Saturday, September 29, 2007

Saudações gente que lê! Na noite de sabatina, saudações loucas do Louco!

Sim, estou refazendo o final já terminado de Christie. Acho que tá ficando melhor, mas até aqui tá me consumindo um tempinho... Espero q todos gostem... ^^'

Bão, sem ficar embaçando, que telefone tá caro! Amplexos do Louco, feliz com o tempo doido!

(...)


_ Mad, cuidado!

Com seus alvos finalmente próximos o bastante uns dos outros, e como se fossem uma única criatura, os soldados na linha de frente curvaram-se e os arqueiros liberaram suas flechas em uníssono. Mas uma figura alta entre os invasores ficou de pé e ergueu seu cajado, e foi como se cada uma das flechas de escuridão se chocasse contra uma barreira de névoa luminosa.

_ Laírton! – Zero exclamou aliviado – Você tá bem?

_ J-já estive melhor... amigo Zero – o Religioso estava oscilando, a mão direita mantendo o cajado erguido com esforço e a esquerda estendida adiante. Havia suor frio escorrendo em seu rosto e, tendo bloqueado a salva de flechas, ele tombou para frente, sendo amparado por Sari e Maddock.

_ O que foi que te fizeram, Irmão? Você tava afastando eles, e aí...

_ Eles não podem ser afastados... amigo Maddock – Laírton ofegou, lutando para ficar de pé.

_ Como é?

_ Seu propósito... Poderoso demais. O rancor deles... Sendo alimentado pela escuridão, a mesma que derrotamos no Cemitério dos Aviões.

_ Ah, tá me tirando – Maddock resmungou – Não pode ser aquele cara de novo.

_ Isso explica tudo, Maddock – Sari retrucou, mantendo-se em guarda mas sem saber de fato o que fazer – O mestre da escuridão já usou desmortos antes, lembre-se, e esses soldados de Melk estão usando as armas dele. Simples e brilhante, erguer espectros de rancor; não temos como destruí-los de forma permantente apenas usando a força. Talvez Christabel possa usar magia contra eles, mas enquanto ela estiver em Melk, eles tornarão a se erguer.

Christabel já se dera conta de que algo não ia bem, muito antes dos outros. Não importava o que fizesse ou quantas vezes abatesse seus desafiantes, eles pareciam sempre regressar. Michael, Brás, Francisco, Pedro e quase todos os outros membros do Conselho... Ela podia ver claramente os ferimentos pesados que causara a eles em cada uma de suas investidas, mas eles não pareciam fazer qualquer conta deles. E havia uma silenciosa força sombria permeando a fortaleza, que ela agora podia distinguir claramente.

“Apenas está dando-lhes substância, no entanto. Enfraqueceu-se demais depois das investidas na casa de Maddock e na perseguição, parece... mas estamos em perigo.”

Christabel sabia que não podia interferir na força sombria sem derrotar os espectros... e nunca os derrotaria enquanto eles pudessem tornar a se refazer. Ela poderia combatê-los quase indefinidamente, mas os espectros dos traidores nunca se cansariam. Ao contrário dela, ou de seus companheiros.

“Zero!”

Ela sentiu a emanação da barreira de Laírton, e chicoteou com sua espada à esquerda e direita com sua própria magia de cinese, afastando os oponentes de si por tempo suficiente para saltar da muralha e cair diante dos companheiros abaixo de si, a tempo de ouvir Maddock resmungar enquanto abria fogo contra os soldados aglomerados ao redor deles:

_ Pusta sujeito chato. Odeio gente que não se toca.

_ Hermes, quer parar de brincadeira? – Freya bronqueou exasperada, mantendo a guarda com seu escudo à esquerda e uma pistola à direita, mesmo sabendo que não adiantaria disparar. E Maddock, terminando com aquele pente de munição, replicou:

_ Mas é sério, olha só o cara! Já perdeu pro Laírton, pra mim, pra Melissa e nem assim se mancou que não é páreo pra nós! Caraca, que parte do ‘você perdeu’ tá tão difícil de entender?

_ Se erguerão enquanto eu estiver aqui – Christabel murmurou, parte da irritação impossível de omitir da voz – Movidos e reerguidos pelo rancor como forem, eles ainda lutarão enquanto o inimigo estiver diante deles. Ainda são os guerreiros de Melk.

_ Não, Minha Senhora, não o são. Não mais.

Daniel estivera silencioso até então, e agora se pusera entre a Rainha e Zero, um olhar de aço voltado para os espectros enfileirados diante deles, onde Michael e os demais Conselheiros pareciam ter se materializado. Mas a voz dele parecia diferente, e Laírton, Sari e Christabel perceberam outra diferença. E também os espectros de Melk, que remexeram suas armas inquietos e parecendo irritados.

_ Você...! – Michael rosnou, erguendo do nada um arco escuro – Não tem o que fazer aqui, seu tolo!

Uma flecha de escuridão foi disparada, mas um movimento hábil de espada a destruiu e abriu a névoa sombria em duas com um corte limpo. E diante dos olhos admirados de Zero, Melissa, Maddock e Freya, a figura alta e imponente do Capitão Marco de Melk cintilava sobreposta a Daniel, a espada ainda erguida na posição do golpe e um escudo largo em seu braço esquerdo. E ele encarava com severidade e imponência aos espectros diante de si.

