Wednesday, June 22, 2005

Oi gente q lê! *olá Wilber*

Oi gente q fala! *olá Wilber*

Oi, gente q canta! *xi, Marquinho...*

Saudações do Louco! E vamos q vamos, q o pessoal vai parar pra dar um durmão! (assim como eu daqui a pouco... -_-')


(...)

A passagem do grupo foi lenta, principalmente à medida que se aproximavam do centro de Tria, onde as festividades tinham lugar. Zero conduziu o grupo para a Zona Leste de Tria, onde havia mais estalagens. Com Laírton acompanhando-o, o mecânico conseguiu dois aposentos diferentes para homens e mulheres, e o proprietário pareceu visivelmente satisfeito por ter um dos Escavadores da Cidade Sucata e um Religioso no grupo.
_ A maioria dos visitantes vem das cidades vizinhas no dia principal dos festejos para economizar – queixou-se o homem – E alguns dos que ficam aqui são baderneiros, ou se tornam neles depois de experimentar nossos vinhos. Tive prejuízos terríveis no festival do ano passado, e fico feliz por tê-los aqui.
_ O prazer é nosso, bom homem – Laírton replicou, solenemente – Que o Senhor o favoreça por sua gentil acolhida. Não nos tardaremos muito, posso prometer-lhe.
_ Mas, com certeza, vão participar das festividades, Irmão? – o proprietário perguntou – Seria um enorme prazer para nós que todos saíssem daqui com ótimas lembranças do nosso festival.
_ Infelizmente, não vai dar – Zero desculpou-se – Estamos viajando com alguma urgência; talvez partamos antes do nascer do sol. Por esta vez, vamos poder desfrutar apenas da hospitalidade de Tria.
_ Então, vou me esforçar para que desejem voltar no ano que vem – o proprietário acenou, chamando dois ajudantes – Mostrem aos nossos visitantes os dois aposentos no fim do corredor do segundo andar; devem ser espaçosos o bastante para o seu grupo. E se precisarem de qualquer coisa, estamos à disposição.
Os cavalos estavam sendo tratados em cocheiras, e a Unicórnio de Zero fora deixada com eles. No momento da divisão dos quartos, resolveram que seria uma hora de cada um deles na vigília, e Zero ofereceu-se para começar. Sari objetou.
_ Eu preciso de menos descanso, Zero, e poderia ficar mais tempo acordada...
_ Verdade, mas nenhum de vocês faz tanto barulho quanto eu, se precisar – Zero respondeu sorrindo, preparando a própria munição – Além do mais, a gente pode usar aquela sua técnica da energia pra uma cura rápida, em caso de emergência. Ou seja, pode descansar direitinho, e não esquenta que eu te chamo mais tarde.
_ Mas Zero...
_ Vocês estão desperdiçando tempo, sabiam? – Christabel retrucou com ar vazio, passando para dentro do seu quarto – Não temos a noite toda.
E sem qualquer cerimônia, a Rainha foi para os chuveiros. Zero sorriu; claro, deviam estar todas ansiosas por um bom banho depois de dois dias seguidos na estrada. Antes que os demais se fossem, ele ainda considerou:
_ Escuta, gente... vai parecer protecionismo, acho, mas talvez a gente não devesse fazer a Christie pegar turnos de vigia. – apenas Sari fez uma expressão contrariada, e Zero tratou de explicar – Uma, é ela que tão procurando, e é ela que menos pode ficar em evidência; ia ser de lascar se ela ficasse sozinha nesse corredor por uma hora. Duas... bom, pra falar a verdade, eu fico meio sem graça de pedir pra uma Majestade ficar de vigia.
Desta vez, ninguém deixou de olhar para ele com dúvida. Era verdade que aquilo parecia abusivo, mas Zero fizera coisas muito piores antes sem parecer se importar. E foi Melissa quem retrucou com ar vazio:
_ Você não ficaria sem graça nem se acordasse pelado no meio da praça de Tria durante o festival, Zero. E talvez ela não goste do tratamento diferenciado.
_ Mas Zero pode ter razão – opinou Daniel – Realmente, não parece correto expô-la dessa maneira, depois de todo o trabalho que tivemos para que ela não ficasse à vista até aqui. Eu posso fazer um turno extra de vigia, se preferirem...
_ Não, deixe comigo, Daniel – Sari encerrou a discussão, dando de ombros – Como disse, eu preciso dormir menos que vocês. Seja como quiser, Zero. Acho que vou pra cama.
Zero apenas sorriu quando a caçadora ainda olhou para ele uma última vez, antes de entrar no próprio quarto. Havia uma pergunta não feita ali, mas ele não responderia. Não naquelas condições, de qualquer forma. Colocando uma cadeira do próprio quarto no corredor, Zero colocou verificou sua munição. Só tinha mais um tambor e uma bala explosiva restando, e mais três recargas de munição comum. Era melhor que chegassem logo à Cidade Sucata.

