Tuesday, April 27, 2004

E aí, minha gente? Depois dessa embaçassão toda (sei lá se isso existe), olha o Louco aqui de novo, enlouquecendo vcs com a insistência de continuar aqui escrevendo

(nah, tem muita coisa da Christie pra postar, ainda!!)

Falou galera! Continuem lendo, e se preparem. A coisa começa a se complicar...

Amplexos do Louco



X – Longa Vida À Rainha!

Os últimos preparativos estavam sendo feitos, e enfim o Mestre Engenheiro Zero deixaria Melk. Christabel não poderia estar mais satisfeita; por alguma razão que não sabia explicar muito bem, sempre se refreava quando considerava a melhor alternativa para se livrar daquele incômodo visitante, e se a opção mais prática não estava disponível, era melhor que ele se fosse para nunca mais voltar. Lembrava-se que ele se oferecera para vir a Melk cuidar de qualquer mau funcionamento que o Amplificador pudesse apresentar, e ela educadamente dissera estar grata por aquilo, mas sabia muito bem que se a máquina realmente tivesse problemas, ela procuraria ajuda em qualquer outro lugar do mundo para resolve-los.
A Rainha acabara de sair do banho, e embora soubesse que deveria se apressar para a despedida formal aos viajantes, não estava com qualquer pressa. Os fizera esperar em sua chegada, não se importava o mínimo que fosse com sua partida. De fato, pensou com um sorriso irônico, visto que Daniel não pretendia deixar Melk, e Melissa ainda voltaria para continuar seus estudos na Cidade Sucata, estaria concedendo algum tempo a mais para que ficassem juntos. Outra de suas vestes armadura aguardava por ela quando começou a se vestir. Como sempre fazia, Christabel fazia suas vestimentas flutuarem no ar diante de si por um instante, enquanto todo o tipo de veneno ou agulha que pudesse estar oculta ali era sacudida por vezes. Com o passar do tempo, a idéia de colocar farpas venenosas no que a Rainha vestiria ou comeria perdera força e vinha sendo menos praticada, e os pretensos conspiradores ainda lembravam-se bem o bastante da punição dos anteriores para terem menos motivação, mas Christabel sabia que cuidado nunca era demais.
E sua paciência foi recompensada quando, depois das calças e da malha de seu colete, um bracelete deixou algo pontiagudo cair ao solo com som metálico. Levemente curiosa, ela fez também a farpa flutuar e sorriu levemente. Substituindo um dos ornamentos ao redor de uma Jóia Dragão de Fogo minúscula em seu bracelete, uma pequena agulha quase invisível aos olhos sem dúvida teria lhe passado despercebida numa observação atenta, a não ser que ela repetisse o procedimento várias vezes. Não podia dizer que seu povo não fosse persistente, embora aborrecesse saber que tinham uma memória tão curta. Deveria relembra-los do que acontecia com conspiradores depois que a comitiva de Zero fosse embora.