_ Estes são apenas as sombras dos homens que aqui viveram – Marco continuou falando, apontando sua espada para os espectros – Mortos pela fraqueza de seus próprios corações, incapazes de encontrar o descanso na morte honrada ou de reconhecer o erro de seus atos mesmo depois de pagar o preço final. Tão esquecidos de seu verdadeiro propósito que preferem condenar a si mesmos a uma eternidade de rancor, tão famintos e desgraçados quanto as criaturas que enfrentaram em vida por serem incapazes de aceitar sua Senhora de direito.

_ Não aja como superior diante de nós, seu hipócrita! – Michael esbravejou, conseguindo murmúrios de aprovação dos espectros atrás de si – Você a despreza, tanto quanto nós! Ao menos tenha a decência de dizer o que pensa dela agora, que a tem diante de você!

_ Christabel me absolveu, Michael – Marco murmurou, de cabeça baixa – Ela me mostrou misericórdia, permitindo-me uma chance de redenção por tudo o que fiz ou disse contra Sua pessoa e livrando-me do mesmo destino odioso ao qual vocês se entregam de bom grado. Mas o tempo do ódio passou, para ela e para vocês. Partam! Nossa Rainha regressa ao que restou de seu lar, e vocês não têm o direito de impedí-la. Deixem de servir à escuridão à qual se entregaram, e não a perturbem mais. Peço a vocês em nome do tempo em que lutamos lado a lado.

_ Melk é o nosso lar, capitão – alguém gritou entre os espectros – e sempre será! Se vai se colocar contra nós e ao lado da bruxa, é melhor que esteja preparado para partilhar o destino dela!

Os olhos de Marco faiscaram na direção dos espectros. Aqueles não eram mais os homens que haviam servido ao seu lado; tudo o que havia era a sombra faminta com a forma deles, e ele sabia que era o momento de sua redenção. Erguendo a espada diante dos espectros, ele bradou:

_ Levantem-se, Cavaleiros de Melk! Verdadeiros espíritos daqueles que lutaram entre estas muralhas, guerreiros de valor, homens e mulheres que aqui tombaram com honra, para proteger e servir e que reconhecem o erro contra sua Senhora de direito, apresentem-se diante de mim! Que nossa dívida seja compensada, pois apenas o verdadeiro desejo de redenção pode se opor ao rancor impenitente. Guerreiros de Melk, unam-se a mim!

De vários pontos do pátio interno e externo, como se tivessem apenas aguardado tal convocação, numerosas figuras translúcidas e luminosas como o próprio Marco emergiram aos poucos como se fossem focos esparsos de névoa clara e, sem um único olhar para os espectros sombrios aglomerados no centro do pátio, vieram postar-se diante de Marco com uma saudação. Dentre eles destacou-se um vulto mediano, com um escudo redondo e uma maça de corrente que se postou diante do capitão e curvou a cabeça em saudação.

_ Sargento Castro, de Melk, se apresentando ao serviço. Bem-vindo de volta, senhor.

_ É bom rever a todos, sargento – Marco respondeu com um aceno de cabeça, sorrindo serenamente – Há uma última batalha diante de nós.

_ Duas, na verdade – Castro fez outra reverência ao capitão – Permita-me...

Passando por Marco, Castro foi até Christabel e colocou-se sobre um dos joelhos, em reverência, e de cabeça baixa murmurou com humildade:

_ Em meu nome e de todos os meus, Majestade, solicito a honra de auxiliá-la em batalha. Não temos meios de desfazer o que lhe fizemos por anos... mas gostaríamos de impedir que prosseguisse. Se estiver de acordo, conduza-nos uma vez mais; nós a seguiremos de bom grado.

Zero sorriu discretamente ao olhar para a expressão de Christabel. Para todos os outros colegas ela podia estar exatamente como sempre parecera, altiva, superior e indiferente... mas ele a conhecia melhor. O silêncio prolongado dela era fruto de uma tentativa suprema de conter as lágrimas naquele momento. E sua voz também não tremia quando ela enfim falou:

_ Conversemos depois. O inimigo está esperando.

Zero e sua comitiva olharam admirados enquanto os espíritos dos guerreiros de Melk colocavam-se à volta de todos eles e atrás de Christabel, Marco e Castro, e os espectros sibilavam ao reconhecer sua situação. Era possível, mesmo para os viajantes com menor sensibilidade, perceber a tensão entre as duas hostes oponentes. E Christabel, sua espada curta pendendo da mão direita baixa, perguntou em voz baixa e mortal:

_ Ainda se atrevem a me enfrentar? Como talvez tenham percebido, não estou mais sozinha.

Um rosnado baixo cresceu aos poucos entre os espectros, agarrando suas armas com força e encarando a Rainha com supremo desagrado, e Michael deu voz ao que todos sentiam.

_ Não voltará a Melk...! Nós todos juramos, e repetimos essa jura agora! Até o fim dos tempos, feiticeira maldita, você nunca regressará!

O olhar de Christabel, frio como gelo na direção do conselheiro, talvez fosse capaz de assustá-lo mesmo agora. E como de costume, ela não tinha muito a dizer.

_ Me impeça.

E ela saltou adiante, seu primeiro golpe de espada quase abatendo Michael sem dar-lhe chance de esquiva ou defesa, e apenas com muito custo o conselheiro conseguiu recuar e travar batalha, ao mesmo tempo em que Marco, Castro e a hoste de espíritos dos guerreiros de Melk avançava com um brado, para unir-se à sua Rainha em combate. E Zero, a surpresa passada depressa, também lançou-se ao ataque.

