Saturday, July 17, 2004

Às vezes, é  preciso mudar de ares, mesmo sem querer, pra resolver uns problemas.
 
Aproveitem pra curtir, esse é o capítulo onde outro dos novos personagens aparece. Vou dar uma dica q não vai servir pra nada. Ele é um Religioso.
 
(aaaaaah, agora entendi...! ^^')
 
Amplexos, e curtam o frio!
 
Louco
 

XIII – Irmão Laírton
 
 
Haviam se passado por volta de oito horas desde que tinham deixado o Monte Serafim quando Zero finalmente se deu por satisfeito e resolveu implementar a segunda parte de seu plano de partir de Melk. Os outros não entenderam por quê parar numa cidade, se certamente estariam procurando por eles.
_ É verdade, eu sei disso – ele argumentou, quando todos com exceção de Christabel indagaram – Mas tem coisa mais séria do que a gente se manter em segredo; vamos ter que arriscar.
_ Por exemplo? – quis saber Melissa.
_ Por exemplo, o fato de que o tal do Cavalgadura ainda tá a solta por aí – todos olharam para ele com ar de estranheza, com exceção de Christabel e foi para ela que Zero se voltou – Você não acabou com ele na última luta, né Christie?
O olhar dela para ele deixou bem clara a sua apreciação quanto à pressa de Zero em usar o seu novo nome, e Daniel e Sari olharam com preocupação para o mecânico.
_ Não me chame assim.
_ Tá, tudo bem, mas responde à minha pergunta. Ele sobreviveu, não foi?
Christabel se manteve olhando rancorosamente para Zero por mais um longo instante, e então desviou os olhos, falando com ar de pouco caso.
_ Só destruí a forma física dele. Elimina-lo por completo não seria tão simples, ou rápido.
_ Viram? – Zero olhou para os demais companheiros, agora sério – O Amplificador que tá ligado em Melk deve impedir criaturas de Além da Fronteira de entrar na área de alcance da máquina, o que quer dizer toda a fortaleza e mais algum terreno ao redor, por conta do poder da Rainha. Mas eu acho que aquele cara é forte o bastante pra entrar assim mesmo, e... não acho que ele vai aparecer sozinho da próxima vez.
Até mesmo Christabel olhou para Zero com uma pergunta não formulada, e ele confirmou com um aceno de cabeça.
_ Na noite em que eu e a Li chegamos em Melk, e a gente deu um fim nele – outra vez Christabel pareceu contrariada, Melissa sem jeito, e Zero indiferente – o cara se apresentou formalmente antes de ir embora. Disse que era ‘o Mestre dos Arcanos’. Se isso quer dizer a raça dele, ou um bando de gente com o mesmo tipo de poder que ele tem, acho muito difícil só a barreira resolver.
_ Mas, Mestre Ze... – Zero formou uma carranca e Daniel deteve-se – Ah, desculpe, eu ainda não me acostumei... Mas, como eu dizia, a barreira não devia ser perfeita?
_ Não existe nada perfeito, Daniel – Zero retrucou – A barreira do Amplificador não é exceção. Tá, o sistema de ressonância faz a barreira da Rainha se manter em flutuação em cima e em volta de Melk, mas basicamente é um campo de energia. Uma freqüência mais alta de energia pode interferir nela, e até desativar.
_ ‘Freqüência... mais alta’?? – Daniel perguntou, obviamente sem entender.
_ Um campo de energia mais forte – Sari explicou, olhando para Zero como se pedindo confirmação – Não é isso? A barreira funciona com uma espécie de vibração; você teme que vários inimigos poderosos criem uma vibração mais forte ainda, e a interrompam.
_ É isso mesmo! – o sorriso de Zero para Sari cintilou, e ela ficou encabulada novamente – Nada como falar com uma especialista! E se tiver mesmo mais de um daquele fulano, como eu imagino que tenha, um trabalho de equipe bem feito colocaria eles dentro de Melk, pouco importando a barreira ou não.
_ Mas então, de quê adiantou colocar o Amplificador? – Daniel perguntou.
_ A idéia era facilitar o trabalho da Rainha, Daniel. Nunca foi dito que a barreira do Amplificador devia manter qualquer coisa fora da fortaleza. Quem quer que tenha tido essa idéia cretina de eliminar Christabel entendeu errado... a menos que tenha alguém lá querendo deixar os monstros passarem.
_ Mas, se esse é o caso, deveríamos voltar o quanto antes! – Daniel alarmou-se, parecendo pronto para retornar a Melk naquele exato instante – Cada segundo conta! Os monstros podem...
_ Calma, segura os cavalos aí, ô! – Zero interrompeu, segurando-o pelos ombros – Não vai adiantar nada voltar lá agora, lembra? Christie ainda tá com essa tiara, ela não vai poder ajudar muito. Temos que tirar isso dela primeiro, e isso quer dizer chegar na Cidade Sucata.
_ Podemos não ter tempo, Zero – Daniel replicou, angustiado – Deuses... Será por isso que eu...?
_ Acalme-se, Daniel – Sari pediu – Nenhum de nós, com certeza, quer os monstros de Além da Fronteira vagando à solta pelo mundo. Mas uma volta apressada não vai resolver. E, Zero, embora também confie em você, gostaria de saber por quê acha que precisa ir a uma cidade; não vamos perder tempo?
_ Um pouco sim, Sari – ele concordou – Mas é preciso. Quero mandar um pombo-correio pro meu pai, relatando a situação e pedindo uma força pra ele. Assim, quando a gente chegar na Cidade Sucata, ele vai saber de antemão qual é o problema e deve estar tão preparado quanto der pra trabalhar. Quanto mais rápido melhor, né Christie?Ela não respondeu, meramente encarando-o. Mas ele estava certo, quanto antes pudesse tirar aquela tiara, mais cedo ele deixaria de chamá-la por aquele nome tolo. De uma forma ou de outra.
 
