Tuesday, October 25, 2005

Andiamo, ragazzi! Saudações do Louco, gente q lê! ^^

No nosso último episódio, largamos Sari e Zero cercados de Ferais (um tipo de lobo gigante nervosinho) de péssimo humor. Tá na hora de ver como e se eles saem dessa, né?

(...)

Os lobos começaram a apertar o cerco, e Zero e Sari se prepararam para o ataque conjunto da matilha, sabendo que não teriam como enfrentar todos de uma vez só.
E então o som alto que até então parecera distante se aproximou, mais e mais, e os lobos voltaram-se na direção dele incomodados. Havia um estranho engenho montado num veiculo que para Sari parecia-se com uma carroça sem cavalos, mas que Zero reconhecia como um dos transportes da Cidade Sucata.
Um antigo caminhão da Cidade Avançada, substituído por modelos mais novos havia muito tempo e doado aos Escavadores para auxiliar no transporte de mercadorias e descobertas, estava sendo utilizado como carro de batalha, dois dos operários atirando do alto da cabine enquanto uma máquina enorme fazia um som alto e perturbador, que obrigou mesmo Sari a cobrir seus ouvidos.
Mas Zero estava sorrindo, e abriu o capacete. A artilharia dos amigos era tão precisa quanto a dele; Escavadores com permissão de usar pistolas nunca as empunhavam para errar, e os Ferais começaram a debandar, perturbados pelo som terrível e tombando sem poder se aproximar da máquina. Logo, ele e sua amiga estavam sozinhos próximos à Unicórnio tombada, e o veículo de apoio aproximou-se.
_ Zero, tá tudo bem? – perguntou Éderson, um dos colegas da Cidade Sucata, quando encostou o caminhão ao lado deles.
_ Bom, vocês demoraram pra caramba, Éderson, mas fora um sanguinho nas pernas e no ombro, acho que eu tô bem...
_ Você não, a moça! – Éderson bronqueou, apontando para Sari – E a sua moto! Você acha que viemos até aqui pra salvar essa sua carcaça briguenta? Dá um tempo!
_ Isso não é maneira de falarem... – começou Sari, mas Zero a interrompeu tirando o capacete e acenando que não com a cabeça.
_ Ah, esquece, Sari, que isso é só brincadeira. É a forma dos Escavadores da Cidade Sucata de mostrar preocupação. Éderson, eu quero te apresentar a minha amiga Sari, uma caçadora da Vila de Delm, mais pra oeste. E esse, Sari, é meu amigo Éderson Silveira, um colega de infância. A gente costumava brincar de Escavador quando era guri.
_ Prazer, moça – Éderson sorriu, estendendo a mão para Sari de trás do vidro baixo da porta – Desculpa pela brincadeira sem graça, mas é sempre assim; se a gente não zoar, é zoado. Então, precisamos estar sempre espertos quando falamos uns com os outros.
_ Estou vendo... – murmurou Sari, admirada, enquanto um Escavador um pouco mais velho, com uma proeminente barriga, reclamou de cima da caçamba do caminhão:
_ Ô Éderson, será que dá pra parar de ficar balançando o braço da moça bonita e levar a gente de volta pra dentro dos muros? Aqueles bichos não vão ficar longe esperando você terminar de se apresentar não, sabia?
_ Ah, vai pastar, Juvenal! – Éderson bronqueou rindo – Se você não gosta de cumprimentar moças bonitas, o problema é seu! Já no meu caso...
_ Isso ainda vai longe – Zero sorriu, separando a mão de Sari da de Éderson – e eu tô me esvaindo em sangue aqui. Dessa vez vamos fazer a vontade do Velho Juva e vamos pra dentro, Éderson, ou vocês vão ter que me carregar pra dentro quando eu capotar aqui.
_ Carregar pra dentro? – o segundo Escavador sobre a caçamba, que acabara de tirar os tampões dos ouvidos, olhou para baixo e sorriu por baixo do bigode já um pouco grisalho – Vamos levar é a tua moto pra dentro, pra trocar por alguma coisa que valha a pena, isso sim. Te levar pra dentro pra ficar espalhando sangue e atraindo tudo que é bicho da região pra cidade, o que a gente ganha com isso?
_ É legal te ver também, Chalita.
Sari estava atordoada, e subiu sem protestar na garupa da Unicórnio assim que Zero a levantou, e ficou observando fascinada a troca de ‘gentilezas’ entre seu amigo e os recém-chegados, que durou até que entrassem pela muralha. Os companheiros de viagem já estavam lá dentro, e todos olharam ao redor com admiração enquanto outros entre os Escavadores presentes vinham até a Unicórnio para dar as boas vindas a Zero.