_ Espera, Zero, essa luta é só dela...! – Melissa chamou, mas foi ignorada. E Sari meneou a cabeça.

_ Não, Melissa, não desta vez. Zero já deve ter percebido.

_ Percebido o quê? – Maddock perguntou, recarregando às pressas a metralhadora e aliviado ao notar que, ao menos, Beatriz estava tão confusa quanto ele. Detestaria ser o único sem entender o que se passava.

_ A situação é diferente – Laírton acenou, observando com atenção a batalha que rugia no pátio interno de Melk – A presença do Capitão Marco e a convocação dos espíritos honrados da fortaleza trouxe a resposta. Apenas arrependimento sincero e desejo de redenção podem desfazer um rancor tão profundo.

_ Hã... – Maddock olhou ao redor, tentando não parecer tolo – E, em português, isso quer dizer...?

_ Os guerreiros que o capitão chamou também detestavam a Christabel – Melissa murmurou, agora compreendendo – Mas ao contrário dos espectros, eles se arrependeram da forma como tratavam ela antes de morrer. Marco era um grande líder deles, e também deve ter se arrependido, se veio ficar do nosso lado... e a vontade deles de compensar pelo modo como trataram a Christabel deve ser a única coisa no mundo que pode impedir os espectros de continuarem se levantando.

_ Peraí! – Maddock olhou ao redor, finalmente entendendo – Se esse é o caso...!

Eles olharam para a batalha. Os números entre os espectros e os espíritos de Melk eram similares a princípio, mas os penitentes tinham Christabel a seu lado, e a presença da Rainha impedia que eles fossem abatidos. Mesmo quando algum deles sofria o que deveria ser um ferimento mortal, a vontade de Christabel e o desejo de redenção do próprio espírito faziam com que continuasse batalhando. Porém, quando um espectro era ferido, não tornava a se erguer.

_ O rancor está sendo disperso – Laírton confirmou com um aceno de cabeça – E todo aquele lutando por Christabel será agora invencível, pelo mesmo motivo que antes preservava os espectros. E com isso, a força do mestre da escuridão está desaparecendo pelo que, acredito, seja a última vez.

_ E a gente tá fazendo o quê, parado aqui?! – Maddock ergueu a metralhadora na mão direita e sacou a marreta de sua cintura – Vamos descer o braço, minha gente!!

Saturday, September 22, 2007

Oi gente doida! Diretamente de Andrecity, a cidade seca (mas com perspectiva de chuva em breve), saudações do Louco!

Se vcs não repararam, tio doido resolveu postar no sabadão, mesmo. Digo... Estou esperando por problemas com a linha de novo (se eu sumir de novo, suspirem resignadamente e rezem pro Deus da internet pra eu voltar logo; é o que eu geralmente faço ^^) e pra evitar dar furo com a Christie por mais tempo que o necessário, melhor colocar todo o traalho que eu puder agora.

Forte amplexo, com mais um trechinho!

(...)

E Michael, no alto da muralha, acenou para os arqueiros. O aviso já fora dado, e os invasores não partiam; não correriam riscos.

Como um só, Christabel e seus companheiros avançaram rumo à fenda na muralha, exceto por Maddock, que começou a disparar contra os alvos lá em cima numa varredura lateral.

Alguns dos arqueiros imediatamente o perceberam e alteraram seu ângulo, para abater o atirador inimigo, e não havia como Maddock atacar toda a extensão da muralha a tempo de impedí-los, mesmo com sua metralhadora. Mas dois escudos redondos bloquearam as primeiras flechas, e Maddock notou admirado que Freya continuava com ele.

_ Beatriz, o que você...

_ Cala a boca e me acompanha, eu te dou cobertura!

Com Freya diante de si, formando uma barreira móvel contra os arqueiros que tentavam alvejá-lo, Maddock seguiu correndo para direita e esquerda em meio a trincheiras improvisadas em valetas abertas no terreno pela erosão ou batalha. Na primeira pausa que deram, com a Dragonesa sempre mantendo a barreira metálica diante de si e cobrindo a barragem de artilharia de Maddock, o piloto comentou:

_ Eles devem precisar de você lá!

_ Não mais do que você, aqui – ela devolveu, ainda contendo as flechas – Se quer saber, acho que Christabel poderia lidar com isso sozinha... mas cada um de nós vai fazer o que puder. E por enquanto, a minha parte é proteger você.

_ Bibi...

_ E a sua é atirar! – ela bronqueou, voltando-se para ele – Vai ficar parado por muito tempo ainda? Tem mais deles atirando, sabia?

Hermes sorria novamente enquanto respondia ao fogo, mas muitos dos arqueiros na verdade estavam se esforçando para deter a brigada invasora. Como dissera Laírton, a maior motivação deles ainda era impedir Christabel de regressar, e a Rainha vinha à frente da pequena hoste. Os demais tentavam acompanhá-la, mas era impossível mesmo para Zero manter o passo com a motivada feiticeira. Lá no alto, Michael empunhava um arco longo e fez pontaria, murmurando de forma audível em toda a planície:

_ Não vai conseguir... Nunca, em toda a história, a fortaleza de Melk foi invadida por inimigo algum!

