Saturday, December 24, 2005

Eita, em plena véspera de Natal, olha nóis aqui!

Achei q era uma boa (especialmente com a possibilidade não conseguir voltar até o fim do ano), colocar o final desse capítulo tbm. Pois é, o Velho Dirceu vai ralar pra arrancar aquele negócio da Christie. Rola ou não rola? E, afinal das contas... quem bolou aquilo, pra começar?

então, né... Vamos ler.

(...)
Zero e Melissa seguiram atrás de Dirceu, sem dizer palavra, mas entreolhando-se. E Daniel perguntou, enquanto fechava a porta atrás deles:
_ E agora?
_ Não é tão estranho, afinal – Sari cruzou os braços – Christabel é mesmo temperamental demais, e nada gentil. Mesmo Zero perde a paciência com ela de vez em quando, e o pai dele parece... não sei... mais forte, de alguma forma. O fato de andar com uma bengala o faz, de certa forma, parecer ainda maior.
_ Verdade – Laírton comentou com um sorriso leve – Acho que não precisamos nos preocupar com eles, Daniel. Ao invés, façamos nosso trabalho aqui em cima; nossos amigos lá embaixo terão muito trabalho, acredito, para terem que se importar com mais problemas.
Enquanto desciam a escadaria, Zero sentiu que o silêncio o perturbava um pouco, especialmente levando em conta como a operação seria difícil para Christabel, se ele podia arriscar um palpite. Para não mostrar nervosismo diante dela, e para quebrar o silêncio, ele perguntou o que lhe parecia meio tolo:
_ Pai, você tem certeza de que já tem gente atrás da Christie aqui, na Cidade Sucata? Estávamos meio que esperando por algo assim, mas que chegassem depois de nós...
_ Gente estranha chegando e saindo da Cidade Sucata não chega a ser novidade, menino – Dirceu abriu uma maleta na cabeceira da bancada, sempre agindo sem olhar para o filho ou para suas acompanhantes – Mas recentemente, me parece ter visto um trio ou quarteto rondando por aqui. Se não me engano, pelo menos dois deles passaram aí do lado agora, enquanto entramos.
_ Então, podem ser assassinos atrás da Christabel, Seu Dirceu? – Melissa perguntou.
_ Sei tanto quanto você, menina maga – e retirou uma braçadeira pouco mais larga que o bracelete original de Melissa da maleta, com um cabo curto pendendo dela – Tome, coloque isso. Este ‘Sifão’ devia ser um presente pra você juntar à pulseira que te dei antes de sair, mas agora pode ajudar um bocado nosso trabalho.
_ Hã? – Melissa obedeceu distraidamente, enquanto Dirceu conectava uma pequena presilha no extremo do cabo ao metal da pulseira original da maga – Um Sifão... de magia?
_ Sua pulseira atualmente absorve e armazena um feitiço que vá na sua direção, pra você usar mais tarde – e olhou para ela indagadoramente – Falar nisso, já teve chance de testar em campo?
_ Ah, já, obrigada! – Melissa deu um lindo sorriso ao velho – Acho que eu teria morrido enquanto vinha pra cá se não fosse por ela...
_ Fico feliz, então – Dirceu sorriu polidamente, mas voltou a explicar – Como eu dizia, o uso do Sifão deve ser armazenar mais magia. Veja, quatro Jóias Dragão de Fogo de tamanho médio no Sifão, encaixadas no metal. O cabo deve coletar o que você bloquear com a Braçadeira Escudo original, e essas jóias vão armazenar. Basicamente, deve funcionar como cinco feitiços reservas convencionais, ou coletar um único especialmente poderoso. Mas tente evitar isso; por motivos óbvios, não tive tempo nem condições de testar a última hipótese.
_ Com licença – Christabel cortou friamente – Achei que estávamos aqui para lidar com o meu problema, e não dar presentes.
_ Não me interrompa, moça – Dirceu rebateu com indiferença – Ao invés disso, deite-se aí e tente ficar quietinha. Vamos terminar mais depressa se você se comportar.
