Mals por não ter aparecido; era o CAIniversário, sabem como é. E acabei não conseguindo aparecer pro post semanal.
Mas enfim, sigamos em frente. Afinal, Christie ainda tem que encarar o feioso, né? E o pessoal não vai deixar ela fazer isso sozinha. Amplexos do Louco, e espero que curtam! Afinal, a coisa toda tá chegando ao fim.
(...)
E à distância, os Arcanos revoavam ao redor de Alexandre em confusão, aguardando novas ordens. Seu líder estava muito surpreso; apesar dos constantes avisos de Ahl-Tur, era algo inusitado ver e sentir que os humanos realmente eram capazes de enfrentar e derrotar seus servos, mesmo com pouco auxílio de Christabel.
Mas sua surpresa rapidamente deu lugar ao aborrecimento e à impaciência. Não faria diferença. Eles obviamente o haviam surpreendido, mas já bastava. Aquilo não podia levar muito tempo, ou os poderes do mundo se reuniriam ali mais uma vez, e não era improvável que se unissem à Rainha temporariamente para combatê-lo. Se tal se desse, a situação podia fugir ao seu controle. E ele ainda tinha Arcanos em número suficiente para esmagar a resistência ao redor de Christabel, e avançaria pessoalmente para reclamar seu prêmio.
No momento em que sua resolução se formara, os Arcanos desceram numa revoada maior, dez dos pouco mais de trinta que lhe haviam restado, mergulhando numa espiral e então abrindo-se como uma rede, impossibilitando que fossem abatidos pelos humanos lá embaixo, enquanto ele próprio tornava a se aproximar da fortaleza. Ela não ousaria lutar com todas as forças e arriscar seus companheiros, o que lhe daria uma vantagem maior logo de saída.
Subitamente, a linha paralela de Arcanos foi quebrada pelo que parecia um projétil humano, que irrompeu numa espiral de vento, eletricidade e chamas ao romper o bloqueio, arrastando em sua esteira um par dos Arcanos que mergulhara e chamando a atenção dos demais, que prontamente se colocaram diante de seu mestre para interceptar o ataque.
E Christabel explodiu contra eles violentamente, seu ser fulgurando com magia e fúria, sua espada golpeando envolta numa capa de magia que combinava os três elementos e poderosa demais para que mesmo os Arcanos fizessem frente a ela, ao que parecia.
Dois dos primeiros Arcanos a combatê-la uniram seus esforços numa combinação de magia de explosão e lâminas de gelo, mas Christabel acenou com a mão para esquerda e então de volta contra eles, e o feitiço combinado voltou-se na direção de seus lançadores, surpreendendo-os. Girando no ar, a Rainha golpeou novamente com sua espada, contendo a investida de mais quatro Arcanos que tentaram surpreendê-la por trás.
E o mestre deles percebeu que os outros, os dez Arcanos que tinham mergulhado na direção da fortaleza, também estavam lutando. Havia um vulto prateado destacando-se na escuridão que começava a se formar com o anoitecer, sua katana golpeando com força e perícia e capaz de se manter no ar enquanto combatia, mesmo sem voar, propriamente.
Sari estava lutando, usando cada fibra de força e habilidade que possuía, lutando como ser humano algum seria capaz, saltando de um Arcano para outro e nunca trocando mais de quatro golpes com cada um antes de lançar-se na direção de outro, sua espada cintilando frenética nas armas dos Arcanos ou abrindo suas guardas no momento exato.
E então, quando outro deles tentaria atacá-la por trás, ela se deixava cair, saltava para longe ou simplesmente se tornava em névoa, fazendo com que os oponentes se atacassem para depois usar sua própria força, cravando suas mãos nas feridas deles e apossando-se de seus fluxos de energia. E um dos Arcanos gritou de dor enquanto toda a energia de seu corpo foi transferida para o outro, tendo Sari como conexão entre ambos.
Naturalmente, o poder vital de dois Arcanos não cabia no corpo de um deles, e enquanto um dos corpos caiu sem vida, o outro explodiu com a massa de espírito, que a caçadora imediatamente consumiu.
Mais deles, vindos de seis pontos diferentes, convergiram contra ela ao mesmo tempo. E Sari percebeu que já teria uso para a energia imensa que consumira e que parecia tentar irromper para fora de si mesma. E uma explosão violenta de luz clareou a noite por um instante, onde a caçadora e os Arcanos em seu campo de ação desapareceram da visão.
