Sim, estou refazendo o final já terminado de Christie. Acho que tá ficando melhor, mas até aqui tá me consumindo um tempinho... Espero q todos gostem... ^^'
Bão, sem ficar embaçando, que telefone tá caro! Amplexos do Louco, feliz com o tempo doido!
(...)
_ Mad, cuidado!
Com seus alvos finalmente próximos o bastante uns dos outros, e como se fossem uma única criatura, os soldados na linha de frente curvaram-se e os arqueiros liberaram suas flechas em uníssono. Mas uma figura alta entre os invasores ficou de pé e ergueu seu cajado, e foi como se cada uma das flechas de escuridão se chocasse contra uma barreira de névoa luminosa.
_ Laírton! – Zero exclamou aliviado – Você tá bem?
_ J-já estive melhor... amigo Zero – o Religioso estava oscilando, a mão direita mantendo o cajado erguido com esforço e a esquerda estendida adiante. Havia suor frio escorrendo em seu rosto e, tendo bloqueado a salva de flechas, ele tombou para frente, sendo amparado por Sari e Maddock.
_ O que foi que te fizeram, Irmão? Você tava afastando eles, e aí...
_ Eles não podem ser afastados... amigo Maddock – Laírton ofegou, lutando para ficar de pé.
_ Como é?
_ Seu propósito... Poderoso demais. O rancor deles... Sendo alimentado pela escuridão, a mesma que derrotamos no Cemitério dos Aviões.
_ Ah, tá me tirando – Maddock resmungou – Não pode ser aquele cara de novo.
_ Isso explica tudo, Maddock – Sari retrucou, mantendo-se em guarda mas sem saber de fato o que fazer – O mestre da escuridão já usou desmortos antes, lembre-se, e esses soldados de Melk estão usando as armas dele. Simples e brilhante, erguer espectros de rancor; não temos como destruí-los de forma permantente apenas usando a força. Talvez Christabel possa usar magia contra eles, mas enquanto ela estiver em Melk, eles tornarão a se erguer.
Christabel já se dera conta de que algo não ia bem, muito antes dos outros. Não importava o que fizesse ou quantas vezes abatesse seus desafiantes, eles pareciam sempre regressar. Michael, Brás, Francisco, Pedro e quase todos os outros membros do Conselho... Ela podia ver claramente os ferimentos pesados que causara a eles em cada uma de suas investidas, mas eles não pareciam fazer qualquer conta deles. E havia uma silenciosa força sombria permeando a fortaleza, que ela agora podia distinguir claramente.
“Apenas está dando-lhes substância, no entanto. Enfraqueceu-se demais depois das investidas na casa de Maddock e na perseguição, parece... mas estamos em perigo.”
Christabel sabia que não podia interferir na força sombria sem derrotar os espectros... e nunca os derrotaria enquanto eles pudessem tornar a se refazer. Ela poderia combatê-los quase indefinidamente, mas os espectros dos traidores nunca se cansariam. Ao contrário dela, ou de seus companheiros.
“Zero!”
Ela sentiu a emanação da barreira de Laírton, e chicoteou com sua espada à esquerda e direita com sua própria magia de cinese, afastando os oponentes de si por tempo suficiente para saltar da muralha e cair diante dos companheiros abaixo de si, a tempo de ouvir Maddock resmungar enquanto abria fogo contra os soldados aglomerados ao redor deles:
_ Pusta sujeito chato. Odeio gente que não se toca.
_ Hermes, quer parar de brincadeira? – Freya bronqueou exasperada, mantendo a guarda com seu escudo à esquerda e uma pistola à direita, mesmo sabendo que não adiantaria disparar. E Maddock, terminando com aquele pente de munição, replicou:
_ Mas é sério, olha só o cara! Já perdeu pro Laírton, pra mim, pra Melissa e nem assim se mancou que não é páreo pra nós! Caraca, que parte do ‘você perdeu’ tá tão difícil de entender?
_ Se erguerão enquanto eu estiver aqui – Christabel murmurou, parte da irritação impossível de omitir da voz – Movidos e reerguidos pelo rancor como forem, eles ainda lutarão enquanto o inimigo estiver diante deles. Ainda são os guerreiros de Melk.
_ Não, Minha Senhora, não o são. Não mais.