Christabel deitou-se emburrada numa bancada enorme no centro da sala, que parecia ter sido transformada temporariamente numa mesa de operações. Não gostou muito do aspecto dela; parecia dar-lhe uma espécie de aviso. Mas sua determinação em livrar-se da tiara sobrepujou seu senso de cautela. Era melhor que aquele velho arrogante soubesse o que estava fazendo, pois ela já não tinha muita paciência para mais abusos. Manteve-se olhando na direção do velho Dirceu com ar rancoroso, que ele não notou ou ignorou deliberadamente enquanto instruía Melissa.
_ Vou precisar que fique com as mãos posicionadas sobre Christabel, Melissa – Dirceu orientou, movendo a maga negra para que ficasse à cintura da Rainha – Sua mão direita sob a esquerda, e concentre-se. Imagino que durante a operação, algo da poderosa magia dela vai ‘vazar’; é melhor que esteja preparada para conte-la.
_ Ela não tem como conter meu poder – Christabel retrucou.
_ Discordo totalmente, Majestade – Dirceu rebateu – Pela forma utilizada para neutralizar seu poder, caso haja mesmo flutuação de energia, Melissa deve ser perfeitamente capaz de absorver.
_ Serei capaz de me conter sozinha – Christabel retorquiu, teimosamente.
_ Talvez, e talvez não – Dirceu acenou com a cabeça – Toques por outra pessoa no arcânio de sua tiara devem ser suficientes para causar-lhe dor intensa, o que por sua vez deve levar a reações involuntárias de seu corpo. Acredita realmente que seu poder não vai se manifestar também, mesmo que de forma inconsciente?
_ Não tem outro jeito de fazer isso, pai? – Zero perguntou, lutando para que a preocupação que sentia não ficasse evidente – Ou de fazer a Christie dormir com algum anestésico, antes de começar? Se você não vai só ficar tocando no metal...!
_ Ela não aceitaria, Zero. – Dirceu respondeu simplesmente, e Christabel acenou afirmativamente com a cabeça, o mesmo ar teimoso no rosto.
_ Se há de fato inimigos meus aqui, a última coisa de que vou precisar é uma droga que me adormeça por horas. Não, Mestre Dirceu, faça o que tiver que fazer então. Quero estar desperta.
_ Christie, mesmo acordada, você vai se desgastar – Zero insistiu, o semblante visivelmente preocupado – Sari, Daniel e Laírton tão lá em cima tomando conta, e eu garanto que eu e a Li podemos nos mexer se for preciso, também. Deixa meu pai te dar alguma coisa pra...
_ Pare de chatear, garoto – Dirceu interrompeu de mau modo – Que mania, foi a mesma coisa quando decidimos que Melissa ia com você; quem pensa que é pra ficar julgando o que as outras pessoas vão fazer ou não? Olhe para ela; Christabel já perdeu a paciência com tamanha demora!
Na verdade, a Rainha estava olhando com um semblante diferente para Zero. Não era exatamente impaciência; parecia mais com certa perplexidade. Mas ela tratou de aparentar que Dirceu estava certo, quando notou que o velho olhava para seu rosto.
_ Então... Comecemos de uma vez. Essa discussão é inútil.
Havia um sorriso estranho no rosto do velho Dirceu, do qual Christabel não gostou muito, quando ele acenou afirmativamente. Ao invés de dizer qualquer coisa, no entanto, ele ofereceu a ela o que parecia uma barra de plástico azul.
_ De acordo, Majestade. Por favor, segure isso entre os dentes. Vai ajuda-la a suportar a dor.
Ela o fitou em silêncio com ar de suspeita, e Dirceu insistiu, um sorriso resignado e impaciência no rosto.
_ Escute, entendo que não goste de mim ou dos meus modos; também não me agrado dos seus – ela olhou com mais suspeita ainda para ele – Mas, pouco me importa o que pense, não me dá prazer algum ver o sofrimento de quem quer que seja. E essa operação será muito dolorosa para você, pouco importa o quanto seja durona. Se acredita que pode suportar, bom para você. Mas não tem nada a perder aceitando ajuda, tem?