Adiante, Christabel sentiu a presença de Sari desaparecer e sua atenção quase se perdeu, refreando o impulso de olhar para onde a colega estivera. Os Arcanos restantes também haviam se revestido de magia como ela, e estavam começando a coordenar melhor sua defesa. Ela precisaria de toda a atenção que tivesse.
Como os vultos de seu pesadelo, agora transpirando sua própria magia e espírito como se fosse névoa sombria, os Arcanos investiam de cada flanco possível, e Christabel era apenas um ponto de luz em meio a eles, chicoteando com sua espada e magia para todos os lados, atacando para se defender, sendo repelida mais e mais para o alto.
Como um único ser, uma torrente escura dos Arcanos irrompeu por baixo dela com suas armas e garras semelhantes a fogo das trevas, vermelho escuro e cáustico, e Christabel percebeu que seu tempo de confinamento pela tiara servira para algo, afinal. Aumentando sua própria força e agilidade com cinese e impacto, ela era capaz de combater com pelo menos a mesma habilidade física de Sari, o que normalmente não deveria poder fazer.
E enquanto atacava com força e velocidade, apenas repelindo os ataques dos adversários numa seqüência contínua, Christabel era mais e mais empurrada para o alto, de forma irresistível. Era possível ver os olhos vermelhos e o esforço combinado dos Arcanos atacantes, movendo-se como uma única criatura mesclada na noite, enquanto seu mestre e mesmo a terra abaixo deles rapidamente ficavam para trás e todos ganhavam altitude.
Christabel então abriu seus braços e irradiou seu poder com maior força, repelindo a investida contínua dos Arcanos por um momento maior, criando do próprio ar anéis de água que giraram à sua volta e se fundiram, tornando-se numa espiral em movimento tão veloz que era como se a própria Christabel fosse feita de água.
Os Arcanos tornaram a investir num esforço combinado, como um só ser inominável atacando com inúmeros braços, mas agora era a vez de Christabel empurrar. Mergulhando sobre eles como uma torrente irresistível, água e vento espiralando à sua volta sob o comando de seu espírito, uma força primordial movendo outras duas com tamanho poder que mesmo a ação combinada de dezenas de Arcanos hesitava e falhava diante dela, sendo empurrados contra o solo mais e mais depressa.
A massa de oponentes tentou se reconfigurar, pondo-se lado a lado e formando o que parecia um escudo ou parede protetora, mas a Rainha apenas mudou a forma de sua investida, pairando no ar com água e vento emanando dela e acenando com os dois braços para frente, como se o solo não estivesse diretamente diante de si e como se bater contra ele não fosse um problema, e sua voz clamou:
_ Alma do Oceano!
Diante dos olhos admirados dos Arcanos, uma torrente pesada de água surgiu quando Christabel abriu seus dois braços com ímpeto, derramando sobre os oponentes tamanho volume de água e vento que foi como ser engolidos por ondas de tempestade em alto mar, e ainda que eles talvez tivessem poder para enfrentar ou repelir tal ataque, o movimento fora muito rápido e repentino para que orquestrassem uma defesa em tempo. Os pouco mais de vinte Arcanos que até então confrontavam Christabel foram lançados de volta ao solo sob o peso da tempestade.
Mesmo tal queda não seria o bastante para destruir Arcanos, mas sem dúvida bastava para que ficassem aturdidos e momentaneamente sem ação. Enquanto a água escoava por toda a volta, espalhando-se pelo vale que deixava Melk, eles subitamente perceberam que a Rainha estava de pé entre eles no solo, espada em punho e impávida, parecendo quase provocá-los ao ficar ali, imóvel.
A atenção de cada um deles voltou-se para Christabel, alguns sacando suas armas e outros preparando-se para atacá-la com magia, o instinto de sobrevivência momentaneamente sobrepujando a ordem de seu mestre de capturá-la com vida, quando um ronco de motor se fez ouvir e os Arcanos mais próximos à muralha leste de Melk foram empurrados na direção da Rainha com violência, atingidos por trás pelas metralhadoras duplas que brotavam dos faróis d’O Palão.