Wednesday, June 15, 2005

Senhoras e senhores, diretamente da Torre de Mármore (música do Blackmore's Night, procurem por aí q vcs vão gostar), Loucomon continua adiante no passeio da galera. Agora eles decidem pra onde vão, e como vão, e chegam por lá, em Tria.

Amplexos postantes, cambaleantes, revoltantes... ah, vcs já entenderam! Amplexos do Louco!!

(...)

E então o Religioso voltou-se para Daniel, tornando a falar:
_ Aliás, falando em congratulações, caro Daniel, me parece que você mesmo se mostrou surpreendente. Mesmo sendo um soldado novato em Melk, conseguiu arrancar a cauda do dragão num espaço tão curto de batalha; feito impressionante!
_ Ah... Obrigado, Irmão Laírton – Daniel replicou, não parecendo muito entusiasmado – mas foi apenas o mínimo do mínimo que se esperaria de qualquer soldado de nossa fortaleza. Enfrentar qualquer inimigo, atacando sua arma. Ele quase me pegou com a cauda; foi um ato reflexo o que fiz. Mais impressionado fiquei com a sua atuação, Mel; você lançou para longe aquela salamandra! Foi uma grande mostra de habilidade!
Christabel torceu o nariz; ela sabia da verdade. E Melissa ruborizou, acenando negativamente com a cabeça.
_ Pra falar a verdade... foi uma boa dose de sorte, e palpite, Dan. Basicamente, lancei apenas um feitiço ‘Bala de Canhão’ no monstro, mas com a força de impacto e fogo aumentada com um pouco de Aura Magnética e todo o poder de chamas que o bracelete do Seu Dirceu tinha armazenado – expôs o bracelete, olhando para ele agradecidamente – Se tivesse parado pra pensar, não sei se ia ter conseguido; eu estava morrendo de medo.
_ Aí é que tá o mérito, Li! – Zero voltou-se alegremente para a maga negra, tomando mais tapas de Sari até que se voltasse para diante – Todo mundo sente medo na hora do aperto; o que interessa é o que você faz nessa hora. E você se saiu muito bem na sua vez. E você também, Sari!
Pela terceira vez naquela conversa, Zero começou a voltar-se, e a caçadora o espancou para que voltasse sua atenção para frente antes de responder.
_ Como disse Daniel, não foi nada além do normal, Zero. Eu sabia que tinha condições de resistir melhor ao campo elétrico do lagarto, e ele não esperaria isso. Nada de mais.
_ Tá, mas eu não sabia que você podia fazer aquela coisa do sumiço. Pelo que eu entendi, você se escondeu numa nuvem de fumaça pra ele desviar...
_ Na verdade, eu me ‘tornei’ na fumaça; névoa, para ser exata – ela baixou um pouco seus olhos – Um dos dons que se tem na minha atual condição. Alguns deles são bem relatados em lendas, outros são desconhecidos. Por vezes, penso que ainda não descobri tudo o que este corpo pode fazer. Mas... posso ter muito tempo para descobrir, afinal...
Houve silêncio por um curto intervalo, ninguém muito certo do que deveria dizer. E Zero virou-se para ela dando-se ao trabalho de erguer o visor de seu capacete.
_ Por hoje, o que importa é que você sabia o bastante, Sari. E lutou ao nosso lado, e muito bem por sinal; eu nunca vou esquecer disso. A maioria das pessoas não sabe de tudo o que é capaz, e nem aprende até o final da vida. Não encana, você é legal. E, não sei... mas se não quiser ser uma vampira até o final da vida, acho que deve ter algum modo de te trazer ao normal. Sei lá – deu de ombros – Se tem um caminho de ida, pode ter um de volta, não?
_ Zero... – Sari olhou para ele, um tanto entristecida, e Christabel retrucou:
_ Idiota, não lhe dê falsas esperanças. Não há como trazer um vampiro ao seu estado humano normal depois de tanto tempo; isso nunca foi feito.
_ E daí? – Zero tornou a dar de ombros, agora olhando para a Rainha – Quer dizer apenas que, quando a gente fizer, Sari vai entrar pra a história como o primeiro caso registrado. Não desanima não, menina. Até lá, vamos estar com você.
Sari não teve como não sorrir, ainda que continuasse parecendo triste. Mesmo sendo fruto da falta de bom senso de seu amigo, aquela idéia não deixava de trazer um certo consolo, e ela tornou a bater nele.
_ Tá bom, Zero, mas agora olhe para frente; vampira ou não, eu não quero nós dois caindo da sua moto. Ainda posso me machucar, sabe...?
