Saturday, December 18, 2004

Apressadamente, já q minha irmã quer usar o computador, posto mais um pouquinho dessa vez... ^^'


(...)

_ Ah, claro – Laírton voltou-se para a Rainha, um pouco mais sério – Boa parte da credibilidade de nossa Ordem vem dos tempos antigos, quando ela era três religiões diferentes. Uma delas foi particularmente eficaz em convencer seus fiéis da não-existência dos seres lendários... mas, secretamente, tinha seus ‘caçadores de lendas’ espalhados pelos quatro cantos do mundo conhecido, procurando por qualquer sinal deles. Algumas vezes inclusive, se o que li for verdadeiro, destruindo-os quando os encontravam.
_ Não... – Sari murmurou, incapaz de se conter. E Christabel cruzou os braços, com seu costumeiro ar de desdém.
_ Como ele já disse, isso foi antigamente, caçadora. Não acredito que precise temer por sua vida.
_ Christie... – Zero interrompeu, olhando com reprovação para a Rainha, mas Laírton não deixou de notar o sentido do que Christabel estava dizendo.
_ Como disse, Majestade? A jovem caçadora é um...?
_ Sari é minha amiga, Laírton – Zero tomou a frente da moça, protetoramente, diante dos olhos do Religioso – Não dá atenção pra Christabel, ela fica perturbando Sari por ser uma vampira.
_ Uma...? – Laírton ficou visivelmente alarmado, mas Zero estava ocupado demais para se explicar naquela hora, fitando Christabel com severidade.
_ Eu disse uma vez e repito, Christabel: pra quem conhece a bobagem das maiorias, você toma parte delas com muita facilidade. Esperava mais de alguém que sabe o que é discriminação.
_ Eu não disse nenhuma inverdade – Christabel olhou para ele teimosamente – Além disso, você por certo não pretendia ocultar isso do Irmão, não?
_ Não que seja da sua conta, mas não; só ia deixar ele terminar de contar a história dele primeiro.
_ Está tudo bem, Zero – Sari olhou rancorosamente para Christabel – Posso me defender sozinha.
_ Eu duvido muito – Christabel encarou Sari em resposta, mas Zero se pôs entre as duas.
_ Mas nós não vamos descobrir hoje, e nem em dia nenhum em que vocês estiverem comigo – olhou para Sari, e mais demoradamente para Christabel – Estamos viajando juntos, Christie, e ia ser muito mais fácil e menos chato pra todo mundo se você parasse de bancar a criança mimada e desse um tempo pra Sari. Você sabe muito bem o que é ter algo de que não se gosta de comentar, não sabe? Ia achar legal se a gente ficasse falando nisso e tirando sarro o tempo todo?
Christabel nem sequer pensou em ignorar desta vez; claro que ela também tinha sua veia sensível, e pareceu-lhe que Zero estava pronto para falar diante dos outros, e sua mão desceu até a bainha em sua cintura.
_ Não se atreveriam.
_ Não, não mesmo – Zero concordou, acenando com a cabeça, mas mantendo nela o olhar duro – Porque a gente não vê graça em ficar chateando amigos desse jeito. Não faz com os outros o que não quer que te façam, e a gente vai se dar bem. Se você quer agir do mesmo jeito que os idiotas que te incomodavam em Melk, tudo bem, é problema seu, mas faz isso quando estiver sozinha. Viajando comigo não.
Christabel fulminou Zero com seu olhar, mas ele já não estava lhe dando atenção, voltando-se para Laírton como quem pedia desculpas.
_ Olha, Laírton, sobre a Sari...
_ Não precisa se explicar ou desculpar, Zero – Laírton sorriu bondosamente – Não sou um caçador dos tempos antigos em nome da Igreja, nem procuro destruir o que não compreendo – e sorriu para Sari – Tem muita sorte, menina. Não acredito que uma criatura das trevas tivesse uma defesa tão fervorosa. Será uma honra viajar ao lado de alguém tão bem querida. Mas, se não se importa, gostaria que me contasse algo sobre sua condição mais tarde; confesso que como um interessado no assunto, estou curioso.
Ela acenou afirmativamente, parecendo um pouco surpresa, e Christabel olhou para Laírton como se perguntasse que tipo de Religioso ele era, aceitando tão facilmente alguém como Sari entre eles. Mas ele resumiu-se a continuar explicando:
_ A partir daqui, só posso oferecer conjecturas, porque é isso o que a Ordem tem. A situação atual do nosso mundo é uma tentativa de se acostumar com a nova condição, e todos buscam conseguir garantir sua própria posição e lugar neste novo cenário: magos não pretendem deixar a magia desaparecer novamente; Escavadores pretendem trazer de volta o que foi perdido com os Tempos de Provação, e cientistas e engenheiros os estão ajudando tanto quanto possível, ansiosos por reaver a tecnologia perdida e reinventar a ciência; há cidades bélicas, onde forças militares estão aos poucos se firmando para então espalhar-se pelo mundo, ao mesmo tempo parecendo com o mundo medieval e o moderno... Naturalmente, se os vários grupos de seres humanos estão se esforçando de tal forma, é de se supor que também aqueles que perderam o lugar e o espaço no mundo tentem o mesmo. E, como os humanos, nem todos os lendários habitantes de nossa terra são de índole bondosa; querem agarrar sua chance como puderem. Irão à guerra por isso, se necessário.
Os olhares agora eram sérios, mesmo o de Christabel. Laírton podia estar apresentando apenas uma suposição, mas era muito bem fundamentada para não se levar em conta.
_ E como me encaixo nisso? – perguntou a Rainha, embora ela já imaginasse o que Laírton diria.
_ Como deve poder supor, Majestade, a maioria destes seres é altamente dotada em magia. Cada um deles em sua própria especialidade, alguns deles com seus desafetos particulares por algo do passado. E todos tentando conseguir a supremacia. Antigamente, quando os humanos surgiram, parecia improvável que tivessem qualquer espaço de respeito entre eles, e hoje... Bem, há muitos mais de nós no mundo.
Todos olharam para Laírton, como que sem entender, e ele prosseguiu:
_ Os poderes entre eles são algo que equivalentes, segundo o que foi apurado. Quando lutam, formam terremotos, tornados, alterações climáticas e toda a sorte de ‘evento natural’. Portanto, aproveitam-se de qualquer vantagem extra que possam ter. Amuletos. Armas consagradas – voltou-se para Christabel – E magos humanos poderosos.
Todos os olhares se voltaram para Christabel, que perguntou em voz baixa:
_ Me ‘usariam’... como arma? Mas, se a fortaleza mantém os monstros das terras Além da Fronteira confinados no Ocidente...!
_ Não há como saber que tipo de seres havia do outro lado das cordilheiras, Christabel, ou se foram alterados de algum modo pelo que desceu dos céus no cataclisma. Mas, independente disto, haviam outros deste lado dos seus muros, também. E não tenho a menor dúvida de que um deles foi responsável pelo ataque aos seus amigos em Garland na tarde de ontem. Um muito habilidoso nas artes da Escuridão, julgando pelo que vi.
_ E está dizendo que havia outros seres deste lado da fortaleza de Melk o tempo todo...! – Daniel não podia se conformar – Mas então, por quê não se manifestam? Por quê só correm soltos nas terras do ocidente, Além da Fronteira?
_ Não o fazem, Daniel – Laírton disse em voz baixa – São mais discretos, talvez, nunca atacando abertamente quando sua existência pode ser conhecida por muitos humanos. Não ainda. Mas vilas pequenas em lugares ermos, grupos de viajantes não muito numerosos, caravanas à noite, ou no mar... Há muitas lendas e superstições dos tempos antigos que persistem até hoje, e a maioria das pessoas prefere crer que foram inventadas por alguém embriagado, porque não puderam ver com os próprios olhos. Os poucos que vêem e sobrevivem são desacreditados.
_ Espere um pouco, Laírton – Melissa pediu, parecendo preocupada – Você disse que eles atacam grupos não muito numerosos...
_ Como o nosso, sim – Laírton confirmou – De qualquer forma, no entanto, eu imagino que nos seguiriam, com Christabel presente. Entendam, por irônico que possa parecer, o lugar mais seguro para a Rainha era justamente no solo sagrado onde nasceu; de posse de seu próprio poder, cercada por seus guerreiros... e impedindo que as forças de Além da Fronteira, sejam quem forem, viessem ao continente, ela era uma arma formidável, mas fora de alcance. Pelo bem de todos, inclusive o deles, ela precisava ficar onde estava. Agora, no entanto, a situação mudou.
_ Agora ela não é mais empecilho aos que habitam Além da Fronteira – Sari murmurou pensativamente – E é de se imaginar que os seres de quem fala, Laírton, queiram conseguir uma vantagem como Christabel antes dos outros. Mas, da forma como falou, faz parecer que eles temem o que se esconde no ocidente.
_ Infelizmente, não há muito mais que eu possa revelar, porque não sei mais a respeito, Sari – Laírton acenou negativamente com a cabeça – Há rumores, no entanto, que algo inimaginável se oculta do outro lado das muralhas de Melk; algo que sujeitaria todas as demais forças à sua, se liberto. Um anjo caído dos céus, de poder inigualável.
_ Um ‘anjo caído’... – Christabel sentiu algo se agitar em sua mente, sem saber bem o por quê, como um pensamento familiar que não se reconhece. E Melissa então alarmou-se.
_ Mas então, se isso tudo for verdade, metade do mundo está atrás de nós! Humanos assassinos de Melk, os tais ‘seres míticos’ que moram deste lado das muralhas... e talvez, os que moram do outro lado também...!
Zero pôs a mão sobre o ombro da maga, tentando oferecer algum consolo, e ele então reparou no rosto de Christabel. Mesmo ele estava sentindo um pouco mais pesadamente o peso da responsabilidade, mas a Rainha estava sorrindo. Um sorriso que não parecia tão alegre, lembrando mais um desafio do que alegria... mas um sorriso, de qualquer maneira. E ela replicou com ar de superioridade, olhando para Melissa:
_ Verdade. Volto a me sentir em casa.

Thursday, December 09, 2004

Um Homem Bateu em minha porta e eu/a/bri...

Bicho, o q tá havendo comigo? Tô regredindo no tempo!!! Esses versos eram de uma cantiga de roda de faz miliano atrás...!

Deve ter a ver com gente q eu não via fazia tempo ressurgindo. Heh, daqui a pouco voltam a passar 'Ultra Seven' com a primeira dublagem, ou o Fantomas. Ou o Zillion!!

*suspiro* Pois é. Enquanto não rola isso, vai rolando mais um pouco da Christie.



XIV – Pequena Aula de História


Um vulto esquivo andava sob as sombras na Fortaleza de Melk. O lugar ficava diferente sem Christabel ali. Ele podia até mesmo ignorar o aparelho de medição que trazia consigo; era óbvio que o poder dela não estava presente. Havia, claro, a aura criada pelo Amplificador de Zero no subsolo, fazendo o poder da Barreira dela ressoar à volta deles como um véu, mantendo a esmagadora maioria dos inimigos de Além da Fronteira afastada dos muros.
“Mas sem sombra de dúvida, mesmo isso não bastará para afastar os Arcanos quando voltarem. Que seja. Me pergunto porquê estão demorando tanto...”
O vulto não estava, de qualquer forma, preocupado com se Melk sobreviveria ou não a um novo ataque liderado por Arcanos. Aquilo não era muito interessante, mas ao menos os eventos estavam encaminhados. Em pouco tempo, ele poderia sair para procurar pela Rainha.
Não desejava mal a qualquer um da fortaleza, em verdade. Nem mesmo à Rainha Christabel; ela era só uma ferramenta.
“Finalmente... os meios se aproximam de mim. Depois de tanto tempo...!”
Olhou para os céus, com anseio há muito reprimido. Tivera que aguardar ali, onde até mesmo os céus estrelados lhe eram negados; tudo o que havia eram as nuvens sombrias, impondo-se à paisagem odiosamente da mesma forma que Christabel até pouco tempo fizera aos cidadãos da fortaleza. Os ventos fortes e frios, trazidos das montanhas, pareciam sopra-las com velocidade incomum naquela noite, mas ele sabia de longa experiência que eles não bastariam. A presença ominosa das nuvens não poderia ser combatida por um estratagema dos conselheiros, ou mesmo pelos ventos poderosos das montanhas. E seu coração contraiu-se, o anseio antigo torturando-o novamente.
“Só quero ir... para casa...!”
Ficara ali por tempo demais. Desaprendera o caminho de volta. E fora o princípio do fim...

