Nossa Rainha é o máximo, e sabe disso. Mas... até ela precisa lembrar q é humana de vez em quando.
Amplexos, galera, e até a próxima. Espero q gostem
(...)
De volta ao acampamento, Christabel estava caída. Ofegava pesadamente, grata por estar sozinha. Olhou em volta novamente, confirmando que estava sozinha ali, e então dolorosamente pôs-se de pé. Sua cabeça doía muito, e agora seu peito parecia doer também, como se mesmo respirar fosse doloroso... Sua concentração falhava, cada pensamento seu parecia trazer dor, e não apenas o esforço de trazer sua magia de volta. A mão da espada tremia com o esforço tremendo, quase parecendo não ter forças para erguer a lâmina. Em seu rosto, no entanto, havia um sorriso difícil e esforçado de satisfação.
“Agora... c-consegui! Malditos... Estarei p-pronta quando vierem...!”
Christabel sentia como se cada instante consciente fosse mantê-la em dores. Precisava desmaiar por algum tempo, talvez isso a fizesse sentir-se melhor, mas... Tinha conseguido! Precisava fazer mais uma vez, como uma criança que aprende a andar de bicicleta, ou saltar de um degrau a mais da escada, tinha que fazer de novo para convencer a si mesma que conseguia! Ela ficou de pé, cambaleando, o corpo balançando enquanto se firmava, a espada firme em sua mão... Era tão difícil...!
Despertou de repente, o semblante preocupado de Zero sobre ela enquanto passava algo frio em sua fronte. Sobressaltou-se e ficou sentada de pronto, embora o movimento brusco tenha lhe causado um espasmo de dor na cabeça.
_ O que pensa que está...? Ahhh...!
_ Psssh, calma – Zero a fez deitar-se novamente, firme mas gentilmente – Se empolgou um pouco demais com o treinamento, eu acho. Te encontramos caída e desmaiada no começo da tarde, Christie, e eu tava começando a ficar preocupado. Briguei com a sua febre a tarde inteira, mas me animei um pouquinho quando ela baixou. Me deixou preocupado, menina.
Ela se sentiu um pouco desconfortável, sem saber bem porquê. Desviou o rosto, um tanto sem jeito, e retrucou:
_ Estou bem agora. Pode se afastar.
_ Se estivesse, não ia ter sentido dor de cabeça de novo – Zero a ignorou – Fica parada mais um pouco, e bebe um pouco disso, anda.
Um caneco com um líquido esverdeado claro fumegava diante de Christabel, e ela não gostou daquilo. O cheiro do vapor não a agradava.
_ Isso está ruim. O que é?
_ Um chá de ervas. Bom pra quem tá sentindo dores. E você não pode dizer que é ruim se ainda não tomou.
_ Não pode me obrigar a beber isso – ela olhou para ele com ar rebelde, e então virou o rosto.
_ Agora escuta aqui mocinha – ela surpreendeu-se quando Zero, sem qualquer cerimônia, fez seu rosto voltar-se para ele de novo, e mais ainda com seu tom de voz e atitude. Não parecia em nada com a paciência de até então – Eu fiquei aqui a tarde inteira, dei um trampo danado pra baixar sua febre e não tô a fim de aturar birra de criança mimada, não!
_ Quem está chamando...?
_ Quieta! – Christabel arregalou os olhos, e Zero estendeu o caneco para ela novamente – Tá aqui! Não é gostoso, mas é muito bom pra dores! Agora, senta direito, bebe todo esse chá enquanto tá quente, e sem dar um pio!
Mecanicamente, sentindo uma atitude paternal tão forte em Zero que não parecia possível contrariá-lo, Christabel segurou o caneco com as duas mãos, bebeu o conteúdo e franziu o rosto. Era amargo, pior do que café sem açúcar, e parecia murchar sua boca por dentro onde tocava. Mas ela bebeu tudo, para não ter que repetir a experiência, e depois entregou o caneco com ar contrariado para Zero, e sem dizer palavra. E ele sorriu serenamente, satisfeito.