Alguns dos Arcanos perceberam que havia mais inimigos em aproximação, mas então foram colhidos por uma massa arrebatadora de sua própria magia de Compressão, força de Impacto compensada de maneira a esmagar qualquer coisa que tocasse. Apenas Christabel, que vira antes deles que os amigos se aproximavam, estava preparada para abrir a massa de magia com um golpe de sua Lâmina Perseguidora.
Mesmo assim, ela sentiu o peso e a força da magia que Melissa liberara. Era impressionante, ela pensou, enquanto o feitiço da maga negra abria-se diante de seu golpe, uma massa de Compressão arrastando alguns dos Arcanos e empurrando os demais à sua volta para longe como um tornado irresistível. A antiga braçadeira de Dirceu talvez não fosse capaz de resistir ao poder combinado de quatro Arcanos, mas o bastão que Maddock fizera parecia ter as espirais de resistência que sua tiara um dia tivera. Com duas jóias de tamanho considerável dando apoio à jóia que pertencera à braçadeira de Melissa, a maga negra armazenara o ataque que antes sofrera e agora o liberara de uma só vez num efeito impressionante. Sendo magia dos próprios Arcanos, eles certamente teriam podido contê-la ou se defender, se esperassem por tal.
E ela não estava sozinha. O motor roncando e abrindo fogo novamente, O Palão de Maddock se aproximava em alta velocidade, esparramando barro fresco para os lados, com a maga negra encarapitada no teto e Freya montada no capô, do lado direito e bronqueando:
_ Eu te odeio, Hermes Maddock! E se derrubar a gente daqui eu te mato!
_ Pára de reclamar, Bibi, e segura firme! Eles já perceberam que a gente tá aqui! Irmão Laírton, toda a sorte do mundo pra nós, manda lá!
Laírton estava sentado nos bancos de trás, o cajado cruciforme na mão direita e agarrado à porta do seu lado enquanto murmurava numa algaravia que ninguém ao seu redor conseguia compreender em meio à confusão da batalha, recobrindo o Palão com uma Capa de Boa Sorte, aumentando as chances de todos a bordo de terem êxito em tudo o que fizessem, enquanto Daniel estava à esquerda de Melissa, sua Lança Granada disparando uma carga nova à esquerda, onde os Arcanos arrastados pela Compressão ainda se punham de pé.
_ Maldição, Maddock, não há como sacudir menos? É difícil fazer pontaria assim!
_ Vai se danar, Daniel! – Maddock girou o volante para direita, enquanto o carro deslizava sobre o solo de argila – Aquele último feitiço da Christie encharcou o solo, o chão tá parecendo gelo de tão liso! Dê graças por ter o deus da pilotagem no volante, isso sim, e atira aí! Olha só o Zero, nem reclama! Como tá indo aí, irmãozinho?
_ Coisa linda, mano velho! Funciona direitinho!
Entre os muitos implementos nos quais tinham trabalhado durante a reforma d’O Palão, Zero e Maddock tinham se empenhado em uma antiga vontade do proprietário, instalando uma antiga metralhadora Vulcão de um dos aviões do cemitério num suporte retrátil no porta-malas do veículo. Agora, com o aparato adaptado para funcionar com lascas e farpas como a arma de Maddock, Zero estava aproveitando o movimento do veículo e a base rotatória da metralhadora para atacar os Arcanos enquanto se aproximavam deslizando pelo solo barrento do ponto onde estava Christabel.
Ainda que surpresos pela inesperada investida, os Arcanos sobreviventes ainda estavam em maior número e reagiram à altura, voltando contra o veículo inimigo feitiços de explosão, gelo, relâmpago, fogo e escuridão numa única massa de força que colidiu contra o capô, explodindo em fumaça quando Maddock não conseguiu desviar a tempo, deslizando no barro, e por um momento o coração de Christabel falhou.
E O Palão emergiu da nuvem de fumaça incólume, Zero ainda disparando de pé sobre o banco traseiro com o apoio de outra das granadas de Daniel e um feitiço Bala de Canhão de Melissa arremesssando os Arcanos perplexos para o alto e para trás enquanto a aliviada Rainha percebia por que Maddock colocara Freya sobre o capô. Os grandes escudos de sua armadura possuíam cinco jóias Dragão de Fogo cada um, colocadas para formar uma cruz em sua superfície, e obviamente podiam absorver ataques de magia e energia contra si como a braçadeira de Melissa fizera. E a maga negra parecia ter se dado conta do fato, também.
