E aí, leitores? Sentiram saudades? ^^
Infelizmente, não deu pra fazer tudo o q eu tinha planejado esse domingo. Mas, não posso reclamar, não, foi um domingo maneiro do mesmo jeito...
Então, aproveitando o ensejo, continuemos com a história da Rainha. Hm, e falar nisso... estou muito acomodado. Preciso retomar a criação...
*resmunga resmunga*
Amplexos do Louco (resmungão)
XVIII – Volta Ao Lar
Pelas planícies, como uma onda escura precedendo a alvorada, as massas libertas das terras Além da Fronteira se espalhavam por onde podiam. Seres que tinham sido confinados desde sua chegada agora podiam vagar livremente pelo mundo. Só havia uma última tarefa, um modo de assegurar que poderiam ter sua liberdade de ir e vir para sempre; encontrar aquela que os mantivera tanto tempo aprisionados.
Mas havia mais oposição. Humanos haviam escapado de Melk, antes da queda da fortaleza; outros seres míticos viviam do outro lado, e não permitiriam que seus lares fossem tomados tão facilmente. Nem todos tinham recebido a mensagem de alerta de Mestre Dirceu, e nem todos que a tinham recebido levaram a sério a possibilidade da queda da fortaleza de Melk, que sempre existira e sempre existiria, de acordo com suas crenças. Ainda assim, as cidades e vilas que tombaram não deixaram de derrotar alguns entre a leva de criaturas agora a solta.
Distante dali, ainda nas profundezas das terras Além da Fronteira, Ahl-Tur estava tendo dificuldades. Retornara de sua missão, embora não parecesse de fato uma vitória. Apenas ele e Kayla tinham retornado de Melk, e ela não fizera qualquer tentativa de esconder seu ressentimento. Ydian, o Velho, e Tark-Esh tinham sido destruídos por míseros humanos, e Tur levara tempo demais para cumprir sua parte da tarefa, supostamente a mais simples. Os demais Arcanos agora estavam com ela e contra Tur, que ainda não se refizera dos danos sofridos enquanto alcançava o Amplificador. Sua magia não retornara por completo, nem sua perna se curara, e agora três Arcanos o estavam atacando em conjunto.
Ahl-Tur barrou a onda de magia com suas duas mãos, e a Onda Explosiva passou por ele, destruindo as paredes à sua esquerda e direita. E praguejou; não havia como os outros não terem percebido.
_ As duas mãos, mestre Tur? – Kayla perguntou em tom provocativo – Antigamente, apenas uma de suas mãos seria o bastante, e usaria a outra para nos punir. Não?
_ Aproxime-se... e descubra por si mesma, se ousar – ele rosnou em resposta.
_ Vai pagar por sua negligência – um outro Arcano, Jer-El, que estava entre os três atacantes, bradou – Dois dos nossos melhores guerreiros morreram por sua lentidão, Ahl-Tur, e o mesmo se daria com Kayla se não fosse habilidosa o bastante para...
_ Pare de bajular Kayla, seu tolo – Tur interrompeu com desdém – Não sei que tipo de coisas além do poder atraem essa fêmea, mas com certeza não devem ser cretinos que lambem suas botas.
_ Não pode com todos nós, ainda mais em suas condições, Tur!
O desafio viera de sua esquerda, e Ahl-Tur viu Dardos Incendiários disparados pelos seus dois flancos. Já sabia o que viria depois, e acertadamente adivinhou quando o trio tornou a ataca-lo com uma Onda Explosiva. Tempos diferentes de ataque, ele não teria como se defender de todos ao mesmo tempo. Era o que pensavam.
Com uma idéia baseada em sua última batalha contra Christabel, Tur girou seu corpo e lançou Garras de Escuridão para todos os lados, atacando os feitiços que caíam sobre ele ao invés de defender-se.
Os Dardos explodiram na metade do caminho, chamas e trevas espalhando-se por toda a volta, e o mesmo se deu com a Onda Explosiva.
Neste caso, no entanto, o Mestre dos Arcanos foi mais agressivo e dirigiu a maior parte de seu poder para adiante, tombando dois no trio que o atacara. Poupando apenas El, mas detendo-se diante dele com sua lâmina desembainhada.
_ V-você... não vai conseguir abater a todos nós...!
_ Talvez. Mas nada me impede de tentar.
“Já basta!”
Todos os Arcanos detiveram-se como estavam, uma vontade poderosa contendo-os na postura e situação que estavam. Mesmo Ahl-Tur.
_ M-mestre...
“Não me dei ao trabalho de revive-los de seus casulos para que matem uns aos outros. Espero ter sido claro o bastante.”
_ M-milorde... – Kayla balbuciou, sem desistir facilmente – Tur... está tentando nos matar a todos. É a única explicação... para as mortes em Melk...!
