Caros leitores e leitoras, boa noite. Em meio ao fim de mais este fim de semana, aceitem as saudações de Louco.
diante de vocês, e abaixo deste post, vem a parte final deste capítulo, Cemitério de Aviões. Espero que os eventos demonstrados no geral tenham vindo ao seu contento, e que o encerramento seja igualmente do seu agrado; tal coisa muito me honraria.
(e agora chega de ficar embaçando, que tá todo mundo com calor e sem paci~encia)
amplexos do Louco ^^
(...)
No final, os homens ficaram no imenso B-17. Maddock fizera pressão até o fim e mantivera sua atitude, e Zero acabara se resolvendo a ficar numa torre de tiro abaixo da fuselagem enquanto Daniel e Laírton ficariam com o resto do avião. Eles ainda insistiram para que Zero pensasse melhor; a torre parecia absurdamente apertada para que alguém dormisse confortavelmente, mas o mecânico fora irredutível, exatamente como uma criança birrenta.
_ Tá tudo bem, Daniel. Se eu acordar com a coluna torta, com o braço no lugar de uma costela ou coisa parecida, eu vou culpar o Maddock por não me deixar ficar na cabine. Você é o pior anfitrião de todos, Mad, nem deixa suas visitas à vontade na hora de escolher aposento...!
_ Culpa minha o caramba – Maddock retrucou lá de dentro, apenas sua cabeça aparecendo na porta do piloto – Tá aí a fuselagem inteira e você tá que nem um bebezão fazendo manha e indo sozinho pra torre. É legal de visitar, sim, mas se ficar torto de dormir nela, o problema é seu. E chega de lamúria, que amanhã começa logo. Afrouxou um pouco as juntas dos ombros e das coxas, igual eu falei?
_ Lógico que afrouxei – Zero resmungou – Pensa que eu sou um idiota ou o quê?
_ Era o ‘o quê’ mesmo que eu tinha pensado – Maddock riu com ar maldoso – Vai dormir então, pé no saco.
_ Vai se lascar, pé no saco é você...!
Daniel cobriu os olhos, sentindo que aquela discussão ia demorar enquanto Laírton parecia já ter conseguido pegar no sono, apesar de todo o barulho. E de repente, achou que poderia ter mais sorte dormindo do lado de fora do avião.
“É incrível o quanto eles fazem barulho; parecem irmãos verdadeiros! E, Zero nunca deixa de me surpreender. Agora, depois de tanto tempo de viagem juntos, acho que consigo perceber que ele está triste apesar de tudo... mas age como se nada estivesse errado, brincando e brigando com o velho amigo. Maddock, também, é curioso; obviamente entendeu tudo o que se passou sem que tivéssemos que lhe dizer... e está jogando o jogo de Zero. À altura”
Daniel sacudiu a cabeça, tentando clarear os pensamentos. Pensamentos confusos o levavam de dúvida em dúvida, e não estava conseguindo relaxar o bastante para pegar no sono. Se realmente pretendia descansar, era melhor que o fizesse logo.
A noite já ia avançada quando aquele que não dormira alcançou a estação de parada sob a casa de Hermes Maddock. Fora silencioso o bastante para passar despercebido até então, e olhou ao redor. O cheiro de pó e de coisa antiga permeava tudo à sua volta, e felizmente, estava afastado o bastante do topo; não iriam ouvir nada do que ele pretendia fazer até que fosse tarde demais para impedir. Talvez o dono do local, caso estivesse em sua casa... mas, como estava dormindo num dos aviões lá fora, não daria qualquer trabalho.
Ele se aproximou do Velocípede, que Mad deixara voltado no rumo da Cidade Sucata novamente. Não deveria ser necessário, talvez o caminho até o porão de Dirceu nem existisse mais... mas Maddock sempre fizera aquilo. Talvez ele até tivesse voltado o Velocípede para lá por instinto, sem perceber...
_ Demorou muito para chegar.
Zero se voltou por reflexo, a mão detendo-se sobre sua Quatro Tiros enquanto Christabel o observava, saindo devagar do canto onde se ocultara. E a surpresa dele, diferente da ocasião em Tria, parecia trazer mais aborrecimento do que diversão.
_ Gah, Christie...? Você não devia tá dormindo?
_ E você?
Zero praguejou em pensamento. Não estava com paciência ou tempo para discutir, e ao mesmo tempo sabia que não se livraria dela. Não com facilidade.
_ Isso é coisa minha. Você não tem nada a ver.
Christabel estava caminhando devagar na direção dele, os olhos com um brilho estranho que ele não reconhecia. Havia algo da velha superioridade dela, mas ao mesmo tempo... algo totalmente contraditório. Algo que ele não estava com condições ou paciência de analisar naquele momento.
_ V-você... me ouviu? Tô falando que você tem que ficar de fora, isso é problema meu! Não é seguro nem sensato você sair daqui agora...
_ Quer falar de sensatez? – ela perguntou, tranquila, ainda se aproximando – Está planejando voltar. Nada sensato.
_ É o meu pai, Christabel! – Zero esbravejou, nem assim conseguindo perturbá-la – Se tiver a menor chance... Uma mínima chance que seja... Ele pode estar vivo, ainda!
Os olhos cinzentos de Christabel pareciam reluzir na penumbra, e por alterado que estivesse, Zero continuava achando que eles eram bonitos. À meia luz do porão de Mad, onde pareciam brilhar no escuro naturalmente, mais bonitos ainda. Belos e tristes, enquanto ela movia a cabeça numa negativa silenciosa.
Zero contraiu o rosto, como se ela tivesse ameaçado bater nele com alguma coisa. Estava perdendo tempo; o pai nunca o deixaria esperando, e não estava certo fazer isso com ele. Deu bruscamente as costas aos olhos tristes de Christabel e encaminhou-se para o Velocípede...
_ Zero.
Ele congelou onde estava. Christabel o chamara pelo nome. Voltou-se, e a viu baixar sua guarda de propósito e estender as mãos para ele. Os olhos dela, sua voz, todo o seu ser... Tudo nela pedia sua atenção. Era a primeira vez, talvez, na vida inteira dela em que Christabel abria seu coração daquela maneira.
Não o estava detendo com força. Não precisava. Ele agora tinha uma escolha; podia ir embora e deixá-la. Mas, isso valeria a pena?
Devagar, quase estudando os próprios movimentos, Zero se voltou para ela. E mesmo o discreto sorriso no rosto de Christabel parecia servir para confirmar que fizera a escolha certa. Um pouco hesitante, ele estendeu os braços para ela.
Christabel avançou sem dizer palavra, deixando-se estar no abraço dele, e enquanto deitou sua cabeça no ombro de Zero, sentiu seu coração em paz. E também ficou grata por poder esconder o rosto, que sentia estar em chamas.
E ele sorriu, feliz e triste ao mesmo tempo. Que hora ela tinha escolhido...! E não tinha como não reconhecer, ela soubera se expressar. Não podia pensar em nada mais que fosse mantê-lo ali.
_ Qualquer dia, Christie, você precisa me ensinar isso. Como consegue dizer tanto falando tão pouco?
Ela sorriu, o rosto ainda escondido no ombro dele.
_ Não aprenderia. Você fala demais.