra vez apenas dentro da cidade.
Melissa dormia. No mesmo quarto em que estavam Christabel e Sari, a jovem maga negra buscava a reparação que só o sono bem dormido poderia trazer, e estava mais do que feliz de estar de volta à Cidade Sucata; era como se estivesse de volta ao lar, sentia, e sabia que não precisava ficar tão alerta ali. Podia relaxar, e aproveitaria para mostrar seu local de estudos a Daniel no dia seguinte.
Sentiu-se embaraçada ao pensar no jovem cavaleiro de cabelos e olhos negros, sentindo também um pouco de calor nas faces. Ele parecia tão sem jeito quando falara do torneio de Melk, quando lamentara não poder representa-la nele, que ela chegara a achá-lo um tanto tolo. Mas ele sempre estava lá por ela, Daniel. Ela acabara habituando-se à presença dele ao seu lado, principalmente quando ela mais precisava. Mais e mais Melissa contava com ele para conversar, ou falar do que estava sentindo ou pensando, e quando dera por si mesma, estava pensando com carinho no cavaleiro de Melk. Ele pretendia cumprir com seu papel de proteger sua Rainha, não podia ser diferente... no entanto, parecia estar dedicando-se menos ao dever do que a ela nos tempos mais recentes. E, de sua parte, Melissa gostava daquilo.
... e não precisava ocultar isso, pois estava dormindo profundamente agora...
Sari estava mais próxima à janela. Adormecera olhando para fora, de quando em quando pensando novamente no que lhe fora dito. Estava interiormente magoada, mesmo sabendo que Zero fora como sempre era com ela, tão honesto quanto era capaz. Gostava dela, ela sabia disso; podia sentir. Eventualmente, poderia vir a corresponder seus sentimentos por ele; ambos se importavam muito um com o outro, cada um apreciava a companhia do outro, e ele não mentira para ser agradável: sem falsa modéstia, Sari sabia que era uma moça atraente, talvez até mais depois de sua ‘transformação’. Não era cega às reações dos rapazes à sua volta, embora ignorasse a todos deliberadamente. Não era capaz de ter qualquer tipo de relacionamento com a maioria dos seres humanos, porque sabia que todo o interesse deles por ela se tornaria em medo, repulsa e talvez até ódio quando soubessem de sua verdadeira natureza.
Mas não Zero. Ele podia aceita-la como era, e gostava sinceramente dela. Talvez não fosse exatamente o rapaz mais belo que já vira, mas tinha uma vitalidade contagiosa, era muito inteligente e gentil; lenta mas certamente, ela se deixara atrair pelo seu jeito de ser. No entanto, ele não corresponderia os sentimentos sinceros dela plenamente, porque... já havia outra pessoa de quem ele gostava daquela maneira. E, ainda que parecesse leviano, ele podia ser muito responsável em questões sérias como aquela.
No entanto, se a outra pessoa não existisse mais...
Christabel dormia também, nunca totalmente relaxada, mas sem qualquer escolha consciente. Estava exaurida ainda da provação que fora tentar extrair sua tiara. Não era tão tola para acreditar que todos os seus inimigos ou possíveis perseguidores podiam ser mantidos afastados apenas porque estava numa cidade de arqueólogos, provavelmente mais capazes com seus experimentos do que com vigilância noturna... mas, precisava reconhecer, fora mantida em segurança durante a travessia de Melk para lá, em companhia daquele grupo barulhento que viajava com ela. E pelo líder do grupo, Zero...
Remexeu-se em seu sono, inquieta. Ele a aborrecia. Tudo o que fazia, de uma forma ou outra, parecia ter o poder de perturba-la. Quando ele o fazia deliberadamente, parecendo provoca-la para que se irritasse, ao menos ela podia reagir de forma agressiva. Mais difícil para ela era quando aquele tolo era gentil, demonstrava preocupação, quando ela o surpreendia sem a máscara que parecia disposto a usar sempre, ocultando alguma grande tristeza que trazia em si... tão parecida com a dela própria. Ela não podia evitar sentir-se mais próxima a ele gradualmente; estivera sozinha, isolada de tudo e todos por anos, seu espírito adormecido dentro de si havia tanto tempo que quase já não se lembrava mais de ter um, até que ele aparecera, ignorando totalmente os esforços dela em se afastar e parecendo apenas mais próximo a cada vez que ela tentava repelir a mão que ele oferecia.
E era preciso que ela o afastasse porque, se outra vez perdesse alguém tão importante...
Todas as pessoas, sem exceção, ocultam seus pensamentos e desejos mais íntimos. E enquanto suas mentes estão despertas, elas podem proteger os recessos mais ocultos de sua intimidade. Durante o sono, no entanto, suas defesas invariavelmente baixam e o que pensam e anseiam secretamente acaba por vir à tona.