Sunday, August 27, 2006

Leitores e leitoras, e toda a galera de plantão, saudações do Louco!

Sim, enquanto assisto Rose Red (a versão de Stephen King pra A Casa Amaldiçoada... mas não se enganem. Essa história do Mr. King é mais antiga q o filme com Liam Nesson. A história onde isso se baseou, uma casa q crescia a cada pessoa q morria, era It Grows on You, a menos que eu esteja muito enganado), vai mais um pouco da luta!

E mantenhamos o passo. Hmmm... Acho que tá na hora de voltar a escrever a Christie. Minha margem de segurança tá acabando.

Forte amplexo do Louco, e boa semana!!

(...)


Sari praguejou em silêncio. Abatera o único Arcano que vira cair ali tão depressa quanto pudera e, interiormente, estava muito satisfeita consigo mesma. Por poderoso que fosse, o outro não fora capaz de resistir a ela atacando de surpresa, e ainda restabelecera totalmente suas forças. Sari estava em melhores condições do que quando a louca escapada pela planície começara; sentia que poderia lutar por dias seguidos, se preciso fosse.

No entanto, estava preocupada por não ter podido livrar Zero. Ele não tivera tempo, ou não quisera dizer a ela o que ia fazer para não ser ouvido pelos temíveis Arcanos. Fora um ato suicida o dele, causar a explosão da caldeira de vapor de sua moto a uma distância tão reduzida, mas também fora a melhor estratégia para eliminar os Arcanos, ao que parecia. Pensando na motocicleta como um meio de transporte, ninguém teria atinado com a ameaça que ela era. A própria Sari, tão temerosa de viajar com Zero a princípio exatamente pelo risco da caldeira explodir, não imaginara que ele faria aquilo.

O mergulho na vala aberta pela erosão sem dúvida salvara a vida de ambos. Ela poderia ter se tornado em névoa se imaginasse o que seu amigo pensava em fazer, mas Zero sem dúvida pereceria mais facilmente do que os Arcanos se fosse atingido pelos estilhaços da moto. No entanto, o desabamento os lançara num túnel subterrâneo juntamente com metade do deserto, ao que parecia. Não fora um desafio para ela se tornar em névoa e escapar dos destroços, aproveitando a situação para deixar seu capacete para trás. Mas...

“Zero... Sua energia está diminuindo rápido...!”

Não poder ver o corpo de Zero não queria dizer que os sentidos de Sari não podiam localizar sua força vital em meio aos escombros. Mas essa mesma força o estava abandonando depressa. Ela teria como salvá-lo... mas primeiro era preciso eliminar as distrações. Percebera a confusão no rosto do Arcano que caíra próximo a ela e fora rápida para abatê-lo, mas agora, a segunda dos três sobreviventes emergira das pedras.

_ Afaste-se!

_ Não, humana – Kayla sacudiu os cabelos, livrando-se da poeira, e puxou devagar suas duas lâminas curvas – Seu companheiro deve saber onde está Christabel e, agora, não vai mais nos causar problemas. A menos que você queira revelar tal segredo, vou ter que retirá-lo dele.
Foi inevitável para Sari voltar-se por um instante. A vida de Zero estava se escoando rápido. Ela fora capaz de eliminar rapidamente um Arcano pego de surpresa, acreditava ter forças para eliminar aquela ali também... mas isso levaria tempo. Tempo que não podia desperdiçar.

Mas Zero nunca a perdoaria. Arriscara a si mesmo, sua cidade e seus amigos para garantir tempo precioso a Christabel, mesmo quando a própria Rainha rejeitara sua idéia. Se ela comprasse a vida dele usando a da outra... Sacudiu os longos cabelos prateados, firmou a katana em suas mãos e encarou Kayla.

_ A terceira opção é você se retirar. Recupere-se e volte depois, se tiver coragem. Mas se me enfrentar nesse estado, eu mato você. Como fiz com seu amigo.

_ Hmph – Kayla olhou com pouco caso para Sari, enquanto caminhava devagar para a direita e ambas se mediam – Não deixe um golpe de sorte subir-lhe à cabeça. Confiança demais pode ser a sua ruína.

Sari sorriu com superioridade. A outra a estava retendo, desperdiçando o tempo que até então trabalhara a favor deles. Mas ela sabia como apressar o duelo. Caminhando para a direita também, esquerda da outra, ela comentou displicentemente:

_ Fala por experiência própria, não?