Aborreceu-se novamente por lembrar disso, então. Ao que parecia, a caçadora Sari iria com eles. Ela evidentemente sabia que os olhares do povo de Melk a incomodariam muito depois que o amigo mecânico fosse embora, e decidira ir com ele. Por isso também os procedimentos da partida estavam tomando um pouco mais de tempo do que seria de esperar; ela iria com ele em sua máquina, enquanto Melissa montaria um cavalo da fortaleza; os animais sentiam a verdadeira natureza de Sari e não deixavam que se aproximasse deles.
“Mas o único animal que vai leva-la sabe, e não se importa...!”
Outra vez, Christabel não compreendeu de onde vinha seu aborrecimento. Então, a vampira iria embora com aquele imbecil tagarela inconveniente. Que lhe importava, que fossem de uma vez! Era até melhor assim; se ela partia de vontade própria, lhe poupava o aborrecimento de ter que se desfazer da vencedora do Torneio Semestral. Ainda que ninguém da fortaleza a quisesse ali, o povo de Melk era hipócrita e afeito às tradições o suficiente para permitir que ficasse caso ela desejasse, visto que fora considerada a melhor guerreira pelo estúpido torneio.
“Ela está partindo, então. Tanto melhor! Não seria de grande valia aqui, se todos que lutassem a seu lado tivessem tanto medo dela quanto...”
Quanto tinham dela própria... Sim, estava bem para Sari partir... Era até melhor para ela. A caçadora de Delm não tinha qualquer obrigação. Ali não era verdadeiramente seu lar, podia partir quando quisesse... Deixar para trás a paranóia dos guerreiros de Melk, procurar um lugar melhor para si mesma, onde as pessoas não olhassem para ela com medo no rosto, com uma pessoa que sempre estaria por perto para faze-la sorrir quando algo turvasse sua fisionomia, e correria qualquer risco por ela. Lembrava-se de Zero tomando a defesa dela naquela manhã, pouco antes de explicar a Melissa como funcionava o Amplificador, e dele cedendo a ela a energia do próprio corpo para que a outra se recuperasse do ferimento sério que sofrera. O que fizera, parecia a Christabel ter sido feito só para contrariá-la, quando ela estava tão certa de que ele ficaria sem ação, sem poder ajudar a outra, uma vez na vida tendo que admitir que não podia resolver tudo... Fazia parecer que não havia algo que ele não fizesse por alguém por quem se importasse. Lembrava-se de ter ficado muito irritada, de ter voltado para seu quarto e batido a porta atrás de si...!
E algo desceu por seu rosto, e ela afastou com surpresa enquanto percebia que seus olhos estavam úmidos, e outra vez se aborreceu. Era mesmo melhor que Zero fosse embora. Aquilo estava começando a ficar freqüente demais. Ela era o que era, e sempre seria. Não adiantava pensar naquilo. Sua tiara passou pela inspeção, sem derrubar qualquer outra farpa, e um exame detalhado mostrou que não havia qualquer veneno ou droga ali. Ainda com um último olhar de avaliação, Christabel colocou a tiara em sua fronte e então estendeu sua mão para as botas, o que lhe faltava inspecionar.
E a tiara pareceu mais firme em sua cabeça, enquanto ela sentiu um espasmo de dor terrível. Foi muito rápido, mas durante aquele breve instante, pareceu-lhe que uma faca quente fora cravada em sua cabeça. A Rainha caiu de joelhos, e ao abrir os olhos, sentiu vertigens. O que lhe acontecera...?

