Sunday, November 28, 2004

Olá, possíveis leitores! O possível autor voltou - sabe Deusmon por quanto tempo - pra terminar outro capítulo daqui;

Nossa Rainha é o máximo, e sabe disso. Mas... até ela precisa lembrar q é humana de vez em quando.

Amplexos, galera, e até a próxima. Espero q gostem

(...)

De volta ao acampamento, Christabel estava caída. Ofegava pesadamente, grata por estar sozinha. Olhou em volta novamente, confirmando que estava sozinha ali, e então dolorosamente pôs-se de pé. Sua cabeça doía muito, e agora seu peito parecia doer também, como se mesmo respirar fosse doloroso... Sua concentração falhava, cada pensamento seu parecia trazer dor, e não apenas o esforço de trazer sua magia de volta. A mão da espada tremia com o esforço tremendo, quase parecendo não ter forças para erguer a lâmina. Em seu rosto, no entanto, havia um sorriso difícil e esforçado de satisfação.
“Agora... c-consegui! Malditos... Estarei p-pronta quando vierem...!”
Christabel sentia como se cada instante consciente fosse mantê-la em dores. Precisava desmaiar por algum tempo, talvez isso a fizesse sentir-se melhor, mas... Tinha conseguido! Precisava fazer mais uma vez, como uma criança que aprende a andar de bicicleta, ou saltar de um degrau a mais da escada, tinha que fazer de novo para convencer a si mesma que conseguia! Ela ficou de pé, cambaleando, o corpo balançando enquanto se firmava, a espada firme em sua mão... Era tão difícil...!
Despertou de repente, o semblante preocupado de Zero sobre ela enquanto passava algo frio em sua fronte. Sobressaltou-se e ficou sentada de pronto, embora o movimento brusco tenha lhe causado um espasmo de dor na cabeça.
_ O que pensa que está...? Ahhh...!
_ Psssh, calma – Zero a fez deitar-se novamente, firme mas gentilmente – Se empolgou um pouco demais com o treinamento, eu acho. Te encontramos caída e desmaiada no começo da tarde, Christie, e eu tava começando a ficar preocupado. Briguei com a sua febre a tarde inteira, mas me animei um pouquinho quando ela baixou. Me deixou preocupado, menina.
Ela se sentiu um pouco desconfortável, sem saber bem porquê. Desviou o rosto, um tanto sem jeito, e retrucou:
_ Estou bem agora. Pode se afastar.
_ Se estivesse, não ia ter sentido dor de cabeça de novo – Zero a ignorou – Fica parada mais um pouco, e bebe um pouco disso, anda.
Um caneco com um líquido esverdeado claro fumegava diante de Christabel, e ela não gostou daquilo. O cheiro do vapor não a agradava.
_ Isso está ruim. O que é?
_ Um chá de ervas. Bom pra quem tá sentindo dores. E você não pode dizer que é ruim se ainda não tomou.
_ Não pode me obrigar a beber isso – ela olhou para ele com ar rebelde, e então virou o rosto.
_ Agora escuta aqui mocinha – ela surpreendeu-se quando Zero, sem qualquer cerimônia, fez seu rosto voltar-se para ele de novo, e mais ainda com seu tom de voz e atitude. Não parecia em nada com a paciência de até então – Eu fiquei aqui a tarde inteira, dei um trampo danado pra baixar sua febre e não tô a fim de aturar birra de criança mimada, não!
_ Quem está chamando...?
_ Quieta! – Christabel arregalou os olhos, e Zero estendeu o caneco para ela novamente – Tá aqui! Não é gostoso, mas é muito bom pra dores! Agora, senta direito, bebe todo esse chá enquanto tá quente, e sem dar um pio!
Mecanicamente, sentindo uma atitude paternal tão forte em Zero que não parecia possível contrariá-lo, Christabel segurou o caneco com as duas mãos, bebeu o conteúdo e franziu o rosto. Era amargo, pior do que café sem açúcar, e parecia murchar sua boca por dentro onde tocava. Mas ela bebeu tudo, para não ter que repetir a experiência, e depois entregou o caneco com ar contrariado para Zero, e sem dizer palavra. E ele sorriu serenamente, satisfeito.
