É, acho q vou concluir aquele lance da luta em Melk agora... Vcs torceram por eles, né?...
Amplexos do Louco
(...)
Ahl-Tur estava aproveitando o tempo para se refazer, respirando livremente ao lado dos pedaços do Amplificador. Apressara-se até ali, ciente de que depois do raio, os humanos sobreviventes lá na escada levariam algum tempo antes de descer à sua procura. A dor na perna atingida continuava aguda, e isso lembrou-o de que seu total alcance dos poderes, e sua imunidade, deveriam regressar gradativamente. Os teria de volta a tempo de espalhar mais caos naquela fortaleza, sem dúvida... mas dessa vez, fora por pouco.
“Subestimei-os, talvez. Mais de nós teriam sido necessários para que não houvesse baixas. Mas agora acabou”.
Podia ouvir os sons de luta agora. Mas também, os sons dos soldados que primeiro tinham se resolvido a descer atrás dele. Poderia lidar com eles com sua magia, agora; já devia poder usar magia de ataque, pelo menos. Mas... sentia que isso era inadequado.
“Tiveram coragem de me seguir. Ah, bem... Acho que posso fazer uma gentileza”.
Eles teriam que servir para compensar. Já que não podia vingar os danos que sofrera e sua frustração com a última derrota que tivera ali, faria o que pudesse com os soldados de Melk. Tinham valido o transtorno, sem dúvida.
E em meio ao caos, enquanto guerreiros abatiam e eram abatidos pelas criaturas recém-fugidas das terras Além da Fronteira, alguém se mantinha indiferente. Invisível tanto para humanos quanto para os monstros, ele olhava em volta com alguma impaciência, tendo o cuidado de se manter fora do caminho.
“A última coisa que quero, ao menos por enquanto, é ser descoberto. Enfim, esses tolos conseguiram invadir a barreira do Amplificador de Zero e Christabel. Arcanos tolos... se deixando abater dessa forma! Quase não conseguiram! Esperava mais da competência da parte deles”.
Fora infantilidade subestimarem o poder de combate dos humanos de Melk. Talvez fossem uma raça mais fraca, mas em número maior eles por pouco não tinham conseguido sobrepujar os poderosos Arcanos. Ao menos, no entanto, a barreira cedera.
“Não há mais necessidade de manter as fronteiras. Agora, enfim o selo foi desfeito. Posso abandonar este solo sem ser percebido pelos outros... e fazer meus últimos preparativos. Foi uma espera muito longa”.
Outra vez olhou com anseio para os céus. Cobertos de nuvens, como sempre, embora houvessem algumas brechas no cobertor macio lá em cima por onde ele ‘quase’ podia ver as estrelas. ‘Quase’...
“Será que, mais ao sul, ao menos poderei ver céus mais limpos...? As estrelas...!”
Sua alma pareceu contorcer-se de saudade por um momento, enquanto olhava para o alto. Uma explosão de chamas de um Místico lá em cima caiu a poucos metros de onde ele estava, perdendo um dos arqueiros de Melk por centímetros, ateando fogo às roupas do humano... e também dele.
Aborreceu-se com aquilo. Fora bruscamente desperto de seu momento de saudade, e já estava impaciente da demora e pelo quase fracasso dos Arcanos. As chamas sobre ele se extinguiram depressa demais para que fosse notado, mas aquilo não ficaria assim. Olhou para o alto, vendo o Místico pairando sobre o pátio interno da fortaleza, seus olhos duros.
A criatura flutuante explodiu onde estava, desfazendo-se em cinzas que caíram lentamente sobre Melk. Os guerreiros com certeza estavam ocupados demais tentando sobreviver, ou evacuar suas mulheres e crianças, para notar o que ele fizera. Não que se importasse àquela altura. Sem olhar para trás, partiu de Melk, ignorando sem remorsos a queda da fortaleza e das pessoas com quem havia vivido por anos.
Na estrada para a Cidade Sucata, já afastados o bastante para que Tria fosse um amontoado de prédios cercado de muros minúsculos à distância no horizonte, Christabel repentinamente deteve seu galope, e voltou-se na direção de sua cidade.
O restante do grupo não tardou para notar a parada, visto que a Rainha cavalgava adiante deles. Mas Zero, que liderava, teve que ser alertado por Sari para fazer a volta e alcançar Christabel, erguendo o visor do capacete e indagando:
_ Christie, tá tudo bem? Parou por quê? Tamos quase chegando...!
_ Mudou... Está diferente.
_ Hein? – Zero tirou o capacete, imaginando que talvez não a tivesse ouvido bem – Do quê cê tá falando? Alguma coisa mudou?
_ O ar... – o semblante de Christabel era velado como sempre, mas algo em seus olhos traía uma emoção, que ninguém poderia identificar – Não é mais o mesmo.