Friday, April 16, 2004

Olá leitores! Tamos de volta, diretamente direto de Andrecity!

Quase deixando passar demais, tbm... Tá na hora de mais Christie! Eita, q eu tô na fase do 'eita'!!

Té mais então. amplexos do louco, loucamente falando... (e meio com sono...)


(...)


O Amplificador que Dirceu criara já estava no local exato, uma câmara hermeticamente fechada no primeiro andar do subterrâneo da fortaleza. Zero olhava ao redor, a fisionomia séria parecendo incomum em seu rosto enquanto Melissa andava ao seu lado, Sari e Daniel pouco mais atrás e Brás ia à frente com Christabel, explicando os detalhes:
_ Conforme foi pedido, encontramos no primeiro depósito de suprimentos o local ideal para a instalação, visto que nos avisaram que a máquina deveria ser colocada numa posição de área central da fortaleza...
_ É, acho que a distância deve dar, Brás – Zero olhou em volta, a iluminação à base de tochas – E quanto ao isolamento?
_ Como todos os nossos compartimentos de suprimentos, o depósito é isolado em suas paredes por camadas de material resistente e absorvente de impacto, também trazidos de sua cidade, Mestre Zero...
_ Nah, isso é dos nossos vizinhos – ele cortou, com ar de pouco caso – Na Cidade Sucata, a gente só cava e manda pra conserto; são os crânios da Cidade Avançada que inventam novidade e redescobrem o que já tinha antes.
_ Mas, me permita uma questão – Brás voltou-se ligeiramente para Zero, parecendo intrigado – Tem certeza de que conexões de cabos não serão necessárias? Digo, se o Amplificador tornará toda a câmara num isolador de ressonância, como disseram...
_ É por isso que pedimos que deixassem o lugar vazio, Brás – Zero retrucou – A primeira ressonância vem da magia que a Rainha Christabel vai lançar no Amplificador. A Jóia Dragão de Fogo nele e os segmentos que meu pai montou devem fazer a coisa ressoar como um diapasão, mandando...
_ Como um o quê? – Daniel perguntou.
_ Um instrumento que usam pra afinar instrumentos musicais, Dan – Melissa explicou, meio que casualmente – Zero já me mostrou; reproduz o som de uma nota, e então o músico afina seu instrumento baseado naquele som. Mas, a ressonância do tal Amplificador vai fazer o quê, Zero?
_ Basicamente, enviar um eco da magia protetora da Rainha por uma área de certo alcance a partir do epicentro – ele respondeu, olhando em volta de forma avaliadora para o compartimento escolhido – Vai reduzir pra caramba o número de inimigos capazes de entrar em Melk. Não sei se deve funcionar direito com tipos como aquele morcego, o tal Cavalgadura, mas a maioria dos bichos das terras Além da Fronteira não deve mais conseguir se aproximar o suficiente das muralhas pra invadir. Tem uns seres humanos do outro lado com eles também, não tem? Acho que vi uns deles na noite em que cheguei aqui.
_ Sempre houveram, Mestre Zero – Brás replicou – Nós os chamamos Exilados, não sabemos bem quem são. Mas nossos estudiosos acreditam que sejam descendentes dos que viviam nas terras Além da Fronteira na época do Advento.
_ Moravam lá...? Junto com os monstros? – Zero perguntou, ao que Sari respondeu:
_ É verdade, Zero – sua expressão pareceu mais pesada – Não restou muito das antigas habitações humanas da época anterior ao Advento do lado externo nas terras Além da Fronteira, mas algumas cidades sobreviveram e resistiram de uma forma ou de outra. Houveram os que se isolaram, e lutam como a fortaleza de Melk. Mas a maioria...
_ Como sabe tanto, Lady Sari? – perguntou Daniel, confuso, enquanto a compreensão vinha devagar – Não vá me dizer que você...!
_ Como imagina que ela saiba tanto, seu tolo? – Christabel perguntou simplesmente, sem se voltar para eles – A vila dela, Delm, fica do outro lado da muralha. Presumo que foi onde conseguiu sua condição.