A manhã seguinte começara com a apresentação formal do Irmão Laírton à Rainha, e o Religioso estava ausente, lavando o rosto enquanto Zero preparava Christabel. Embora continuasse sem falar mais do que o necessário, ela não parecia nada satisfeita com a atitude do mecânico.
_ Achei que tinha dito, Mestre Zero – ela disse, sem tomar conhecimento da careta que ele fez ao ouvir ‘mestre’ – que não deveríamos chamar atenção.
_ Bom, não mesmo. Mas você não viu aquela coisa que atacou a gente, Christie! Primeiro vieram uns humanos, perseguidores de Melk mesmo, eu acho. Depois veio um espantalho, e ele levantou os mortos da cidade pra atacarem a gente...
_ Tinha um espectro animando o espantalho, Christabel – Melissa apoiou, com uma expressão séria – E ele disse que servia a alguém. Sabe o que isso quer dizer?
_ Nada além do esperado – Christabel deu de ombros – Sem mim, era óbvio que a fortaleza não resistiria por muito tempo. E se meus inimigos já chegaram a essa distância, não deveríamos estar aqui conversando, parados.
_ Lamento ter que contradize-la, Alteza – a voz de Laírton veio de trás deles, então, e todos se voltaram para vê-lo. E mesmo Christabel ficou admirada.
Evidentemente, Laírton considerara que apenas lavar o rosto não seria o bastante, porque ele se barbeara e também cortara parte de seus longos cabelos. E a fisionomia do Religioso parecia quase dez anos mais jovem, mostrando um rosto de traços viris, de expressão pacífica e olhos levemente entristecidos. Ele fez uma reverência diante da Rainha, curvando-se, e então disse:
_ É um prazer conhece-la pessoalmente, Rainha Christabel. Sou Laírton Diógenes, da Ordem dos Religiosos, e tive a honra de auxiliar seus amigos ontem em sua dificuldade. No entanto, tenho motivos para acreditar que o mestre da aparição de ontem já estivesse aqui presente muito antes da criação de seu lar. Acredito que seria conveniente coloca-la, e a seus acompanhantes, a par do que me for possível antes que nos ponhamos a caminho, se não se importa.
Christabel era a única no grupo que não estava admirada com a mudança de aparência de Laírton, já que não o vira enquanto estava de barba e cabelos longos. Sim, o Irmão era um homem bonito. Mas ela estava mais interessada em chegar logo à Cidade Sucata e retirar a tiara de si, principalmente levando em conta que ele poderia estar certo, e haverem inimigos à sua procura de que ainda não sabia.
_ Seja breve, então, Laírton. Temos um caminho longo a percorrer.
O grupo sentou-se num círculo para ouvir, e Laírton iniciou a narrativa:
_ Desde tempos antigos, sempre houve as lendas de criaturas fantásticas, animais ou não, dotadas de grande poder ou características incomuns. Isso não deve ser novidade para qualquer um de vocês. O conhecimento sobre elas desapareceu quase completamente durante a Era Tecnológica, onde a magia praticamente desapareceu do nosso mundo e a vida foi tornada simples por meio da ciência e tecnologia...
_ Sei não, Laírton – Zero olhou com ar rebelde para o Religioso – Hoje em dia a gente também tem as duas coisas, e tão aí a Li e a Christie pra provar que magia tá com tudo.
_ Não me entenda mal, Zero – Laírton sorriu com paciência para Zero – Não estou dizendo que tecnologia teve qualquer papel ativo em desacreditar a magia e crença de antigamente; algumas religiões o fizeram muito mais eficientemente. Mas é da natureza do ser humano temer o que não entende, e as pessoas por muito tempo negaram o que parecia incomum para não ter que lidar com uma realidade que não comandavam, certamente. Isso parecia mais simples num mundo repleto de facilidades trazidas por ciência e tecnologia avançada.
“Houve, então, as mudanças causadas pelo Grande Cataclisma – Laírton prosseguiu – Além da Fronteira, como bem sabem, um imenso corpo celeste caiu e trouxe algo desconhecido com ele, que pareceu trazer de volta o poder dos mitos e seres tidos como imaginários. Ou talvez tenha sido a lendária ‘arma estratégica’ dos governos da Era Tecnológica, dita como capaz de neutralizar equipamentos movidos a eletricidade. Ou ainda, os abalos que todo este continente sofreu durante o Grande Cataclisma: tornados incomuns, vulcões, grandes maremotos... Cidades inteiras desaparecendo sob o solo.”
_ Meu pai e os outros Escavadores disseram que isso pode ter relação com os Vermes de Pedra, Laírton – Zero interrompeu novamente, ganhando um olhar de impaciência de todos, exceto Laírton, que tornou a sorrir. Melissa, sentada próxima a ele, socou seu braço em repreensão.
_ Fica quieto e deixa ele falar, Zero!
_ Eles têm razão, em parte, Zero – Laírton respondeu – De fato, no início dos Tempos de Provação, logo após o cataclisma, os Vermes de Pedra eram abundantes e sua passagem sob os centros urbanos por vezes se davam em bandos numerosos como manadas de elefantes. O resultado era uma erosão desproporcional, segundo a Ordem. Mas não foram o único motivo para...
_ Desculpe – Christabel interrompeu, com ar vazio – Se importa de voltar ao assunto que me interessa? O que crenças antigas e histórias de antes das mudanças têm a ver comigo?

Sunday, November 28, 2004

Olá, possíveis leitores! O possível autor voltou - sabe Deusmon por quanto tempo - pra terminar outro capítulo daqui;

Nossa Rainha é o máximo, e sabe disso. Mas... até ela precisa lembrar q é humana de vez em quando.

Amplexos, galera, e até a próxima. Espero q gostem

(...)

De volta ao acampamento, Christabel estava caída. Ofegava pesadamente, grata por estar sozinha. Olhou em volta novamente, confirmando que estava sozinha ali, e então dolorosamente pôs-se de pé. Sua cabeça doía muito, e agora seu peito parecia doer também, como se mesmo respirar fosse doloroso... Sua concentração falhava, cada pensamento seu parecia trazer dor, e não apenas o esforço de trazer sua magia de volta. A mão da espada tremia com o esforço tremendo, quase parecendo não ter forças para erguer a lâmina. Em seu rosto, no entanto, havia um sorriso difícil e esforçado de satisfação.
“Agora... c-consegui! Malditos... Estarei p-pronta quando vierem...!”
Christabel sentia como se cada instante consciente fosse mantê-la em dores. Precisava desmaiar por algum tempo, talvez isso a fizesse sentir-se melhor, mas... Tinha conseguido! Precisava fazer mais uma vez, como uma criança que aprende a andar de bicicleta, ou saltar de um degrau a mais da escada, tinha que fazer de novo para convencer a si mesma que conseguia! Ela ficou de pé, cambaleando, o corpo balançando enquanto se firmava, a espada firme em sua mão... Era tão difícil...!
Despertou de repente, o semblante preocupado de Zero sobre ela enquanto passava algo frio em sua fronte. Sobressaltou-se e ficou sentada de pronto, embora o movimento brusco tenha lhe causado um espasmo de dor na cabeça.
_ O que pensa que está...? Ahhh...!
_ Psssh, calma – Zero a fez deitar-se novamente, firme mas gentilmente – Se empolgou um pouco demais com o treinamento, eu acho. Te encontramos caída e desmaiada no começo da tarde, Christie, e eu tava começando a ficar preocupado. Briguei com a sua febre a tarde inteira, mas me animei um pouquinho quando ela baixou. Me deixou preocupado, menina.
Ela se sentiu um pouco desconfortável, sem saber bem porquê. Desviou o rosto, um tanto sem jeito, e retrucou:
_ Estou bem agora. Pode se afastar.
_ Se estivesse, não ia ter sentido dor de cabeça de novo – Zero a ignorou – Fica parada mais um pouco, e bebe um pouco disso, anda.
Um caneco com um líquido esverdeado claro fumegava diante de Christabel, e ela não gostou daquilo. O cheiro do vapor não a agradava.
_ Isso está ruim. O que é?
_ Um chá de ervas. Bom pra quem tá sentindo dores. E você não pode dizer que é ruim se ainda não tomou.
_ Não pode me obrigar a beber isso – ela olhou para ele com ar rebelde, e então virou o rosto.
_ Agora escuta aqui mocinha – ela surpreendeu-se quando Zero, sem qualquer cerimônia, fez seu rosto voltar-se para ele de novo, e mais ainda com seu tom de voz e atitude. Não parecia em nada com a paciência de até então – Eu fiquei aqui a tarde inteira, dei um trampo danado pra baixar sua febre e não tô a fim de aturar birra de criança mimada, não!
_ Quem está chamando...?
_ Quieta! – Christabel arregalou os olhos, e Zero estendeu o caneco para ela novamente – Tá aqui! Não é gostoso, mas é muito bom pra dores! Agora, senta direito, bebe todo esse chá enquanto tá quente, e sem dar um pio!
Mecanicamente, sentindo uma atitude paternal tão forte em Zero que não parecia possível contrariá-lo, Christabel segurou o caneco com as duas mãos, bebeu o conteúdo e franziu o rosto. Era amargo, pior do que café sem açúcar, e parecia murchar sua boca por dentro onde tocava. Mas ela bebeu tudo, para não ter que repetir a experiência, e depois entregou o caneco com ar contrariado para Zero, e sem dizer palavra. E ele sorriu serenamente, satisfeito.
_ Pronto! Viu só? Não foi tão difícil. Agora deita um pouco, e fecha os olhos. Acho que o chá pode te dar um pouco de sono, mas pela manhã você não vai sentir mais dores, e vai poder treinar outra vez se quiser.
_ Eu já... descansei o bastante – ela protestou, enquanto ele a fazia deitar-se – Tenho que voltar a praticar...
_ Não teima comigo – ele retrucou, olhando novamente para ela com ar severo – Você deve ter forçado pra caramba os seus limites, treinando até tombar. Sua vontade é muito forte, Christabel, mas seu corpo tem limites que você tem que respeitar. Precisou de boa parte do dia só pra recuperar a condição mínima; tem que descansar mais pra ficar forte. Amanhã, se quiser, pode voltar a treinar o dia inteiro. Acho que, se fizer o mesmo nível de esforço, seu corpo não deve estranhar tanto. Mas hoje, você vai fazer o que eu tô dizendo.
Ela continuou a olhar rancorosamente para ele. Estava fora de seu lar e seu trono, mas ainda era Christabel, a Rainha de Melk. E não gostava do que Zero estava fazendo.
_ Não sigo ordens de ninguém... Mestre Zero. Não gosto que me obriguem a nada.
_ E é por isso que vai me ouvir – ele tornou, teimosamente – Faça como eu tô dizendo agora, e pela manhã deve estar melhor, e vai poder agir como bem entender. Me ignore, e faça como quiser, e amanhã vai estar tão fraca que não vai ter qualquer escolha, a não ser ficar contrariada enquanto eu te proíbo de praticar por uma semana, no mínimo. A escolha é sua, Majestade. Vai agir feito criança ou adulta?
Por ela, Christabel continuaria teimando se pudesse, mas estava começando a aprender a sentir a verdade apenas com seu bom senso, sem depender de seu poder para enxergar as intenções das pessoas, e sabia que Zero tinha razão. Se queria se livrar do protecionismo incômodo dele, era melhor se conformar e descansar por aquela noite. Não parecia uma perda tão grande, levando em conta que continuava exausta, apesar do tempo em que estivera inconsciente, e que o chá já começava a deixa-la sonolenta. Procurou ao redor, então.
_ Minha espada.
_ Tá aqui – Zero sorriu carinhosamente para ela, colocando o punho da lâmina em suas mãos – Vou te deixar sozinha agora, pra dormir mais à vontade, mas vamos estar todos bem perto se você precisar, tá bom?
Christabel deu-lhe as costas, cobrindo-se sem responder. E ouviu Zero levantar-se, e então se afastar, fazendo pouco ruído enquanto se reunia aos demais. Apertou o punho da espada entre seus dedos, sentindo-se melhor de fato. Ele podia ser importuno, inconveniente e insolente para com ela... mas, Christabel admitiu a contragosto, parecia preocupado com seu bem estar.
“Por quê? O que espera de mim?”
Olhou para as mãos juntas, e o punho da espada entre elas. Fazia muito tempo que não se sentia daquela forma... Muito tempo desde que alguém tinha realmente cuidado dela... Até mesmo dado ordens a ela, como Zero tinha feito. Desde que assumira seu lugar de direito, as pessoas tinham medo de contrariá-la porque temiam seu poder. Com aquela tiara presa nela, no entanto, Zero...
“Não... Isso não tem nada a ver com a tiara... Ele já não tinha medo de mim antes.”
Por vezes, enquanto ainda estavam em Melk, Zero quase parecia estar provocando-a de propósito, e ela então estava de plena posse dos seus poderes. Christabel estava se policiando, tentando não se habituar a um tratamento que não teria sempre, mas não conseguia ignorar a atenção que estava tendo por parte de Zero.
Voltou-se, sabendo que estava sozinha. Podia ouvir as vozes dos outros conversando. Parecia-lhe ouvir outra voz, desconhecida, mas sua atenção voltou-se para o caneco vazio que Zero deixara ali. Aquilo tinha realmente um gosto horrível! Cobrindo um pouco seu rosto, Christabel sorriu levemente enquanto fechava os olhos e murmurava:
_ Idiota...