Christabel considerou o que lhe fora dito. Era obrigada a admitir que fazia sentido. Não gostava das atitudes do velho Dirceu, mas ele lembrava muito o filho para não se preocupar com alguém que estivesse ajudando. Só lhe restava uma última dúvida.
_ Um tecido seria melhor para abafar minha voz então.
_ Mas vai ter dificuldade pra respirar, Alteza – Dirceu replicou – E acho que você vai inspirar e expirar muito, enquanto tenta não gritar. Vai precisar de todo o ar que puder, e vai me atrasar muito se sufocar no processo.
Sem maiores queixas, Christabel aceitou morder a barra de plástico, sob o olhar preocupado de Zero. E o rapaz pareceu despertar quando o pai disse:
_ Anda, Zero, pára de ficar sonhando. Vou precisar que mantenha Christabel imóvel, tanto quanto puder. Ela vai se debater muito enquanto tento remover a tiara, e vai ser difícil trabalhar se ela se mover. Acha que consegue manter ela parada?
Christabel tentou dizer que era perfeitamente capaz de se manter imóvel sem qualquer auxílio, mas a barra de plástico a atrapalhava e ela foi forçada a ficar quieta. Olhou novamente com suspeita para Dirceu, imaginando que ele também fizera aquilo de propósito. Podia ser verdade. E Zero disse que sim.
_ Só que... O Dr. Matogrosso não podia dar uma força, pai? Ele é tão bom nisso quanto você, e se os dois estivessem juntos... Quero dizer, se desse pra ser menos doloroso, ia ser melhor...
Dirceu deu um sorriso leve e carinhoso para o filho, mas acenou novamente com a cabeça.
_ Eu pensei seriamente em chamar o João, sim, Zero. Mas ia chamar atenção demais, e precisamos ser discretos aqui. Coroando tudo, não acho que a Rainha gostaria de mais gente do que fosse estritamente necessário a par da situação dela. Não é isso, Majestade?
O olhar de Christabel para os dois dizia tudo. Dirceu permitiu-se um último olhar para o filho, perguntando-se se aquilo era algo que o menino tinha puxado da mãe ou dele. Talvez fosse dele próprio; Célia era uma pesquisadora da Cidade Avançada quando tinham se conhecido, e na época havia uma espécie de barreira social entre as duas cidades irmãs. Parecia ser próprio dos homens da família...
_ Vamos começar logo com isso, então. Não precisa olhar se não quiser, Christabel. E, Melissa, a postos.
Christabel quis manter sua atenção tanto quanto pôde ao que estava acontecendo, mas logo descobriu que não poderia. Logo depois que a ponta da chave de fenda de Dirceu tocou o encaixe da primeira lasca de Dragão de Fogo em sua tiara.
Um vento forte começou a soprar de lugar nenhum lá fora, arrastando poeira do solo diretamente nos olhos das pessoas nas ruas, enquanto nuvens pesadas começaram a acumular-se sobre a Cidade Sucata, forçando Escavadores e visitantes a procurarem abrigo, e despertando a curiosidade dos vigias da Cidade Avançada, pouco mais ao sul.
Em menos de cinco minutos havia relâmpagos e trovões distantes no horizonte, enquanto o dia pareceu tornar-se noite. Melissa gritou algo, que Christabel não conseguiu compreender; tudo parecia estar chegando até ela através de uma névoa espessa, onde tudo o que ela podia notar com clareza era a dor que penetrava em seu crânio como uma faca. Era como se a chave de fenda de Dirceu estivesse tentando arrancar não uma lasca de jóia em sua tiara, mas sim a parte superior de seu crânio. Pouco importava o quanto quisesse manter sua atitude, era inevitável que se contorcesse e só a muito custo conseguiu ficar em silêncio, apesar de tudo.
Frascos de vidro estavam explodindo por toda a volta no porão de Dirceu; as janelas no andar de cima também estremeceram, e algumas trincaram-se sozinhas. Objetos das estantes do porão e dos andares de cima caíam ao chão. Outra vez ela pareceu ouvir gritos, de Dirceu ou Melissa, ela já não sabia muito bem. A dor continuava, um pulso de agonia que a torturava... quando então percebeu outra sensação: mãos firmes agarrando seus braços, mantendo-a parada onde estava.