Funcionara. As feições de Kayla escureceram diante da provocação e ela investiu, rápida demais para que qualquer ser humano a enfrentasse com igualdade.

Mas Sari era uma vampira, de reflexos, capacidade física e resistência que no mínimo se equivaliam às dos Arcanos. Estava no auge de sua forma, graças ao fato de ter se alimentado da essência de Val-Aret, e era movida pela urgência de salvar Zero. Que nada nem ninguém ficasse em seu caminho.

Ahl-Tur despertou devagar, e a primeira certeza que teve era de estar ferido. Consideravelmente ferido. Ao longe, parecia ouvir o som de metal contra metal, e aquilo o auxiliou a focalizar a realidade. Havia combate nas proximidades, e era onde ele precisava estar.

Tentou se mover. O corpo físico estava preso sob escombros de rocha, e ele podia sentir o cheiro da poeira, de terra recém-movida e também... vapor. Uma garoa fina de vapor, que talvez os humanos nem notassem. Mas ele sim. E então lembrou-se do que acontecera.

“A explosão...! Miserável...”

O dito protetor de Christabel novamente. Tur nunca imaginara que o transporte dele também fosse sua melhor arma, causando tamanha devastação. Não conseguia sentir mais a presença da maioria dos seus, restando apenas Kayla. Provavelmente era ela quem lutava nas proximidades. Ele precisava se levantar. Não sabia quem a estava enfrentando, mas se Kayla não fora capaz de eliminar com poucos golpes, não era um mero humano.

Rochas moveram-se sensivelmente, agitando-se mais aos poucos e finalmente tombando para direita, revelando a mão direita de Ahl-Tur. Sua cabeça seguiu-se, agitando os cabelos para livrar-se do excesso de poeira. Aquele vapor estava impregnado da essência de uma Jóia Dragão de Fogo, pois Zero exercitara todos os limites de sua Unicórnio em sua última cavalgada. Aquilo perturbava Tur de uma forma muito semelhante à sensação que enfrentara em Melk. Seu poder não estava sendo contido ali, mas algo não estava correto, tampouco.

O som de metal contra metal atraiu novamente sua atenção. Kayla estava duelando, uma bela humana de cabelos e trajes de prata a confrontava com habilidade e força. Se não era superior à Arcana, também não perdia em nada para ela.

Kayla lançou sua lâmina direita, semelhante a uma lua crescente, e atacou Sari pela frente com a lâmina esquerda.

A caçadora saltou para frente, deixando a lâmina arremessada passar sob ela e atacou por cima, sua katana e a lâmina esquerda de Kayla retinindo na imensa caverna.

A lâmina direita voltou em curva para a mão de sua mestra, sibilando no ar enquanto o fazia e prestes a enterrar-se nas costas da oponente.

Sari relaxou, parando de fazer força. Todo o impulso de Kayla subitamente lançou a caçadora para o alto e ainda desequilibrou a Arcana, que cambaleou alguns passos antes de apanhar a própria arma.

Sari agarrou-se ao teto da caverna, lançando dardos de metal sobre Kayla e se lançando rumo ao solo quase no mesmo movimento.

Kayla girou a lâmina esquerda em sua mão, bloqueando os dardos de Sari. E viu a caçadora quase sobre ela, rápida, a katana erguida para o golpe final.

E as lâminas em lua tornaram a girar em suas mãos, confrontando a katana e defendendo sua mestra enquanto Sari a forçava para os fundos da caverna por alguns passos para depois ser contida e forçada novamente para trás.

Tur percebeu a intenção da outra, então. Seus movimentos eram impressionantes, não totalmente humanos, mas ele podia perceber afobação nela, também. E, mesmo durante a confrontação com Kayla, ela procurava se manter próxima de um certo ponto da caverna onde o solo estava coberto de destroços. Não foi preciso muito para que entendesse que Zero, o dito protetor da Rainha, devia estar ali. Provavelmente, sob ferimento mortal.

Entre saltos, ataques e contra-ataques, Sari e Kayla estavam se enfrentando em igualdade de condições. A Arcana não conseguiria derrotá-la apenas com força física, Sari sabia, e perguntou-se quanto tempo levaria até a outra começar a usar de magia. Era uma coisa arriscada, a caverna ainda devia estar instável depois da explosão, e qualquer feitiço mais poderoso podia fazer com que mais dela viesse abaixo. E em sua atual situação, ela não conseguia abrir a guarda da outra tampouco.