_ Pronto! Viu só? Não foi tão difícil. Agora deita um pouco, e fecha os olhos. Acho que o chá pode te dar um pouco de sono, mas pela manhã você não vai sentir mais dores, e vai poder treinar outra vez se quiser.
_ Eu já... descansei o bastante – ela protestou, enquanto ele a fazia deitar-se – Tenho que voltar a praticar...
_ Não teima comigo – ele retrucou, olhando novamente para ela com ar severo – Você deve ter forçado pra caramba os seus limites, treinando até tombar. Sua vontade é muito forte, Christabel, mas seu corpo tem limites que você tem que respeitar. Precisou de boa parte do dia só pra recuperar a condição mínima; tem que descansar mais pra ficar forte. Amanhã, se quiser, pode voltar a treinar o dia inteiro. Acho que, se fizer o mesmo nível de esforço, seu corpo não deve estranhar tanto. Mas hoje, você vai fazer o que eu tô dizendo.
Ela continuou a olhar rancorosamente para ele. Estava fora de seu lar e seu trono, mas ainda era Christabel, a Rainha de Melk. E não gostava do que Zero estava fazendo.
_ Não sigo ordens de ninguém... Mestre Zero. Não gosto que me obriguem a nada.
_ E é por isso que vai me ouvir – ele tornou, teimosamente – Faça como eu tô dizendo agora, e pela manhã deve estar melhor, e vai poder agir como bem entender. Me ignore, e faça como quiser, e amanhã vai estar tão fraca que não vai ter qualquer escolha, a não ser ficar contrariada enquanto eu te proíbo de praticar por uma semana, no mínimo. A escolha é sua, Majestade. Vai agir feito criança ou adulta?
Por ela, Christabel continuaria teimando se pudesse, mas estava começando a aprender a sentir a verdade apenas com seu bom senso, sem depender de seu poder para enxergar as intenções das pessoas, e sabia que Zero tinha razão. Se queria se livrar do protecionismo incômodo dele, era melhor se conformar e descansar por aquela noite. Não parecia uma perda tão grande, levando em conta que continuava exausta, apesar do tempo em que estivera inconsciente, e que o chá já começava a deixa-la sonolenta. Procurou ao redor, então.
_ Minha espada.
_ Tá aqui – Zero sorriu carinhosamente para ela, colocando o punho da lâmina em suas mãos – Vou te deixar sozinha agora, pra dormir mais à vontade, mas vamos estar todos bem perto se você precisar, tá bom?
Christabel deu-lhe as costas, cobrindo-se sem responder. E ouviu Zero levantar-se, e então se afastar, fazendo pouco ruído enquanto se reunia aos demais. Apertou o punho da espada entre seus dedos, sentindo-se melhor de fato. Ele podia ser importuno, inconveniente e insolente para com ela... mas, Christabel admitiu a contragosto, parecia preocupado com seu bem estar.
“Por quê? O que espera de mim?”
Olhou para as mãos juntas, e o punho da espada entre elas. Fazia muito tempo que não se sentia daquela forma... Muito tempo desde que alguém tinha realmente cuidado dela... Até mesmo dado ordens a ela, como Zero tinha feito. Desde que assumira seu lugar de direito, as pessoas tinham medo de contrariá-la porque temiam seu poder. Com aquela tiara presa nela, no entanto, Zero...
“Não... Isso não tem nada a ver com a tiara... Ele já não tinha medo de mim antes.”
Por vezes, enquanto ainda estavam em Melk, Zero quase parecia estar provocando-a de propósito, e ela então estava de plena posse dos seus poderes. Christabel estava se policiando, tentando não se habituar a um tratamento que não teria sempre, mas não conseguia ignorar a atenção que estava tendo por parte de Zero.
Voltou-se, sabendo que estava sozinha. Podia ouvir as vozes dos outros conversando. Parecia-lhe ouvir outra voz, desconhecida, mas sua atenção voltou-se para o caneco vazio que Zero deixara ali. Aquilo tinha realmente um gosto horrível! Cobrindo um pouco seu rosto, Christabel sorriu levemente enquanto fechava os olhos e murmurava:
_ Idiota...