_ Isso parece um bocado com o sistema da minha Escudo, antes do Mad desmontar – ela comentou, os cabelos loiros jogados sobre seu rosto pelo vento, e ela os afastou enquanto perguntava – Mas o que acontece com o que foi absorvido, Freya?
_ É conduzido pro sistema de alimentação nas minhas costas, Mel – ela acenou depressa, temendo se soltar por mais tempo do que o necessário – Minha armadura converte essa força pro meu uso, e eu ganho super-força nos braços e pernas enquanto isso. Quanto mais energia usarem, mais forte eu fico. Acho que o Seu Dirceu deve ter ouvido falar do sistema e copiou pra usar na sua braçadeira...
_ Nem vem! – Melissa bronqueou, enquanto o Palão passava à esquerda de Christabel, entre ela e os Arcanos restantes, e a maga negra empurrou para longe outro Arcano com seu feitiço de Impacto – Alguém da Avançada é que deve ter imitado uma idéia do Seu Dirceu, isso sim! Imagina se logo ele ia precisar ficar imitando idéia dos outros...
_ Tá lesada, menina? – Freya voltou-se para Melissa por um momento, exasperada e temerosa de cair de onde estava – Não tem nada de mais em admitir isso! O Seu Dirceu sempre ajudava o pessoal lá em cima, não ia ser nada estranho que ele tivesse visto o projeto dos Escudos de Dreno uma hora dessas e adaptasse a idéia; daí o nome da sua ‘Braçadeira Escudo’.
_ Mas não mesmo! – Melissa guardou o cajado na cintura e uniu as duas mãos para lançar uma Bala de Canhão à esquerda – Seus escudos é que devem ter sido criados depois, não é assim que o pessoal da Avançada faz? Vê uma idéia que alguém da Sucata teve, adapta e põe mais tecnologia e aí a idéia parece ter sido deles...!
_ É verdade o que dizem, Zero – Maddock comentou num tom de voz displicente e alto o bastante para ser ouvido sobre a discussão e a batalha – Mulher gosta mesmo é de falar! Tá ouvindo a discussão?
_ As belezas da vida em família, Mad – Zero riu, girando a metralhadora para manter o mesmo Arcano sob fogo cerrado por mais tempo – Nada como uma discussão saudável entre irmãs, é o que eu sempre digo.
Christabel não podia acreditar naquilo. Mesmo em meio ao caos da batalha, diante de adversários temíveis como eram os Arcanos, sua guarda continuava estabanada e barulhenta como fora durante toda a viagem. Era admirável que Laírton conseguisse se concentrar para manter sua oração naquelas condições, assim como era admirável que Maddock fosse capaz de manobrar O Palão com a mesma habilidade, ou que Zero atirasse com a mesma precisão mesmo dando atenção a algo tão trivial quanto a discussão tola de Melissa e Beatriz em meio àquela balbúrdia.
O Palão fez uma curva fechada, aproveitando-se do terreno de barro fresco para deslizar e fazer meia volta sem tombar sobre si mesmo, enquanto a mão direita de Maddock apressadamente trocava de marcha e a esquerda mantinha o volante firme para retornar até onde a Rainha estava, e diante de uma nova explosão da Lança-Granada de Daniel e de um Arcano bloqueando uma Bola de Fogo de Melissa, Christabel pôde ouvir a voz de Zero gritando:
_ Vai nessa, Christie, e pega o grandão! A gente segura esses caras aqui!
As metralhadoras nos faróis já espocavam novamente, enquanto o veículo de Maddock cortava a lama e se aproximava dela, investindo sobre os Arcanos remanescentes que agora se preparavam para resistir. E apesar de temerosa em abandoná-los, Christabel reconhecia para si mesma que eles eram capazes, sim. Tinham que ser. Se lançavam sobre um inimigo superior para dar tempo a ela, outra vez; era preciso que tivesse fé nas forças deles.
Mas então, ela percebeu duas presenças que se aproximavam velozmente, vindas do leste, e a atenção de cada Arcano no campo de batalha pareceu voltar-se para a mesma direção, assim como os olhos do gigante de pedra que os comandava. E O Palão derrapou violentamente para direita, parecendo ter sido empurrado para fora do caminho pelas figuras sombrias que pareceram materializar-se do nada diante da Rainha.
Ahl-Tur e Kayla tinham acabado de chegar ao campo de batalha.