“Se ao menos eu conseguisse pegá-la desprevenida...!”

O mesmo pensamento ocorrera à Kayla. Ela estava irritada e sentindo cansaço, mais do que deveria com tão pouco tempo de batalha. Mais ainda por não conseguir, com duas armas, abrir espaço para atingir Sari.

“Se eu arriscar um único movimento a mais, poderei atingí-la... mas vou abrir minha própria guarda por tempo demais! Se houvesse como eu...”

E então lhe ocorreu; claro que havia! Era fácil! Só precisava do incentivo certo.

Sunday, August 20, 2006

Oi gente! Apesar da entrada estilo Ely Corrêa, na verdade é só o velho Louco de sempre!

Espero não ter injuriado ninguém demais; acabei atrasando uma semana inteira, e deixei os leitores na pindura. No entanto, vou demorar mais um pouquinho antes de voltar pra Christie ^^

Qualé? Não queriam saber do Zero?

Amplexos do Louco ~_^



XXVII – A Balada da Caçadora


As chamas causadas pela explosão da imensa Serpente de Fogo continuavam a queimar. Vários daqueles que perseguiam à Rainha Christabel tinham sido consumidos pelo incêndio, outros haviam se dispersado ao perceber, em seu estado fragilizado, que os temidos perseguidores de Além da Fronteira se aproximavam. Não confiavam uns nos outros para enfrentá-los se estivessem no auge de suas forças; depois daquela desastrosa explosão, então, era melhor que se fossem.

Ainda estavam se afastando quando uma segunda explosão se dera. Vários deles admiraram-se. A explosão seguinte eliminara todos os sinais da presença de Christabel, bem como dos emissários de Além da Fronteira. Após um instante de hesitação, os grupos começaram a dirigir-se para a área onde Christabel desaparecera, e a movimentação dos primeiros motivou os demais a se apressarem.

O clangor de metal era fácil de ouvir aos que se aproximaram. Ainda assim, não havia qualquer evidência nas proximidades de onde podia ser aquela batalha. Uma nuvem de vapor quente permeava os arredores a partir de um certo ponto, e em meio ao seu conflito os perseguidores se aproximaram com dúvida e cautela. Uma explosão, não havia como negar as evidências: formações rochosas tombadas como se tivessem sido empurradas; restos de vários deles espalhados por toda a volta, como se estivessem próximos demais no momento do ataque de um dragão; pó fino do deserto caindo devagar, formando uma nuvem ainda mais espessa à medida em que se caminhava no mesmo rumo que a fugitiva tomara...

Em meio à poeira e à cortina de vapor na superfície havia uma imensa cratera. Como Zero se recordara, aquela era a direção das Minas Antigas; algumas das escavações, inclusive, já alcançavam o trecho onde a Unicórnio finalmente tombara diante da chegada de Sáurio. Apesar da luta sobre si, o terreno ainda era sólido o bastante para manter-se firme diante de praticamente tudo. O que se dera, no entanto, fora uma das exceções à regra.

Finalmente acuado pelos Arcanos que o cercavam, Zero disparou uma vez à esquerda e uma à direita, baleando dois deles com as balas de Dragão de Fogo da Marcadora. Por serem poderosos física e espiritualmente, os perseguidores sombrios eram especialmente vulneráveis a tal munição. O fato de não acreditarem que um humano pudesse ferí-los com máquinas também auxiliou, tornando sete dos nove descuidados.

Ahl-Tur e Kayla avançaram ao mesmo tempo, dois alvos móveis e incrivelmente velozes, bem afastados um do outro. Zero sabia que tinha munição, mas não condições de atingir a ambos. Um dos dois chegaria a ele, e estaria morto.

Assim, ele largou a espada, guardou a Marcadora e puxou sua Quatro-Tiros num único movimento elástico para trás. Sari, ainda coberta com o capacete, teve apenas tempo de vê-lo lançar-se com ela para uma das valas abertas pela erosão no terreno enquanto dois tiros explosivos alcançaram o tanque de vapor da Unicórnio. Um tanque espesso cheio de água fervente e com um exemplar de bom tamanho de Jóia Dragão de Fogo.