Christabel abriu seus olhos. Zero estava agarrado a ela, olhando diretamente para seu rosto. Seus olhos também estavam tensos, como se estivesse sentindo dores, e um gemido baixo escapava por entre seus dentes cerrados. O que espantou a Rainha, no entanto, foi ver que os ferimentos tratados por Laírton estavam sangrando como se tivessem sido abertos naquele momento. Mais ainda, ela podia ver que a camisa dele estava banhada em sangue também, até onde podia enxergar, e sabia que aquilo não podia ter sido apenas dos ferimentos que ele conseguira durante sua chegada à cidade.
Soube instintivamente que Zero estava partilhando as dores com ela, de alguma forma. Não fazia muito sentido, mas nada fazia qualquer sentido, tampouco. Seu mundo era apenas dor, e a única coisa além da dor que conseguia perceber era Zero, que ela sabia que poderia soltar-se dela no momento em que quisesse, e poupar a si mesmo daquele sofrimento. Ela via cortes abrindo-se nele, e sabia que aquilo devia ser muito doloroso; viu que ele parecia lutar com o impulso de afastar-se, dominando-se. Ele não ia soltá-la.
Christabel não saberia dizer quanto tempo aquilo durara. Podiam ter sido apenas minutos, ou horas. Não tinha a menor noção ainda do caos e desordem que sua agonia causara nos arredores. Só soube, com toda a certeza, que Zero permanecera com ela até o último instante, quando sua consciência finalmente rendeu-se e o mundo todo desapareceu de sua percepção. Parecera ouvir o velho Dirceu e Melissa dizerem mais alguma coisa, mas fora vago demais para que entendesse, ou sequer soubesse com certeza se de fato os ouvira.

Monday, December 19, 2005

Olá leitores! Nesse calor do cão, suando mais q garrafa de cerveja abandonada em cima de mesa dum boteco, saudações autorais do Louco!

Christabel vai conseguir se livrar da tiara? Dirceu vai provar q é Deus na Cidade Sucata? E... alguém já trocou as calças molhadas do Vander? Pra responder essas e outras perguntas, continuem lendo! ^_^

Amplexos do Louco!

(...)


Mas, então pai – Zero interrompeu; já estava começando a ficar sem jeito, também – Eu dizia que acho que a tiara não foi tão bem feita assim. Quando submetida a emoções fortes, ela ainda consegue manifestar um pouco de magia. Já aconteceu mais de uma vez, então...
_ Então, vamos ter que retomar seu treinamento, se acha que a tiara é ruim só por isso, menino – Seu Dirceu olhou com alguma superioridade e tédio para o filho – Ao contrário, quem fez isso era um gênio! Sem equipamentos próprios da Cidade Avançada, ou melhor, sem tecnologia daquela que foi perdida no passado, é virtualmente impossível criar esse tipo de contenção individual.
_ Impossível? – Christabel perguntou, e Sari comentou meio que para si mesma, em voz alta:
_ Eu já tinha me perguntado a respeito. Os campos de energia de uma pessoa para outra são muito pessoais, e sem ter como medir os seus, Christabel, a possibilidade de criarem uma tiara como a sua seria de uma em um milhão no mínimo. Seria uma espécie de jogo de adivinhações, com margem alta para o erro...
_ Incrível – Dirceu olhou admirado para a caçadora de prata – Outra surpresa, então; não imaginei que alguém além de mim ou de um dos meus amigos da Cidade Avançada fosse capaz de deduzir esse tipo de coisa! Estou muito impressionado, moça!
Christabel olhou com desagrado para Dirceu e para Sari, considerando por um momento revelar ao velho tolo o motivo para o entendimento da caçadora no assunto, mas acabou desistindo. Dirceu era muito semelhante ao filho, ela já percebera isso. Sem dúvida iria proteger a vampira, também, e por isso ela preferiu manter-se em silêncio. E Dirceu, alheio a seus pensamentos, continuou:
_ É mais do que natural que a tiara da Rainha não possa bloquear todo o poder dela; o impressionante é que consiga restringi-la tanto. E, viu como as hastes das têmporas são espiraladas? Feito de forma artesanal, para não despertar suspeitas, mas são espirais assim mesmo, como as antigas resistências para eletricidade. Cada vez que Sua Alteza tenta utilizar magia, seja conscientemente ou não, essas espirais de arcânio dificultam a liberação natural. E, é só um palpite, mas deve estar lhe causando dores terríveis, também.