_ Pronto! Viu só? Não foi tão difícil. Agora deita um pouco, e fecha os olhos. Acho que o chá pode te dar um pouco de sono, mas pela manhã você não vai sentir mais dores, e vai poder treinar outra vez se quiser.
_ Eu já... descansei o bastante – ela protestou, enquanto ele a fazia deitar-se – Tenho que voltar a praticar...
_ Não teima comigo – ele retrucou, olhando novamente para ela com ar severo – Você deve ter forçado pra caramba os seus limites, treinando até tombar. Sua vontade é muito forte, Christabel, mas seu corpo tem limites que você tem que respeitar. Precisou de boa parte do dia só pra recuperar a condição mínima; tem que descansar mais pra ficar forte. Amanhã, se quiser, pode voltar a treinar o dia inteiro. Acho que, se fizer o mesmo nível de esforço, seu corpo não deve estranhar tanto. Mas hoje, você vai fazer o que eu tô dizendo.
Ela continuou a olhar rancorosamente para ele. Estava fora de seu lar e seu trono, mas ainda era Christabel, a Rainha de Melk. E não gostava do que Zero estava fazendo.
_ Não sigo ordens de ninguém... Mestre Zero. Não gosto que me obriguem a nada.
_ E é por isso que vai me ouvir – ele tornou, teimosamente – Faça como eu tô dizendo agora, e pela manhã deve estar melhor, e vai poder agir como bem entender. Me ignore, e faça como quiser, e amanhã vai estar tão fraca que não vai ter qualquer escolha, a não ser ficar contrariada enquanto eu te proíbo de praticar por uma semana, no mínimo. A escolha é sua, Majestade. Vai agir feito criança ou adulta?
Por ela, Christabel continuaria teimando se pudesse, mas estava começando a aprender a sentir a verdade apenas com seu bom senso, sem depender de seu poder para enxergar as intenções das pessoas, e sabia que Zero tinha razão. Se queria se livrar do protecionismo incômodo dele, era melhor se conformar e descansar por aquela noite. Não parecia uma perda tão grande, levando em conta que continuava exausta, apesar do tempo em que estivera inconsciente, e que o chá já começava a deixa-la sonolenta. Procurou ao redor, então.
_ Minha espada.
_ Tá aqui – Zero sorriu carinhosamente para ela, colocando o punho da lâmina em suas mãos – Vou te deixar sozinha agora, pra dormir mais à vontade, mas vamos estar todos bem perto se você precisar, tá bom?
Christabel deu-lhe as costas, cobrindo-se sem responder. E ouviu Zero levantar-se, e então se afastar, fazendo pouco ruído enquanto se reunia aos demais. Apertou o punho da espada entre seus dedos, sentindo-se melhor de fato. Ele podia ser importuno, inconveniente e insolente para com ela... mas, Christabel admitiu a contragosto, parecia preocupado com seu bem estar.
“Por quê? O que espera de mim?”
Olhou para as mãos juntas, e o punho da espada entre elas. Fazia muito tempo que não se sentia daquela forma... Muito tempo desde que alguém tinha realmente cuidado dela... Até mesmo dado ordens a ela, como Zero tinha feito. Desde que assumira seu lugar de direito, as pessoas tinham medo de contrariá-la porque temiam seu poder. Com aquela tiara presa nela, no entanto, Zero...
“Não... Isso não tem nada a ver com a tiara... Ele já não tinha medo de mim antes.”
Por vezes, enquanto ainda estavam em Melk, Zero quase parecia estar provocando-a de propósito, e ela então estava de plena posse dos seus poderes. Christabel estava se policiando, tentando não se habituar a um tratamento que não teria sempre, mas não conseguia ignorar a atenção que estava tendo por parte de Zero.
Voltou-se, sabendo que estava sozinha. Podia ouvir as vozes dos outros conversando. Parecia-lhe ouvir outra voz, desconhecida, mas sua atenção voltou-se para o caneco vazio que Zero deixara ali. Aquilo tinha realmente um gosto horrível! Cobrindo um pouco seu rosto, Christabel sorriu levemente enquanto fechava os olhos e murmurava:
_ Idiota...