E disparou, uma flecha estranha que deixava um rastro escuro como fumaça atrás de si. Christabel saltou, soltando a espada da bainha e talhando o ataque ao mesmo tempo no que resultou em uma explosão surda de trevas, semelhante à pólvora, em pleno ar. Zero sequer teve oportunidade de se preocupar, porque a Rainha emergiu do lado oposto, impávida, e ganhou o alto dos muros, detendo-se em meio a Michael e os sentinelas com a lâmina curta em sua mão direita e em guarda, respondendo:

_ Até hoje.

No alto das muralhas, a luta ficou frenética com vários espectros avançando sobre Christabel ao mesmo tempo, Michael diante de todos eles. E como no dia em que fora expulsa, a Rainha tornou-se o centro de uma multidão de atacantes.

“Mas não como daquela vez”

Ela podia ouvir a salva de metralhadora de Hermes vindo de algum ponto lá embaixo, e reduzindo em muito os números dos que tentavam alcançá-la. Também não estava sem seus poderes; sua espada desta vez servia principalmente para repelir as armas dos inimigos, enquanto sua mão esquerda derrubava vários dos espectros de uma só vez a cada volteio, com explosões de cinese, afastando-os de si como se fossem moscas.

E não estava sozinha. A massa de atacantes vindo de cada recanto desolado da fortaleza subitamente foi forçada a desviar sua atenção dela e dos combatentes no alto dos muros pela hoste liderada por Zero, que agora invadia o que fora o portão oeste.

_ Aê, ‘melhores do mundo’! Vêm pra cima!

Havia pouca diferença entre aqueles espectros de pessoas tombadas com o que eles tinham sido em vida, Zero percebeu. Em aparência eram tão humanos quanto haviam sido, mas seus olhos eram vazios e a pele parecia pálida demais para qualquer ser vivo. Também havia ferimentos mortais em todos, que no entanto não afetavam em nada a habilidade de batalha ou a força deles. Na verdade, Zero reparou depois de conter a investida do primeiro adversário com sua própria espada longa, eles estavam mais fortes do que qualquer oponente humano que já enfrentara. Mas havia uma diferença, também.

_ Vocês tão fedendo. Sai pra lá!

Zero empurrou seu oponente com o pé direito e disparou entre os olhos do soldado, lançando-o para trás. À sua direita, Melissa abriu os dois braços e o equivalente a uma onda de fogo espalhou-se de suas mãos, atingindo escudos e soldados que avançavam e varrendo a hoste oponente naquela direção. E à esquerda de Zero, Sari e Daniel lançaram-se ao ataque, recebendo os espectros com suas próprias armas, enquanto Laírton atrás deles ergueu o cajado com a mão esquerda e comandou:

_ Espíritos de rancor, alimentado pelo medo e superstição sem sentido, desfaço os laços que os prendem! Que encontrem o descanso do qual se esquivam! Desapareçam!

Maddock e Freya continuavam entrincheirados do lado de fora, avançando aos poucos pelo terreno enquanto mantinham a atenção dos soldados sobre a muralha dividida, quando ouviram um estrondo vindo da fenda no muro oeste de Melk. Irmão Laírton foi violentamente lançado para fora do pátio interno e rolou desamparado para trás, como se atingido por uma gigantesca mão.

_ Mad!

_ Já vi!

Os dois começaram a correr na direção do Religioso, caído imóvel e agora exposto às flechas dos defensores. Freya destacou a pistola de seu pulso direito e começou a abrir fogo, enquanto mantinha seu lado esquerdo coberto com o escudo e Maddock puxou algo de sua cintura e apertou um botão, correndo sempre na direção das muralhas.

Ao esperar por quatro segundos, Maddock lançou o que tinha na mão contra o alto da muralha, e uma nova explosão destruiu parte da passagem e aparentemente desintegrou os opositores lá em cima, enquanto ele e Freya finalmente chegavam a Laírton.

_ Como ele está? – Freya perguntou, atirando num dos inimigos à direita e tentando mantê-los protegidos pela esquerda, e Maddock verificou as condições do amigo.

_ Desacordado, mas vivo. Caramba, o que foi aquilo?

_ Nos preocupamos depois. Precisamos tirá-lo daqui.

_ Pra baixo dos muros, acho; somos alvos fáceis parados aqui, e eu não gosto disso. Anda Bibi, me dá uma força!

A explosão surda chamara a atenção dos amigos, mas o grupo dentro das muralhas tivera muito pouco tempo para fazer mais do que ver Laírton ser lançado para trás. O número de soldados opositores era razoável, mas não infinito, e Zero estava se esforçando para abrir espaço entre os adversários e subir até a muralha, para ajudar Christabel como pudesse.

Dois soldados o enfrentavam ao mesmo tempo à esquerda e direita, e ele girava sua espada longa para conter os golpes deles e afastá-los, aparentemente sem qualquer estratégia mas sempre avançando na direção deles.

Impaciente, o soldado à sua esquerda investiu com sua lança, dando a Zero a abertura que esperava. Com um passo a mais à direita, o jovem mecânico tirou o corpo do golpe e atingiu o inimigo com um golpe de cima para baixo, como se a espada fosse um martelo. Mas agora seu flanco esquerdo estava aberto, e ele não era veloz o bastante para se proteger do oponente restante apenas com sua espada.

Mas ele também tinha uma pistola na cintura no flanco esquerdo, sua Quatro-Tiros, e o soldado inimigo investindo era um alvo fácil demais. E com a queda daquele inimigo, o caminho até a escadaria de acesso ao topo da muralha ficara aberto.

_ Agüenta, Christie, que eu tô subindo!