_ E desde quando se importam tanto uns com os outros... Kayla? – retrucou Tur, mantido paralisado diante de Jer-El e com a espada em riste – Recordo-me de você repetindo que Esh era um imbecil convencido, e que Ydian já tinha vivido mais do que era necessário...
“Eu disse que já basta – a voz do grande ídolo de pedra ressoou pela caverna como um trovão – Não tornarei a repetir”
Nenhum dos Arcanos tornaria a se manifestar naquele momento, mas a má vontade de um para outro era palpável no ar. E a figura de pedra tornou a falar:
“Nossa missão deveria ter sido simples, Tur. Você disse que os três, dando-lhe cobertura, seriam suficientes para abrir os portões sem maior alarde. Deve explicações a todos”
_ Com o devido respeito, senhor... não devo coisa alguma a quem seja.
Não poucos entre eles surpreenderam-se com tamanha temeridade. Aquilo não era forma de se dirigir ao seu criador. E a figura imensa parecia pensar da mesma forma.
“... Está abusando de seu valor. Você é o Mestre dos Arcanos, é verdade, mas ninguém é insubstituível. Nem mesmo você.”
_ Sei muito bem disso... – Tur replicou – mas não serei questionado por uma falha de desempenho da qual não sou responsável.
_ S-sua avaliação foi errônea! – Jer-El gritou onde estava, olhando temeroso para o Arcano diante de si – Você disse que... quatro de nós seriam suficientes para lidar com os humanos da fortaleza...!
_ Minha avaliação foi perfeita – Ahl-Tur cortou friamente – Eu os alertei para não baixarem sua guarda. Embora fracos, os humanos de Melk têm sido testados por batalhas durante sua vida inteira, e estavam em número muitíssimo maior do que o nosso. Inferiores, talvez, mas estavam lutando a sério, por suas vidas. Esh foi imbecil o bastante para tratar a invasão como uma brincadeira, e Ydian obviamente cometeu o mesmo engano. E, julgando pelas condições nas quais Kayla retornou, ela teve muita sorte.
_ Você devia ter destruído a barreira de uma vez! – gritou Kayla de onde estava.
_ E foi o que fiz, quando pude chegar a ela – ele respondeu simplesmente – O volume da magia protetora se adensava na proporção em que me aproximei do engenho. E isso é a única coisa que admito não ter antecipado.
A disposição mudara um pouco no ambiente. Os outros Arcanos continuavam como sempre haviam sido, hostis uns com os outros... mas não havia como não admirar em nada o líder deles, por ter tido a desenvoltura de falar ao mestre de todos daquela forma. Mesmo a figura de pedra parecia impressionada.
_ Ao invés de aceitar uma reprimenda, eu aproveito essa ocasião para salientar o que já disse antes – Ahl-Tur gostaria de ter podido olhar ao redor, para todos que o cercavam, ao invés de apenas fitar Jer-El –
Não... subestimem... os humanos. É verdade, as forças deles são desprezíveis comparadas às nossas. Mas os seres que vivem neste mundo são muito diferentes daqueles que viviam na época de nosso exílio. Alguns, inclusive, têm uma vontade que rivalizaria com a nossa, se tivessem nosso poder. Não se intimidarão diante de coisa alguma.
Kayla foi forçada a recordar-se do humano que a confrontara. Ele não trazia temor algum nos olhos. Cansaço, uma estranha resignação quanto a enfrentar um oponente superior, mas não o antigo temor supersticioso da época em que ela era uma infante. Talvez, afinal, a culpa não fosse apenas de Tur...
Todos sentiram que podiam se mover. E a voz da figura de pedra tornou a falar:
“Ouçam com maior atenção ao que Ahl-Tur diz. O mundo agora estará preparado para nós. Não tornem a subestimar seus adversários, e talvez retornem para dar seu testemunho. Agora, preparem-se para partir. Nossos rivais nos aguardam, e não pretendo que fiquem com o que me pertence por direito.”
Ahl-Tur guardou sua espada assim que pôde se mover, embora Jer-El ainda tivesse olhado para ele sem se mover por mais alguns instantes. Era verdade que ele precisava se recuperar depressa, e começou a se afastar dos demais no salão. Precisaria de seu corpo físico restaurado para que o seu eu espiritual...
_ Você mostrou muita ousadia.
Ele voltou-se. Kayla, parada atrás dele, com suas lâminas em mãos. Mas não havia atitude hostil nela, apenas um brilho no olhar que ele não reconhecia.
_ Você também. Sugiro que lembre-se do quanto é perigoso desafiar seu líder numa próxima ocasião. Não sou tão simples de se eliminar.
_ Não tornará a acontecer... meu líder.
Ela curvou a cabeça e se retirou, e Tur ficou mais confuso do que sua expressão demonstrava. Era respeito de fato o que vira nos olhos dela? Realmente, nunca entenderia as fêmeas.