Thursday, November 18, 2004

Hora de mais, gente! De volta outra vez (agora q deu ânimo), Louco tá de volta pra contar um pouco mais da história da Rainha e seus companheiros, e como catzo o Religioso Irmão Laírton se juntou a eles.

Sirvam-se... e espero q os acentos apareçam direito dessa vez. Ou eu vou ter q engrossar. ^_^

(...)

Logo estavam sentados no bar de Garland, uma instalação pequena e não muito limpa, mas com a privacidade garantida por seu proprietário, que era um grande amigo do Religioso depois que este lhe prestara um importante serviço.
_ Curei a esposa dele há algum tempo atrás, quando cheguei a Garland – comentou Laírton com ar distraído – Foi muito útil para vencer a resistência do povo; eram muito apegados ao Irmão José, meu predecessor, e achavam que eu bebia demais.
_ Parece que ainda acham, pelo que eu vi – comentou Zero – Aquela moça, a Paula, não gostou muito quando o senhor começou a cantar.
_ Ah, então foi naquele momento que me viu, Zero? – Laírton sorriu – Paula, receio, é uma das almas que relutam muito em procurar por luz. Ela gosta de tristeza, escuridão, pensamentos tristes... e também de dormir demais. Por isso, às vezes de propósito, acabo por aborrece-la quando trago alguma alegria à sua vida. Pessoas entristecidas não gostam muito daqueles que se alegram.
_ Mas, Irmão – Melissa olhou com ceticismo para Laírton, que parecia estar bebendo água ao invés de vinho – Eu... Bem, espero que me perdoe por dizer isso, mas... imaginei que a Ordem dos Religiosos fosse mais séria, solene... O senhor, desculpe por dizer...
_ Não sou exatamente a imagem que se tem de um Irmão, não é verdade? – Laírton sorriu ainda mais amplamente para Melissa – Heh... É o mesmo que meus superiores diziam; foi a razão de eu ter vindo parar em Garland quando deveria ter sido designado para algum grande centro urbano como Braz ou Cidade de André, acredito. Mas, a meu ver, Nosso Senhor é o criador da alegria, da felicidade, e o melhor agradecimento que podemos dar a Ele é nós mesmos demonstrarmos tal alegria. Seriedade excessiva, semblantes severos, aquelas alcovas escuras... – o rosto dele era cheio de reprovação – Aquilo não se parece com Nosso Senhor, de maneira nenhuma!
_ D-desculpe – Melissa ficou ainda mais constrangida, mas Laírton ergueu a garrafa numa saudação, antes de servir-se de mais uma dose de vinho.
_ Não precisa se desculpar, Melissa! Ao contrário, gosto de ver gente assim, que diz o que pensa, sem reservas! Por Deus, se gosto! Todos à nossa volta parecem sempre se mascarar, fingindo ser o que não são e ocultando seus pensamentos! É uma ótima coisa ver gente franca, se não é!
_ Valeu! – Zero sorriu amplamente e bateu seu caneco no de Laírton – É isso aí, gostei! Sinceridade é muito melhor!
_ Por favor, falem mais baixo – Daniel pediu, olhando em volta – Estamos tentando não chamar atenção, lembram?
_ Ah, claro... – Laírton baixou a garrafa, voltando seu olhar para Zero – Então, como eu ia dizendo, espectros são seres das trevas, demônios nascidos de ressentimento e de espíritos que, vivos, eram indulgentes e mergulhados na auto-piedade. Por vezes essas almas se auto-destroem, culpando sempre o mundo por tudo o que fazem, e não fazem, e muito rancor e mágoa os acompanham. É desses elementos que espectros, um dos tipos de demônio não-corpóreo mais poderosos, se formam. Exatamente por essa natureza escapista, eles costumam ser covardes, nunca atacando abertamente. Preferem invadir sonhos e alimentar temores, buscando tornar pessoas vivas no que suas bases eram, depressivas e entristecidas.
_ Uau! – Zero admirou-se – O senhor sabe bastante sobre essas coisas, Irmão!
_ Sim, claro – Laírton fez um gesto de pouco caso – Aprende-se sobre essas aparições muito cedo em minha Ordem. A propósito... Pare de me chamar de ‘senhor’, menino! Não sou tão mais velho que você!
_ Ah, tudo bem – Zero sorriu mais abertamente – Sei como é que é isso; ficavam me chamando de ‘mestre’ não faz muito tempo, e isso...
_ Zero, espere um momento – Melissa interrompeu, olhando com seriedade para Laírton – Nos disse que os espectros normalmente não atacam abertamente, Irmão. Aquele que incorporou-se no espantalho, no entanto...
_ Sim, aquele era um caso diferente – Laírton pareceu mais sério, servindo-se de mais vinho e tomando um gole respeitável antes de responder – Não é muito comum que um espectro sirva a alguém; presumo que também venha da natureza auto-indulgente de seus espíritos formadores. Apenas magos com muito poder conseguem dominar a força para controlar um espectro. Mas, um espectro com poder para assumir uma forma física, e manipular os mortos...!
Laírton bebeu o que restava em seu caneco, e então olhou severamente para o trio de viajantes, perguntando com voz baixa:
_ Nenhum de vocês tem qualquer obrigação em responder, claro, mas eu gostaria de saber: há alguma maldição pairando sobre suas cabeças? Não sei, vocês violaram algum cemitério, ou atraíram a cólera de alguém muito importante... Algo desse tipo? Porque apenas um inimigo muito poderoso teria condições de usar um espectro daqueles como serviçal.
Daniel, Melissa e Zero se entreolharam, indecisos, sem saber a princípio se deveriam ou não contar a Laírton sobre o que estava acontecendo. Zero, particularmente, sentia que precisava preservar o segredo de Christabel tanto quanto pudesse, mas...
_ Pode guardar segredo, Irmão? Acho que não seria bem uma confissão, mas é uma coisa meio pessoal da gente, sabe?
Laírton olhou com severidade para o trio, e Zero acabou sorrindo. Ele obviamente achava que tinham feito algo de muito errado.
_ Se vocês transgrediram a lei, de algum modo...
_ De certa forma sim, Irmão – Daniel e Melissa olharam indagadoramente para Zero, que não fez conta deles – Mas dessa vez, era a coisa certa a fazer. Olha, eu vou te fazer um resumo da ópera...
E então ele contou a Laírton tudo a respeito de sua ida para Melk, do trabalho que lá fizera e dos acontecimentos mais recentes, com a tentativa de assassinato de Christabel e do que estavam tentando fazer. Daniel particularmente estava um pouco cético se deveriam realmente falar de seus problemas tão abertamente com um estranho, mas era difícil para ele imaginar um Religioso trabalhando com os conspiradores de Melk. Ele poderia fingir ser um membro da Ordem, claro; seu comportamento era um tanto incomum, comparando-o com o quase sacrossanto Irmão Cristóvão de Melk. Mas um farsante não teria conseguido repelir aquele demônio como Laírton havia feito. E o Religioso ouviu Zero em silêncio, sem interromper nem uma vez. Ao final do relato, ele fitou Zero com seriedade e perguntou:
_ Por quê está ajudando a Rainha Christabel, então? Pelo pouco que pude compreender, ela não parece apreciar a companhia de vocês, nem tem qualquer gratidão por terem salvo sua vida.
_ Não tô nessa por gratidão, Laírton – Zero retrucou seriamente – e aliás, enquanto Irmão, você devia incentivar essas atitudes.
_ E incentivo. Mas esse tipo de atitude é infelizmente muito raro hoje em dia.
_ Pra falar a verdade – Zero deu de ombros – eu também não posso explicar muito bem. Mas não achei legal, e me mexi.
_ Mesmo sabendo que outros, tão perigosos quanto o tal Arcano de quem falou ou até piores, virão atrás de vocês? Há criaturas muito piores, ao que parece, não restritas pela Fortaleza de Melk – e voltou-se para Melissa – Aqueles zumbis de hoje podem ter sido apenas o princípio de algo muito mais aterrador.
Melissa involuntariamente estremeceu, e Daniel apertou sua mão.
_ Com o devido respeito, Irmão, mas como pode ser possível que haja criaturas deste lado dos muros? Nós lutamos todos os dias para impedir isso...
_ Há muito mais acontecendo do que vocês têm idéia, caro Daniel, se há perseguidores à sua Rainha mesmo aqui – Laírton comentou, olhando para o soldado enquanto enchia novamente o seu caneco – Há rumores, lendas que nossa Ordem guarda desde a época anterior às Mudanças sobre criaturas fantásticas, nem todas elas bondosas ou honradas, despertas recentemente. Há muito que eu não tenho permissão de falar em regime aberto... Restrições da Ordem, entendam... Mas creio que estarão indefesos mais adiante. Se o que me contaram é verdade, e acredito que seja, os conspiradores humanos serão seu menor problema daqui para frente.
O trio de viajantes ficou em silêncio. Daniel não estava muito preocupado com aquilo por si; um soldado da fortaleza de Melk convivia com a idéia de ameaça, luta diária pela vida contra seres não humanos e eventual morte todos os dias de sua existência. Estava preocupado com Melissa e Zero, no entanto. E o mecânico, após o instante de silêncio, perguntou:
_ Tem alguma sugestão pra nós então, Irmão? Porque eu não pretendo dar pra trás agora; já me comprometi. E acho que falo por todos. Tem alguma forma de lutar com essas coisas?
_ Na verdade sim – ele respondeu, sorrindo então para o trio – Tenham um Religioso em seu grupo. Ele deve ser capaz de ajuda-los se depararem com tais tipos de demônios.

Sunday, October 31, 2004

Olá galera!!! ^^

Então, né... Hora de continuar.

E hora de apresentar gente nova, tbm...


(...)