Christabel olhou de volta para Dirceu, meramente acenando que sim com a cabeça. O velho podia ser um tolo falador, mas parecia conhecer mesmo seu ofício. Melhor, então. Tinha melhores probabilidades de se desfazer do artefato.
_ A pessoa que projetou sua tiara, Alteza – Dirceu concluiu, sério – não tinha como medir seu poder com precisão, isso é fato. Mas sem dúvida podia medi-lo, com muita habilidade, porque chegou bem perto de um trabalho perfeito. Havia um especialista em sua fortaleza, alguém com recursos tecnológicos de ponta, coisa que talvez não tenhamos nem mesmo na Cidade Avançada. Irmão, o meu filho...?
_ Deveria descansar um pouco – Laírton terminou de prender uma última atadura no antebraço esquerdo de Zero – As compressas devem estancar seus sangramentos e anestesiar a dor por horas, mas o correto seria que se alimentasse e desse ao seu organismo algum tempo para repor o sangue. Não perdeu o bastante para precisar de transfusões, mas não deveria fazer esforços.
_ Infelizmente, ele vai fazer algum esforço se tentarmos impedi-lo de participar – Dirceu olhou com ar de tédio para o filho – Vai adiantar alguma coisa se eu mandar você ir dormir, Zero?
_ Eu vou... depois que a gente tirar essa tiara da Christie – Zero sorriu com ar cansado para a Rainha – Prometi que ia ajudar como pudesse, e você pode precisar de mim lá embaixo, pai. Promessa é dívida, foi você mesmo quem me ensinou, lembra?
Dirceu poderia muito bem ter aceitado isso. Seu filho era muito curioso, muito ativo com restaurações e sempre gostava de estar por perto quando o pai estava montando ou desmontando alguma coisa. Aquilo era motivo mais do que suficiente para que ele fosse. Mas ele estava olhando para Christabel, não para a tiara na fronte dela. E sua expressão não era só a curiosidade de sempre.
_ Tudo bem, então vamos. No entanto... podem me dizer seus nomes, antes de descermos? – Dirceu perguntou, voltando-se para os amigos do filho – Acaba de me ocorrer que fui rude o bastante para não perguntar até então.
Laírton, Daniel e Sari se apresentaram, e Dirceu acenou com a cabeça.
_ É um prazer conhecer a todos. Podem, por favor, vigiar este andar enquanto trabalhamos lá embaixo? Meu porão não é totalmente isolado, sabem, e sons mais altos podem ser ouvidos lá fora. Se algum dos perseguidores da Rainha ouvir, pode resolver invadir e nos interromper no pior momento possível. Como a única forma de entrar é por este alçapão...
_ Não é preciso dizer mais nada, Mestre Dirceu – Daniel adiantou-se, já empunhando sua lança dupla – Fizemos a viagem até aqui para proteger a Rainha Christabel, e faremos o melhor que pudermos enquanto o senhor trabalha. Mas... vai levar Melissa, também.?
_ Bem, sim, eu vou. – Dirceu deu um sorriso para a maga negra – Ela está aprendendo a lidar com maquinário, também, e vou precisar da ajuda dela lá embaixo.
_ Três pessoas para uma tiara? – Christabel perguntou, olhando com inquietude para Dirceu – Tem certeza de que sabe o que vai fazer, Mestre Dirceu, ou está só buscando segurança nos números?
Mais de um rosto tornou a mostrar constrangimento com Christabel, mas Dirceu meramente sorriu, um sorriso um pouco diferente desta vez, parecendo mostrar alguma superioridade ao responder:
_ Eu prometo não tentar ensinar Sua Alteza a defender sua terra, se prometer não me ensinar meu trabalho. Parece uma troca justa?
O olhar dela se nublou pesadamente. Christabel não sabia aceitar esse tipo de confrontação sem reagir.
