Saturday, June 23, 2007

Oi gente de fim de semana! Em pleno sabadão, fazendo horinha extra, saudações do Louco!

Pois é, tô fazendo bonitinho por aqui, tentando manter o compasso numa boa (enquanto isso, na vida real aqui em casa, Christie e companhia estão na luta final). O capítulo é legal, mas precisa terminar por enquanto.

Então, vamos terminar! ^_^

Forte amplexo do Louco!


(...)


Não havia argumento possível àquilo, e talvez Freya também soubesse, pois não dissera mais coisa alguma então. Christabel observara que Maddock não era do tipo que ficava aborrecido por tempo demais, mesmo tendo sido atacado em sua veia sensível, mas Freya mantivera sua reserva por cerca de dois dias, tempo no qual a Rainha notara com algum divertimento que a Dragonesa discretamente se dedicara a observar com atenção os restos dos aviões. E até onde ela pudera notar, Freya não descobrira qual era o grande segredo que Maddock fazia parecer tão óbvio.

_ Uma moeda pelos seus pensamentos, Christie.

Ela sorriu, quase sem voltar a cabeça. Também a aproximação dele ela notara, embora não tivesse qualquer pressa em dar evidência. Era estranho, não ter que ficar em guarda o tempo todo. Maravilhosamente estranho.

_ Parece estar bem melhor, Zero.

_ Ah, você notou? – ele estendeu os braços, agora livres dos exoesqueletos de Maddock – Laírton disse que meus membros já tão prontos pra outra, e é só questão de tempo até o resto também ficar bom. Melhor que seja logo; nunca se sabe quando outro deserto vai cair na minha cabeça.

_ Não devia brincar com isso.

Ela estava muito séria agora, o rosto totalmente voltado para ele. E Zero deu de ombros, quase se desculpando.

_ É só um fato, Christie, uma coisa da qual não tem como fugir. A Terra já veio atrás de mim antes, e não conseguiu me pegar. Claro que ela vai tentar de novo.

_ E você pretende dar outra chance a ela.

_ Sei que você entende isso – ele também parecia sério agora – Não escolhemos o que somos. Apenas somos.

Ela aconchegou-se a ele, e Zero a abraçou. Claro que ela entendia; por um motivo semelhante, passara metade da vida cercada por gente que a queria morta. Mas não precisava gostar disso, e preferiu mudar de assunto.

_ Os outros, como estão? Não tenho visto Melissa e Daniel ultimamente.

Zero sorriu novamente. Típico de Christabel, mas ele também não estava muito ansioso por continuar a discussão, e respondeu casualmente:

_ Ah, ela e o Mad ficaram de arrumar a arma do Daniel, e agora ele tá aproveitando pra treinar com ela. Com tanta confusão, também, o volume de magia da Li aumentou, ou é o que ela diz. Explica isso pra mim?

_ Com a experiência que ganhou, pode lançar mais magias no mesmo dia antes de cansar-se – ela olhou para ele como se aquilo devesse ser óbvio – Talvez até tenha aprendido a derivar novos feitiços, mais complexos, daqueles que conhecia.

_ Ah, não me olha desse jeito – ele deu de ombros – Meu negócio é restauração de artefatos, não entendo nada de magia!

_ Basicamente, é como exercitar-se. Depois de um certo esforço, você ultrapassa o limite que tinha e pode esforçar-se mais. Então, ela e Daniel têm treinado juntos?

_ É, mas não é só isso; acho que a Li tá tentando fazer o Daniel gostar de tecnologia antiga, também. Ao menos, tem levado ele pra quase toda a parte quando vai ver os aviões do Mad. Heh... Acho que o velho Maddock tá curtindo pra caramba tanta atenção, isso aqui deve ter ficado muito quieto por todo esse tempo que nem eu nem meu pai viemos.

_ Por que tanto segredo? – ela olhou novamente no rosto dele – Seu pai e você, com os trilhos subterrâneos... Maddock disse que vocês não queriam.

_ Era mais ou menos isso mesmo. O pai do Mad, Capitão Maddock, era um tremendo amigo do meu pai, e tido como doido na Cidade Avançada quando chegou dizendo que reinventar as máquinas que voavam era brincadeira de criança, se soubessem onde procurar. Ele atiçou muita gente a querer voar, isso é verdade, mas também foi expulso de lá por ter causado tanta confusão.

Ela pareceu em dúvida, e Zero explicou:

_ Nunca iam pôr um sujeito de fora na liderança dos projetos, não importando o quanto ele dissesse que sabia. No fim, meu pai convenceu ele de que era melhor levar as pesquisas por conta própria; dava pra ter resultados mais rápidos do que tendo que respeitar os orçamentos, a burocracia e toda a frescurada dos crânios da Avançada, e bastava o Capitão chegar com um aviãozinho funcional que fosse, todo mundo ia dar atenção a ele.