Thursday, November 18, 2004

Hora de mais, gente! De volta outra vez (agora q deu ânimo), Louco tá de volta pra contar um pouco mais da história da Rainha e seus companheiros, e como catzo o Religioso Irmão Laírton se juntou a eles.

Sirvam-se... e espero q os acentos apareçam direito dessa vez. Ou eu vou ter q engrossar. ^_^

(...)

Logo estavam sentados no bar de Garland, uma instalação pequena e não muito limpa, mas com a privacidade garantida por seu proprietário, que era um grande amigo do Religioso depois que este lhe prestara um importante serviço.
_ Curei a esposa dele há algum tempo atrás, quando cheguei a Garland – comentou Laírton com ar distraído – Foi muito útil para vencer a resistência do povo; eram muito apegados ao Irmão José, meu predecessor, e achavam que eu bebia demais.
_ Parece que ainda acham, pelo que eu vi – comentou Zero – Aquela moça, a Paula, não gostou muito quando o senhor começou a cantar.
_ Ah, então foi naquele momento que me viu, Zero? – Laírton sorriu – Paula, receio, é uma das almas que relutam muito em procurar por luz. Ela gosta de tristeza, escuridão, pensamentos tristes... e também de dormir demais. Por isso, às vezes de propósito, acabo por aborrece-la quando trago alguma alegria à sua vida. Pessoas entristecidas não gostam muito daqueles que se alegram.
_ Mas, Irmão – Melissa olhou com ceticismo para Laírton, que parecia estar bebendo água ao invés de vinho – Eu... Bem, espero que me perdoe por dizer isso, mas... imaginei que a Ordem dos Religiosos fosse mais séria, solene... O senhor, desculpe por dizer...
_ Não sou exatamente a imagem que se tem de um Irmão, não é verdade? – Laírton sorriu ainda mais amplamente para Melissa – Heh... É o mesmo que meus superiores diziam; foi a razão de eu ter vindo parar em Garland quando deveria ter sido designado para algum grande centro urbano como Braz ou Cidade de André, acredito. Mas, a meu ver, Nosso Senhor é o criador da alegria, da felicidade, e o melhor agradecimento que podemos dar a Ele é nós mesmos demonstrarmos tal alegria. Seriedade excessiva, semblantes severos, aquelas alcovas escuras... – o rosto dele era cheio de reprovação – Aquilo não se parece com Nosso Senhor, de maneira nenhuma!
_ D-desculpe – Melissa ficou ainda mais constrangida, mas Laírton ergueu a garrafa numa saudação, antes de servir-se de mais uma dose de vinho.
_ Não precisa se desculpar, Melissa! Ao contrário, gosto de ver gente assim, que diz o que pensa, sem reservas! Por Deus, se gosto! Todos à nossa volta parecem sempre se mascarar, fingindo ser o que não são e ocultando seus pensamentos! É uma ótima coisa ver gente franca, se não é!
_ Valeu! – Zero sorriu amplamente e bateu seu caneco no de Laírton – É isso aí, gostei! Sinceridade é muito melhor!
_ Por favor, falem mais baixo – Daniel pediu, olhando em volta – Estamos tentando não chamar atenção, lembram?
_ Ah, claro... – Laírton baixou a garrafa, voltando seu olhar para Zero – Então, como eu ia dizendo, espectros são seres das trevas, demônios nascidos de ressentimento e de espíritos que, vivos, eram indulgentes e mergulhados na auto-piedade. Por vezes essas almas se auto-destroem, culpando sempre o mundo por tudo o que fazem, e não fazem, e muito rancor e mágoa os acompanham. É desses elementos que espectros, um dos tipos de demônio não-corpóreo mais poderosos, se formam. Exatamente por essa natureza escapista, eles costumam ser covardes, nunca atacando abertamente. Preferem invadir sonhos e alimentar temores, buscando tornar pessoas vivas no que suas bases eram, depressivas e entristecidas.
_ Uau! – Zero admirou-se – O senhor sabe bastante sobre essas coisas, Irmão!
_ Sim, claro – Laírton fez um gesto de pouco caso – Aprende-se sobre essas aparições muito cedo em minha Ordem. A propósito... Pare de me chamar de ‘senhor’, menino! Não sou tão mais velho que você!
_ Ah, tudo bem – Zero sorriu mais abertamente – Sei como é que é isso; ficavam me chamando de ‘mestre’ não faz muito tempo, e isso...
_ Zero, espere um momento – Melissa interrompeu, olhando com seriedade para Laírton – Nos disse que os espectros normalmente não atacam abertamente, Irmão. Aquele que incorporou-se no espantalho, no entanto...
_ Sim, aquele era um caso diferente – Laírton pareceu mais sério, servindo-se de mais vinho e tomando um gole respeitável antes de responder – Não é muito comum que um espectro sirva a alguém; presumo que também venha da natureza auto-indulgente de seus espíritos formadores. Apenas magos com muito poder conseguem dominar a força para controlar um espectro. Mas, um espectro com poder para assumir uma forma física, e manipular os mortos...!