A Unicórnio explodiu, estilhaços de metal, Dragão de Fogo e vapor escaldante liberados com violência para absolutamente todos os lados em meio ao som ensurdecedor da caldeira que se rompia. Tamanha violência foi suficiente para fender o solo até as minas, e uma porção considerável da área de batalha desceu ao subsolo.

Quatro dos sete Arcanos ainda vivos morreram, uma dor insuportável torturando seus espíritos enquanto seus corpos eram atingidos pelos estilhaços de metal e Dragão de Fogo; outro deles conseguira se proteger por reflexo, mas foi surpreendido pela súbita mudança do terreno, caindo com as rochas. Os outros dois foram engolidos pela terra, juntamente com os dois humanos a quem caçavam.

Val-Aret levantou-se, desnorteado. Seu ombro esquerdo doía muito, atingido por algo muito pesado e rápido quando ele tombava naquela vala. Era capaz de isolar aquela dor, desligando seu espírito daquela parte do corpo. Reagiria com mais lentidão, mas ao menos podia se concentrar melhor naquele absurdo. Mortos! Seis Arcanos mortos por um humano, quatro ao mesmo tempo! Ele sentira a surpresa e agonia dos tombados, alguns deles ainda não totalmente livres em seus espíritos. E onde é que estava...?

Uma forma veloz saltou por trás dele, atravessando seu peito onde estaria o coração num ser humano, e ele tentou voltar-se. Atacado? Que tipo de ser humano podia se refazer tão depressa de tamanha explosão, daquele desabamento...?

Seu braço direito golpeou para trás e foi prontamente agarrado e empurrado de volta. A espada em seu peito foi puxada para fora e girou no ar, e Aret sentiu a cabeça de seu corpo físico tombar. Destruído! Não tivesse ele a existência separada de seu espírito, estaria morto!

E então sentiu; seu eu espiritual estava sendo sorvido por seu atacante. Não parecia provável, mas era exatamente o que acontecia. Seu corpo físico tombou com uma forma esbelta sobre ele, a espada novamente em seu peito prendendo-o ao solo enquanto duas mãos tocavam o espaço onde antes a cabeça estivera... e através daquele toque, o atacante estava absorvendo sua energia.

“... V-vampiro... N-não é possí.... vel...”

O corpo físico logo enfraqueceu demais para que se movesse, e ele soube que terminara. Sua surpresa durou até o fim.

Kayla ergueu-se com dificuldade. Era mais forte do que um ser humano de boa musculatura, era verdade, mas estava soterrada sob escombros pesados. Seu corpo físico fora ferido, mas sobreviveria ainda daquela vez...

E sentiu outra morte perto de si. Como podia ser? Nove Arcanos reduzidos a dois por míseros humanos? Estava certo, Tur os advertira, mas ela não podia aceitar tal absurdo com facilidade. Olhou na direção em que sentira o morto mais recente, Aret, desaparecer.

O corpo físico decapitado do Arcano estava tombado no solo, e havia alguém sobre ele. A humana, aquela que simulara ser Christabel, estava retirando sua espada do peito do outro e voltou-se para ela. Do outro, o atirador, não havia qualquer sinal.

Sunday, August 06, 2006

Senhoras, senhores, senhoritas e senhoritos, mais uma vez saudações do Louco!

Vamos ver, vamos ver... O Velho Dirceu tem a reputação de ser virtualmente invencível, e não há problema mecânico que ele não saiba resolver. Zero, aliás, adora alardear isso por aí.

Será mesmo...? Tá diante do desafio de sua vida. Vejamos se ele dá conta!

Amplexos! Fui!

(...)


Em seus sonhos, enquanto isso, Christabel via seus pais lutando. Reiko estava de pé perto dela, uma luz branca em meio à escuridão emanando de sua mão direita aberta. Ela estava lançando algum feitiço de proteção ao redor dela, enquanto seu pai se mantinha de pé ao seu lado.

“Saia daqui, Christabel! – Kane bradara – Corra!”

Lembrava-se de ter protestado. Podia ser pequena, mas já era filha de seus pais então. Não estava em sua natureza fugir, mesmo em desvantagem.

E Kane repetira a ordem, desta vez olhando para ela e enfatizando o que dizia, e Christabel calou-se. Seus pais nunca a tinham surrado; Reiko era gentil demais para isso, e Kane... não precisava disso; sua vontade e voz de comando bastavam para que uma surra fosse preferível a vê-lo irritado. Ela iria embora.