Havia um homem alto parado lá. Apoiado num cajado de madeira maciça, semelhante a uma cruz, um crucifixo grande pendurado em seu pescoço e meio misto na barba longa. Sua túnica um dia podia ter sido branca, mas estava suja e rasgada demais para que ele parecesse qualquer coisa além de um mendigo maltrapilho. A voz rouca e raspada soou novamente, com desprezo.
_ Idiota... Mortal imbecil, acaso o álcool embotou completamente seu raciocínio? Por quê busca pela própria morte?
_ A morte não é motivo para temores, criatura – Irmão Laírton aproximou-se um passo, o cajado firme em sua mão direita e de fato, pareceu a Zero, ele não parecia ter medo de coisa alguma – É apenas mais uma viagem, uma trilha a ser seguida por tudo aquilo que é abençoado com o dom da vida. No momento certo, eu pretendo seguir meu caminho, como o fazem todas as criaturas de Nosso Senhor. Mas não hoje. Hoje... – e ergueu o cajado na direção do espantalho – é você quem vai partir.
Os pássaros negros farfalharam suas asas no chão, erguendo-se aos ares aos poucos para esvoaçar ao redor do espantalho, que ergueu suas mãos. Era estranho ver aquele boneco de palha se movendo. Mais ainda, perturbador; a cena parecia algo saído de um pesadelo, principalmente para Melissa. Mas o Religioso continuava avançando, lenta e tranqüilamente, como se nada no mundo pudesse feri-lo.
_ Sirvo a poderes nascidos na antiguidade do mundo, sacerdote – disse a voz rachada – Poderes que já eram grandes, e antigos, quando vocês humanos ainda se escondiam da noite, achando que era algo demoníaco. O que você acha que tem então, criança humana, que possa salva-lo de mim?
E acenou para frente, as aves desmortas abrindo o círculo e avançando contra a figura do Religioso.
Laírton apanhou o crucifixo de madeira em seu pescoço e o estendeu diante de si, e uma luz fulgurante cintilou; parecendo espantar a escuridão á sua volta. Mais ainda, um vento poderoso pareceu surgir da cruz, lançando mais penas e também as gralhas de volta contra o espantalho, que cobriu sua cabeça de pano, recuando vários passos diante da luz. Aquilo foi muito rápido, mas quando terminou, havia penas caindo por toda a volta na rua, e um campo circular livre ao redor de Laírton, sustendo seu crucifixo diante de si e sorrindo ao responder:
_ Apenas ‘Fé’. Não sei a que poderes você serve, criatura da escuridão... – Laírton agora andava resoluto na direção do espantalho, o crucifixo estendido diante de si – Não sei se são mais antigos do que a humanidade, se existiam antes do mundo... nem nada disso me importa! O que sei é que sua existência é uma profanação, uma paródia de vida que ofende a Nosso Senhor! Parta daqui! Volte para o vazio que o gerou, e nunca mais macule nosso mundo com sua presença!
O espantalho recuou, vacilando em suas pernas como se de repente não as controlasse. Um passo para trás, dois... e então ele realmente deixou de controlar as próprias pernas, tombando para trás e se desmanchando enquanto a palha do seu corpo parecia ser soprada para trás, deixando apenas uma armação de madeira e arame enquanto mesmo as roupas pareciam se desintegrar aos poucos. A cabeça de pano com um rosto tracejado também se desmanchou aos poucos, num processo cada vez mais rápido, e apenas aos olhos de Laírton e Melissa, uma sombra escura ergueu-se subitamente dos restos do espantalho. Uma sombra que parecia um grande morcego, que agitou-se para o alto e afastou-se um pouco, antes de voltar pesadamente na direção do Religioso, como se fosse uma grande ave de rapina.
E Laírton largou o crucifixo sobre seu peito e girou o cajado sobre sua cabeça, com as duas mãos, atingindo a sombra quando ela o alcançaria, espalhando-a por toda a volta como se fosse feita de cinzas desde o princípio, com o som surdo de um guincho agudo soando por toda a volta. Mesmo Daniel e Zero, embora não pudessem ver o que de fato tinha acontecido, sentiram de repente que a aflição passara. O céu escuro parecia clarear aos poucos... e os desmortos, que tinham começado a cambalear também na direção do Religioso, tombaram onde estavam como marionetes sem fios, levantando poeira.
Zero sorriu, guardando a pistola. Mais uma vez, o que dissera a Christabel mostrava estar correto: aparências podiam enganar. Voltando-se para os amigos, ele perguntou:
_ Tudo bem Li? Dan? Alguém ferido?
_ Não... Acho que não, Zero – Daniel voltou-se para Melissa, que acenou que não com a cabeça.
_ Tudo bem, Zero. Mas da próxima vez, sem zumbis tá bom?
_ Tudo bem, irmãzinha – ele riu – Vou pedir pro próximo espantalho que cruzar nosso caminho pra deixar os mortos quietos, e pra lutar direito com a gente. Também achei essa luta de lascar.
_ Nem brinque com isso, Zero – Daniel pediu – O Religioso nos auxiliou com essa criatura desta vez, mas se tivermos que lutar com mais deles...
_ Não tô querendo chatear você, Daniel – Zero retrucou sério – mas eu acho que é só uma questão de tempo. Viu, aquela coisa procurava pela Christie. E pelo que disse, não foi por obra de nenhum inimigo dela na fortaleza.
_ Era muito poderoso – Melissa acenou afirmativamente com a cabeça – Vocês viram aquela criatura que saiu do espantalho? A que o Religioso esmagou com o cajado?
Daniel e Zero fizeram que não com a cabeça.
_ Então era isso o que ele tava fazendo quando girou a cruz? – perguntou Zero – Bem que eu achei estranho.
_ Acha mesmo que virão outros como ele, Zero? – Daniel questionou, e o amigo confirmou com a cabeça.
_ Eu te disse que a gente ia precisar de ajuda, não disse? Ainda bem que você resolveu vir.
_ Mas como...
_ Er, com licença...
Uma voz jovial veio de baixo, da base da casa onde tinham subido. Irmão Laírton olhava para o alto, com um sorriso um pouco sem jeito, quase se desculpando por interrompe-los.
_ Estão todos bem aí em cima? Nenhum de vocês foi ferido pelos desmortos?
_ Ah, Irmão Laírton! – Zero sorriu – Obrigado pela ajuda! A situação tava ficando feia pra nós.
_ Fico feliz de ter podido ajudar, então – ele acenou gravemente a cabeça em saudação – mas, você parece me conhecer. Já nos vimos antes?
_ Ah, espera um pouco aí – Zero desceu de onde estava, saltando sobre os caixotes que usara como apoio para subir no telhado, e depois estendeu a mão para o Religioso – Desculpa, é falta de educação da minha parte. Zero, da Cidade Sucata, passando em visita aqui na sua cidade. Prazer em conhece-lo, especialmente numa hora de dificuldade como essa.
_ O prazer é meu – Laírton inclinou a cabeça respeitosamente, voltando os olhos para o casal olhando lá de cima – e fico feliz por ter sido útil. Mas, se me permitem uma pequena indiscrição, o que fizeram para atrair uma atenção tão macabra? Espectros raramente atacam à luz do dia, e muito mais raramente o fazem de forma tão ostensiva.
Daniel descera primeiro, recebendo Melissa nos braços quando ela também saltou, e os dois olharam com admiração para o Religioso. Zero, no entanto, parecia intrigado.
_ Espectro...? Aquilo não era só um espantalho metido à besta?
_ Dificilmente, rapaz – Laírton sorriu discretamente – Posso explicar a situação com detalhes, mas... acredito que seria melhor se nos retirássemos daqui. Não sei quanto a vocês, mas agora que já impedi a profanação destas pobres almas... não pretendo ser responsável por sepultá-los uma segunda vez.
Ele olhava para os corpos mais e menos recentes tombados no solo e Melissa, que já estava descendo dos braços de Daniel, gritou e saltou sobre ele novamente, e o jovem cavaleiro ficou tremendamente ruborizado. E Zero concordou.
_ Boa! Escuta, se conhecer um lugar discreto onde conversar, eu te pago uma rodada de vinho! Combinado?
_ Jovem Mestre Zero – Laírton fez uma educada reverência – esta foi provavelmente a melhor oferta que tive em semanas. Sim, pela Trindade, eu sei onde podemos conversar! Basta que me sigam, meus amigos!
_ Tá, tudo bem – Zero estava achando engraçado olhar para o rosto vermelho de Daniel e Melissa, especialmente porque a moça não fazia sinal de descer enquanto ainda estivessem próximos dos corpos tombados – Só não me chama de ‘Mestre’, tá bom? Depois eu te explico...

Sunday, October 24, 2004

Olá, gente blogueira! Estamos de volta!

Continuemos então com a confusão q Zero, Daniel e Melissa tão enfrentando nessa coisa de Garland. Boa sorte pra eles! ^^

Forte amplexo do Louco (só de passagem hoje)

(...)

Daniel puxou Melissa, que no primeiro instante pareceu não saber como reagir, enquanto Zero puxou sua espada longa. Se não podia matar o que já estava morto, ficaria tão longe deles quanto pudesse, e a posição alta devia ser mais fácil de proteger. E o espantalho se aproximava devagar, botas de fazendeiro erguendo poeira do chão, em silêncio, mas de mãos erguidas. E vinha na direção deles.
_ Anda, Daniel, pra cima! – incentivou Zero ao amigo que dera a vez para que Melissa subisse primeiro – Vai, cê precisa ajudar a Mel! Acho que ela pode com aquele espantalho, se perder o medo!
_ Suba também!
_ Tá, na boa, mas vai logo! – de braços erguidos em sua direção, os mortos se aproximavam em leque de Zero, que agora só podia ir para cima. Empunhando a espada longa com as duas mãos e parecendo medir o peso dela por um instante, vibrou seu braço num golpe forte para a esquerda e cortou fora as mãos em garra de dois deles, voltando-se em seguida para os da direita. Como Daniel dissera, eles não demonstravam qualquer dor ao ser atingidos... mas ao menos ficavam menos perigosos, ele pensou.
_ Zero, venha!
Um dos zumbis se aproximou pela sua direita, os dentes arreganhados como se fosse morde-lo. Claro, sem braço...! Foi o que ele pensou, cortando fora a cabeça da criatura antes de saltar sobre um dos caixotes sob a janela e pular para agarrar com a mão esquerda no braço estendido de Daniel, que o puxou imediatamente para o alto.
_ Valeu a subida, Dan. Beleza! – olhou para baixo, para as criaturas que erguiam para eles seus braços, sempre se movendo com aquele som de raspar o chão – Ganhamos algum tempo; agora, se desse pra fazer alguma coisa com aquele espantalho...!
_ C-como pode estar tão calmo, Zero? – Melissa perguntou, olhando para ele e se recusando a se aproximar da borda do telhado; não queria ver os zumbis – Eles podiam ter pego você!
_ É... Acho que sim – ele concordou, olhando para as criaturas por um instante, e então deu de ombros – Sei lá. Mas o importante agora é dar um fim naquela coisa lá embaixo, Li. O resto a gente vê depois. Diz, você ainda consegue lançar algum feitiço de fogo?
_ N-não – ela balançou com a cabeça negativamente – Não conheço nenhum... que possa cobrir uma área tão grande... E é perigoso pra as outras pessoas, também...
_ Não pros zumbis, Melissa; pro espantalho! – Zero apontou para a criatura macabra lá embaixo, mas Melissa se recusou a olhar – Anda, ele é todo feito de palha seca e madeira; não posso estourar ele com tiros, mas você...!
_ Zero, cuidado!
Daniel empurrou o amigo para a esquerda e golpeou para o alto com a direita, derrubando uma forma alada com o movimento. Um pássaro negro caiu aos pés de Zero, que estranhou:
_ Uma gralha?
_ E têm mais chegando, ali!
Era o espantalho, Zero percebeu. Ele tinha algo a ver com aquilo, mas parecia uma tremenda ironia aos seus olhos.
_ Vê se eu agüento; espantalho treinador de pássaro! Ele não devia assustar essas coisas?
_ Zero!
_ Tá, tá bom Li – rebateu para longe uma segunda ave com sua espada, tomando a frente de Melissa – Desculpa; foi automático.
_ Tem vários chegando! – Daniel apontou para uma nuvem escura e alada que se aproximava depressa – Maldição; aqui em cima somos alvos fáceis!
_ E lá embaixo também – Zero olhou nervosamente para os zumbis reunidos ao redor do prédio, ainda tentando escalar, enquanto trocava sua munição explosiva pela comum – É... Tá ficando complicado. Li, você...?
Mas calou-se, ao ver sua amiga com o braço direito voltado para as aves. Sabia que podia fazer algo, lembrou-se de como o outro mago negro usara a Aura Magnética, e estava se esforçando para se concentrar. Era a hora de ver o presente de Seu Dirceu funcionar de novo. Parou de pensar nos zumbis à volta do prédio e deu uma olhada rápida para Zero e Daniel. Seus amigos; eles precisavam dela. Precisava fazer o que pudesse. Precisava se concentrar...!
Zero e Daniel sentiram os objetos metálicos em suas mãos estremecerem por um momento, afetados também pela magia de Melissa, antes que a atenção dela conseguisse reproduzir o que tinha sido feito antes com aquele feitiço; pregos e farpas metálicas incontáveis dirigiram-se para o alto numa saraivada, encontrando em seu caminho a nuvem de pássaros negros que espiralava numa descida, indo em direção a eles.
Guinchos altos se fizeram ouvir, e penas negras caíram por toda a volta, enquanto os pássaros detinham-se no ar e tombavam. Zero e Daniel olhavam com admiração para Melissa, que estava segurando a mão direita com a esquerda para mantê-la firme, até que o último dos pássaros tombou. Ela então cambaleou para trás, mas antes que caísse, Daniel a apoiou com um sorriso.
_ Ótimo trabalho, Mel! Muito bom; pode descansar, agora.
_ N-não, Dan – ela acenou com a cabeça, parecendo resoluta – Falta... aquele monstro! Zero tem razão, se eu puder...!
_ Você pode, irmãzinha – Zero falou com voz apressada, olhando para baixo – Pode sim, mas anda logo, tá bom? É que... Bom, se desse pra ir logo...!
Os pássaros mortos estavam estremecendo, no local onde tinham caído, antes mesmo de todas as penas terem caído ao solo. Claro, pensou Zero, se aquela coisa podia levantar os mortos, não devia fazer diferença se eram humanos ou animais.
_ Já basta disso, abominação. Basta de profanações dos mortos!Apesar de já ter ouvido aquela voz antes, Zero não a reconheceu, da mesma forma que seus amigos. Quando ouvira aquele homem falando da primeira vez, ele estava cantando e parecia um pouco alterado pelo álcool. Não agora. Sua voz era firme e sonora, parecendo cobrir toda a rua. Mesmo o espantalho se voltou para olhar para a entrada da rua.
Olá de novo!! Continuemos, pois, com a situação onde Zero, Melissa e Daniel tão naquele aperreiro com o bando de mortos vivos.