Sari olhou reprovativamente para Christabel, como se a Rainha a tivesse chamado por um nome ofensivo, e mesmo Melissa e Daniel pareceram chateados e sem jeito, mas Zero voltou-se do meio da sala e deu ordens:
_ Li, já pra cá, eu vou te explicar como isso aqui funciona. Daniel, tira já o Brás daqui; quanto menos gente nesse lugar melhor. Sari, dá um sorriso. E Christabel, muito obrigado por afirmar o óbvio; a gente não teria conseguido sem você.
Dada a situação, Daniel ficou muito feliz em se apressar a cumprir a ordem de Zero, principalmente porque envolvia que ele também saísse da sala. Sari achou bem fácil cumprir a sua parte depois do que foi dito, Melissa apressou-se a alcançar o amigo para que seu próprio sorriso não ficasse evidente, e o olhar de Christabel para Zero significava muitas coisas, menos sorrisos. E o próprio Zero, imperturbável, abriu uma tampa lateral e mostrou a estrutura do Amplificador.
_ Aqui. Tá vendo? Esse primeiro anel é o Suporte; meu pai obviamente lixou aquela Jóia que a gente achou no Acesso Leste, um pouco antes de sairmos correndo dos Sauróides. Só assim pra ela encaixar tão direitinho. E...
Melissa olhou em dúvida para Zero, esperando que ele prosseguisse em seu raciocínio. E ele estava olhando curiosamente para a Dragão de Fogo que haviam encontrado.
_ Zero? Algo errado?
_ Não... – ele olhou em volta – Nada não. Só tava pensando em algo que meu pai me disse. Er, onde foi que eu parei mesmo?
_ Sobre o encaixe da jóia.
_ Ah, isso. Então, uma vez que comece a funcionar, esses anéis concêntricos ao redor vão fazer o efeito do diapasão. Eles são os responsáveis pela ressonância da coisa.
_ Entendo. Mas como controla o alcance?
_ O número de anéis. Olha só; tem seis aqui. Quer dizer que a ressonância normal da jóia vai ser multiplicada seis vezes. O metal é supercondutor, o que significa que ele recebe a energia que vai ressoar e amplifica, daí o nome do equipamento.
_ E o que é isso? Cobre?
_ Arcânio. – ele sorriu da expressão admirada de Melissa – Tem um bocado na Cidade Avançada; a gente descobriu um veio ‘desse tamanho’ enquanto tava fazendo o Corredor de Acesso entre ela e a Sucata.
_ Arcânio? – indagou Sari.
_ Metal de magia – Zero respondeu, apontando para o Amplificador – Reage muito bem com magia, amplificando o efeito...
_ Se incomodariam de continuar sua fascinante aula depois de ativarmos o mecanismo? – Christabel indagou num tom de voz frio – Ou gostariam de ver uma última vez como seria um ataque de criaturas antes que isso se torne impossível?
Outra vez Sari e Melissa olharam com reprovação para Christabel, mas Zero sorriu:
_ É... Tem razão, Majestade. Faça o favor, então, de lançar sua melhor magia de proteção no Amplificador. Li, se afasta um pouquinho...
Christabel aproximou-se um pouco do Amplificador, olhando com curiosidade para o aparelho, apesar de seu rosto manter-se inexpressivo. Se podia acreditar no que lhe fora dito, a máquina manteria os efeitos de seu feitiço de Supressão por décadas; então, teriam que se preocupar apenas com os eventuais atacantes humanos e seres mais poderosos, que sua barreira não fosse capaz de manter afastados. Mas, se Zero estava correto e criaturas como Ahl-Tur não seriam afastadas, ela ao menos teria a possibilidade de enfrenta-los sem apoio de tropas mais numerosas.
Como fizera antes, a Rainha ergueu suas mãos na direção do Amplificador e então as abriu, enquanto algo semelhante a um véu púrpura desprendeu-se de seus dedos e desceu vagarosamente sobre a máquina, fazendo com que ela zumbisse baixinho. E Zero olhou para ela com um sorriso leve enquanto o fazia, algo de sua atenção voltando para uma noite antes, e um aviso que viera.