Zero começou a correr na direção da escada, mas um movimento súbito em sua visão periférica o fez se lançar adiante no chão, enquanto duas flechas escuras cortaram o ar onde até então sua cabeça estivera. Rolando e fazendo pontaria ele disparou no peito do arqueiro, que cambaleou para trás mas não tombou. E ele percebeu um detalhe familiar no rosto do outro.

_ Eu não acabei de estourar a sua cabeça?

Era o mesmo espadachim que ele derrubara ao entrar em Melk, agora com um novo ferimento de bala no corpo, mas não parecendo realmente incomodado. Fazendo pontaria outra vez com seu arco, o soldado de Melk falou com voz sepulcral:

_ Não vamos permitir que a tragam de volta, Mestre Zero, mesmo que nos mate!

_ Saco, lá vai começar essa história de ‘mestre’ de novo – Zero resmungou, rolando na direção do soldado enquanto este tornava a disparar – Eu acabei de te matar, diacho, vê se fica quieto!

Mais dois tiros em seqüência de sua pistola, esgotando a munição dela, e o soldado tombou de costas com os projéteis no peito. Mas Zero reparou que os outros dois, que tombara anteriormente, estavam novamente de pé e vindo em sua direção. Sacando sua espingarda das costas ele disparou, jogando ambos para trás e vendo-os deslizar sentados mas esforçando-se para ficar de pé novamente. E ele sequer tivera tempo de praguejar quando o outro, o soldado a quem já baleara três vezes, tornou a se levantar!

_ Meu, isso não vai acabar nunca! Mel, eu tô com um problema aqui!

_ Sério? – a maga negra ironizou, parecendo empurrar o ar com sua mão direita – Olha que eu não tinha reparado!

Puxando sua espada, Zero reparou que o feitiço Impulso de Melissa enviou um grupo de soldados carbonizados para trás com a violência de um atropelamento, mas dois ou três deles se punham rapidamente de pé, mesmo parecendo ter braços quebrados. E à sua esquerda, Daniel estava recuando diante de adversários que não cediam aos seus golpes, ou tinham os dardos metálicos de Sari cravados entre seus olhos ou ombros e não pareciam reparar nisso. E enquanto os invasores eram forçados a se reagrupar, arqueiros de Melk mais afastados os colocavam sob mira para uma salva de flechas escuras.

_ Praga, e essa... Mad, dá uma força!

_ Sai do meio!

Hermes Maddock surgiu por trás de Zero e Melissa, que agora estavam lado a lado, e com uma rajada de metralhadora varreu os soldados da linha de frente, não fazendo mais do que empurrá-los ou derrubá-los, e mesmo os que caíam levantavam-se no mesmo momento. Detendo-se ao ver o que acontecia e com a arma ainda em posição, Maddock comentou com alguma admiração:

_ Sabe, é preciso admitir, isso não é coisa que se veja todo dia...

Monday, September 17, 2007

Olá leitores! Depois de uma ausência de uma semana (hahaha, finalmente fui pagar a promessa de uma visita que tava devendo, e acho que perdi a hora de voltar e postar ^^ Foi mal), voltemos pra continuar com a história!

A bem da verdade, pode ter sido melhor. Teve um pedaço aqui que eu tive que refazer, e só tive a idéia ontem.

Mas vamos que vamos, que agora as coisas começam a acontecer, ainda que seja pela última vez ^^

Forte amplexo do Louco!

(...)

Freya sorriu, visualizando a cena. Seu Dirceu e uma versão mais velha de Maddock, vestido num macacão de piloto, os dois rindo e falando alto sob o olhar de reprovação de Dona Célia, de quem ela lembrava como uma pessoa séria e um tanto severa. E ela ainda pensava nisso quando Maddock chamou os demais:

_ Beleza galera, mas agora venham todos aqui pra frente. Acho que vocês vão querer ver isso.

Enquanto Freya se recompunha e os demais se aproximavam, Maddock iniciou uma manobra de descida que permitisse aos companheiros enxergar o cenário adiante e abaixo deles. Estavam em franca aproximação das Terras da Fronteira, onde a Fortaleza de Melk existia e servia como um tampão entre as terras do oeste, tidas como amaldiçoadas, e o restante do mundo no leste. E apesar da distância que ainda reduziam, Maddock murmurou de forma quase inaudível:

_ Nunca estive aqui antes, mas acho que tem alguma coisa errada nesse lugar.

O avião a vapor sobrevoou a muralha leste de Melk, ou o que restava dela, e embora a visão que podiam ter fosse muito fugidia dada a velocidade e a altitude em que estavam, foi possível para todos perceber que não havia viva alma em parte alguma do pátio externo, e que o interior da fortaleza estava em escombros. O muro oeste persistia, embora uma fenda enorme tivesse sido feita onde estava antes o portão principal, o mesmo através do qual Zero irrompera com sua Unicórnio no que parecia uma vida antes. A Torre da Rainha, de onde Zero e Christabel um dia haviam escapado pela janela, continuava a ser o ponto mais alto de toda a fortaleza, mas sua base estava severamente danificada e parecia incrível que continuasse de pé. Havia algo da Fissura que Christabel abrira diante dos portões da muralha oeste para dificultar o acesso de inimigos a Melk, mas não era mais do que uma cicatriz ainda não totalmente curada sobre a terra.

_ De verdade, gente, mas eu não sei se a gente devia descer, não – Maddock comentou, manobrando o Rasga-Nuvens para fazer a volta – Não parece que tenha muita coisa pra fazer, e se a gente ia procurar pelo tal fulano de que a Christabel falou, melhor poupar as forças né não?