Amplexos do Louco (só de passagem, como vcs viram)


(...)

Daniel puxou Melissa, que no primeiro instante pareceu não saber como reagir, enquanto Zero puxou sua espada longa. Se não podia matar o que já estava morto, ficaria tão longe deles quanto pudesse, e a posição alta devia ser mais fácil de proteger. E o espantalho se aproximava devagar, botas de fazendeiro erguendo poeira do chão, em silêncio, mas de mãos erguidas. E vinha na direção deles.
_ Anda, Daniel, pra cima! – incentivou Zero ao amigo que dera a vez para que Melissa subisse primeiro – Vai, cê precisa ajudar a Mel! Acho que ela pode com aquele espantalho, se perder o medo!
_ Suba também!
_ Tá, na boa, mas vai logo! – de braços erguidos em sua direção, os mortos se aproximavam em leque de Zero, que agora só podia ir para cima. Empunhando a espada longa com as duas mãos e parecendo medir o peso dela por um instante, vibrou seu braço num golpe forte para a esquerda e cortou fora as mãos em garra de dois deles, voltando-se em seguida para os da direita. Como Daniel dissera, eles não demonstravam qualquer dor ao ser atingidos... mas ao menos ficavam menos perigosos, ele pensou.
_ Zero, venha!
Um dos zumbis se aproximou pela sua direita, os dentes arreganhados como se fosse morde-lo. Claro, sem braço...! Foi o que ele pensou, cortando fora a cabeça da criatura antes de saltar sobre um dos caixotes sob a janela e pular para agarrar com a mão esquerda no braço estendido de Daniel, que o puxou imediatamente para o alto.
_ Valeu a subida, Dan. Beleza! – olhou para baixo, para as criaturas que erguiam para eles seus braços, sempre se movendo com aquele som de raspar o chão – Ganhamos algum tempo; agora, se desse pra fazer alguma coisa com aquele espantalho...!
_ C-como pode estar tão calmo, Zero? – Melissa perguntou, olhando para ele e se recusando a se aproximar da borda do telhado; não queria ver os zumbis – Eles podiam ter pego você!
_ É... Acho que sim – ele concordou, olhando para as criaturas por um instante, e então deu de ombros – Sei lá. Mas o importante agora é dar um fim naquela coisa lá embaixo, Li. O resto a gente vê depois. Diz, você ainda consegue lançar algum feitiço de fogo?
_ N-não – ela balançou com a cabeça negativamente – Não conheço nenhum... que possa cobrir uma área tão grande... E é perigoso pra as outras pessoas, também...
_ Não pros zumbis, Melissa; pro espantalho! – Zero apontou para a criatura macabra lá embaixo, mas Melissa se recusou a olhar – Anda, ele é todo feito de palha seca e madeira; não posso estourar ele com tiros, mas você...!
_ Zero, cuidado!
Daniel empurrou o amigo para a esquerda e golpeou para o alto com a direita, derrubando uma forma alada com o movimento. Um pássaro negro caiu aos pés de Zero, que estranhou:
_ Uma gralha?
_ E têm mais chegando, ali!
Era o espantalho, Zero percebeu. Ele tinha algo a ver com aquilo, mas parecia uma tremenda ironia aos seus olhos.
_ Vê se eu agüento; espantalho treinador de pássaro! Ele não devia assustar essas coisas?
_ Zero!
_ Tá, tá bom Li – rebateu para longe uma segunda ave com sua espada, tomando a frente de Melissa – Desculpa; foi automático.
_ Tem vários chegando! – Daniel apontou para uma nuvem escura e alada que se aproximava depressa – Maldição; aqui em cima somos alvos fáceis!
_ E lá embaixo também – Zero olhou nervosamente para os zumbis reunidos ao redor do prédio, ainda tentando escalar, enquanto trocava sua munição explosiva pela comum – É... Tá ficando complicado. Li, você...?
Mas calou-se, ao ver sua amiga com o braço direito voltado para as aves. Sabia que podia fazer algo, lembrou-se de como o outro mago negro usara a Aura Magnética, e estava se esforçando para se concentrar. Era a hora de ver o presente de Seu Dirceu funcionar de novo. Parou de pensar nos zumbis à volta do prédio e deu uma olhada rápida para Zero e Daniel. Seus amigos; eles precisavam dela. Precisava fazer o que pudesse. Precisava se concentrar...!
Zero e Daniel sentiram os objetos metálicos em suas mãos estremecerem por um momento, afetados também pela magia de Melissa, antes que a atenção dela conseguisse reproduzir o que tinha sido feito antes com aquele feitiço; pregos e farpas metálicas incontáveis dirigiram-se para o alto numa saraivada, encontrando em seu caminho a nuvem de pássaros negros que espiralava numa descida, indo em direção a eles.
Guinchos altos se fizeram ouvir, e penas negras caíram por toda a volta, enquanto os pássaros detinham-se no ar e tombavam. Zero e Daniel olhavam com admiração para Melissa, que estava segurando a mão direita com a esquerda para mantê-la firme, até que o último dos pássaros tombou. Ela então cambaleou para trás, mas antes que caísse, Daniel a apoiou com um sorriso.
_ Ótimo trabalho, Mel! Muito bom; pode descansar, agora.
_ N-não, Dan – ela acenou com a cabeça, parecendo resoluta – Falta... aquele monstro! Zero tem razão, se eu puder...!
_ Você pode, irmãzinha – Zero falou com voz apressada, olhando para baixo – Pode sim, mas anda logo, tá bom? É que... Bom, se desse pra ir logo...!
Os pássaros mortos estavam estremecendo, no local onde tinham caído, antes mesmo de todas as penas terem caído ao solo. Claro, pensou Zero, se aquela coisa podia levantar os mortos, não devia fazer diferença se eram humanos ou animais.
_ Já basta disso, abominação. Basta de profanações dos mortos!Apesar de já ter ouvido aquela voz antes, Zero não a reconheceu, da mesma forma que seus amigos. Quando ouvira aquele homem falando da primeira vez, ele estava cantando e parecia um pouco alterado pelo álcool. Não agora. Sua voz era firme e sonora, parecendo cobrir toda a rua. Mesmo o espantalho se voltou para olhar para a entrada da rua.

Tuesday, October 12, 2004

Saudações, leitores e leitoras! Tô de volta!

Ah, o bicho q eles vão enfrentar dessa vez foi baseado numa idéia de um livro q uma amiga me emprestou. Valeu, Tétis! Tenta reconhecer a coisa, então.

(...)


Era daquela pessoa que vinha a sensação perturbadora. Melissa inconscientemente se aproximou mais de Daniel, e ele meio sem perceber a abraçou, como se quisesse protege-la. E Zero tornou a apontar a pistola, lembrando imediatamente que só tinha uma bala. Não ia bastar. A sensação que tinha era parecida com quando Ahl-Tur se erguera depois de atropelado e baleado, mas um tanto diferente. Aquela criatura não era um Arcano, ou fosse o que fosse. Mas humana, também não.
_ Dan... – murmurou Melissa, a voz um pouco trêmula.
_ Tudo bem, Mel – ele respondeu baixinho – Estou com você.
_ Tá procurando alguma coisa aí, ô tio? – Zero perguntou em voz alta, encarando o vulto de chapéu de palha sobre o rosto – Chegou atrasado pra a festa, se veio com aqueles caras. Acabamos com eles. Vai ser legal e sair do caminho, ou quer fazer companhia pra eles?
O que mais o perturbava, pensou Zero, era não poder ver o rosto daquela pessoa. Era muito ruim olhar para aquele chapéu caído sobre o rosto; passava uma sensação de terror enorme! E parecia a ele que, como nos seus pesadelos, ver o que se escondia sob a aba do chapéu seria ainda pior. Só podiam ver claramente os ombros se movendo como se o outro soluçasse, ou risse, a camisa quadriculada parecendo saída de um arraial de festa junina com mangas que cobriam um braço magro demais, e as calças longas e maltratadas.
_ Estou procurando pela Rainha de Melk – uma voz rachada e antiga, que parecia vir do fundo de um poço, e com um pouco de eco. Daniel sentiu as mãozinhas de Melissa apertarem mais forte seu braço, e não podia culpa-la por estar com medo; ele também estava – Vocês sabem onde ela está. Me digam.
_ De graça? – Zero deu um sorriso nervoso, algo do riso presente na voz. Também estava com medo, mas encarava tudo o que fazia com bom humor, já fazia um bom tempo. Se tornara automático, não importando a situação em que estivesse – Acho que não vai dar não, tiozinho.
_ Vocês acreditam que sabem no que se meteram – o chapéu pareceu levantar um pouco, só um pouco... Nada do rosto, propriamente, a não ser traços de uma bola alaranjada, que não parecia se mexer mesmo quando ele falava. Zero tinha razão, sabia, não queria ver o que estava por baixo daquele chapéu. E a voz prosseguiu, rouca – Acham que isso envolve meras disputas tolas entre seres humanos. Há tanta coisa envolvida... e vocês são apenas as formigas que correm pelo campo de batalha.
_ Pode ser... – Zero não estava gostando daquilo, mas não ia deixar ninguém contar vantagem sobre ele – mas somos as formigas que sabem o que você não sabe. Então, não vem se achando, não...
O vulto de chapéu de palha silenciou então. Ergueu suas duas mãos para os céus, mãos enluvadas se agitando nas pontas de braços muito finos, e o sol pareceu esconder-se, enquanto sua voz rouca falou:
_ Que levantem-se aqueles que caíram! Cascas vazias, sombras do que foram, tombados...! Ergam-se uma vez mais, ao meu comando, pois há outros para se juntarem a vocês no vazio!
Todas as janelas da rua pareciam seladas, todas as portas trancadas. Não havia viva alma em parte alguma de Garland ao que parecia, e as únicas outras pessoas que o trio podia ver eram os assassinos traiçoeiros que haviam eliminado. Mesmo assim, um som de raspar gradualmente se fez ouvir, parecendo vir dos quatro cantos da cidade.
_ Ahhhhhh!!!
O grito de Melissa chamou a atenção de Zero e Daniel, quando ela apontou para o beco. O primeiro mago negro, morto por Daniel em sua investida, estava se pondo de pé lentamente, o ferimento em seu peito ainda escorrendo sangue, e a cabeça pendendo para baixo como um fantoche. E Zero notou que o primeiro arqueiro que abatera, caído do telhado, estava se erguendo da mesma maneira. Ossos quebrados pendendo, com braços e pescoço em ângulos estranhos para qualquer pessoa viva, ainda assim ele mantinha o arco firme em seus dedos mortos enquanto se voltava na direção deles. Daniel olhou de um para o outro e disse o que Melissa sabia, e temia:
_ Mortos-vivos! Aquele homem é um necromante!
Zero olhou para o casal. Melissa estava apavorada; ela já dissera a ele, tinha muito medo de desmortos. Mas também lembrava de que, de acordo com ela, necromantes erguiam os mortos. Então, se aquela pessoa no final da rua se juntasse aos que estava erguendo...! Sem pensar mais naquilo, Zero ergueu a pistola e disparou seu último tiro, bem no meio daquele chapéu que o incomodava tanto.
A cabeça do necromante girou para trás, enquanto o chapéu voava longe, furado pelo tiro de Zero. Mas ele se manteve de pé, ainda que cambaleando dois ou três passos para trás com o rosto ainda não visível. Ele então se endireitou, também parecendo um fantoche como os dois assassinos revividos, e como as criaturas deformadas e malcheirosas que agora se aproximavam das ruas paralelas trazendo o som de raspar com eles. Zero duvidava que todos aqueles cadáveres tivessem saído do nada, e pensou que gostaria de dar uma olhada no pequeno cemitério que vira quando entrara na cidade depois que tudo aquilo acabasse... se pudesse. E Daniel foi o primeiro a expressar sua surpresa.
_ Como? Ele não é...!
_ Não é um homem não, Dan – Zero sentia-se estranhamente calmo, enquanto abria o tambor vazio de sua pistola e procurava a recarga com munição explosiva; só tinha mais três daquele tipo, doze tiros carregados com pólvora extra, ao todo. Teria que ser criativo – É um espantalho. Igualzinho àqueles que ficam pendurados em plantação pra espantar passarinho. Claro, eles geralmente não falam, nem andam, nem são necromantes, mas pelo visto ninguém avisou esse aí.
_ Isso não tem graça, Zero! – Melissa estava desesperada, olhando para todos os lados da rua como se cada passo dos zumbis em sua direção a assustasse mais e mais – Eles não resistem a fogo...! Mas, depois da luta, eu acho que só posso lançar mais um ou dois feitiços hoje... E nem sua pistola nem a lança do Daniel podem matar o que não está vivo!
_ Cê não se importa se eu tentar, né? – fechou o tambor de sua pistola e apontou para o arqueiro desmorto, já esticando novamente a corda de seu arco, atirando antes dele.
O disparo explosivo no ombro esquerdo da criatura fez a flecha ficar presa nos dedos da mão direita enquanto o braço esquerdo e o arco pendiam num ângulo morto para baixo; no entanto, não houve demonstração de dor ou abalo qualquer do arqueiro, que meramente olhou para o ferimento por um instante e então começou a cambalear na direção deles, como os outros faziam. E Daniel alertou:
_ Desmortos não podem ser detidos assim, Zero. Queima, pulverização ou a quebra de suas colunas; são os únicos meios conhecidos de destruir ou retardar um deles. Mas, aqui...!
_ Termina de me contar isso lá em cima, falou? – Zero apontou para uma escada externa à direita deles – Anda, gente, subindo! Vai ser mais fácil a gente se proteger lá no alto!