Christabel perdeu totalmente o interesse na conversa, recusando-se a prestar qualquer atenção ao que diziam. Se não eram capazes de fazer silêncio, e Zero não era capaz de parar de dizer tolices, ela estava desperdiçando sua concentração naquilo.
Felizmente para a Rainha, chegaram à cidade de Tria não muito mais tarde, embora já estivesse consideravelmente escuro quando cruzaram os portais de entrada. Como medida extra de segurança, Laírton convencera Christabel a usar um capuz sobre sua cabeça; ele tinha um manto limpo com capuz para o caso de viajar sob chuva. Quanto menos ela mostrasse o rosto em público, melhor. Os portões, no entanto, estavam fechados quando chegaram, e Zero não deixou de reparar que havia procedimentos de fortificação em andamento. Recém-iniciados, e ele bem podia imaginar o porquê; seu pombo-correio devia ter chegado recentemente a seu pai, e ele por sua vez começara havia muito pouco tempo a avisar as cidades vizinhas sobre o possível perigo. E ele ficava feliz que o prefeito de Tria fosse previdente o bastante para não considerar o aviso de Mestre Dirceu leviano; não havia tanto a perder com um pouco mais de preparo. No entanto, o que chamou a atenção dos outros foi algo diferente.
_ Parece que a cidade tá se preparando pra uma festa, Zero – Melissa comentou, olhando curiosa ao redor – Sabe de algo a respeito?
_ Ah, é; o pessoal daqui começou como agricultores. Ainda é a principal fonte de renda dos caras, mas agora tem outros investimentos; parece que a coisa cresceu muito com o tempo. Uma das maiores festas deles, da época rural, era o Festival da Uva. Acontece que a gente chegou bem no meio da celebração, imagina só!
_ Tudo ‘por acaso’, né Zero? – Melissa olhou para ele como quem não acredita numa só palavra – Um pouco conveniente demais, você não acha? Fala a verdade, você fez de propósito.
Christabel olhou para o mecânico com contrariedade no rosto, e talvez até objetasse à idéia em voz alta se Laírton, Sari e Daniel não o tivessem feito primeiro. Por divertido que pudesse ser, havia limites para o risco que podiam correr; se tinham deparado com assassinos em Garland, por certo isso se repetiria ali; defender Christabel em meio a uma celebração ruidosa e com várias pessoas por toda a volta seria incomensuravelmente mais difícil... e as queixas teriam continuado, se Zero não erguesse a voz para interrompe-los.
_ Ô! Ô! Eu já sei, já sei! Sei de tudo isso, acreditem ou não, mas a gente não tinha mesmo outra escolha! Laírton, vai dizer que consegue cavalgar por mais três horas? Mel, você também; tá morrendo de canseira! Aposto que mesmo todo mundo pedindo pra você começar a falar a história da sua vida, cê vai cair dessa garupa na metade. Tô mentindo?
As expressões abrandaram-se um pouco, mas continuavam a olhar para ele com desconfiança. Zero deu de ombros.
_ A gente não tinha o que fazer, galera. Tá, eu até gostaria de trazer todo mundo pra ficar zoando aqui em Tria pro Festival da Uva, sim, mas nem eu sou tão doido. Acontece que eu não vou ficar por aí no meio do mundo, com vocês caindo pelos cantos, enquanto a gente vagueia pelas estradas escuras, esperando alguma coisa nos pegar no meio do caminho – e sorriu – Pelo menos, os perseguidores vão ser humanos, ora!
_ Acho que Zero pode ter razão, no final – Sari comentou, parecendo relutante em aceitar a idéia do outro – Se pudermos encontrar um local discreto para descansar, e nos revezarmos em turnos para dormir, todos poderemos nos recuperar o suficiente para prosseguir na viagem. Só corremos risco ficando muito em evidência.
_ O que é inevitável com o seu transporte atual – Christabel opôs-se, com ar vazio – Nosso grupo é numeroso o suficiente para já atrair atenção considerável, e para piorar...
_ Nah, nem tanto Christie – Zero retrucou com ar de pouco caso – Aqui já é próximo o bastante da Cidade Sucata e da Avançada pra essas coisas não serem tão estranhas. Mas você pode ter razão; não devem ter muitas ‘Unicórnio’ por aqui, e se tivermos inimigos escondidos, não era bom ficar exposto. Mas sem problemas, acho que eu sei onde podemos ficar. Me sigam.