Bloqueara tais lembranças de sua mente desde o acontecido. Não queria rever aqueles momentos, tudo o que sempre guardara era até o momento em que a carruagem fora destruída e mais da metade de sua escolta morrera logo no primeiro ataque... mas lembrava-se de mais, agora. Os gritos dos acompanhantes ainda vivos, sendo mortos pelos cinco cavaleiros... O momento em que seus pais avançaram contra dois dos intrusos, tentando garantir a ela tempo de escapar... A certeza dentro dela de que não conseguiria correr o bastante para fazer isso, mesmo que fosse mais velha e mais veloz...

Mas havia mais dessa vez. Sua mente imatura não podia compreender exatamente que tipo de criaturas eram os cinco cavaleiros, mas a Christabel adulta que se tornara os reconhecia agora; era estranho que nunca tivesse feito a associação até então. Aqueles cavaleiros sobre-humanos não eram, de fato, seres humanos. Podia lembrar-se deles agora, de suas longas capas que pareciam fazer parte de seus corpos enquanto eles se moviam... porque de fato faziam. Aquilo não eram capas, eram asas! Asas como a dos morcegos!

“Arcanos!”

Eram Arcanos os cinco cavaleiros negros, agora ela entendia de onde vinha sua certeza de que mesmo seus pais não poderiam vencer aquelas criaturas. Mesmo sem conhecê-los então, ela podia perceber a diferença de forças entre eles e dois seres humanos, mesmo apoiados pelo que restara de sua escolta até então.

Lembrava-se de tentar fugir. Lembrava-se do clangor de espadas, e seu pai próximo a ela. Fosse qual fosse a capacidade do Arcano que o enfrentava, não o venceria num duelo de lâminas, sabia.

E sua mãe estava tentando dar-lhe dianteira com a ajuda de alguns soldados fiéis, mas embora poderosa, ela não poderia contra os outros quatro cavaleiros, que puxaram suas espadas e avançaram para a escolta.

Christabel tentou manter-se correndo. Os gritos que vinham de trás dela eram terríveis de se ouvir, as pessoas morrendo ali eram seus súditos também. Seu pai ordenara que fugisse, ela fugiria... mas não era uma ordem fácil de se cumprir.

Repentinamente, ouviu o som do vento se aproximando depressa por trás de si e voltou-se. Havia um deles atrás dela, de pé, uma espada longa em punho, manchada pelo sangue dos que abatera. Outros três deles estavam lá atrás, ela podia vê-los de relance, apenas dois acompanhantes ainda vivos acompanhando Reiko no duelo contra os cavaleiros, e Kane se mantinha tanto quanto possível. O cavaleiro que o confrontava talvez estivesse tendo dificuldades, mas não perdia terreno.

Christabel caiu sentada ao chão, enquanto via a figura sombria se aproximar de si lenta e inexoravelmente. Não se lembrava de tanta coisa fazia tempo, não quisera lembrar... mas agora não conseguia despertar.

Na mesa de operação, Christabel estava se contorcendo, os pulsos, tornozelos e torso presos por correias e as centelhas agora faiscando por todo o seu corpo. Antonio Matogrosso estava assustado com a visão e voltou-se para o painel de controle, pronto para baixar a intensidade de saída.

_ Não mexa nesse botão!

Dirceu continuava ao lado da moça, olhando para ela com preocupação mas também severidade. E Matogrosso protestou:

_ Dirceu, olhe pra ela! Está sendo eletrocutada, por Deus!

_ Não se pode eletrocutar ninguém hoje em dia e você sabe – Dirceu retrucou sem se voltar,
ainda olhando para o rosto da Rainha.

_ Quer me escutar? Nós temos que parar!

_ Temos que terminar o que começamos – ele encarou o colega com firmeza – Acredite, ela dirá o mesmo se interrompermos agora.

Voltou-se novamente para a Rainha. Esperava ter sido firme o bastante, porque ele próprio já duvidava do quanto mais se obrigaria a manter Christabel sob tal tormento... e as malditas jóias não se saturavam, ele não podia removê-las ainda.

_ Preciso da sua ajuda, menina – ele sussurrou – Não sei o que está fazendo, mas não vou conseguir sozinho. Por favor, nos mostre o que fazer...

Lá fora, Laírton mantinha sua barreira com orações e cada vez mais testado, achando difícil ignorar o tormento da Rainha e a presença assombrosa que se aproximava.