Sunday, September 19, 2004

Oi Gente! Não é o Ely Corrêa, mas é o Louco!! É o Louco!!! ^^

Bem, já q colocamos o Zero em apuros... e já q por alguma razão o blog se nega a reconhecer os sinais gráficos... vamos mandar o reforço, é ou não é?

Amplexos do Louco!


(...)


_ Por Melk! Em guarda, malditos!
De uma janela do alto, Daniel de Melk saltou sobre os captores de Zero como se fosse o exército de um homem só, mostrando pela primeira vez sua aptidão em combate. Aterrisou sobre o cavaleiro alto quando este se erguia, tombando-o definitivamente.
Ao mesmo tempo arremessou sua lança dupla na direção do mago negro, surpreendendo-o de tal maneira que o inimigo morreu sem sequer ter tempo de baixar o braço que mantinha Zero prisioneiro.
Antes de sentir qualquer alívio, no entanto, o mecânico sabia estar uma fração de segundos atrasado em relação aos arqueiros que o mantinham sob mira, agora tendo chegado à entrada do beco. E sendo dois, pegariam também Daniel.
Mas Melissa também estava lá, e no momento em que seu namorado começara a investida e os arqueiros fizeram mira, ela atingiu a ambos com seu feitiço Bala de Canhão, lançando-os para o lado de arcos e flechas quebrados e seriamente feridos, além de ter posto fogo nas roupas de um deles. Quando Zero voltou-se para eles, os atacantes já estavam fora de combate, e quem ele encontrou foi sua amiga aparecendo na entrada do beco e perguntando:
_ Zero, você está bem?
_ Agora que vocês chegaram... ótimo, irmãzinha – ele sorriu – Deu trabalho reconhecer meu sinal?
_ Quem mais dispararia uma arma de fogo nesta cidade? – Daniel sorriu, recolhendo a própria arma – Dois tiros; viemos o mais rápido possível. Estes homens eram...?
_ Acho que sim, Dan – Zero fez uma carranca – De que outro lugar do mundo você conhece gente que me chama de ‘Mestre Zero’? Me matar tudo bem, mas isso já é sacanagem, pô...!
_ Ai, Zero – Melissa estapeou a cabeça do amigo, o ar aborrecido em sua expressão mais parecendo o de uma irmã mais velha – Pára de falar besteira!
Um som próximo de corda sendo esticada chamou a atenção de Zero e Daniel, que prontamente se voltaram na direção dele, e enquanto o jovem cavaleiro de Melk puxou Melissa para si, colocando-se entre ela e a origem do som, Zero rodopiou para a esquerda e tornou a empunhar a pistola, e enquanto a flecha desceu entre eles, o rapaz encontrou a fonte do som numa janela do outro lado da rua. O arqueiro de Melk estava lá, usando uma brecha quebrada no vidro para atacar.
No breve espaço em que o outro levou a mão às costas para pegar outra flecha, Zero disparou diretamente no vidro, não atingindo o arqueiro entre os olhos de propósito. A idéia era feri-lo com os estilhaços da janela, e a julgar pelo grito que ouviram, dera certo. Mas, ocupado com este inimigo, Zero deixou de reparar no segundo mago negro que surgiu do outro lado do beco.
Quem o viu foi Melissa, que se livrou da mão de Daniel e se colocou entre os dois amigos e o oponente, sabendo que o mago teria chances de lançar seu feitiço primeiro, por chegar de surpresa. E assim foi, uma Aura Magnética arrancando pregos das paredes de madeira dos casebres à volta deles e lançando-os contra ela como uma saraivada das balas de Zero. Sem tempo para um feitiço de defesa, ela uniu suas duas mãos e deixou a direita à frente, palmas abertas e unidas enquanto ela pareceu a Daniel estar pedindo aos petardos que parassem.
Zero não falava à toa das habilidades de seu pai. Quando preparara aquela Braçadeira Defensiva para a amiga maga de seu filho, Seu Dirceu não poupara capricho. A configuração de lascas de Jóias Dragão de Fogo, em pares paralelos desiguais, mais o metal moldado como belas ondas espirais, tinha a propriedade de conter um feitiço usado em sua direção. Sendo um artefato pequeno, Mestre Dirceu não pudera fazer com que armazenasse mais poder do que aquilo, mas a idéia era dar à sua usuária uma pequena vantagem, ao surpreender o oponente. E isso, a braçadeira fizera muito bem.
O mago negro ficou aparvalhado ao ver sua Aura Magnética deter-se diante das palmas da moça, e os pregos e farpas de metal tombarem na poeira antes de causar qualquer dano. Ela não tivera tempo para um feitiço de defesa! Não tivera...! Foram os últimos pensamentos em sua mente, antes de ser atirado para trás por um feitiço Cinese de Melissa, uma onda de movimento de magia que deslocava seu alvo subitamente como se atropelado por cavalos ou algo semelhante. Tão subitamente quanto começara, a segunda investida de inimigos terminara.
Zero, Melissa e Daniel estavam próximos um ao outro, por via das dúvidas, cada um com as costas nas do colega, protegendo os arredores. Zero mantinha espada e pistola em mãos, Daniel empunhava a lança dupla com ambas as mãos e Melissa estava pronta para usar sua braçadeira novamente, se necessário. Mas, embora tenham se mantido quietos por um longo instante, tudo estava quieto.
_ E então? – murmurou Daniel, ainda tenso – Acham que terminou?
_ Ao menos por enquanto, acho que sim – Zero guardou a espada, mantendo a pistola diante de si por mais algum tempo como precaução – Esse é um lugar pequeno, não ia dar pra deixarem muita gente de espia aqui.
_ Esses magos, Dan – Melissa perguntou, olhando para a Braçadeira Defensiva e perguntando a si mesma se conseguiria aprender aquele feitiço magnético – Não me lembro de ter visto ninguém com conhecimento de magia em Melk...
_ Não temos magos lá, de fato – Daniel confirmou, guardando sua lança – Desde os tempos de Kane e Reiko, pelo menos. Quando Christabel retornou ao poder, nenhum usuário de magia pôde ficar na fortaleza. Claro, magia negra, pelo menos. Tínhamos o Irmão Cristóvão, mas...
_ O que quer dizer, Li, que esses caras são contratados – Zero comentou, baixando a arma – Nenhum da fortaleza, acho. Isso deve ser coisa de uma minoria, já que muitos dos Guerreiros de Melk são iguais ao nosso amigo Daniel; não armariam uma cilada desse tipo, certo Dan?
_ Verdade, Zero – Daniel olhou para o cavaleiro tombado com algo semelhante a asco no rosto – Ciladas, ataques traiçoeiros... Não, não acredito que qualquer um de meus companheiros...Desta vez foi Melissa quem percebeu primeiro, embora logo a sensação de aflição e o silêncio brusco que parecera envolver a tudo tivessem chamado a atenção de todos. Num impulso o trio correu para a rua principal, e perceberam que ainda havia um homem lá, de pé e sozinho, do outro lado dela.

Saturday, September 11, 2004

Eita, demorei de novo... ah, chega de desculpa esfarrapada, né?

Olá, gente. Louco, relapso e meio devagar, mas ainda o autor e único ouvinte daqui da área postando uma nova vez.
Vamos colocar Zero numa fria dessa vez...? ^^
Amplexos!!
(...)

No mesmo movimento de mergulhar ao chão, Zero sacou a pistola e apontou para onde ouvira o som, e seu disparo espocou na parede, fazendo-o praguejar. Estava precisando de mais prática de tiro.

O movimento de rolar e ficar de pé fez com que Zero percebesse mais dois atiradores, em pontos diferentes. Havia uma sombra num telhado à sua direita quando se voltou, e um outro ficaria às suas costas.
Cercado por três pontos, com três tiros. Tinha o bastante para atingi-los, e mais nos bolsos, mas era sensato o bastante para saber que não o faria sem que o atingissem. Precisava de cobertura.

Pensou tudo aquilo num segundo. No instante seguinte, enquanto ouvia mais sons de cordas sendo liberadas, Zero saltou para a esquerda e girou no ar, deixando duas flechas passarem onde antes estavam sua coluna vertebral e seu olho direito. Bons atiradores.
E seu giro no ar deu-lhe um segundo para encontrar o atirador às suas costas com sua pistola. Sorriu. Ao menos, um. E disparou.

Zero ainda rolava para trás da parede à sua esquerda quando o arqueiro que estivera às suas costas finalmente bateu no solo. Mas o escavador já procurava por outros alvos, imaginando que dificilmente seus perseguidores se limitariam a três arqueiros furtivos. Aquela cidade, por desanimada e quieta que fosse, também era um bom lugar para uma cilada, porque não havia grandes forças policiais para protege-la. Talvez uma pequena milícia para confusões de taverna, mas duelos entre guerreiros e arqueiros deviam acontecer com freqüência demais para que verificassem tudo. Por isso, também, ele preferira não arriscar Christabel. Ela chamava atenção demais sozinha.

Som de passos apressados à sua direita, no beco que lhe servia de proteção, e foi só a conta de mudar a pistola da mão direita para a esquerda e sacar sua espada, Zero deparou com um espadachim enorme de arma em punho e pronto para golpeá-lo.
Mal tivera tempo de livrar o próprio crânio de um talho, protegendo-se com sua própria lâmina.
Mas o outro era imenso e muito mais forte que ele, a ponto de lança-lo deitado ao chão com o impacto.

Batendo de costas no chão poeirento, Zero praguejou novamente. Não ia ganhar daquele mastodonte sem usar as duas mãos, e não tinha tempo de guardar a pistola. E também não tinha tempo de apontar para ele e disparar; próximo demais.
O gigante golpeou de cima para baixo outra vez, e Zero rolou para a esquerda, desviando e batendo na espada do outro com a sua própria no movimento.

A espada do cavaleiro caiu com estrépito no chão, e ele pareceu surpreso.
Nesse meio tempo, Zero se pôs de pé, e o outro abaixou-se para recuperar a arma, dando ao mecânico a chance para chutar seu rosto. Não o golpe mais honrado de sua vida, talvez, mas estava em menor número e acuado; não era hora para sutilezas.

Foi subitamente levitado então, como costumava acontecer na magia de Melissa. Desta vez, no entanto, seus braços estavam voltados para o alto, e Zero tornou a praguejar. Não podia atirar no mago responsável por aquilo, nem se defender de forma alguma.

_ Pendurado igual carne de açougue...! Praga!

_ Sem mais problemas agora, escavador – um homem de capuz e manto escuros se aproximou, a mão direita estendida para o alto em sua direção; obviamente, o mago que o pegara desprevenido – Você já deu muito trabalho, e o único motivo pra não ter morrido ainda...

_ ... é os seus arqueiros não conseguirem acertar nem uma parede de mansão a cinco metros de distância – Zero completou com ar cansado – Não fosse pela mira deles, eu já ia estar a caminho do além.

_ Ainda pode ser providenciado, maldito – o cavaleiro alto rosnou, sangue escorrendo da boca onde Zero o chutara. Mas o mago parecia estar mais calmo.

_ Não se engane, rapaz. Você vai morrer. Se não quer sofrer demais, é melhor parar de nos dar trabalho e dizer onde foi que escondeu a bruxa.

_ Vai se danar. Você é bruxo, também.

O cavaleiro imediatamente esmurrou Zero no estômago, e tudo ficou turvo para o mecânico enquanto ele procurava respirar.

_ Respeito, Mestre Zero – o mago retrucou – Última chance; diga onde está Christabel agora, e pode morrer depressa. Ou então...