Friday, June 03, 2005

Ola´, todos! E vamos seguir com mais esse capítulo da Rainha, agora com todos os seus defensores e ela própria a caminho de Tria. E, pra matar o tempo...


(...)


A cavalgada se deu pouco depois, assim que Christabel se reuniu ao grupo, e ela pôde reparar nas expressões de seus companheiros que Zero não estava exagerando. Laírton parecia muito pálido, embora mais forte do que depois do ferimento, e embora Melissa estivesse com uma fisionomia melhor, ela já usara muito de sua magia durante aquele dia, e não se recuperaria o bastante para outra luta sem descanso adequado. Ela própria, Christabel, achava que dados os riscos, deveriam tentar chegar à Cidade Sucata como pudessem, para não se arriscarem a outro ataque no meio do caminho; sendo ela o alvo principal, poderia seguir adiante com os mais capacitados e deixar os enfraquecidos em Tria, para se recuperarem, mas Zero opôs-se veementemente à idéia.
_ Tinham caçadores esperando a gente em Garland. Se também tiver gente assim em Tria, e o grupo estiver dividido, quem ficar pra trás vai ser alvo fácil. Não; chegamos até aqui juntos, e vamos terminar a viagem juntos, um cobrindo as fraquezas do outro. É nossa melhor chance, Christie.
Christabel tinha suas objeções, mas reconhecia o mérito no que Zero estava dizendo, e sabia dentro de si mesma que os outros partilhavam da opinião dele. Ela poderia seguir em frente sozinha se quisesse, mas sabia que não estava tão bem quanto aparentava, e se fosse forçada a lutar novamente, poderia não conseguir vencer; não sem ajuda. Assim, mesmo contrariada, concordou com o plano do mecânico e não discutiu mais por ora.
Apesar do silêncio costumeiro da estrada semidestruída por onde viajavam, a cavalgada foi muito animada, com os amigos comentando e se felicitando pelo que tinham conseguido durante a luta contra os seis corpos de Sáurio, apenas Christabel parecendo entediada com a atitude deles. Sari, na verdade, estaria de acordo com ela se ambas se falassem; como caçadora, ela reconhecia o valor da discrição, e os viajantes estavam fazendo barulho suficiente para atrair a atenção de qualquer outro ser mítico como Sáurio que habitasse naquelas paragens. Mas Daniel, Melissa, Zero e Laírton estavam conversando à vontade, e Sari não conseguiu manter-se à parte por muito tempo, logo percebendo que tanto Zero quanto Daniel estavam na verdade mantendo os exaustos Laírton e Melissa acordados com a conversa.
_ Sério mesmo, Laírton, eu nunca vi nada parecido! Sabia que vocês Religiosos tinham uns poderes parecidos com magia, mas esse negócio de expulsar o veneno do corpo só com a força de vontade...!
_ Na verdade... foi o poder da fé, amigo Zero – Laírton corrigiu cortesmente, sorrindo com cansaço – A crença dos Irmãos da Ordem dos Religiosos se baseia na idéia de que, com fé no Senhor, não há o que não possamos conquistar. Foi tal força que me manteve de pé durante a luta contra o corpo serpente de Sáurio... e foi o mesmo poder que, com a permissão do Senhor, me auxiliou a expulsar o veneno.