Friday, April 09, 2004

Fala gente!

Perdi a noção, não lembro q dia é hoje... bom, sei q é sexta-feira santa. E sei q faz um tempinho q eu não escrevo. Então, let's rock!

Amplexos do Louco


(...)



_ Por quê se importa, Zero? – a caçadora indagou, curiosa, enquanto sentava-se ao lado dele – Você não precisa disso, e ela não gosta, tampouco. Devia tê-la visto quando me salvou, duas noites atrás. Ela não gosta de você, pelo que percebi, e é perigoso desagradar Christabel, ainda mais na fortaleza dela.
_ É, eu sei – Zero concordou, com a voz um tanto casual – Tem vezes que eu dou nos nervos dela. Não é bem minha intenção, mas... acho que não consigo evitar.
_ E fica ao redor dela? – Sari perguntou, olhando para ele sem entender – Ela pode matar você a qualquer momento, Zero. Por quê, então?
_ Ninguém mais tá percebendo – ele retrucou, de cabeça baixa de novo – Isso livra eles da responsabilidade, porque você não é culpado se não souber que tá errado. Eu tô vendo isso; não tenho o direito que eles têm de ignorar.
_ Não tente entender, Sari – Melissa fez um gesto de pouco caso, servindo-se de café – Depois de algum tempo, você simplesmente aceita. É a melhor coisa que dá pra fazer.
_ Do quê estão falando? – Daniel esticou o pescoço na direção deles, e Zero sorriu de novo.
_ Ah, deixa pra lá, Dan. É coisa de menina, ficar tentando entender a gente. O que tá muito bom pra mim; elas têm mais chance de conseguir, afinal.
_ O que você tá querendo dizer com isso? – Melissa olhou desconfiada para Zero, que deu de ombros.
_ Ué, o que você deve ter entendido, mesmo. A gente nunca vai entender vocês, meninas. Vocês são complicadas demais.
Melissa e Sari começaram a bater na cabeça de Zero, sob o riso de protesto dele e o olhar surpreso de Daniel e de todos os outros no refeitório, que como Christabel, não estavam muito acostumados a brincadeiras e riso alto em Melk.
E nem deveria durar, tampouco. Sari foi a primeira a se voltar e parar a brincadeira, mas Melissa insistiu batendo na cabeça de Zero e cutucando por mais algum tempo, até que ela também aquietou-se e ficou olhando preocupada para algum ponto atrás do amigo, e Zero perguntou:
_ Aiai... E agora o quê? Não vai me dizer que você...
E então ele reparou no silêncio pesado por toda a volta, e na expressão alerta de sua amiga, e também voltou-se. Christabel estava parada logo atrás dele, o olhar inexpressivo em seu rosto. Passado o primeiro instante de surpresa, como ela não dizia coisa alguma, Zero achou melhor fazer sua parte.
_ Bom dia, Majestade.
Christabel ficou em silêncio por um instante longo, sem responder a Zero e ignorando completamente os olhares em volta. Sari, particularmente, tinha uma expressão angustiada no rosto. Não conseguia sentir-se à vontade próxima demais da Rainha, aquela sensação opressiva de frio emanando dela parecendo expandir-se por toda a parte. Felizmente, Zero não parecia se deixar afetar pelo mal-estar, porque perguntou quase casualmente, estendendo à Christabel uma torrada.
_ Er... Tá servida a tomar o café da manhã com a gente? Isso aqui tá muito bom.
_ Creio ter ouvido antes, Mestre Zero – ela respondeu, ignorando totalmente o que ele dissera – que a máquina que me traria estava pronta, apenas aguardando para ser instalada.
_ Hein? É... – Zero confirmou com a cabeça – Tá sim. Meu pai deixou tudo no jeito, quase, só precisa que seja posta no lugar certo, e que a ative, Majestade. Mas seu conselheiro tinha me dito que...
_ Estou disposta agora – ela cortou – Acredito que possa começar a preparar a máquina imediatamente, não?
_ Imediatamente? – Zero olhou lamentosamente para a mesa – Bom, claro que posso, mas será que não dava pra terminar de comer primeiro? Tive uns dias meio fraquinhos com comida, sabe...
Ela o encarou fixamente, sem dizer palavra. Zero olhou ao redor, apanhou mais uma torrada e levantou-se.
_ Por outro lado, pra quê ficar adiando o que se tem pra fazer, né? Eu termino de comer depois. Mel! Cê tá aprendendo essa coisa de equipamentos; quer me acompanhar na instalação? Eu posso precisar de uma ajudazinha.
_ Claro, Zero – ela pôs-se de pé, olhando fixamente para Christabel. Não era desafio, propriamente, mas tampouco deixava de ser um alerta à outra. A Rainha podia ser mais poderosa, estar em seu lar e ter seus direitos, mas ela poderia muito bem ter esperado que eles terminassem a refeição, e ela se aborrecia pela falta de consideração; Zero precisava se alimentar, ainda não totalmente refeito depois de auxiliar Sari. Christabel decerto sabia disso, e teria sido educação mínima a seu ver que ela esperasse. A Rainha não tomou qualquer conhecimento dela, no entanto.

Friday, April 02, 2004

Olá leitores e leitoras! ^^

Mais um pouco da Rainha, já no capítulo... *dando uma olhada meio por cima* nove. Putz, nove?? Hora de trabalhar...