_ Não gosto do seu tom de voz.
_ Então empatamos – e o olhar de Dirceu cintilou enquanto falava – Não precisa gostar de mim, Alteza, ou de como faço as coisas. Mas é a minha casa, e foi Sua Majestade quem veio procurar ajuda. De minha parte, farei o melhor que puder, sem exigências anteriores ou posteriores, a não ser respeito. Me curvo às suas ordens se um dia estiver entre seus muros, mas aqui, se não puder dizer nada de agradável, fique em silêncio. Fui claro?
O olhar de Christabel em resposta foi mais que suficiente. Ela deu as costas ao Escavador e aos outros, abriu a porta do alçapão e desceu alguns degraus, voltando-se para Dirceu e perguntando:
_ E então, vamos?
E foi em frente, deixando os demais a olharem preocupados para a Rainha e para Dirceu. E Laírton comentou:
_ Mestre Dirceu, sem querer parecer desrespeitoso, mas acho que não deveria se dirigir assim a ela. A Rainha Christabel não é muito conhecida por ter uma personalidade afável.
_ Nem eu tampouco, Irmão Laírton – Dirceu manteve-se no alto da escada, observando a Rainha que descia – A diferença é que, como eu disse, estou no meu lar. Aqui, não preciso me sujeitar a grosserias de quem quer que seja. Uma mensagem que, acredito, Sua Alteza Christabel já deve ter compreendido.
_ Olha, pai... – Zero começou, mas Dirceu voltou-se imperiosamente para ele, que silenciou.
_ Vamos, filho. Não convém deixar a moça esperando.

Wednesday, December 07, 2005

Em nome da Armação Ilimitada, de Zillion, da Patrulha Estelar e de tantas séries maneiras q desapareceram com os anos, saudações do Louco!!

Continuemos então, pessoas leitoras e curiosas. Sim, chega o pai do Zero pra colocar ordem nessa zona... ou não? Afinal, se o filho é desse jeito... ^_^

(...)
Todos no portão voltaram-se para ver o veterano Escavador se aproximar em passo lento com seu sorriso tranqüilo, e também os colegas de viagem de Zero voltaram-se com curiosidade. Então, aquele era o famoso pai de Zero. Um homem de meia idade, de aparência forte apesar de vir apoiado numa bengala, aliviando o peso de sobre sua perna direita. E ele acenou que sim com a cabeça.
_ É bom ver que chegaram bem, menina maga. E, o que aconteceu com meu filho desmiolado? Ele não parece muito bem.
_ Ele foi ferido, e acho que desmaiou pela perda de sangue – Sari explicou, ganhando um olhar de admiração de Dirceu – Precisamos leva-lo a tratamento, e depressa.
_ Santo Deus...! Ah, bem, me acompanhem então. Precisamos cuidar disso.
_ Seu filho atirou em Vander – Batista berrou, antes que Dirceu tivesse chances de tirar Zero de outra situação difícil – Sabe muito bem o que fazemos com Escavadores que usam mal suas armas, não sabe Seu Dirceu? É regra da Cidade Sucata, e não podemos abrir exceções!
_ Claro que não, diretor – Dirceu olhou admirado para Batista, como se o outro tivesse sugerido um absurdo indescritível – As regras de conduta com armas de fogo são o que nos permite continuar restaurando as armas perdidas; seria uma bobagem ignorar essas regras por quem quer que fosse.
_ Então, quanto ao seu filho...
_ Mas – Dirceu interrompeu – eu lamento ter que dizer que se enganou. Zero não pode ter atirado em Vander, em hipótese nenhuma.
_ Como!? – Batista olhou bem para Dirceu, como se suspeitasse que o veterano estava brincando com ele – Se o próprio Zero disse que atirou nele, temos uma confissão aqui...!
_ Ah, me perdoe por contradize-lo, mas talvez meu filho estivesse fora de si antes de desfalecer – Dirceu olhou para Vander como se o outro fosse um interessante inseto dissecado que ele nunca vira antes – Mas, fraco por perda de sangue ou não, Zero dificilmente teria errado se disparasse em Vander a uma distância tão curta. No entanto, salvo por um ar atordoado... e uma mancha suspeita entre as pernas de sua calça, o jovem Vander me parece ileso.