Sunday, October 16, 2005

Oi pessoas neteiras! Saudações do Louco!

Pois é, deu tanto trabalho chegar em casa... e agora, Zero não consegue entrar. Não ainda, pelo menos.

então, vejamos como é q eles saem dessa!

Amplexos do Louco ~_^

(...)

Zero, enquanto isso, não podia acreditar no que Sari fizera. Caçadora experiente e uma guerreira habilidosa, com os poderes de uma vampira, ainda assim ela não era imortal; sua memória voltou-se dolorosamente ao momento em que a amiga fora alvejada e quase morta em Melk, e seu coração apertou-se. Não podia tornar a acontecer.
_ Agüenta, menina, que eu tô chegando! – e acelerou, a moto empinando involuntariamente enquanto ele arremetia contra a matilha.
Os cavalos aproximaram-se velozmente dos portões da Cidade Sucata, onde uma pequena milícia já estava posicionada. Não havia muitos indícios de que haveria qualquer risco à cidade em si, mas seria tolice deixarem-se pegar desprotegidos. Enquanto os cavalos de Laírton e Christabel, menos pesados, se aproximavam dos portões, uma voz áspera ampliada por algum tipo de equipamento se fez ouvir de forma retumbante:
_ Afastem-se! Não cheguem perto daqui! Não recebemos viajantes que trazem monstros consigo; só abrimos nossas portas para vizinhos e conhecidos nestes tempos!
_ Então abra de uma vez, Vander – gritou Melissa, erguendo o rosto e tornando-se visível de trás de Daniel – Ou será que suas memórias são tão ruins que já esqueceram de mim?
_ Ei... essa não é a amiga do Zero? – perguntou Osvaldo, lá em cima, para alívio de Melissa. Mas outro deles, Tatu, parecia em dúvida.
_ Ah, sei não... Cadê o Zero, se ela é a loirinha?
_ O Zero ficou lá atrás garantindo a gente! Anda, Tio Ovo, vocês precisam abrir, e ir dar uma força pra ele!
Risos ecoaram no alto da muralha, e apenas Osvaldo pareceu um pouco contrariado, enquanto os outros comentavam entre si que qualquer um que conhecia o apelido de Osvaldo sem dúvida era um deles, ou tinha sido, e que era melhor que abrissem as portas. Christabel, naturalmente, não achou graça alguma na demora.
_ Enquanto debatem sobre trivialidades, somos forçados a esperar.
_ Vai se acostumando, Christabel – Melissa murmurou, com um sorriso meio contido – Esses Escavadores são como um bando de operários, todos juntos; cada um que puder tira mais sarro do outro. Imagine que Zero foi criado entre eles, e vai entender porquê ele é do jeito que é.
_ Formidável, uma cidade inteira de Zeros... – Daniel lamentou-se – Sinto que vamos ter uma estada muito longa...!
_ Nosso Senhor gosta do bom humor, caro Daniel – Laírton também sorriu – Mas admito que gostaria que se apressassem, em nome de nossos amigos lá atrás.
As portas se abriram pesadamente, e um som alto assustou as três montarias dos viajantes, que abriram espaço enquanto a razão para o som eclodia das muralhas para fora.
Um minuto e meio antes, Sari estava em frente aos lobos. Dois pequenos grupos estavam se debatendo para atacar os feridos ou mortos que ela deixara durante sua passagem, mas havia muitos deles. Os demais estavam divididos entre voltar a perseguir seu alvo, ainda rumando para a cidade à distância, ou atacar a atrevida que saltara sobre eles.
Os olhos claros de Sari cintilaram como aço. Os Ferais hesitaram. Como os animais que eram, instintivamente reconheciam um predador perigoso diante de si e havia mais em Sari do que os olhos humanos podiam ver. Um perigo que os instintos dos animais reconheciam claramente.
O ronco do motor da Unicórnio vinha de trás deles, empurrando-os na direção dela. Zero estava se aproximando, sua moto não muito maior do que os oponentes desta vez. Mais de um dos Ferais tombara diante dele, sua espada descendo e subindo enquanto ele se aproximava, mas o próprio mecânico não estava ileso.