Amplexos do Louco ~_^



IX – Pessoas São Estranhas


Alguns dias se passaram depois da batalha entre Ahl-Tur e Christabel, e reparos mais vitais foram feitos. Nem todas as marcas de garras cortadas nas muralhas haviam sido reparadas então, mas num modo geral, a fortaleza estava de volta à sua rotina normal.
As pessoas agiam com alguma reserva quando Sari passava, olhando sem conseguir refrear totalmente o medo e suspeita, mas ela procurava ignora-los. E isso ficava mais fácil quando estava em companhia de Zero, que ao perceber a reação dela na segunda manhã depois do confronto, comentou com ar distraído:
_ Mas, vai dizer que você ainda não tinha acostumado com olhares na sua direção? Sendo bonita desse jeito, Sari...!
A pele claríssima de seu rosto também tornava evidente demais quando a caçadora ruborizava, e isso lhe acontecia com cada vez mais freqüência quando estava na companhia do amigo mecânico. E ela fazia questão de passar tanto tempo quanto pudesse com ele, visto que apenas assim não se sentia deslocada, como se todos estivessem olhando para ela. Por isso, e porque sentia-se responsável por cuidar dele depois do ocorrido.
Na manhã seguinte ao ataque, Zero adoecera e passara o dia de cama, enfraquecido demais para levantar-se e levemente febril. Melissa veio cuidar dele como pudera, mas também sofrera vertigens e dores de cabeça, achando difícil se concentrar, e sendo devidamente cuidada por Daniel, que não saía mais do lado da maga negra, deixando para Sari a tarefa de dar atenção a Zero na maior parte do tempo. Até a tarde daquele dia, Melissa estava refeita o bastante para auxiliar como pudesse, mas Zero só ficou realmente em condições de se levantar no dia seguinte, e isso porque Sari transmitira a ele algo de sua própria energia.
_ Isso não vai te fazer falta depois, Sari? – perguntou Zero, com o rosto levemente franzido em preocupação – Não vai adiantar nada eu ficar legal se você ficar fraca com o esforço...
_ Não precisa se preocupar, Zero – ela o tranqüilizou com um sorriso confiante – A energia que vocês me forneceram me refez totalmente, e não devo precisar de mais tão cedo. E posso me alimentar como vocês, também, para aumentar o período de tempo em que não vou precisar da força vital de qualquer ser vivo.
_ Que barato!
_ Se alimentar... como nós? – Melissa olhou em dúvida para a caçadora, como se tivesse ouvido algo absurdo – Sempre ouvi dizer que os vampiros não têm órgãos internos que funcionam como os vivos...
_ Depende de que tipo está falando, maga – Sari olhou para ela com gravidade – Há vampiros como os que descreveu, sim; dependem principalmente de fluidos vitais, não conseguem retirar energia ao contato, como eu, e por isso a bebem juntamente com a vida das vítimas. Estes, realmente, são mais próximos dos mortos do que dos vivos.
_ E você não? – Daniel perguntou sem pensar, ganhando uma carranca de reprovação de Zero.
_ Êêê, qualé Daniel? Se Sari tivesse nessas, ela não ia ter corrido risco de vida quando as flechas acertaram ela pelas costas, né? Pensa um pouco, mané!
_ Ah, claro... – ele pareceu embaraçado – Senhorita Sari, desculpe...
Na verdade, a pergunta a deixara um pouco chateada, sim, mas a resposta pronta de Zero e o embaraço evidente de Daniel fizeram com que Sari sorrisse, achando graça na reação do mecânico.
_ Esqueça, Daniel... Não foi nada. Agora, que tal se formos comer alguma coisa? Quer acompanhar Melissa?
Mais do que prontamente, Daniel deu o braço a Melissa e os dois foram em frente, enquanto Sari esperou alguma distância entre eles para poder comentar, com ar divertido:
_ É difícil ficar aborrecida com você por perto, Zero. Parece que se ofendeu mais do que eu com o comentário de Daniel.
_ Desculpa o coitado, Sari. Ele é gente boa, pelo que deu pra ver, mas tem a cabeça de visão curta do pessoal daqui de Melk. Vai precisar de mais tempo com a gente pra ele soltar a franga.
_ ‘Soltar... a franga’?
_ Ah, a gente lá na Cidade Sucata fica escavando velhas expressões populares, também; de acordo com meu pai, isso quer dizer ‘se descontrair’. E, como a idéia já é ridícula o bastante, começa com o uso dessa expressão. Putz... me pergunto o que o pessoal de antigamente tinha na cabeça pra inventar uma frase dessas.
_ Aliás, Zero, isso me lembra de algo que eu queria perguntar ontem, antes do ataque – Sari comentou, voltando-se para ele – Há rumores em Melk de que você montou algo para Christabel e que a máquina usa Jóias Dragão de Fogo. Isso é verdade?