_ Mas ele morreu antes de conseguir.

_ É – Zero pareceu triste – Meu pai tava junto, ele, minha mãe e uns poucos amigos. Meu pai e o Capitão tavam na aeronave experimental quando ela caiu. Não tinha mais o que fazer pelo Capitão, e a perna do meu pai nunca mais voltou ao que era; por isso ele usava aquela bengala. Eu era muito novinho, não lembro de muita coisa, só do meu ‘mano véio’ Maddock chorando um bocado de noite, com minha mãe e meu pai tentando segurar a barra. Mad é quatro anos mais velho que eu, e decidiu sozinho que não ia voltar pra a Sucata com a gente, não. Queria terminar o tal avião que o pai dele tinha tentado fazer.

“Minha mãe não gostou muito a princípio, mas os colegas da época vieram morar com o Mad por um tempo, pra não deixar o menino sozinho, e ele decidiu que não queria que ninguém da Avançada soubesse do que andavam fazendo no Cemitério até conseguirem terminar o avião do pai dele.”

_ E até hoje...

_ Os colegas da equipe não ficaram por muito tempo – Zero deu de ombros, parecendo triste – Acho que o sonho deles morreu com o Capitão. Minha mãe voltou a insistir pra trazerem o Mad, e eu até dei uma força. Ia ser legal se ele viesse morar com a gente, eu pensava, mas ele bateu o pé e não saía por nada. Meu pai acabou cedendo com condições que nunca me explicou, e Mad provou que sabia se virar sozinho.

“Mudamos pra nossa casa atual justamente porque meu pai e minha mãe descobriram que sob ela corria parte de um antigo sistema de metrô... um tipo de transporte subterrâneo – ele acrescentou, diante do olhar dela – Deu um trabalho do caramba deixar a coisa toda em condição de uso, e levou tempo, esforço e alguns amigos que pudessem manter segredo, mas valeu a pena. Entende, na época em que expulsaram o Capitão Maddock da Avançada, a reserva contra estranhos valia, mas não impedia alguns dos mais ambiciosos na Mesa do Conselho de mandar gente atrás do ‘louco’ pra roubar as idéias dele. Não queríamos que soubessem que o filho dele continuava com o trabalho depois do pai ter morrido, não até Mad poder apresentar um avião que voasse, como o Capitão queria”

Christabel acenou. Entendia muito bem aquilo, o propósito herdado dos pais. Nunca teria pensado que pudesse ter algo em comum com o tresloucado Maddock mas, como vinha sendo constantemente lembrada ultimamente, as aparências podiam enganar.

_ Mas você tá me enrolando, e não respondeu o que eu perguntei – Zero sorriu ao ver o ar contrafeito dela. Pensava que ele esqueceria – Anda, é algum segredo? Pode confiar em mim!

_ Sei que posso.

Ela apertou a mão dele, seu olhar terno fazendo Zero perder o fôlego por um momento; não achava que fosse possível para ela parecer ainda mais bonita. Após o breve momento em silêncio, Christabel voltou os olhos para o horizonte além do deserto que parecia cercar o Cemitério de Aviões e começou:

_ Estou surpresa, apenas. É muito bom poder me sentar ao sol dessa maneira, sem me preocupar com consipiradores querendo minha posição, ou se nossos soldados bastam para proteger a Muralha Oeste... Sem ter que me preocupar se alguém, humano ou não, virá me buscar quando acreditar que estou desatenta. Meus poderes... Minha percepção flui à minha volta, e não importa quantas vezes eu tente, não consigo encontrar hostilidade alguma. Nenhuma que ameace minha existência. É algo muito estranho para mim, mesmo que me recorde do tempo em que meus pais viviam.

Ele sorriu para ela, agora com pena.

_ E mesmo com tanta paz, você não tá tranqüila, né? Tem alguma coisa te chateando... e não tenho certeza se você sabe o que é.

Ela tornou a olhar para ele, a pergunta clara em seu rosto. Como ele sabia?

Com o mesmo sorriso triste, Zero afagou os cabelos dela, e Christabel compreendeu. Talvez não entendesse as regras da prática de magia, mas ele conseguia entendê-la tão bem quanto ela a ele. Abraçando-se a Zero, ela murmurou:

_ Na verdade, sei. Minha alma sabe que ainda não acabou... Que aqueles que me procuram não desistiram ainda, apenas não sabem onde estou por ora. Mas terei que partir, eventualmente, seja em segredo ou sob perseguição. Este lugar é magnífico, pouco importando como pareça aos olhos de outros... porque é um santuário para mim. Uma amostra da paz que nunca conheci... e que talvez nunca torne a conhecer.