Daniel estivera silencioso até então, e agora se pusera entre a Rainha e Zero, um olhar de aço voltado para os espectros enfileirados diante deles, onde Michael e os demais Conselheiros pareciam ter se materializado. Mas a voz dele parecia diferente, e Laírton, Sari e Christabel perceberam outra diferença. E também os espectros de Melk, que remexeram suas armas inquietos e parecendo irritados.
_ Você...! – Michael rosnou, erguendo do nada um arco escuro – Não tem o que fazer aqui, seu tolo!
Uma flecha de escuridão foi disparada, mas um movimento hábil de espada a destruiu e abriu a névoa sombria em duas com um corte limpo. E diante dos olhos admirados de Zero, Melissa, Maddock e Freya, a figura alta e imponente do Capitão Marco de Melk cintilava sobreposta a Daniel, a espada ainda erguida na posição do golpe e um escudo largo em seu braço esquerdo. E ele encarava com severidade e imponência aos espectros diante de si.
_ Estes são apenas as sombras dos homens que aqui viveram – Marco continuou falando, apontando sua espada para os espectros – Mortos pela fraqueza de seus próprios corações, incapazes de encontrar o descanso na morte honrada ou de reconhecer o erro de seus atos mesmo depois de pagar o preço final. Tão esquecidos de seu verdadeiro propósito que preferem condenar a si mesmos a uma eternidade de rancor, tão famintos e desgraçados quanto as criaturas que enfrentaram em vida por serem incapazes de aceitar sua Senhora de direito.
_ Não aja como superior diante de nós, seu hipócrita! – Michael esbravejou, conseguindo murmúrios de aprovação dos espectros atrás de si – Você a despreza, tanto quanto nós! Ao menos tenha a decência de dizer o que pensa dela agora, que a tem diante de você!
_ Christabel me absolveu, Michael – Marco murmurou, de cabeça baixa – Ela me mostrou misericórdia, permitindo-me uma chance de redenção por tudo o que fiz ou disse contra Sua pessoa e livrando-me do mesmo destino odioso ao qual vocês se entregam de bom grado. Mas o tempo do ódio passou, para ela e para vocês. Partam! Nossa Rainha regressa ao que restou de seu lar, e vocês não têm o direito de impedí-la. Deixem de servir à escuridão à qual se entregaram, e não a perturbem mais. Peço a vocês em nome do tempo em que lutamos lado a lado.
_ Melk é o nosso lar, capitão – alguém gritou entre os espectros – e sempre será! Se vai se colocar contra nós e ao lado da bruxa, é melhor que esteja preparado para partilhar o destino dela!
Os olhos de Marco faiscaram na direção dos espectros. Aqueles não eram mais os homens que haviam servido ao seu lado; tudo o que havia era a sombra faminta com a forma deles, e ele sabia que era o momento de sua redenção. Erguendo a espada diante dos espectros, ele bradou:
_ Levantem-se, Cavaleiros de Melk! Verdadeiros espíritos daqueles que lutaram entre estas muralhas, guerreiros de valor, homens e mulheres que aqui tombaram com honra, para proteger e servir e que reconhecem o erro contra sua Senhora de direito, apresentem-se diante de mim! Que nossa dívida seja compensada, pois apenas o verdadeiro desejo de redenção pode se opor ao rancor impenitente. Guerreiros de Melk, unam-se a mim!
De vários pontos do pátio interno e externo, como se tivessem apenas aguardado tal convocação, numerosas figuras translúcidas e luminosas como o próprio Marco emergiram aos poucos como se fossem focos esparsos de névoa clara e, sem um único olhar para os espectros sombrios aglomerados no centro do pátio, vieram postar-se diante de Marco com uma saudação. Dentre eles destacou-se um vulto mediano, com um escudo redondo e uma maça de corrente que se postou diante do capitão e curvou a cabeça em saudação.
_ Sargento Castro, de Melk, se apresentando ao serviço. Bem-vindo de volta, senhor.
_ É bom rever a todos, sargento – Marco respondeu com um aceno de cabeça, sorrindo serenamente – Há uma última batalha diante de nós.
_ Duas, na verdade – Castro fez outra reverência ao capitão – Permita-me...
Passando por Marco, Castro foi até Christabel e colocou-se sobre um dos joelhos, em reverência, e de cabeça baixa murmurou com humildade:
_ Em meu nome e de todos os meus, Majestade, solicito a honra de auxiliá-la em batalha. Não temos meios de desfazer o que lhe fizemos por anos... mas gostaríamos de impedir que prosseguisse. Se estiver de acordo, conduza-nos uma vez mais; nós a seguiremos de bom grado.