 

Sunday, July 04, 2004

Nem tudo é como se quer. Às vezes, vc acha q conhece as pessoas. E em certos casos, a falha de conhecimento pode ser fatal...

(...)


_ O tolo...! – Francisco apertou os punhos, batendo-os violentamente em sua mesa – A posição de Regente oferecida, e ele vem balbuciar tolices! Nos livramos de Christabel! O que mais ele queria?
_ Marco, ainda que jovem – Michael comentou, com o olhar profundo em contemplação – veio da velha escola, colegas. Ele acredita piamente na honra de combate; não se surpreendam se, caso perguntássemos como ele resolveria sua diferença com Christabel, ele respondesse algo como desafia-la para um duelo singular, espada contra espada.
_ Como coisa que ela iria aceitar tamanha tolice! – Pedro exasperou-se – Não consigo acreditar que temos um simplório como este liderando nossas forças! Tivemos sorte até aqui...
_ Mais importante agora – Sérgio, dos Transportes, interrompeu – é o que faremos. Um homem com tais idéias à solta na fortaleza e com conhecimento do nosso plano pode ser uma calamidade. Ainda que o povo se sinta melhor sem a bruxa por perto, muitos podem ter reações semelhantes à de Marco.
_ Ao menos, isso não será preocupação – atalhou Michael, sorrindo misteriosamente – pois eu conheço a fraqueza do nosso Capitão.
Marco retirou-se depressa pelo corredor, rumo ao pátio externo. Precisava de ar, e precisava de luz para colocar suas idéias em seu devido lugar. Uma trama para destronar a Rainha! Atos como aquele manchavam tudo aquilo em que ele acreditava, enquanto habitante de Melk. Sua mão buscou nervosamente o punho da espada sem que ele sequer se desse conta, enquanto seus pensamentos corriam numa velocidade vertiginosa. Tudo tinha que ser feito às escondidas, claro; o povo não amava Christabel, e sem dúvida haveria de se sentir mais feliz sem a presença dela, imposta, em seu meio. Por outro lado, aquilo...!
_ Maldição... Maldição!
“O problema com homens como Marco – disse Michael na Tribuna, os olhos brilhando com um sorriso cheio de intenções – é que acreditam que as pessoas à sua volta têm a mesma visão estreita que eles. Pouco importa que seja um combatente formidável... Esse tipo de descuido pode ser fatal.”
Marco esfregou o olho esquerdo com irritação, a vergonha que sentia ameaçando traga-lo. Não podia acreditar naquilo; era esse tipo de pessoas que ele arriscava sua vida para proteger a cada batalha? Era por eles que ele punha seus homens sobre muralhas, diante de presa, garra e magia? Christabel era uma tirana, se impondo sobre eles com seus poderes? Talvez. Mas ao menos ela não descera ao ponto de tramar nas sombras. Maligna, talvez, mas honrada. Como classificar aqueles homens baixos que acabara de deixar para trás? Só havia uma coisa que um homem de verdade poderia fazer em tal situação, e era o que ele pretendia. Assim que convocasse seus homens...
Um ranger de corda atrás de si, e Marco mal começou a se voltar, já meia espada fora da bainha, quando uma flecha o atingiu nas costas com força, fazendo-o cambalear dois passos para diante, enquanto a dor seca em sua tentativa de respirar deixou claro o que acontecia. “Atacado... pelas costas? As armas... da fortaleza...?”
Quatro soldados saíram de trás das pilastras e correram para ele, espada, lanças e um machado em mãos. O Capitão Marco estava sentindo que o mundo inteiro lhe fora tomado, sem ouvir mais qualquer som, e as sensações de sua carne parecendo distantes, quase insensível. Iria morrer em Melk...
E Marco brandiu a espada, um corte amplo para a direita enquanto se erguia, cortando a lança do mais próximo enquanto afastava a espada do que vinha no meio e tombava o homem do machado com um golpe no ventre. Seu ferimento era sério, mas ele agira para que parecesse ainda pior, e eles se descuidaram. Mas agora, o segundo com uma lança veio por trás do trio, a arma erguida para a perfuração.
Tudo parecia correr com uma lentidão impressionante para o Capitão. Morrer em sua cidade não o aborrecia ou o espantava; no íntimo, talvez até ficasse decepcionado se não fosse assim. Morrer combatendo, também; era parte de sua natureza. Mas, ter que tombar pelas armas de seus companheiros...!