_ Fantástico, realmente – Daniel concordou, assombrado – Tínhamos Irmão Cristóvão em Melk, mas eu sempre pensei nele apenas como um padre, solene e distante, zelando pelo bem estar das nossas almas e meditando; nunca o vi demonstrar esse tipo de habilidade, mesmo durante nossas lutas.
_ Acredito... que ele nunca tenha sido forçado a demonstra-la, jovem Daniel. Ou, talvez, ele o tenha feito longe de seus olhos. Mas todos nós somos capazes, em nível maior ou menor, deste tipo de recuperação ou resistência. Através do poder de Sua criação, Nosso Senhor nos fortalece, reanima e nos cura. Ou, se for de Sua vontade... nos reúne com Ele, quando chega nossa hora.
_ Está dizendo que... a cura pode falhar? – perguntou Melissa, curiosa.
_ Certamente, cara Melissa. O poder do Senhor através de um dos Irmãos depende exclusivamente da vontade Dele; nossa fé nos sustenta, mas a decisão não é nossa. Se por vontade de Nosso Senhor, nossa hora tiver chegado, nem mesmo todos os Irmãos na face da terra serão suficientes para realizar uma cura simples. É verdade que o poder da fé aumenta com os números, mas a decisão final não é nossa.
_ Fascinante – Sari comentou, admirada – Mas, desculpe por parecer cética, Laírton... Mas como podem ter fé em algo tão inconsistente? Quero dizer, não há qualquer garantia, então, de que terão êxito...
_ É algo que não se pode explicar, Sari – Laírton sorriu, de cabeça baixa por um instante – Você coloca seu corpo, vontade e habilidades inteiramente à disposição de Nosso Senhor, e confia Nele. Acredita piamente de que Ele sabe o que há para vir, conhece o desejo de nossos corações, mas também as armadilhas no caminho que escolhemos. Uma das primeiras lições na Ordem é que ‘as pessoas acreditam que sabem o que querem’.
_ ... Hã, sei. E...? – Zero perguntou, voltando a cabeça para Laírton sem entender. E levando alguns tapas afobados de Sari até voltar a atenção para a direção.
_ Por vezes, caro Zero, nós tomamos decisões que só nos fazem mais infelizes na posteridade. Claro, todo o ser vivo exerce sua própria vontade, de acordo com o Livre Arbítrio dado a nós por Nosso Senhor, mas a verdade é que boa parte dos seres humanos continua com muito pouco conhecimento de como escolher seu caminho. E é espantoso o número de pessoas que, em confissão, se arrepende das escolhas que faz. Os Irmãos da Ordem aprendem a aceitar que, quando as circunstâncias nos movem em outra direção, por vezes o caminho que escolhemos não é o correto para nós. Acreditamos em presságios, sinais da natureza, e na força de eventos alheios à nossa vontade. As pessoas se aborrecem quando as coisas não caminham como elas desejavam; os Religiosos aprendem a se adequar às circunstâncias. Aceitamos o caminho que Nosso Senhor nos designa, e agimos de acordo com ele. E, acreditem ou não, freqüentemente deparamos com dias mais satisfatórios e felicidades maiores ao final da jornada.
Christabel sentiu-se estranhamente incomodada com as palavras de Laírton, e voltou-se mais de uma vez para o Religioso, sentindo como se estivesse falando com ela. Mas ele parecia alheio à sua pessoa enquanto falava. Sari interrompeu a contemplação da Rainha, comentando:
_ Ainda assim, parece muito difícil confiar em algo tão etéreo, não? Como ter certeza de que se é ouvido?