Em alguma parte do Grande Cabo, um veículo especial da Cidade Avançada cobria a distância velozmente carregando os Sete Dragões conforme ordenado.

À distância, Zero e Sari afastavam-se cada vez mais dos muros da Cidade Sucata enquanto rumavam para as minas ao sul, carregando consigo a esmagadora maioria das criaturas que caçavam a Rainha.

Nos portões da Cidade Sucata, enquanto isso, seus amigos Melissa e Daniel discutiam com Osvaldo e eram apoiados por Éderson e alguns colegas próximos quanto à necessidade ou possibilidade de ainda encontrarem Zero vivo se uma nova carga fosse comandada. Mal sabiam que os monstros estavam prestes a lançar um ataque direto sobre eles, prevenindo-os de auxiliar novamente aquela a quem perseguiam.

Christabel estava muito além de qualquer consideração por parte de quem fosse. Seu espírito estava novamente diante do cavaleiro negro, seus pais afastados enquanto ele erguia a mão esquerda na direção dela. Podia perceber agora, ele não pretendia matá-la. Ou ao menos, não era a sua intenção inicial. Era outra coisa que queria dela, falando num idioma que não tinha nada de terreno e que, mesmo assim, ela miraculosamente compreendia.

_ ‘Você tem algo que lhe foi confiado. Algo que deve passar adiante. Revela-te diante de mim, poder adormecido, e deixa teu invólucro mortal. Teu mestre necessita de ti.’

E uma lembrança que não era sua turvou sua visão, e Christabel viu um salão de mármore num local alto, talvez um terraço ou a sacada de uma torre. Havia serenidade, prestes a ser perturbada. O som de adereços metálicos se fez ouvir como se passos se aproximassem daquele local de paz, e ela quis impedir aqueles passos de chegarem ao seu destino, porque sabia que aquilo precipitaria a insanidade, e não haveria mais paz para qualquer ser vivo em todo o mundo.

Do que viera em seguida, ela realmente não tinha qualquer lembrança clara. A sensação de que algo buscava escapar-lhe do espírito à força, forçado pela mão estendida do cavaleiro. Algo que, ela percebia agora, era seu e ao mesmo tempo não era. Algo tão maior que ela própria, tão poderoso que chegava a doer. Christabel sentiu uma dor terrível em seu peito; por teimosa e corajosa que fosse ainda era apenas uma criança, e reagiu como tal à agonia que o estranho lhe impunha.

_ ‘Pare! Pare com isso!’

E ela gritou. E sentiu a dor explodir para fora de si, algo que parecia vir de dentro dela, mas não lhe pertencer de fato. Só o que sabia era que queria o fim daquele sofrimento, fosse como fosse. E então...

_ Não! Não outra vez...!

_ Acalme-se, menina! Acalme-se! Está tudo bem!

Christabel sentiu as mãos em seus ombros e olhou ao redor. Estava sentada na mesa de operações que lhe tinham preparado, e o pai de Zero estava ao seu lado, olhando em seu rosto com preocupação.

_ Lembra-se de quem é? De onde está? Responda!

_ S-sim... me lembro. Eu... – e fixou seu olhar em Dirceu – Teve sucesso?

A expressão do velho nublou-se e ele afastou-se um pouco dela, murmurando:

_ Olhe, eu não sei o que meu filho disse a você... Talvez tenha dito que eu era Deus, ou algo parecido...

Christabel sentiu-se congelar por dentro. Falhara! Ele falhara, não conseguira...! Ela ia protestar em voz alta quando ele voltou-se para ela, o punho esquerdo fechado abrindo-se devagar com três fragmentos de Jóia Dragão de Fogo em sua palma.

A Rainha olhou para ele sem poder acreditar. O metal da tiara ainda estava em sua fronte, ela podia sentir o seu toque... Mas então, percebeu que tocar no artefato não lhe causava mais qualquer dor. E o rosto de Dirceu despontou num sorriso, uma expressão que parecia irradiar-se de todo o seu ser, como os de Zero.

_ ... e ele estava coberto de razão. Vamos lá, experimente! Esse prazer é só seu.

Christabel olhou por um instante para o velho Dirceu, quase sem poder acreditar naquela atitude num momento daqueles. Mas também ela sorriu, ainda olhando para Dirceu, ao segurar a tiara de arcânio que a aprisionara por dias.

E sem cerimônia nenhuma, ela a removeu.