_ Poxa, o povo daqui tá bem informado, hein? – Zero sorriu – Verdade. Entreguei o treco pro conselheiro Brás. Mas só vai funcionar quando a Rainha ativar.
_ Então é verdade – Sari pareceu pensativa – Máquinas movidas com o poder da magia já são possíveis... Uma combinação de ciência e artes místicas...!
_ Eiei, nada mais longe da verdade, menina – Sari voltou-se para ele surpresa, e Zero fez um gesto de pouco caso – É verdade que os crânios da Cidade Avançada sonham com isso, e tão fazendo o melhor que podem agora que geradores elétricos não são mais possíveis, mas tão muito longe de conseguir progresso. O melhor que pôde ser feito foi bolar um substituto até agora, usando a capacidade das Jóias Dragão de Fogo em absorver magia e alguns metais que conduzem melhor certas formas de energia pra inventar motores e uma ou outra bugiganga, como o Amplificador que meu pai fez pra Sua Majestade, a Rainha.
Sari também queria perguntar mais sobre a máquina que Zero trouxera para Christabel, mas não teve como não observar algo curioso, sorrindo.
_ Sabe, tem algo na sua forma de falar dela que torna cada expressão respeitosa sua numa espécie de brincadeira. Isso é de propósito?
_ Mais ou menos – Zero piscou – Acho que todo mundo fala dela com tanto medo, com uma reverência tão exagerada, que eu acabo relaxando um pouquinho sem querer. Meio que ‘mecânico’, acho.
_ Ela tem um poder enorme – Sari acrescentou sombriamente, a expressão um pouco mais séria – Tem algo no espírito dela que parece muito com você, Zero, mas... ao contrário.
_ ‘Contrário’, como?
_ Não adianta tentar explicar, eu não posso por isso em palavras, Zero – Sari sacudiu a cabeça, os cabelos prateados ondulando – O melhor que eu posso dizer é que é ao contrário. A maioria das pessoas parece irradiar calor, a energia parece se espalhar para todos os lados, mas... no caso de Christabel, é o contrário. Um vazio, um frio muito grande ao redor dela. Dá a impressão de que todo o calor na direção dela desaparece.
Zero considerou as palavras de Sari por um momento, mas quando falou, sua voz soava casual.
_ Bom, dizem que os opostos se atraem, né?
Sari olhou para Zero sem saber se tinha entendido realmente o que ele tinha dito. Ele tinha um ar distraído no rosto, e depois do primeiro instante de surpresa, ela percebeu que ele estava brincando.
_ Zero, isso é coisa que se diga? – Sari bronqueou – Estou falando sério! Nunca antes eu tinha encontrado alguém como ela; isso é muito raro em seres humanos comuns, e é um sinal de autodestruição! É perigoso pra ela e, sendo Christabel tão poderosa e temperamental, também pra qualquer pessoa ao seu redor! Não dá pra perceber? Parece que se espalha por toda a fortaleza, as pessoas daqui vivem com essa influência, mesmo que não percebam...!
_ Então, por quê você veio pra cá, Sari?
Ela sobressaltou-se, olhando para Zero ao ser interrompida. Ele agora parecia triste de alguma forma, olhando para baixo enquanto seguiam para o refeitório.
_ Como...?
_ Você deve ter notado essa tendência dela logo que chegou, se consegue ver tão bem a energia das pessoas. E, como precisa de algo que é o contrário do que ela irradia por toda a volta, não deve ser muito saudável pra você ficar aqui. – ergueu os olhos para ela, então – E, pra coroar, não devia ter se inscrito no Torneio Semestral, onde o pessoal geralmente escolhe alguém pra liderar ou assumir um posto importante entre os Guerreiros de Melk.
Sari desviou o rosto, ficando em silêncio. Agora era ela quem parecia entristecida com algo. E Zero então deu um sorriso fraco, ainda sem olhar para ela.
_ Tá tudo bem. Eu não conto pra ninguém.
Ela olhou para ele de novo, admirada. E ele prosseguiu, enquanto chegava à porta do refeitório e a abria.
_ Entendeu agora? É, isso é muito ruim pra todo mundo daqui. Mas, e pra ela, que tá no meio de tudo? As pessoas daqui tem medo ou raiva da Christabel, Sari, porque parece que tem um furacão ao redor dela... Parece que ela atrai catástrofes, e que coisas ruins sempre vão acontecer perto dela. Isso faz com que não a queiram por perto, e acham que isso é ruim pra eles. Mas, será que alguém já se perguntou como ela, no olho do furacão, tá se sentindo?
Um novo nível de compreensão chegou a Sari, então, e ela deu um sorriso triste, também.
_ Você... esconde muito do que pensa, não? Há muito mais em seus pensamentos do que você deixa transparecer.
O sorriso de Zero agora já era o mesmo de sempre, enquanto sentava-se ao lado de Melissa.
_ Nem mesmo eu posso ser tão mané o tempo todo, né?