Ele a apertou um pouco mais forte. Entendia melhor agora; ela queria partir, antes que o Cemitério fosse atacado, mas sabia que ao se expor novamente, seus perseguidores a manteriam sob vigilância para que nunca mais desaparecesse. E hesitava por saber que nunca mais poderia desfrutar daquela calmaria.

_ Vou estar lá com você, Minha Rainha. Pra sempre, se quiser.

Ela fechou os olhos, sentindo a inquietação passar por ora. Ao menos, dali em diante, não precisava mais ficar sozinha. Teria seu Cavaleiro com ela, em corpo e alma.

E em algum lugar afastado, uma presença sombria sorriu com satisfação. Era um sorriso aterrador, dentes brancos demais emergindo em meio ao que parecia escuridão sólida de tal maneira que poderia significar qualquer coisa, menos alegria ou felicidade.

_ Finalmente... Rainha Christabel. Espero que tenha desfrutado de seu breve descanso.

Sunday, June 17, 2007

Olá meus povos e minhas povas! Mais uma vez na domingueira, saudações do Louco!

A memória do meu computador parece estar se tornando uma vaga lembrança; receio que não vou conseguir postar em breve. Por enquanto, então, melhor postar o que ainda dá (vcs não fazem idéia do quanto demorou só pra essas letras entrarem -_-')

Vamos de capítulo novo então! forte amplexo!

XXXV – Tempo Passado em Boa Companhia

Os seis dias seguintes foram repletos daquilo que Christabel mais temera e desejara durante boa parte de sua vida.

Seu coração tinha encontrado a paz. Era uma coisa estranha de se pensar, ela admitia: a Rainha de Melk, temida até pelas criaturas de Além da Fronteira, encontrara paz num cemitério de máquinas do mundo antigo. Era a primeira vez em toda a sua vida que não era movida por urgência, não sentia a necessidade de se proteger das pessoas à sua volta... e por estranho que lhe parecesse, também era muito agradável.

Estava sentada sobre a asa de um dos inúmeros aviões do cemitério, sentindo o sol em seu rosto e o vento que agitava seus cabelos. Seus sentidos continuavam alertas como sempre tinham estado, mas agora sua percepção aguda servia para observar os amigos em atividades que, em seu lar, ela teria considerado tolices.

Irmão Laírton, por exemplo. Terminado o período da manhã em que comiam, e no qual o Religioso e Maddock pareciam dedicar-se exclusivamente a acabar com o estoque de vinho caseiro do anfitrião (de sabor doce, e efeito duvidoso), ele se afastava e ficava sozinho por pouco menos de uma hora, orando e parecendo comungar com a natureza à sua volta.

Christabel voltou seus olhos para dentro do pátio do cemitério. Lá estava o Religioso, o cajado posto sobre suas pernas cruzadas enquanto ele conversava animadamente com os pequenos pássaros que se aproximavam e pousavam nele, e também abelhas e borboletas. Como ela, Laírton escolhera uma das sucatas do pátio e estava sentado sobre a cabine do avião, parecendo quase relaxado demais. Ninguém acreditaria que era um fugitivo apenas olhando para ele...

“... ou para mim.”

Também Zero parecia estar de volta a si mesmo. O tratamento de Laírton se estendera por mais tempo do que o previsto, e o mecânico era inquieto demais para ficar parado e deixar seus ossos e organismo descansarem como seria adequado, mas ao menos os tais exoesqueletos de Maddock faziam bem sua parte. Já no segundo dia desde sua chegada ali, Zero e o amigo foram para um cômodo à parte nos fundos da casa, onde Maddock dissera ter uma surpresa.

_ Lembra daquilo que eu tinha te falado, sobre arrumar umas rodas pra mim? – Maddock dissera, fazendo suspense antes de abrir a porta corrediça – Pois é! Deu um bocado de trabalho, conseguir um que desse pro que eu queria, mas a espera valeu a pena.

_ O quê? – Zero pareceu incrédulo – Não vai me dizer que você encontrou...

_ Tá bom, não digo – e Maddock abriu a porta – Veja você mesmo, e babe por essa gracinha!

Christabel, até então se mantendo próxima o bastante apenas para ouvir a conversa, resolvera expor-se um pouco para descobrir de que espécie de ‘gracinha’ o anfitrião estava falando. E o que viu foi apenas mais um veículo, em muito parecido com vários dos carros da Cidade Sucata. Um carro de passeio em outros tempos, de porte grande... e por que Zero parecia tão encantado?

_ Mad... Cara, não acredito que tô vendo isso! E-ele anda mesmo?