Laírton sorriu para ela, um sorriso sereno e parecendo muito satisfeito, como se esperasse pela pergunta.
_ ‘Fé’ não depende de certeza, menina Sari. Ao contrário; a dispensa totalmente. Me diga, o que se consegue de verdade por meio da certeza das coisas?
_ Segurança, eu acho – Daniel comentou, pensativamente – Conhecimento sobre as coisas. Não?
_ Conhecimento? – Laírton sorriu – Há eons atrás, as pessoas ‘sabiam’ com toda a certeza de que a Terra era o centro do universo, e era achatada. Estudiosos se opuseram a essas idéias, e o conhecimento da maioria ficou abalado; as pessoas ameaçaram queimar os sábios, porque eram hereges. E os sábios foram obrigados a se desculpar em público, embora ‘soubessem’ que estavam corretos, como o tempo se encarregou de provar. A única coisa que se pode saber com certeza absoluta, caro Daniel, é que nada é absolutamente certo. A maioria das idéias não é baseada em conhecimento absoluto sobre coisa alguma; como se pode ter certeza de algo, neste pé?
Ninguém respondeu de imediato, embora Christabel tivesse suas próprias reservas. Havia coisas de que podia estar certa, e sabia disso, mas se recusava a tomar parte da discussão. Queria que fizessem silêncio, e não tomar parte da bagunça. Os outros contemplaram mais um pouco, mas Zero sorriu:
_ É o tipo de coisa que eu gosto de conversar. Nada é absoluto, certo Laírton?
_ É a minha crença, amigo Zero, embora não possa impô-la sobre ninguém mais. O conceito da fé é muito abstrato, e a maioria das pessoas gosta de evidências, algo em que se apoiar quando defende uma idéia, ou algo em que basear uma experiência passada. – Laírton comentou solenemente – Não posso oferecer nada disso. Contemplem; temos um belo entardecer à nossa volta.
Laírton tinha razão enquanto mostrava a paisagem vespertina. O céu estava tomado de cores alaranjadas, rubras no horizonte e com trechos de azul espalhados, enquanto as nuvens pareciam flutuar sobre eles. Uma brisa agradável soprava nos rostos de todos, prenunciando o escurecer breve. E Laírton explicou seu raciocínio:
_ Se tamanha majestade, tamanha perfeição na obra ainda não basta para convencer muita gente de que existe alguém maior por trás de tudo, um arquiteto divino que orquestrou tamanha grandiosidade, que argumento ou prova dada por mim poderia fazer diferença? Sou apenas uma parte muito menor do todo.
Christabel olhou novamente com desconfiança, Daniel e Melissa, com algum assombro e Zero com um sorriso para Laírton. Apenas Sari parecia continuar cética. E o Religioso completou:
_ Como os outros Irmãos, expresso minha fé a quem tem curiosidade, mas não tenho como obrigar quem quer que seja a acreditar em mim, e nem pretendo faze-lo. A verdadeira crença vem do coração, não das palavras pretensiosas de quem pode estar enganado.
_ Desculpe por dizer, Irmão Laírton – Daniel comentou, num tom de quem se desculpava – mas me parece uma postura muito diferente da do nosso Irmão Cristóvão. Ele sempre procurava nos ensinar sobre o credo da Ordem, e sobre...