Sari correu na direção dele. Atropelar os Ferais não era a melhor coisa que Zero podia fazer; abria caminho com o barulho, até certo ponto, mas alguns dos lobos não tinham tempo de abrir caminho, e eles eram grandes o bastante para deter o avanço dele. E um humano comum parado entre aquelas feras não era nada mais do que alimento.
_ A carona chegou, caçadora! – ele abateu outro lobo à esquerda, erguendo sensivelmente a roda dianteira – Pra garupa, anda!
Ela agora estava correndo entre os lobos, e eles pareciam ter recuperado algo de sua vantagem ao notar que a caçadora estava entre eles, cercada, onde seria mais vulnerável. Ledo engano.
Sua katana estava voltada para dentro, seu antebraço apoiando a lâmina para se proteger de atacantes à direita e diante de si, enquanto a esquerda afastava presas e garras com golpes de seu pulso, ou atirava dardos de metal em seu avanço.
E ela saltou, pisando a cabeça de um Feral à sua direita e ganhando altura. A Unicórnio estava a cerca de dez metros.
Saltou para a esquerda, ganhando um pouco mais de altura ao pisar exatamente no meio das costas de outro Feral, e ficando à altura da roda dianteira empinada da Unicórnio de Zero, e girou o corpo. Cinco metros...
E ela tornou-se em névoa, dois Ferais saltando através dela e embolando-se no solo enquanto a Unicórnio também a atravessava. Neste instante, no entanto, ela tornou a se refazer, e Zero sentiu a mão esquerda da amiga em sua cintura e as pernas dela coladas ao corpo da Unicórnio, e ouviu sua voz bronqueando:
_ Que espécie de idéia foi essa, Zero? Se meter entre os Ferais pra me buscar...!
_ Uai, cê não me mandou vir te buscar? – ele indagou com uma voz de falso temor – Longe de mim desobedecer uma garota bonita; dizem que são as mais perigosas.
_ Vou ficar muito mais perigosa se você não nos tirar daqui – ela continuou bronqueando, agitando a katana à direita e esquerda – Acho que já atraímos atenção o bastante, e não seria mal irmos para longe destes lobos.
_ Você manda, menina.
Tombou a Unicórnio para esquerda e acelerou, o corpo bem próximo à carenagem enquanto sua espada era brandida para os dois lados, contando com Sari para cobrir sua retaguarda. Ele sabia que não se decepcionaria.
E os Ferais começaram a saltar sobre eles. Talvez não estivessem tendo muito sucesso com seu peso diante das rodas da Unicórnio, mas sobre ela, a situação podia mudar. Não queriam voltar sem nada para quem os enviara.
A Unicórnio tombou com o peso de dois ou três lobos sobre o piloto e sua passageira, e apesar de Sari ter conseguido se livrar e rolar para tombar de pé, a katana já abrindo espaço à força, Zero rolou pelo chão com dois Ferais enlaçados nele.
_ Zero...!
Dois estampidos secos, e ele colocou-se de pé. Estava sangrando nas pernas e ombro esquerdo, mas a pistola estava em sua mão esquerda, a espada na direita e os lobos tombados ao chão. O capacete, obviamente, devia ter impedido que ferisse a cabeça, mas ele parecia de mau humor.
_ Droga de lobos sarnentos, derrubaram a minha moto! Tá bom, agora chega, isso não vai ficar assim.
_ Parece que você está bem, Zero – Sari observou, aproximando-se dele de forma que um ficasse de costas para o outro, ela protegendo-o com sua katana à direita e os últimos dardos de metal que tinha na mão esquerda. E ele respondeu com tom risonho:
_ Falar a verdade, só não quero ficar reclamando. Essa coisa no meu ombro tá meio dolorida, sabe...
_ Fique perto de mim – Sari estava incomumente séria, enquanto os Ferais restantes os rodeavam lentamente, presas à mostra – Acho que posso proteger a nós dois, mas não sei por quanto tempo.
_ Me faz um favor, Sari? – Zero manteve as armas em riste, sem tirar o capacete – Aconteça o que acontecer, você tem que sair bem daqui, tá? Faz aquele seu truque de virar névoa de novo, e escapa. Por mim.
_ Pare de dizer besteira, Zero – ela bronqueou.
_ Me diz que
promete, vai – Zero repetiu, um pouco mais sério – Não quero que você morra por minha causa, Sari.
_ Zero...