_ Tá com medo, Mad?

_ Pode apostar, maninho.

O sorriso sereno e o aceno de cabeça de Zero eram resposta o bastante; também estava, e não parecia que alguma coisa chamasse a atenção de Christabel ali dentro por bons propósitos. Não queria ir até Melk, tanto quanto Maddock. Mas também não a deixaria ir até lá sozinha, e sabia que ela preferiria descer de qualquer modo, mesmo que nada mais pudesse ser feito pela fortaleza. Com um suspiro resignado, Maddock aterrisou no exterior da fortaleza, nas terras a oeste.

Christabel desceu primeiro do avião, seguida por Zero, Daniel e então os demais. Zero e Melissa sentiam uma estranha tristeza ao ver a fenda que atravessava a muralha, quase como se pudessem ainda ver o momento em que acontecera. O pátio externo da fortaleza estava totalmente exposto a qualquer criatura que desejasse passar, e a visão do lugar onde até pouco tempo atrás o povo de Melk habitara agora abandonado causava inquietude mesmo a quem nunca o vira antes. Maddock, a metralhadora segura nas duas mãos, murmurou:

_ Bem vindo à minha casa. Entre livremente e por sua própria vontade.

_ O que...? – Sari perguntou, e Freya respondeu à direita dela:

_ Isso é um trecho de Drácula. É o que o vampiro diz ao visitante que chega.

_ É – Maddock respondeu, enquanto todos começaram a caminhar rumo ao interior da fortaleza – Acho que sei como o cara tava se sentindo.

Christabel estava ciente dos sentimentos de seus companheiros, mas precisava seguir adiante. Sabia que havia algo que não deveria estar em Melk, e embora a fortaleza tivesse caído finalmente, ela ainda era a soberana ali; se algo acontecera a seu povo, ela precisava ao menos garantir-lhes descanso sem profanação. Mal começara a caminhar na direção das muralhas, porém, quando seus sentidos a avisaram; uma flecha!

Ela reagiu à altura, erguendo seus olhos para onde vinha o ataque e teria destruído a flecha com um pensamento, mas um som de disparo se fez ouvir por trás dela. Zero também percebera a ameaça e reagira com a devida rapidez, merecendo um olhar agradecido e algo admirado da Rainha. Ele piscou para ela, e acenou.

Do alto da muralha, podiam ver um sentinela solitário fazendo pontaria na direção deles, e de lugar algum, outro arqueiro surgiu. E outros foram materializando-se sobre o muro arruinado, numa paródia do que em outros tempos teria sido uma brigada de defensores de Melk. E entre os soldados menores, uma figura que parecia vestida numa armadura maior surgiu e falou com voz perfeitamente audível mesmo àquela distância, sem parecer estar gritando.

_ Muito me admira tornar a vê-la, Christabel. Ainda com vida, principalmente.

_ Michael... – Christabel murmurou, as mãos movendo-se lentamente para a espada em sua cintura enquanto os companheiros vinham colocar-se a seu lado. E Zero, a mão direita na postura de tiro, perguntou:

_ Conhecido seu, Christie?

_ Meu fiel Ministro Militar, líder da Tribuna de Melk. Orquestrou meu afastamento, ou eu não o conhecia.

_ Não totalmente, feiticeira, se não foi capaz de prever como eu a afastaria – Michael retrucou lá em cima como se ela tivesse falado em voz alta – Mas admito que eu também a subestimei; imaginei que sem seus poderes, não teria sido capaz de regressar a Melk.

_ Ou assim o esperava – Christabel respondeu, mas Michael não pareceu ouvir desta vez.

_ No entanto, me agrada muito poder dizer na sua presença que não é mais necessária para manter as feras de Além da Fronteira afastadas. Somos perfeitamente capazes por nós mesmos, e nosso povo não pretende voltar a sujeitar-se a seus desmandos. Em reconhecimento a todo o serviço que sempre prestou enquanto nossa comandante, concedemos a você a chance de partir, de boa vontade, para todo o sempre. Se der mais um passo em nossa direção, porém, será alvejada com toda a sua escolta. Este é seu único aviso.

_ Tá lesado, ô sujeito? – Zero exclamou, parecendo perder a paciência – Capazes por vocês mesmos de fazer o quê, se...

Christabel estendeu sua mão diante de Zero, fazendo com que se calasse, e Laírton murmurou:

_ Eles não perceberam... O Senhor realmente age de formas misteriosas.

_ Do que está falando, Laírton? – Freya perguntou, enquanto Melissa parecia subitamente receosa e Daniel firmava a lança nas duas mãos, e o Religioso explicou:

_ Estão mortos, todos eles. Mas se compreendo bem, o rancor dos soldados contra Christabel era poderoso e nutrido por anos, uma emoção negativa que perdura no terreno onde tombaram. Eles se negam a admitir que ela retorne, mesmo depois de perecerem.

_ Meus irmãos de armas... – Daniel murmurou, as mãos tremendo, mas Laírton negou com a cabeça.

_ Não creio que sejam todos, Daniel. Não posso falar pelos que se foram, mas acredito que apenas aqueles para quem a expulsão de Christabel importava mais do que seu senso de honra permanecem no solo da fortaleza. Os demais supostamente seriam capazes de encontrar descanso através da morte honrada.