_ É que... ele não atirou no Vander, Seu Dirceu – Melissa tentou explicar – Ele atirou na arma do Vander, quando ele jogou ela pro alto...
_ Está dizendo, menina – Dirceu voltou-se para Melissa e então tornou a olhar para Vander – que Vander jogou sua pistola para o alto? Por quê faria uma tolice tão grande? Sabe o que poderia acontecer se sua pistola caísse carregada e disparasse por acidente, com tantas pessoas em volta?
Vander pareceu muito desconfortável de repente, com os outros Escavadores olhando para ele de forma hostil. E Batista talvez argumentasse, se Dirceu não o tivesse encarado com severidade:
_ Senhor Batista, espero sinceramente que tome alguma providência quanto a isso. Vander, ao que pude compreender, era quem realmente deveria estar sendo alvo deste sermão. Ao invés disso, o senhor ficou retendo meu filho no portão, enquanto ele se esvaía em sangue! Espero que saiba como explicar isso à comissão da Cidade Avançada, quando eu mencionar o caso! Tenha uma boa tarde! E vocês, me ajudem com o Zero!
E deu imperiosamente as costas ao diretor, enquanto os demais Escavadores começavam a reclamar da tolice de Vander e enquanto os amigos de Zero ajudavam a conduzi-lo atrás do Velho Dirceu, que se afastava de forma majestosa rumo à sua própria casa. E apenas Christabel, entre os cinco que acompanhavam Zero até ali, tinha um ar de tédio em seu rosto.
_ Nunca vi tamanho cinismo em toda a minha vida. E você, já basta dessa encenação idiota, não? Ao contrário de mim, os tolos realmente acham que está gravemente ferido.
Zero ergueu um pouco a cabeça, dando uma piscadela marota para Melissa, logo à sua direita, que arregalou os olhos na direção do amigo.
_ Zero, você estava...?
_ Psssiu, Li! Não vamos querer desperdiçar uma interpretação tão boa agora, quando todo mundo pode me ver, né?
_ Você...! – e ela chutou o tornozelo direito de Zero enquanto o amparava, ao que ele arfou e ela repreendeu – Não, fique quietinho! Você não vai querer gritar e desperdiçar a interpretação logo agora, né seu fingido?
_ Auuuuu! – Zero gemeu baixinho – Isso é covardia, Li... Eu não posso reclamar agora...!
_ O que me surpreende é que seu pai tenha colaborado tão prontamente com isso, Zero – Sari comentou, entre exasperada e admirada – Chegou no momento certo, e sem perder a calma nem por um instante, improvisou toda essa escapada...!
_ Quem você acha que ensinou esses truques ao garoto, moça? – Dirceu disse em voz baixa, sem se voltar – Zero pode saber se safar muito bem sozinho, mas eu já fazia isso quando ele nem sequer tinha nascido.
_ Zero obviamente teve a quem puxar – Laírton comentou, com um sorriso discreto – É um prazer conhece-lo, Mestre Dirceu. Seu filho fala muito no senhor.
_ Não dê qualquer atenção a ele, Irmão – Dirceu rebateu, impassível – Meu filho diz muita bobagem.
_ Parece ser um mal de família – Christabel murmurou – Guardem essa conversa para mais tarde.
_ Alteza...! – começou Daniel, mas Dirceu interveio.
_ Ela tem alguma razão, cavaleiro. Não teremos que aguardar muito mais, de qualquer forma. Minha casa é logo ali.
Todos seguiram Dirceu até seu lar, uma construção que mais parecia-se com um depósito ou galpão do que uma casa propriamente. Zero prontamente se endireitou ao passar pelas portas, embora tenha cambaleado e sido amparado por Laírton. Era verdade que estivera fingindo quanto à sua debilidade, mas estava realmente perdendo sangue, e era bom que se tratasse.