Laírton bebeu o que restava em seu caneco, e então olhou severamente para o trio de viajantes, perguntando com voz baixa:
_ Nenhum de vocês tem qualquer obrigação em responder, claro, mas eu gostaria de saber: há alguma maldição pairando sobre suas cabeças? Não sei, vocês violaram algum cemitério, ou atraíram a cólera de alguém muito importante... Algo desse tipo? Porque apenas um inimigo muito poderoso teria condições de usar um espectro daqueles como serviçal.
Daniel, Melissa e Zero se entreolharam, indecisos, sem saber a princípio se deveriam ou não contar a Laírton sobre o que estava acontecendo. Zero, particularmente, sentia que precisava preservar o segredo de Christabel tanto quanto pudesse, mas...
_ Pode guardar segredo, Irmão? Acho que não seria bem uma confissão, mas é uma coisa meio pessoal da gente, sabe?
Laírton olhou com severidade para o trio, e Zero acabou sorrindo. Ele obviamente achava que tinham feito algo de muito errado.
_ Se vocês transgrediram a lei, de algum modo...
_ De certa forma sim, Irmão – Daniel e Melissa olharam indagadoramente para Zero, que não fez conta deles – Mas dessa vez, era a coisa certa a fazer. Olha, eu vou te fazer um resumo da ópera...
E então ele contou a Laírton tudo a respeito de sua ida para Melk, do trabalho que lá fizera e dos acontecimentos mais recentes, com a tentativa de assassinato de Christabel e do que estavam tentando fazer. Daniel particularmente estava um pouco cético se deveriam realmente falar de seus problemas tão abertamente com um estranho, mas era difícil para ele imaginar um Religioso trabalhando com os conspiradores de Melk. Ele poderia fingir ser um membro da Ordem, claro; seu comportamento era um tanto incomum, comparando-o com o quase sacrossanto Irmão Cristóvão de Melk. Mas um farsante não teria conseguido repelir aquele demônio como Laírton havia feito. E o Religioso ouviu Zero em silêncio, sem interromper nem uma vez. Ao final do relato, ele fitou Zero com seriedade e perguntou:
_ Por quê está ajudando a Rainha Christabel, então? Pelo pouco que pude compreender, ela não parece apreciar a companhia de vocês, nem tem qualquer gratidão por terem salvo sua vida.
_ Não tô nessa por gratidão, Laírton – Zero retrucou seriamente – e aliás, enquanto Irmão, você devia incentivar essas atitudes.
_ E incentivo. Mas esse tipo de atitude é infelizmente muito raro hoje em dia.
_ Pra falar a verdade – Zero deu de ombros – eu também não posso explicar muito bem. Mas não achei legal, e me mexi.
_ Mesmo sabendo que outros, tão perigosos quanto o tal Arcano de quem falou ou até piores, virão atrás de vocês? Há criaturas muito piores, ao que parece, não restritas pela Fortaleza de Melk – e voltou-se para Melissa – Aqueles zumbis de hoje podem ter sido apenas o princípio de algo muito mais aterrador.
Melissa involuntariamente estremeceu, e Daniel apertou sua mão.
_ Com o devido respeito, Irmão, mas como pode ser possível que haja criaturas deste lado dos muros? Nós lutamos todos os dias para impedir isso...
_ Há muito mais acontecendo do que vocês têm idéia, caro Daniel, se há perseguidores à sua Rainha mesmo aqui – Laírton comentou, olhando para o soldado enquanto enchia novamente o seu caneco – Há rumores, lendas que nossa Ordem guarda desde a época anterior às Mudanças sobre criaturas fantásticas, nem todas elas bondosas ou honradas, despertas recentemente. Há muito que eu não tenho permissão de falar em regime aberto... Restrições da Ordem, entendam... Mas creio que estarão indefesos mais adiante. Se o que me contaram é verdade, e acredito que seja, os conspiradores humanos serão seu menor problema daqui para frente.
O trio de viajantes ficou em silêncio. Daniel não estava muito preocupado com aquilo por si; um soldado da fortaleza de Melk convivia com a idéia de ameaça, luta diária pela vida contra seres não humanos e eventual morte todos os dias de sua existência. Estava preocupado com Melissa e Zero, no entanto. E o mecânico, após o instante de silêncio, perguntou:
_ Tem alguma sugestão pra nós então, Irmão? Porque eu não pretendo dar pra trás agora; já me comprometi. E acho que falo por todos. Tem alguma forma de lutar com essas coisas?
_ Na verdade sim – ele respondeu, sorrindo então para o trio – Tenham um Religioso em seu grupo. Ele deve ser capaz de ajuda-los se depararem com tais tipos de demônios.