Sunday, October 09, 2005

Leitores, leitoras, pessoas presentes... Saudações do Louco! ^^

Mais um pouquinho da nossa Rainha, certo? Espero q vcs tenham visto o lance entre os Arcanos...

E agora, de volta pros nossos heróis! ^^ Amplexos do Louco


(...)

Longe dali, o grupo de Zero podia avistar ao longe as muralhas da Cidade Sucata. O alívio era maior do que teriam antecipado ao finalmente chegar a seu destino pois, naquele momento, estavam sob ataque pesado.
Lobos, ou seres lupinos de estatura maior que lobos comuns, estavam correndo atrás deles em seu galope. Os cavalos estavam aproveitando bem o descanso que tinham tido durante a noite, e novamente o julgamento de Zero parecera acertado; se tivessem sido pegos daquela maneira durante a madrugada, com seus animais exaustos da longa viagem, não haveria como vencer em corrida aquelas feras. Sari diagnosticara que tipo de criatura era aquela, falando a Zero:
_ São Ferais. Menores do que os que costumo ver perto do meu lar, mas perigosos, sem dúvida. Sempre atacam em bando... mas parece que eu sinto algo mais nessa matilha...
_ Se aqueles mortos-vivos atacaram a gente em Garland a mando de alguém – o mecânico ponderou – não ia ser de surpreender que tenha alguém mandando nesses bichinhos. Pensamos nisso quando estivermos a salvo dentro da Cidade Sucata. Agora, é melhor tentar garantir nossos colegas.
_ Estamos prontos para lutar, Zero! – Laírton retrucou, ainda cavalgando para as muralhas. E Zero não aceitou auxílio.
_ Você ainda tá meio atordoado de sono e das presas daquela cobra ontem, Laírton. Vai direto pra a Cidade Sucata, e dê cobertura pra Christie. Daniel, o mesmo. Mel, se puder dar cobertura pra eles na saída com magia, também...
_ Quero ficar com vocês.
_ Nem pensa nisso – Zero cortou – Sem eu por perto, você é a única no grupo que o pessoal dos muros conhece e vai deixar entrar. Além disso, cê pode forçar a entrada, se for preciso – sorriu – E, pra terminar, o cavalo de vocês tá carregando dois; não vai fugir por muito mais tempo. A Rainha vem primeiro, loirinha.
Christabel voltou-se um pouco, procurando algum sentido oculto no que Zero dissera. Mas só encontrou preocupação legítima, disfarçada pelo impagável verniz de bom humor. Ele estava preocupado; sabia que sua máquina e Sari lhe davam alguma vantagem no que pretendia fazer, mas não muita. Sua especialidade, a pistola, não seria de muita valia em tal situação, e ela hesitou em seguir adiante por um curto segundo.
Zero pareceu perceber isso, pois tão logo sua hesitação surgiu, ele dirigiu-se a ela:
_ E você, Alteza, siga com eles. É de você principalmente que estão atrás, e eu e a Sari não vamos conseguir desviar o faro dos bichinhos por muito tempo. Vai nos facilitar um bocado se você deixar nós dois sozinhos dessa vez. Sari, tá pronta?
_ Ao seu comando, Zero.
Ele desviou a Unicórnio para a esquerda e abandonou o grupo, Sari com sua katana desembainhada à esquerda e ele cortando a frente da fileira, tendo desembainhado sua espada longa também. E o coração de Christabel endureceu-se; então, ele preferia a companhia da caçadora? Tanto melhor para ela; não precisava se arriscar. E Melissa gritou:
_ Anda, Christabel, com a gente! Assim que chegarmos na cidade, eu peço pra virem dar reforço! Não podemos demorar aqui!
Ela preferiu não responder. Estava indo para onde se propusera, onde finalmente recuperaria seu poder. Não tinha, mesmo, qualquer razão em especial para ficar para trás, e seguiu com os outros.
As presas dos lobos fechavam-se enquanto tentavam abocanhá-los, mas sempre que estavam à distância para morder um deles, a espada de Sari ou a de Zero os afastavam. O som da Unicórnio e a natureza voraz dos Ferais estavam fazendo com que a atenção dos monstros ficasse neles, mas Zero não estava se enganando.
_ Vamos ter que bagunçar um bocado pra dar tempo dos outros chegarem na muralha, Sari. Tem alguma idéia?
_ Tenho, sim. Me busque depois.
_ Buscar?
Sari saltou da moto sem maiores explicações, caindo sobre a alcatéia de lâmina em riste, enquanto Zero acabara de cortar a frente dos lobos.
Ela caiu sobre a cabeça do primeiro Feral com estrépito, atingindo com os dois pés e tombando-o de frente, ainda cheia da velocidade do deslocamento.
Em movimento ainda, ela rolou sobre um segundo lobo mais à direita, caindo sobre ele com seu cotovelo e rolando mais.
O terceiro lobo que ela pôde atingir foi com a katana, girando sobre si mesma enquanto praticamente toda a alcatéia passara.
O último dos Ferais que ela abateu na passagem foi ao pousar sobre sua coluna com os dois pés novamente, girando mais uma vez no ar para pousar de pé, a espada próxima ao solo e a matilha já começando a retornar, pisoteando uns aos outros no processo.
Sari conhecia bem o comportamento daquelas criaturas; mesmo que estivessem sob algum tipo de controle, sua natureza primordial não podia ser totalmente negada. Como antigos tubarões, eles atacariam mesmo seus pares se estivessem feridos, e ela ferira pelo menos quatro deles em sua passagem. Isso reduziria o número dos inimigos, ou era no que estava apostando.
Mas voltou-se para confronta-los. Havia muitos deles, e seria leviandade sua esperar que nenhum a atacasse enquanto Zero fazia a volta; então, ela se pôs em guarda, fitando os Ferais com um olhar frio.