Dirceu esperou que todos passassem, e então olhou displicentemente ao redor. Havia pessoas descendo a rua, andando devagar e parecendo distraídas enquanto conversavam. Um passante em um trio olhou na direção dele, e Dirceu acenou de volta. E fechou a porta atrás de si; teria que concluir seu trabalho tão rápido quanto fosse possível. Não tinham muito tempo.
Os viajantes olharam para ele com ares curiosos, e Dirceu sorriu mais amplamente e disse:
_ Agora, acho que posso dar boas-vindas mais adequadas. Bem vindos à Cidade Sucata, amigos do meu filho, e desculpem pela recepção tumultuada. É culpa do Zero, claro, que tenham passado por tanto aborrecimento logo ao entrarem.
_ Pai...! – Zero queixou-se – Tá me deixando mal!
_ Não pior do que você deixou a si mesmo, menino – mas ele parecia muito feliz em tornar a ver o filho – Que história foi essa de arrumar briga com o idiota do Vander logo depois de ir brincar com lobos? Irmão, pode ajudar?
_ Sem dúvida, senhor – Laírton adiantou-se, descobrindo o ombro ferido de Zero. E Christabel olhou ao redor.
_ Apresse-se, Laírton. Não podemos perder tempo demais.
_ Tem razão de estar preocupada, Alteza – Dirceu comentou, olhando displicentemente para a Rainha – Tem gente atrás de vocês, e chegaram até aqui, sim. Mas não devem fazer nada tão descaradamente, nem por enquanto. Seja como for, já que vou precisar da ajuda do meu filho quando formos tirar o que está preso em você, é melhor termos certeza de que ele não vai tombar no meio da operação.
_ Já sabia quem sou? – Christabel perguntou, com alguma admiração, ao que Dirceu meramente deu de ombros.
_ Zero foi discreto, mas claro o suficiente para mim. Além do mais, não conheço outra pessoa em Melk que pudesse ter assassinos disfarçados à sua procura, Rainha Christabel. Agora, enquanto meu filho está sendo tratado, pode me dizer exatamente qual o artefato que usaram para conter seu poder?
Enquanto Laírton orava baixinho e aplicava certas ervas que trazia consigo nos ferimentos de Zero, Christabel descobriu seu rosto e expôs aos olhos de Dirceu a tiara em sua fronte. E ele a avaliou cuidadosamente, sem toca-la mas examinando com atenção as pequenas lascas de jóia e as espirais de metal que desciam até suas têmporas, enquanto murmurava:
_ Ah, sim... Entendo porque não podia remover, Zero. Coisa incomum isso, um sistema de contenção para uma pessoa específica...! Engenhoso, é preciso reconhecer.
_ Se importaria de ficar fascinado depois que remover isso? – Christabel replicou inexpressivamente – Presumindo, é claro, que seja mesmo capaz?
_ Tinhosa, não? – Dirceu sorriu para Christabel, com ar divertido – É claro que sou capaz... mas isso não foi feito de qualquer modo, Majestade, e nem vai poder ser removido assim. Não, sem arriscar um dano permanente à sua pessoa. É um artefato formidável, e único.
_ Não sei não, pai – Zero retrucou, enquanto Laírton fazia compressas e as enfaixava nos ferimentos do rapaz – Quero dizer, se a tiara não consegue deter totalmente o poder da Christie, não pode ter sido...
_ ‘Christie’? – Dirceu olhou com curiosidade para o filho, e então para Christabel. E a Rainha inadvertidamente ruborizou e baixou seus olhos enquanto Zero explicava:
_ Ah, isso foi idéia minha, pra a gente não chamar muito atenção enquanto tava vindo. Ficarmos chamando ela de Majestade pra cá, Alteza pra lá... Era uma questão de tempo até nos encurralarem em algum lugar escuro.
_ Sem sombra de dúvida – olhou com admiração para todos os companheiros de viagem de seu filho, que pareceram entre encabulados como Christabel e disfarçando o riso, como Laírton – E imagino que foi o melhor nome em que você pôde pensar. Melissa, lembra-se do que pedi quando saíram?
_ Seu Dirceu... – Melissa começou a se desculpar, mas o velho Escavador a interrompeu.
_ Sinto muito; ele deve ter dado muito trabalho. Não sei por quê ainda me surpreendo.