_ Ou então, seu colega aqui vai cuspir mais dentes – e antes que qualquer um pudesse esboçar reação, Zero aproveitou-se da suspensão que o mago negro estava lhe dando e chutou o cavaleiro alto no rosto com a força das duas pernas, um verdadeiro coice de mula.

A reação fora planejada; não tinha como interromper a concentração do mago, então pretendia irritar o cavaleiro para que acabasse com ele depressa. E a julgar pela fisionomia dele ao rolar pela poeira, conseguira seu objetivo.

Saturday, August 21, 2004

Finalmente, depois do maior tempo sem postar nada, Louco tá de volta aos posts!

*suspiro* Ah, nem vou mais prometer não desaparecer. Ultimamente, eu tô meio embaçado pra escrever. Mas *sorriso* ao menos, não preciso me preocupar com não postar por um bom tempo; ainda tem uma tremenda dianteira até o pedaço q eu empaquei. É só não ficar empacado pra sempre.

Amplexos do Louco, leitores! E até a volta...!

(...)


De volta a Melk, o povo estava indignado e terrivelmente entristecido com o que lhes era apresentado. O corpo do Capitão Marco, líder das defesas de Melk e provavelmente a figura pública mais bem quista da fortaleza fora encontrado por um grupo de soldados numa vala próxima a um paredão de montanhas próximo, coincidentemente nos arredores do Monte Serafim, onde restos de um acampamento habilmente disfarçados tinham sido descobertos. Haviam mulheres e crianças reunidas aos homens no pátio interno, muitos chorando. Michael, conselheiro líder de todos os comandantes militares de Melk, resolveu pronunciar-se:
_ Encontramos o corpo do capitão há apenas uma hora. Evidentemente, ele também deve ter sido eliminado pelos fugitivos; é realmente lamentável. Observem; há sinais de ferimentos, similares aos disparos de uma pistola, nas costas do capitão.
Na realidade, a encenação fora convincentemente armada para que os ferimentos ficassem indistintos, mas era simples manipular uma multidão alterada. Acreditariam no que fosse dito, e com um exame superficial e a palavra de um distinto oficial de Melk, não havia por quê não reconhecer nos ferimentos das costas de Marco furos que poderiam ter sido abertos por uma pistola. Como a de Zero, também desaparecido desde a noite anterior.
_ Tudo parece muito claro – murmurou Irmão Cristóvão, a figura a quem todos se voltavam quando precisavam de sabedoria ou consolo – A Rainha assassinou o Jovem Brás ontem à noite, e Mestre Zero e seus companheiros a auxiliaram a escapar. Nossos batedores encontraram sinais, traços de fuga até as encostas do Monte Serafim, mas não havia sinal deles lá; apenas o corpo do nosso bravo capitão.
_ Mas por quê, Irmão? – perguntou uma voz solitária na multidão, inconformada – A bruxa não tinha qualquer razão para isso! Ela já não nos punia pelos supostos atentados haviam anos!
_ Tudo é obscuro quanto aos motivos de Christabel, receio – Cristóvão baixou sua cabeça – Assim como parece estranho que Mestre Zero e seus amigos a tenham auxiliado. Ou porquê, sendo tão poderosa, ela precisava fugir depois deste ato de crueldade específico, embora não seja de todo descartável a idéia de que ela poderia, talvez, imaginar que mesmo seu poder não a manteria a salvo depois de levantar tamanha onda de indignação.
_ Quanto aos motivos, infelizmente parece óbvio – Michael juntou, tristemente – Não era difícil notar que Marco era muito mais respeitado e querido entre estas muralhas do que ela jamais poderia ser. E ‘nossa rainha’ nunca tolerou concorrência. O mesmo pode se dizer do Jovem Brás, que os deuses o coloquem ao lado do corajoso Marco entre seus melhores guerreiros.
Michael não tinha qualquer dom de magia, mas quase podia ver a indignação do povo crescendo. Estava funcionando muito bem. Um pouco de manipulação, um desaparecimento discreto do corpo do capitão, movendo-o para um local mais adequado, e as palavras do etéreo Irmão Cristóvão haviam convenientemente dado o efeito final. Ainda que Christabel retornasse naquele mesmo dia, por mais bem apoiada que estivesse, o povo não a aceitaria de volta. Em último caso, a bruxa chacinaria todo o seu povo, na mais que improvável possibilidade de que recuperasse seus poderes,,, e seria a Rainha de uma fortaleza vazia. Mas, claro, tal coisa não aconteceria. Agora podiam mobilizar mais soldados, se necessário. Se as primeiras armadilhas preparadas para Christabel e seus aliados não os pegassem, eles poderiam enviar tropas inteiras. O importante era que a feiticeira não retornasse às muralhas.
Longe dali, nas proximidades de Garland, Christabel praticava. Não sua esgrima, propriamente; estava tentando utilizar sua magia.
Lembrava-se de Zero ter lhe dito que a tiara não era perfeita, podendo deixar que algo de sua magia escapasse em momentos de tensão, ou fortes emoções. Isso lhe causaria dor, imaginava; quando estivera discutindo com o bando de covardes na noite anterior, sua cabeça chegara bem perto de explodir. Mas, se pudesse resistir àquela dor, torna-la em mais força, a ponto de controlar o mínimo de energia que a tiara deixava escapar... teria algo de seu poder de volta. Não o suficiente para lutar, por si só, mas talvez...
Num movimento rápido, apanhou o punho da espada e ergueu a lâmina, desferindo um belíssimo golpe lateral, da direita para a esquerda. E outro. E mais outro, a cada golpe avançando um passo largo. Usar a dor, senti-la e transforma-la em força, era algo que ela sabia que podia fazer. Sempre o fizera. Não havia qualquer novidade nisso.
Acreditava poder voltar seu poder para dentro de si mesma. Doía demais, o mero fato de pensar em seus poderes; eles tentavam sair, e a tiara os reprimia. Mas, se ao invés de sair... Se eles apenas se manifestassem livremente, em seu corpo... Não bastaria, era muito pouco em vista do que ela costumava fazer até então, mas seria muito mais simples do que comandar grandes poderes, e um ótimo treinamento para começar. Respirando profundamente, como se ainda fosse uma aprendiz, ela se concentrou em lembrar os eventos da noite anterior. Lembrou-se de Brás, e daquela tropa de soldados dentro de seus aposentos, depois de ela ter dito a eles para que não entrassem...
Sua cabeça latejou, a espada tremendo um pouco em suas mãos antes que ela se controlasse. Não estava bom. Sabia que algo de seu poder devia ter aparecido, mas era fugaz demais para que conseguisse percebe-lo, menos ainda utiliza-lo de alguma forma. O instinto de evitar a dor foi rapidamente suprimido, e ela voltou a posicionar a espada diante de si mesma, esperando... Relembrando...
E em sua mente, Brás estendeu-lhe aquela revoltante proposta de abdicação. Ela cortou fora sua mão, derrubou dois dos soldados e o aprisionou numa chave de braço, dando vazão à sua raiva e frustração por...
A dor se fez presente, muito maior agora, mas desta vez, Christabel quase pôde ver; estava lá! Zero tinha razão, seu poder ainda estava lá! Por um instante muito curto, antes que a dor a fizesse recuar, ela podia sentir outra vez o seu poder. A dor o precedia e sucedia, sempre surgindo antes dele e partindo depois dele, mas ele estava lá! Curto demais para que fosse utilizado da forma correta, infelizmente, mas... ela era uma sobrevivente. Sabia retirar forças de onde ninguém mais esperaria, se isso fosse necessário.
Zero tinha razão quanto a outra coisa; pensavam nela por tempo demais como uma ‘feiticeira poderosa’, e essa fora a razão para ter sobrevivido apenas com sua espada por tempo suficiente para que o mecânico pudesse chegar até seus aposentos. Mas no futuro, não poderia contar apenas com aquilo. Mais do que sua espada, ou sorte, ou elementos desconhecidos... tinha que sempre estar um passo adiante. Não tinha como saber quanto tempo ainda usaria aquela tiara; que fosse pouco, mas... caso não fosse, ela precisaria de um arsenal novo de recursos para usar. Respirou profundamente, afastou a lembrança da dor com determinação e tornou a se lembrar, reunindo coragem para tentar novamente.
De volta a Garland, Zero terminara sua carta. Rápida, ele dizia o que julgara necessário para que o pai entendesse, e esperava que o Velho Dirceu pudesse pensar em como espalhar a notícia aos quatro ventos. Repassou mais uma vez o texto:

Oi Pai! Sou eu, Zero!

A missão em Melk foi cumprida, mas você sabe o que dizem, uma coisa leva à outra. Sem muitos detalhes, mas tem um equipamento baseado em Dragão de Fogo que você precisa remover. Desculpa, eu acho que ainda não sou bom o bastante pra isso.

Nossa cliente, aliás, é a mesma que pediu o Amplificador. Então, veja se não demora muito, Seu Dirceu. Ela já tá impaciente o bastante só de andar comigo.

Ah, só mais uma coisinha... Melk. O Amplificador tá lá, e vai fazer bem sua parte... Mas se precisar de recarga, não vai ter. E acho que todo mundo devia saber disso. O que você acha, pai?

Vai se preparando, que a gente chega em breve. Arrume lugar pra umas três pessoas, duas garotas e mais um cara, por aí. De preferência, um exclusivo. Uma das passageiras é meio séria demais.

Beijão do seu filho.


O fato de ter colocado seu nome fazia com que qualquer perseguidor que pudesse colocar suas mãos na carta saber do que se tratava, mas olhos curiosos alheios não deveriam entender do quê a carta falava. Era pouco, mas ele não podia esperar por mais sigilo que aquele, de qualquer forma. Fechou o documento num envelope, selou-o e o viu ser enviado. Suspirando, perdido em pensamentos por um instante, Zero saiu da agência postal.
A rua de areia parecia estranhamente deserta, e Zero sentiu que algo não estava certo. Um vento oeste soprava, jogando pó e prenunciando uma chuva muito breve, vindo como vinha com o cheiro de terra molhada que Zero tanto amava. Aquilo poderia passar por uma ótima razão para o desaparecimento dos pedestres, mas o rapaz estava se sentindo inquieto. Podia ser apenas desconfiança natural de fugitivo, claro...
E ele ouviu o som de uma corda sendo esticada, e se jogou para frente no solo, ao mesmo tempo em que o som da corda soava alto e uma flecha passava sibilando sobre onde sua cabeça estivera.
“Desconfiança natural o meu dedo!”

Friday, August 06, 2004

Hehehe, saudações garera!!!! Depois do exílio Loucomon tá de volta, com mais coisa da Rainha e companhia.

Tô até contente de estar bem adiantado, pq agora tô reescrevendo um pedaço enorme... Mas, nada temam, a história vai continuar ilesa.

Hoje conheçam um outro personagem... heh, e uma homenagem velada a uma conhecida minha, tbm ^^

Amplexos do Louco!


(...)