Sunday, October 02, 2005

E aí, leitores? Sentiram saudades? ^^

Infelizmente, não deu pra fazer tudo o q eu tinha planejado esse domingo. Mas, não posso reclamar, não, foi um domingo maneiro do mesmo jeito...

Então, aproveitando o ensejo, continuemos com a história da Rainha. Hm, e falar nisso... estou muito acomodado. Preciso retomar a criação...

*resmunga resmunga*

Amplexos do Louco (resmungão)



XVIII – Volta Ao Lar



Pelas planícies, como uma onda escura precedendo a alvorada, as massas libertas das terras Além da Fronteira se espalhavam por onde podiam. Seres que tinham sido confinados desde sua chegada agora podiam vagar livremente pelo mundo. Só havia uma última tarefa, um modo de assegurar que poderiam ter sua liberdade de ir e vir para sempre; encontrar aquela que os mantivera tanto tempo aprisionados.
Mas havia mais oposição. Humanos haviam escapado de Melk, antes da queda da fortaleza; outros seres míticos viviam do outro lado, e não permitiriam que seus lares fossem tomados tão facilmente. Nem todos tinham recebido a mensagem de alerta de Mestre Dirceu, e nem todos que a tinham recebido levaram a sério a possibilidade da queda da fortaleza de Melk, que sempre existira e sempre existiria, de acordo com suas crenças. Ainda assim, as cidades e vilas que tombaram não deixaram de derrotar alguns entre a leva de criaturas agora a solta.
Distante dali, ainda nas profundezas das terras Além da Fronteira, Ahl-Tur estava tendo dificuldades. Retornara de sua missão, embora não parecesse de fato uma vitória. Apenas ele e Kayla tinham retornado de Melk, e ela não fizera qualquer tentativa de esconder seu ressentimento. Ydian, o Velho, e Tark-Esh tinham sido destruídos por míseros humanos, e Tur levara tempo demais para cumprir sua parte da tarefa, supostamente a mais simples. Os demais Arcanos agora estavam com ela e contra Tur, que ainda não se refizera dos danos sofridos enquanto alcançava o Amplificador. Sua magia não retornara por completo, nem sua perna se curara, e agora três Arcanos o estavam atacando em conjunto.
Ahl-Tur barrou a onda de magia com suas duas mãos, e a Onda Explosiva passou por ele, destruindo as paredes à sua esquerda e direita. E praguejou; não havia como os outros não terem percebido.
_ As duas mãos, mestre Tur? – Kayla perguntou em tom provocativo – Antigamente, apenas uma de suas mãos seria o bastante, e usaria a outra para nos punir. Não?
_ Aproxime-se... e descubra por si mesma, se ousar – ele rosnou em resposta.
_ Vai pagar por sua negligência – um outro Arcano, Jer-El, que estava entre os três atacantes, bradou – Dois dos nossos melhores guerreiros morreram por sua lentidão, Ahl-Tur, e o mesmo se daria com Kayla se não fosse habilidosa o bastante para...
_ Pare de bajular Kayla, seu tolo – Tur interrompeu com desdém – Não sei que tipo de coisas além do poder atraem essa fêmea, mas com certeza não devem ser cretinos que lambem suas botas.
_ Não pode com todos nós, ainda mais em suas condições, Tur!
O desafio viera de sua esquerda, e Ahl-Tur viu Dardos Incendiários disparados pelos seus dois flancos. Já sabia o que viria depois, e acertadamente adivinhou quando o trio tornou a ataca-lo com uma Onda Explosiva. Tempos diferentes de ataque, ele não teria como se defender de todos ao mesmo tempo. Era o que pensavam.
Com uma idéia baseada em sua última batalha contra Christabel, Tur girou seu corpo e lançou Garras de Escuridão para todos os lados, atacando os feitiços que caíam sobre ele ao invés de defender-se.
Os Dardos explodiram na metade do caminho, chamas e trevas espalhando-se por toda a volta, e o mesmo se deu com a Onda Explosiva.
Neste caso, no entanto, o Mestre dos Arcanos foi mais agressivo e dirigiu a maior parte de seu poder para adiante, tombando dois no trio que o atacara. Poupando apenas El, mas detendo-se diante dele com sua lâmina desembainhada.
_ V-você... não vai conseguir abater a todos nós...!
_ Talvez. Mas nada me impede de tentar.
“Já basta!”
Todos os Arcanos detiveram-se como estavam, uma vontade poderosa contendo-os na postura e situação que estavam. Mesmo Ahl-Tur.
_ M-mestre...
“Não me dei ao trabalho de revive-los de seus casulos para que matem uns aos outros. Espero ter sido claro o bastante.”
_ M-milorde... – Kayla balbuciou, sem desistir facilmente – Tur... está tentando nos matar a todos. É a única explicação... para as mortes em Melk...!