Christabel ouvia apenas com parte de sua atenção, enquanto algo em seu interior rosnava como não fazia já havia algum tempo. Acreditava ter deixado aquele ódio e frustração para trás depois de conhecer Zero e ir até Sucata com ele e os demais, mas tamanha teimosia e ousadia daqueles espectros, transcendendo a morte para atormentá-la, provocava algo em sua coragem e seu antigo direito. E ela prometera a si mesma voltar ali para castigá-los...! Mas, ao mesmo tempo, precisava pensar na segurança de seus companheiros. E Zero...

Ele moveu-se para o lado dela, e a Rainha percebeu admirada que ele estava sorrindo, um sorriso feroz e que dividia parte da irritação dela, agora a mão esquerda também em posição.

_ E aí Christie, é pra hoje? Não temos o dia inteiro.

Ela olhou para sua direita. Mesmo Melissa, que temia os mortos-vivos, parecia uma mola tensa, pronta para explodir. Daniel estava ao lado dela, e Sari ao lado dele. Além de Zero estava Laírton, e além dele Freya. Ela não podia ver Hermes Maddock, mas sabia que ele estava posicionado para atacar também. Eles sabiam que ela pretendia atacar, e só esperavam que ela desse o sinal. Percebendo o rumo dos pensamentos dela, Zero murmurou:

_ É a sua casa, e você vai voltar se quiser. Mad?

_ Eu derrubo os arqueiros – ele respondeu atrás do grupo – Mantenho eles ocupados por um tempinho, mas é melhor vocês entrarem logo.

Christabel acenou afirmativamente, agradecendo com um sorriso carinhoso a todos. Então, seus olhos se voltaram para o vão na muralha e ela comandou:

_ Nosso objetivo é a passagem. Invadam os muros, e que cada um de nós derrote tantos espectros quanto puder. Mas tenham cautela; em vida, eles foram parte da melhor milícia de combate do mundo. Não serão adversários fáceis.

_ Pior pra eles; vamos ter que bater mais, então – Zero suspirou.

Sunday, September 02, 2007

Olá pessoas! Mais uma vez ao domingo, saudações blogueiras do Louco!

Comecemos o fim, literalmente. O último documento onde deve rolar a história da Christie, 'Nova Era', começa hoje. E enquanto isso, vejamos como a história se desenrola.

Forte amplexo domingueiro do Louco...!

Capítulo XXXIX – De Volta Pra Casa

O horizonte era azul até onde a vista alcançava, mesclado com nuvens esparsas e ótimas condições de vôo, facilitando em muito o avanço de viajantes. Nos céus, o Lockheed ‘Rasga-Nuvens’ de Hermes Maddock levava a seu piloto e os companheiros rumo às Terras Além da Fronteira. Mas não tardaria muito até o anoitecer, e mesmo Christabel estava receosa de talvez precisar continuar a viagem sem a luz do sol, visto que nem instrumentos nem luzes elétricas funcionavam no painel da aeronave, mas Maddock sorriu e deu de ombros.

_ Bão, é verdade que a coisa não vai ser tão fácil – puxou uma chave do seu lado direito – mas não estamos totalmente sem luz, sabe. Isso deve dar pelo menos até a gente pousar, se for preciso.

Duas lanternas sobre a cabine giraram para frente, esperando ativação, e Freya murmurou:

_ Faróis de Dragão de Fogo... Mas a luz não fica muito fraca, Hermes?

_ Nem tanto, Bibi. Lembra, isso não é mais uma zona de tráfego aéreo intenso, então eu não preciso me preocupar em desviar de muita coisa durante o vôo, e pra localizar os obstáculos em terra, eu forrei o interior das lentes com papel espelhado. Toda a luz das jóias é concentrada pra frente, e a iluminação dá pro gasto.

_ Muito inteligente, Mad – Melissa sorriu, dando um tapinha nas costas do piloto – Dá pra ver que você faz parte da família.

_ Nah, o meu negócio é voar, loirinha – Maddock acenou para trás, agradecendo apesar de tudo – mas a gente aprende cedo a fazer o que pode com o que tem a mão. Você também consegue, espera só pra ver.

_ Falando nisso, Hermes – Freya intrometeu-se, curiosa – tem uma coisa que eu queria saber e não tive ainda chance de perguntar, sobre a sua arma. Nós aprendemos com os escavadores que é preciso fazer cada tiro valer a pena, e então você chega e...

Zero e Maddock começaram a rir, e foi o outro quem respondeu:

_ Isso porque o velho Mad é um trapaceiro, Tata! Nós temos que pensar antes de apertar o gatilho, ou desperdiçamos munição, mas como vocês já devem ter notado, esse negócio de ficar pensando não faz o estilo dele...

_ Ah, não enche – mas Hermes estava rindo enquanto esmurrava o braço de Zero atrás de si – Foi só uma idéia. Eu não ia discutir com quem entendia mais do que eu, e tava mesmo difícil esse negócio de ficar fazendo munição; eu tinha meu avião pra fazer! Daí vi uma pistola de pregos, daquelas de mola, e tive a idéia. Desde que eu tivesse algo pra disparar, podia usar a arma que fosse, até uma metralhadora! E sempre quis uma dessas giratórias...

Ao perceber o ar confuso dos amigos, Zero tomou a metralhadora de Maddock e abriu o clip de munição, e não havia uma única cápsula de projétil como as balas das suas próprias pistolas. Ao invés disso, estilhaços de metal e madeira com gumes afiados estavam enfileirados lado a lado. As cabeças de cada dardo disforme eram revestidas com um tipo de metal reluzente que Zero explicou ser teflon.