_ Não irei com vocês.
_ Nah, claro que não! – Zero confirmou – Vai ser você, principalmente, que vão estar procurando. Vou eu, Daniel e... acho que vai ser melhor se levarmos a Li. Uma vez que eu não posso chegar na cidade com a Unicórnio, se nossas suspeitas tiverem certas, e que a Sari não pode montar a cavalo...
As duas se entreolharam. Ele queria dizer que ambas ficariam sozinhas ali. Nenhuma parecia muito ansiosa pela oportunidade, e Zero continuou:
_ Pelo menos até poder tirar essa coisa da sua testa, Christie...
_ Não precisa me chamar assim! – ela rosnou.
_ Tá, que seja! Mas, como eu tava dizendo, seria bom você praticar mais com a espada. Pelo que eu vi ontem, acho que você se defende muito bem com a sua, mas tá acostumada a pensar nela como um último recurso, não sua arma principal. Acho que você pode se aperfeiçoar mais se treinar. Sari, acha que pode ajudar a Rainha...?
_ Não – Christabel afastou-se, dando as costas a eles – Posso praticar sozinha.
E não havia o que pudessem dizer quanto a isso. Ainda que deposta, Christabel continuava a ser uma Rainha, e com a atitude de uma; não aceitava ser contradita. Não que Sari estivesse realmente ansiosa para ajuda-la naquilo.
_ Acho que prefiro assim, Zero – Sari olhou apreensivamente para Christabel, que se afastava – Também não gostaria de me bater com Christabel sem necessidade.
_ Você provavelmente é a melhor espadachim de todos nós aqui, Sari – Zero comentou, lembrando-se de seu duelo com a caçadora no Torneio, e Sari acenou com a cabeça.
_ Isso não tem a ver com habilidade. Se necessário, eu lutaria contra ela... mas acredito que a nossa ‘Rainha’ já se habituou demais a ver qualquer pessoa como inimigo para que eu queira apontar uma espada para ela.
Daniel e Melissa imediatamente concordaram com Sari, entendendo o que ela queria dizer, mas Zero deu de ombros e disse casualmente:
_ Tudo bem, estamos de saída, meninas. Não devemos demorar muito, então tentem não se matar enquanto estivermos fora, hein?
Sari olhou para ele com espanto nos olhos, mas Zero piscou e sorriu para ela, subindo num cavalo enquanto Melissa e Daniel montavam no outro e partiam na direção da cidade mais próxima, Garland. Assim que se lançaram à estrada, Daniel questionou Zero quanto ao motivo de escolherem justamente aquela cidade; um entreposto entre Melk e cidades do leste, voltada principalmente ao comércio mas pobre por ser tão isolada dos grandes centros urbanos, a maior parte da cidade era uma favela nada atraente e perigosa para viajantes.
_ Exato, Dan. Essa é a idéia. Deve ter movimento o suficiente pra uma confusão ser notada fácil, então assassinos discretos não iam se arriscar. Além disso, lá tem um serviço postal, e é só disso que precisamos. Entramos, mandamos a correspondência e saímos o mais rápido possível. Não tem erro.
_ Você sabe muito bem que as coisas não costumam ser tão fáceis assim, Zero – bronqueou Melissa – Caso tenha se esquecido, nossa missão devia ter sido só entregar o Amplificador em Melk, e olha só como estamos!
Zero voltou os olhos para ela, parecendo genuinamente admirado.
_ Tá reclamando do quê? Você até arrumou um namorado!
Melissa e Daniel ficaram encabulados e com as faces vermelhas demais para qualquer outro comentário por algum tempo, ao que Zero riu gostosamente. Mas Melissa já tinha passado tempo suficiente com ele para aprender a responder.
_ E você arrumou duas, seu chato.
Ele voltou os olhos para ela, desta vez realmente admirado. Não esperava que ela respondesse, e se esperasse, não seria por aquela resposta.
Nada realmente digno de nota se deu quando entraram na cidade de Garland. Muito bem, era um entreposto comercial, mas muitos viajantes empoeirados apareciam ali todos os dias para que um trio novo chamasse atenção demais. Sem demora, eles desceram até o ‘Distrito’, onde havia uma agência postal, e Zero pediu:
_ Tudo bem, vocês dois por favor cuidem dos cavalos. Eles com certeza não vão achar ruim comer e beber um pouco enquanto esperam. Se ouvirem o meu sinal, vocês me ajudam; vou tentar não chamar atenção se não for preciso.
_ Sinal? – perguntou Daniel, e Zero retirou sua pistola, trocando a munição por outra, ao que Melissa perguntou:
_ Quer me dizer por quê você se deu ao trabalho de fazer aquelas balas explosivas, Zero? Reduziu sua munição, e não serviu pra nada.
_ Eu tava esperando por problemas com aquele tal Arcano, o Rasura, que atacou na noite em que nós chegamos. Enchi ele de tiros e o bicho não morreu – deu de ombros – Sei lá. Foi só uma idéia.
E se afastou, deixando os dois cuidarem dos cavalos. Na verdade, tinha outra boa razão para querer usar o correio, e não achava conveniente que Daniel soubesse antes da hora, temendo que ele pudesse insistir em retornar para Melk. Zero não ‘desconfiava’ que Ahl-Tur voltaria; ele estava certo disso, e que era uma questão de tempo. E duvidava seriamente que as forças da fortaleza fossem capazes de resistir a ele.
Afastou o pensamento, deixando apenas que o peso dele descesse por sua garganta. Melk estava condenada. Era preciso que mandasse mensagem para as cidades mais próximas, também, alertando do banimento de Christabel. Também fora outra razão para que não comentasse com o grupo, diante da Rainha principalmente. Ela certamente não quereria que o mundo soubesse de sua queda, mas isso não era uma questão de vaidade; sem fortificações, sem preparativos adequados, ele não conhecia uma única cidade humana capaz de resistir ou sobreviver a uma avalanche de criaturas de Além da Fronteira, salvo a Cidade Sucata e sua irmã, a Cidade Avançada. As duas eram protegidas por uma muralha seminatural que as rodeava, e os técnicos e mecânicos tinham resolvido completar aquilo com uma barreira construída pelo homem. Era bom saber que seu pai estaria a salvo, bem como seus amigos mais próximos, mas a mãe de Melissa não morava ali, assim como mães e pais de muitas outras pessoas. Ele precisava fazer o que pudesse para impedir...
_ ‘Lari-larirari-larirari-larirari-larilari-larilari-larilá! Ô-ô!’
Zero voltou-se, visivelmente surpreso. A voz parecia um pouco ébria, mas era alegre demais e foi isso o que despertou a atenção do rapaz. Garland podia ser útil, mas parecia tão tristonha em sua decadência acelerada que a última coisa que ele teria esperado ali era uma voz cantarolando com alegria. E ele viu um Religioso, da Ordem Branca. Misto de sacerdotes e magos brancos, eles ao mesmo tempo levavam consolo espiritual e proteção às cidades naqueles dias.
Aquele em particular estava rodopiando pela avenida central de Garland, o rosto barbado parecendo sorrir e um cajado enorme de madeira, com o topo semelhante a uma cruz. Um enorme crucifixo de madeira pendia de seu pescoço, e vários rostos olhavam para ele de forma hostil. Uma garota de cabelos escuros, que parecia nunca ter sorrido em sua vida inteira, abriu uma janela parecendo ter acabado de ser despertada e gritou, com os olhos fuzilando:
_ Cale a boca, Laírton, seu bêbado desgraçado! Uma hora dessas da manhã e já está calibrado?? Se quiser cantar, aprenda a letra pelo menos!!
Laírton voltou-se para a moça e sorriu ainda mais amplamente, fazendo uma reverência profunda como se estivesse num salão de baile, antes de responder:
_ É uma melodia orquestrada, tocada nos órgãos de nossos templos, querida Paula. Infelizmente, não tem letra! E, já que não tenho um órgão aqui, receio que precise fazer o melhor que posso com minha voz.
_ O melhor que você podia fazer era ficar calado, seu filho da p*$!a! Tem gente aqui querendo dormir!
_ Mas, linda Paula, a manhã foi feita para se brilhar! E para que as lindas damas mostrem seus rostos sob a luz do sol criado por Nosso Senhor! É claro – sorriu mais claramente para a garota irritada na janela – nem todas podem ser lindas, ou damas. Você beija sua mãe com esta boca, menina?
O resultado foi uma imprecação ainda pior da moça, e então Zero afastou-se, rindo. Gostara do Religioso. Podia estar bêbado, podia ser um pouco inconveniente, mas sem sombra de dúvida era bem humorado.



Saturday, July 17, 2004

Às vezes, é  preciso mudar de ares, mesmo sem querer, pra resolver uns problemas.
 
Aproveitem pra curtir, esse é o capítulo onde outro dos novos personagens aparece. Vou dar uma dica q não vai servir pra nada. Ele é um Religioso.
 
(aaaaaah, agora entendi...! ^^')
 
Amplexos, e curtam o frio!
 
Louco
 

XIII – Irmão Laírton
 
 
Haviam se passado por volta de oito horas desde que tinham deixado o Monte Serafim quando Zero finalmente se deu por satisfeito e resolveu implementar a segunda parte de seu plano de partir de Melk. Os outros não entenderam por quê parar numa cidade, se certamente estariam procurando por eles.
_ É verdade, eu sei disso – ele argumentou, quando todos com exceção de Christabel indagaram – Mas tem coisa mais séria do que a gente se manter em segredo; vamos ter que arriscar.
_ Por exemplo? – quis saber Melissa.
_ Por exemplo, o fato de que o tal do Cavalgadura ainda tá a solta por aí – todos olharam para ele com ar de estranheza, com exceção de Christabel e foi para ela que Zero se voltou – Você não acabou com ele na última luta, né Christie?
O olhar dela para ele deixou bem clara a sua apreciação quanto à pressa de Zero em usar o seu novo nome, e Daniel e Sari olharam com preocupação para o mecânico.
_ Não me chame assim.
_ Tá, tudo bem, mas responde à minha pergunta. Ele sobreviveu, não foi?
Christabel se manteve olhando rancorosamente para Zero por mais um longo instante, e então desviou os olhos, falando com ar de pouco caso.
_ Só destruí a forma física dele. Elimina-lo por completo não seria tão simples, ou rápido.
_ Viram? – Zero olhou para os demais companheiros, agora sério – O Amplificador que tá ligado em Melk deve impedir criaturas de Além da Fronteira de entrar na área de alcance da máquina, o que quer dizer toda a fortaleza e mais algum terreno ao redor, por conta do poder da Rainha. Mas eu acho que aquele cara é forte o bastante pra entrar assim mesmo, e... não acho que ele vai aparecer sozinho da próxima vez.
Até mesmo Christabel olhou para Zero com uma pergunta não formulada, e ele confirmou com um aceno de cabeça.
_ Na noite em que eu e a Li chegamos em Melk, e a gente deu um fim nele – outra vez Christabel pareceu contrariada, Melissa sem jeito, e Zero indiferente – o cara se apresentou formalmente antes de ir embora. Disse que era ‘o Mestre dos Arcanos’. Se isso quer dizer a raça dele, ou um bando de gente com o mesmo tipo de poder que ele tem, acho muito difícil só a barreira resolver.
_ Mas, Mestre Ze... – Zero formou uma carranca e Daniel deteve-se – Ah, desculpe, eu ainda não me acostumei... Mas, como eu dizia, a barreira não devia ser perfeita?
_ Não existe nada perfeito, Daniel – Zero retrucou – A barreira do Amplificador não é exceção. Tá, o sistema de ressonância faz a barreira da Rainha se manter em flutuação em cima e em volta de Melk, mas basicamente é um campo de energia. Uma freqüência mais alta de energia pode interferir nela, e até desativar.
_ ‘Freqüência... mais alta’?? – Daniel perguntou, obviamente sem entender.
_ Um campo de energia mais forte – Sari explicou, olhando para Zero como se pedindo confirmação – Não é isso? A barreira funciona com uma espécie de vibração; você teme que vários inimigos poderosos criem uma vibração mais forte ainda, e a interrompam.
_ É isso mesmo! – o sorriso de Zero para Sari cintilou, e ela ficou encabulada novamente – Nada como falar com uma especialista! E se tiver mesmo mais de um daquele fulano, como eu imagino que tenha, um trabalho de equipe bem feito colocaria eles dentro de Melk, pouco importando a barreira ou não.
_ Mas então, de quê adiantou colocar o Amplificador? – Daniel perguntou.
_ A idéia era facilitar o trabalho da Rainha, Daniel. Nunca foi dito que a barreira do Amplificador devia manter qualquer coisa fora da fortaleza. Quem quer que tenha tido essa idéia cretina de eliminar Christabel entendeu errado... a menos que tenha alguém lá querendo deixar os monstros passarem.
_ Mas, se esse é o caso, deveríamos voltar o quanto antes! – Daniel alarmou-se, parecendo pronto para retornar a Melk naquele exato instante – Cada segundo conta! Os monstros podem...
_ Calma, segura os cavalos aí, ô! – Zero interrompeu, segurando-o pelos ombros – Não vai adiantar nada voltar lá agora, lembra? Christie ainda tá com essa tiara, ela não vai poder ajudar muito. Temos que tirar isso dela primeiro, e isso quer dizer chegar na Cidade Sucata.
_ Podemos não ter tempo, Zero – Daniel replicou, angustiado – Deuses... Será por isso que eu...?
_ Acalme-se, Daniel – Sari pediu – Nenhum de nós, com certeza, quer os monstros de Além da Fronteira vagando à solta pelo mundo. Mas uma volta apressada não vai resolver. E, Zero, embora também confie em você, gostaria de saber por quê acha que precisa ir a uma cidade; não vamos perder tempo?
_ Um pouco sim, Sari – ele concordou – Mas é preciso. Quero mandar um pombo-correio pro meu pai, relatando a situação e pedindo uma força pra ele. Assim, quando a gente chegar na Cidade Sucata, ele vai saber de antemão qual é o problema e deve estar tão preparado quanto der pra trabalhar. Quanto mais rápido melhor, né Christie?Ela não respondeu, meramente encarando-o. Mas ele estava certo, quanto antes pudesse tirar aquela tiara, mais cedo ele deixaria de chamá-la por aquele nome tolo. De uma forma ou de outra.