Zero sorriu discretamente ao olhar para a expressão de Christabel. Para todos os outros colegas ela podia estar exatamente como sempre parecera, altiva, superior e indiferente... mas ele a conhecia melhor. O silêncio prolongado dela era fruto de uma tentativa suprema de conter as lágrimas naquele momento. E sua voz também não tremia quando ela enfim falou:
_ Conversemos depois. O inimigo está esperando.
Zero e sua comitiva olharam admirados enquanto os espíritos dos guerreiros de Melk colocavam-se à volta de todos eles e atrás de Christabel, Marco e Castro, e os espectros sibilavam ao reconhecer sua situação. Era possível, mesmo para os viajantes com menor sensibilidade, perceber a tensão entre as duas hostes oponentes. E Christabel, sua espada curta pendendo da mão direita baixa, perguntou em voz baixa e mortal:
_ Ainda se atrevem a me enfrentar? Como talvez tenham percebido, não estou mais sozinha.
Um rosnado baixo cresceu aos poucos entre os espectros, agarrando suas armas com força e encarando a Rainha com supremo desagrado, e Michael deu voz ao que todos sentiam.
_ Não voltará a Melk...! Nós todos juramos, e repetimos essa jura agora! Até o fim dos tempos, feiticeira maldita, você nunca regressará!
O olhar de Christabel, frio como gelo na direção do conselheiro, talvez fosse capaz de assustá-lo mesmo agora. E como de costume, ela não tinha muito a dizer.
_ Me impeça.
E ela saltou adiante, seu primeiro golpe de espada quase abatendo Michael sem dar-lhe chance de esquiva ou defesa, e apenas com muito custo o conselheiro conseguiu recuar e travar batalha, ao mesmo tempo em que Marco, Castro e a hoste de espíritos dos guerreiros de Melk avançava com um brado, para unir-se à sua Rainha em combate. E Zero, a surpresa passada depressa, também lançou-se ao ataque.
_ Espera, Zero, essa luta é só dela...! – Melissa chamou, mas foi ignorada. E Sari meneou a cabeça.
_ Não, Melissa, não desta vez. Zero já deve ter percebido.
_ Percebido o quê? – Maddock perguntou, recarregando às pressas a metralhadora e aliviado ao notar que, ao menos, Beatriz estava tão confusa quanto ele. Detestaria ser o único sem entender o que se passava.
_ A situação é diferente – Laírton acenou, observando com atenção a batalha que rugia no pátio interno de Melk – A presença do Capitão Marco e a convocação dos espíritos honrados da fortaleza trouxe a resposta. Apenas arrependimento sincero e desejo de redenção podem desfazer um rancor tão profundo.
_ Hã... – Maddock olhou ao redor, tentando não parecer tolo – E, em português, isso quer dizer...?
_ Os guerreiros que o capitão chamou também detestavam a Christabel – Melissa murmurou, agora compreendendo – Mas ao contrário dos espectros, eles se arrependeram da forma como tratavam ela antes de morrer. Marco era um grande líder deles, e também deve ter se arrependido, se veio ficar do nosso lado... e a vontade deles de compensar pelo modo como trataram a Christabel deve ser a única coisa no mundo que pode impedir os espectros de continuarem se levantando.
_ Peraí! – Maddock olhou ao redor, finalmente entendendo – Se esse é o caso...!
Eles olharam para a batalha. Os números entre os espectros e os espíritos de Melk eram similares a princípio, mas os penitentes tinham Christabel a seu lado, e a presença da Rainha impedia que eles fossem abatidos. Mesmo quando algum deles sofria o que deveria ser um ferimento mortal, a vontade de Christabel e o desejo de redenção do próprio espírito faziam com que continuasse batalhando. Porém, quando um espectro era ferido, não tornava a se erguer.
_ O rancor está sendo disperso – Laírton confirmou com um aceno de cabeça – E todo aquele lutando por Christabel será agora invencível, pelo mesmo motivo que antes preservava os espectros. E com isso, a força do mestre da escuridão está desaparecendo pelo que, acredito, seja a última vez.
_ E a gente tá fazendo o quê, parado aqui?! – Maddock ergueu a metralhadora na mão direita e sacou a marreta de sua cintura – Vamos descer o braço, minha gente!!