_ Esse revestimento é feito em spray, e torna os projéteis capazes de perfurar quase qualquer proteção. Esculpidos mais ou menos na forma das nossas balas, essas coisas que o Mad atira podem fazer muito estrago, mesmo sem ser munição de verdade. Acabou virando a arma padrão dele.

_ Isso parece pesado – comentou Melissa, observando com atenção os pentes de munição com fileiras e mais fileiras de estilhaços metálicos, de madeira e pedra.

_ Um pouquinho só – Maddock deu de ombros – Questão de acostumar, acho.

Christabel estava silenciosa, observando com alguma inquietação a paisagem que mudava lá embaixo durante a viagem. Os demais conversavam animadamente, ainda admirados da espantosa máquina do mundo antigo que agora utilizavam na viagem, mas ela não conseguia participar como eles. Talvez estivesse se inquietando à toa, mas não sobrevivera por tanto tempo sendo leviana, e ela sabia que nem tudo estava bem, mesmo que os outros pudessem ignorá-lo.

_ Christie, o que foi? Você tá bem?

Mas não Zero. Mesmo que ele estivesse tão alheio às circunstâncias quanto os outros, ainda estava atento o bastante a ela para perceber seu estado de espírito. Os demais olharam para ela, preocupados, enquanto Zero veio ficar a seu lado, e ela soube que seria tolice negar ou tentar fingir que estava tudo bem; não estava habituada a tal.

_ Está lá fora... Aquele a quem procuro, ele deixou seu descanso.

_ O que quer dizer? – Sari perguntou.

_ O verdadeiro Mestre dos Arcanos – Christabel murmurou, olhando pela escotilha quase como se pudesse ver algo desconhecido e fenomenal em algum lugar lá fora – Também está à minha procura, eu acho. Está se movendo.

Laírton apertou a cruz de madeira instintivamente, e mais de um dos amigos pareceu tenso. Apenas Zero parecia mais preocupado com Christabel, franzindo a fronte e perguntando.

_ Você conseguia sentir ele antes, Christie? O tempo todo?

_ Ele devia estar se ocultando – ela voltou-se para ele – Sem que ele nunca tivesse se movido durante toda a minha vida, eu nunca aprendi como deveria se parecer. Mas ele deve estar impaciente, pois posso sentí-lo agora; uma sensação de rancor e impaciência, lembra muito a mim mesma. Mas não consigo descobrir onde está.

_ De boa, você tava procurando? – Maddock perguntou, e Freya socou sua cabeça. Alheia a isso, Christabel prosseguiu, voltando agora o olhar na direção em que iam.

_ Melk. Está próxima demais. E há algo à nossa espera lá... Algo que está me confundindo. Não consigo descobrir o outro.

_ ‘Algo’? – Melissa perguntou – Alguma coisa forte o bastante pra confundir você, mesmo procurando por um mestre dos Arcanos?

_ Algo sombrio – fez Christabel, acenando distraidamente com a cabeça. E como se fossem um só, cada um dos companheiros pareceu preparar-se para um confronto iminente. Zero verificou sua munição, três dúzias a mais de balas de Dragão de Fogo produzidas durante seu breve período no Cemitério de Aviões... Melissa e Daniel trocando palavras ternas e de cautela... e Freya conversando com Maddock, ainda dubitativa.

_ Não sei, Hermes... Você é muito inteligente, eu admito, e sabia o que estava fazendo quando criou os exoesqueletos, mas a minha armadura...

_ É um nome diferente, mas ainda é essencialmente um ‘exoesqueleto’, Bibi – Maddock interrompeu – E eu não mexi nela, só te emprestei umas peças extras, pro caso das coisas que te deram não serem suficientes.

_ Mas Hermes...

_ Anda, me chama de Mad, vai – ele olhou para ela e, novamente, seu olhar era sério e gentil, e Beatriz sentiu novamente que aquele era em essência o verdadeiro Hermes Maddock, sem disfarce, e não reparou na sensação em suas faces – Eu só quero ter certeza de que alguém de quem eu gosto vai bem preparada pra o que quer que esteja na nossa frente. Você pode jogar fora depois, se não quiser se encrencar na Avançada.

_ N-não é isso, eu só... Er, é que você poderia usar melhor do que eu, e deve precisar mais...

_ Nah, eu tenho comigo o que eu geralmente preciso numa briga – e deu um tapinha leve na metralhadora giratória – E os acessórios vão funcionar melhor pra você, de qualquer forma. Na pressa, não deu pra eu pegar a parte principal que eu tinha montado pra ser a minha própria armadura.

_ Você também...?

_ Não tão resistente ou avançada quanto a sua ou dos outros Dragões, acho – deu de ombros – Eu só melhorei os exoesqueletos que foram idéia do meu pai, geralmente pra cuidar de lesões nos ossos iguais às do Mano Zero. Foi por isso que o Velho Dirceu aproveitou pra zoar vocês, perguntando das armaduras extras.

Ela olhou para ele admirada, a pergunta clara em seus olhos. E Maddock tornou a dar de ombros, sorrindo.

_ Os outros contaram. Claro que o papai Dirceu tava sacaneando, mais ainda porque sabia que ninguém ia entender a piada. Heh, aquele velho não tinha jeito mesmo... Deve tá se matando de tomar cerveja com o meu pai.