_ Ah, sim, é o que a maioria dos outros Irmãos faz – Laírton sorriu placidamente – É o que meus superiores costumavam me dizer para fazer, também. Infelizmente, este é um dos meus vários defeitos; não consigo insistir com quem quer que seja para fazer algo contra a vontade. Por minha própria crença, a ‘fé’ não pode ser ensinada por outro.
_ Mas, nesse caso – Melissa indagou, curiosa – você não tá fazendo algo contrário ao que a Ordem prega, Laírton?
_ Uma escolha inevitável de venenos, cara Melissa – Laírton deu um sorriso triste para ela – agir contra as regras da Ordem, e ser um pária entre meus Irmãos... ou me obrigar a agir como eles queriam, ser aceito entre eles, e ser apenas uma fachada. Que ‘fé’ eu poderia expressar, se eu mesmo não acreditasse no que diria?
Outra vez o grupo ficou silencioso, Melissa e Daniel olhando com admiração ao entender o ponto de vista do amigo, enquanto Zero sorria ainda mais abertamente. Alguém que era honesto consigo mesmo, ele realmente gostava daquilo. Laírton pagava o preço de ter todos seus iguais contra ele, desde que pudesse manter-se íntegro e sem causar mal a ninguém. Uma coisa a se respeitar. Sari estava tentando entende-lo; parecia ilógico demais. E Christabel, por fim, sentiu que não poderia ficar totalmente em silêncio; havia algo a dizer.
_ Mesmo ‘Seu Senhor’ deve desapontar-se com você, então. Se vocês pregam o crescimento do espírito pela superação de seus defeitos, e você admite que tem uma deficiência que não consegue sanar, está sendo falso com o que ensina da mesma forma, não? Como pode pedir a quem quer que seja que transcenda suas deficiências, se você não é capaz de faze-lo?
Apesar de novamente incomodados com a tendência imutável de Christabel de procurar defeitos no que era dito, foi inevitável que apenas Zero não olhasse para Laírton com ar de dúvida. E o rosto do Religioso pareceu contrair-se por um momento, em pesar. Mas ele tinha um sorriso triste em sua expressão ao confrontar a Rainha.
_ Verdade, Rainha Christabel. Por meus atos e fraquezas, eu sou falho mesmo naquilo em que me dedico com maior paixão, que é ser um Irmão da Ordem dos Religiosos. Nosso Senhor com freqüência me exige isso, e nada posso oferecer em resposta. Nada, a não ser compensar tal deficiência na conversão dos demais com trabalho dobrado onde sou forte. Viajo mais, vivo em menor conforto, batalho e curo com mais freqüência do que boa parte de meus Irmãos, e ainda sei que não será o bastante, na hora do acerto final. Mas me ponho sempre à disposição Dele, e Ele sabe que aceitarei qualquer preço a ser pago quando for a hora . Além disso – ele sorriu um pouco mais abertamente agora, parecendo conformado – esta é uma boa maneira de me manter humilde. Enquanto tiver uma deficiência tão séria como parte do meu ser, não me tornarei arrogante ou confiante demais do que sei fazer, e sempre me lembrarei de que não sou perfeito. Por isso, não esperarei perfeição em ninguém; uma lição que, aliás, muitos ainda carecem de aprender, ao que me consta.
Do riso escancarado de Zero ao sorriso discreto de Sari, Christabel foi a única a não achar graça na alfinetada sutil de Laírton, que sorriu placidamente quando ela meramente tornou a ficar em silêncio.