Marco reagiu, movendo a espada para a esquerda enquanto girava o corpo. Tão difícil respirar, tão doloroso...! Mas outro dos agressores tombou, enquanto os outros dois recuavam um passo.
O Capitão tossiu sangue, lutando para firmar-se de pé. Não podia ser verdade... Não podiam ser seus soldados...! O Conselho, ainda que ele não concordasse, podia entender: eram políticos, não guerreiros. Mas até mesmo as pessoas com quem lutava...!
Outra flecha veio, atingindo-o no peito e fazendo-o cambalear para trás. Ainda havia um arqueiro oculto, ele percebeu, quando os outros dois avançaram. Sua cabeça pendeu para baixo, sua visão turvou-se...
Os eventos pareciam estar em câmera lenta, os sons desaparecidos, mas ele ouviu uma respiração ofegante aproximando-se à esquerda, e usou todas as forças que tinha para firmar a espada nas duas mãos e tornar a erguê-la, atingindo algo à sua frente antes de sentir o golpe final. E enquanto seu corpo parecia deixar de sentir o mundo à sua volta, algo de seu orgulho de guerreiro o acompanhou, sabendo que tinha levado três dos traidores consigo antes de tombar. Mas...
“Injustiça... para com a Rainha...!”
_ Caramba, eu não acredito! – exclamou Mário, visivelmente surpreso enquanto se aproximava com o arco em mãos e uma terceira flecha posicionada nas cordas – Pensei que ele nunca mais ia cair! Quem era esse cara, afinal?
_ Nosso Capitão da fortaleza, Marco – o Sargento Irineu respondeu, sem conseguir tirar os olhos do rosto do superior. Ele ainda atacara uma última vez, e a única coisa que impedira que fosse ele ao invés do infeliz Caetano atravessado pela lâmina de Marco era o outro ser melhor corredor – Lutou e morreu bem, Capitão. Eu lamento muito por isso, e o saúdo.
_ Ah, qual é, vai vir com uma de remorso agora? – Mário olhou com reprovação e descaso para o sargento, o arco pendendo da mão esquerda – Você já foi pago, não foi? Trabalho bem feito! Agora só precisamos ir pegar o resto...
Irineu não estava mais ouvindo, voltando toda sua atenção para o corpo de Marco. Lamentava que tivesse de ser daquela forma, mas o Chefe Michael tinha razão: o importante era que afastassem a bruxa. Ele rezara silenciosamente, desde que soubera de sua missão, para que Marco tivesse bom senso daquela vez, o mesmo que demonstrara tantas vezes em batalha. Se o Capitão saísse acompanhado de algum dos conselheiros, Michael dissera, poderiam relaxar. Melk seria governada pelo seu melhor guerreiro, um homem bom e justo, ao invés de uma tirana que os escravizava. Mas Marco não entendera.
_ Há situações em que apenas a honra não basta, Capitão – Irineu murmurou, sem perceber que o arqueiro contratado já se fora – Agindo com o código dos Guerreiros de Melk, teríamos vivido até o fim dos tempos sob o jugo de Christabel. Foi melhor assim... Pelo bem maior, foi melhor assim.
Ele esperava que Marco o estivesse ouvindo. E esperava poder convencer aquela parte de si mesmo que parecia acusa-lo, também.
Em outro lugar, a pouco mais de meia hora da cidade onde Zero pretendia parar, Daniel estava quieto e taciturno, sentindo um grande pesar cobrir sua alma como um véu. Aquela era uma sensação que não conseguia situar como nada a não ser tristeza, mas não entendia o porquê. Só sabia que parecia haver uma ferida profunda aberta em seu peito, como apenas a mágoa de uma notícia ruim pode causar, e ele por um instante quase não estava consciente de onde estava ou o que estava fazendo.
_ Dan? Você tá bem?
Ele voltou os olhos por um momento, sorrindo fracamente para Melissa. Não deveria estar se sentindo daquela forma; era bom estar com a moça, era bom sentir as mãozinhas dela em volta de sua cintura, e cavalgar com ela... mas não podia evitar.
_ Desculpe, Mel... Eu não sei. Sinto uma aflição estranha em meu peito, apenas isso.
_ Mas por quê? – ela pareceu preocupada – Ainda preocupado com se está fazendo a coisa certa?
_ Não... Não sei – ele abanou fracamente a cabeça – Não sei, realmente. Algo que parece não estar certo... Não sei o que é.
E não pôde dizer mais coisa alguma, pois realmente não tinha idéia do que se passara.