_ E desde quando se importam tanto uns com os outros... Kayla? – retrucou Tur, mantido paralisado diante de Jer-El e com a espada em riste – Recordo-me de você repetindo que Esh era um imbecil convencido, e que Ydian já tinha vivido mais do que era necessário...
“Eu disse que já basta – a voz do grande ídolo de pedra ressoou pela caverna como um trovão – Não tornarei a repetir”
Nenhum dos Arcanos tornaria a se manifestar naquele momento, mas a má vontade de um para outro era palpável no ar. E a figura de pedra tornou a falar:
“Nossa missão deveria ter sido simples, Tur. Você disse que os três, dando-lhe cobertura, seriam suficientes para abrir os portões sem maior alarde. Deve explicações a todos”
_ Com o devido respeito, senhor... não devo coisa alguma a quem seja.
Não poucos entre eles surpreenderam-se com tamanha temeridade. Aquilo não era forma de se dirigir ao seu criador. E a figura imensa parecia pensar da mesma forma.
“... Está abusando de seu valor. Você é o Mestre dos Arcanos, é verdade, mas ninguém é insubstituível. Nem mesmo você.”
_ Sei muito bem disso... – Tur replicou – mas não serei questionado por uma falha de desempenho da qual não sou responsável.
_ S-sua avaliação foi errônea! – Jer-El gritou onde estava, olhando temeroso para o Arcano diante de si – Você disse que... quatro de nós seriam suficientes para lidar com os humanos da fortaleza...!
_ Minha avaliação foi perfeita – Ahl-Tur cortou friamente – Eu os alertei para não baixarem sua guarda. Embora fracos, os humanos de Melk têm sido testados por batalhas durante sua vida inteira, e estavam em número muitíssimo maior do que o nosso. Inferiores, talvez, mas estavam lutando a sério, por suas vidas. Esh foi imbecil o bastante para tratar a invasão como uma brincadeira, e Ydian obviamente cometeu o mesmo engano. E, julgando pelas condições nas quais Kayla retornou, ela teve muita sorte.
_ Você devia ter destruído a barreira de uma vez! – gritou Kayla de onde estava.
_ E foi o que fiz, quando pude chegar a ela – ele respondeu simplesmente – O volume da magia protetora se adensava na proporção em que me aproximei do engenho. E isso é a única coisa que admito não ter antecipado.
A disposição mudara um pouco no ambiente. Os outros Arcanos continuavam como sempre haviam sido, hostis uns com os outros... mas não havia como não admirar em nada o líder deles, por ter tido a desenvoltura de falar ao mestre de todos daquela forma. Mesmo a figura de pedra parecia impressionada.
_ Ao invés de aceitar uma reprimenda, eu aproveito essa ocasião para salientar o que já disse antes – Ahl-Tur gostaria de ter podido olhar ao redor, para todos que o cercavam, ao invés de apenas fitar Jer-El – Não... subestimem... os humanos. É verdade, as forças deles são desprezíveis comparadas às nossas. Mas os seres que vivem neste mundo são muito diferentes daqueles que viviam na época de nosso exílio. Alguns, inclusive, têm uma vontade que rivalizaria com a nossa, se tivessem nosso poder. Não se intimidarão diante de coisa alguma.
Kayla foi forçada a recordar-se do humano que a confrontara. Ele não trazia temor algum nos olhos. Cansaço, uma estranha resignação quanto a enfrentar um oponente superior, mas não o antigo temor supersticioso da época em que ela era uma infante. Talvez, afinal, a culpa não fosse apenas de Tur...
Todos sentiram que podiam se mover. E a voz da figura de pedra tornou a falar:
“Ouçam com maior atenção ao que Ahl-Tur diz. O mundo agora estará preparado para nós. Não tornem a subestimar seus adversários, e talvez retornem para dar seu testemunho. Agora, preparem-se para partir. Nossos rivais nos aguardam, e não pretendo que fiquem com o que me pertence por direito.”
Ahl-Tur guardou sua espada assim que pôde se mover, embora Jer-El ainda tivesse olhado para ele sem se mover por mais alguns instantes. Era verdade que ele precisava se recuperar depressa, e começou a se afastar dos demais no salão. Precisaria de seu corpo físico restaurado para que o seu eu espiritual...
_ Você mostrou muita ousadia.
Ele voltou-se. Kayla, parada atrás dele, com suas lâminas em mãos. Mas não havia atitude hostil nela, apenas um brilho no olhar que ele não reconhecia.
_ Você também. Sugiro que lembre-se do quanto é perigoso desafiar seu líder numa próxima ocasião. Não sou tão simples de se eliminar.
_ Não tornará a acontecer... meu líder.
Ela curvou a cabeça e se retirou, e Tur ficou mais confuso do que sua expressão demonstrava. Era respeito de fato o que vira nos olhos dela? Realmente, nunca entenderia as fêmeas.