_ Nãão – Maddock retrucou com sarcasmo – Mas serve uma caipirinha de primeira! Qualé, Zero, vou te jogar lá embaixo! Isso é pergunta que se faça?

_ Tá, tudo bem, desculpa. É só que... até lá na Sucata, é muito difícil ver um Palão desses.

_ Nah, besta, isso aqui não é ‘um’ Palão; esse aqui é ‘O’ palão! – Maddock exibiu o carro com orgulho – Vai dizer que não reparou em nada demais?

Com o mesmo olhar admirado do qual Christabel não gostara, Zero começou a andar ao redor do Pala e murmurou:

_ Não sei... Faz muito tempo que eu não vejo um desses, posso tá falando besteira... mas esse aqui parece meio grande demais, mesmo pra um Palão.

_ Bom... Muito bom! – Maddock riu – Não chamei de ‘O’ Palão à toa, Zero; eu coloquei mais um metro e meio de lataria nele, pra deixar essa gracinha mais útil. Sabe como é, carregar algumas das peças dos aviões de um lado pra outro é trabalho pesado, ainda mais quando se mora sozinho.

_ Foi mal por não ter mais aparecido, Mad...

_ Ei, você e o velho tavam mantendo o nosso acordo, deixando o Cemitério escondido – deu de ombros – Esse tipo de coisa era de se esperar. E depois, fiquei com o carro só pra mim!! Não foi nada mal.

_ Cara egoísta – Zero riu – Mas, e aí, quando é que damos uma volta? Eu queria dar uma olhada no avião...

_ Depois, mano – Maddock falou, mais sério – Não foi só pra exibir o Palão que eu te trouxe aqui. Pode ser que a gente precise dar uma garibada no menino em breve, especialmente com toda a companhia que você trouxe. Num Pala normal, alguém ia ficar de fora; num Palão mexido, acho que até dava pra colocar todo mundo dentro, mesmo apertado...

_ É, mas n’O Palão, com esse tanto de lataria que você pôs – Zero sorriu mais abertamente, esfregando as mãos – só o que nós precisamos é de alguns bancos, um bocado de esforço...

_ ... e muita categoria – Maddock estendeu a mão direita para que Zero batesse – Vai ser como nos velhos tempos, né não irmãozinho?

_ Como nos velhos tempos, mano velho! E aí, começamos quando?

_ Assim que o Irmão garantir que essa tua ossada dá conta do recado.

_ Vai se danar, Mad, eu não vou cair aos pedaços por suar um pouquinho, não! É preciso muito mais que um pouco de trabalho pesado pra acabar com o velho Zero!

_ É assim que eu gosto de ver – Mad sorriu – Anda, vamos ver o que o Laírton diz.

De forma discreta e um tanto tímida, Christabel assistira Zero e Maddock trabalhando nos dias seguintes ao longo da semana, por vezes assistidos por Melissa, curiosa por aprender mais. Laírton, que tinha curiosidade na tecnologia antiga, também estivera lá para certificar-se de que Zero não se esforçaria mais do que o sensato. E Christabel por vezes se distraíra olhando para Zero trabalhando, o suor saudável de seu esforço escorrendo enquanto ela percebia a saúde de seu corpo e espírito retornando gradualmente ao fazer a restauração e reforma do veículo de Maddock.

Uma pessoa estranha seu anfitrião, ela pensou, mas indubitavelmente atencioso. E parecia estar se interessando por Beatriz, a Dragonesa Freya, que depois de ceder o suficiente para revelar o verdadeiro nome tornara a assumir uma atitude de desagrado para com o outro. Contudo, Christabel percebia claramente que aquela era uma história que ela já vira acontecer antes, e bem podia antecipar um palpite sobre como terminaria. E sentiu o rosto aquecer-se um pouco e voltou sua atenção para fora do pátio do cemitério e para o horizonte poeirento enquanto se recordava.

Conforme o prometido, depois de ter ouvido a respeito da viagem deles e ainda em sua encarnação de Rei Arthur, Maddock mostrara aos visitantes o seu tão falado Cemitério de Aviões com riqueza de detalhes, como um guia turístico faria numa cidade histórica. Melissa fez inúmeras perguntas, maravilhada com tamanha mostra de tecnologia antiga em seu estado bruto, não manipulado pelos especialistas em restauração. Freya também parecera impressionada, o que despertou a curiosidade de Laírton.

_ Mas, certamente, você já viu algo semelhante ou até superior a isso em seu próprio lar, cara Freya?

_ Superior? – indagou Maddock como se tivesse sido ofendido – Acho improvável, Irmão Religioso.

_ Por favor, não me compreenda mal, Meu Senhor – Laírton pedira fazendo reverência, e Christabel e Sari admiraram-se da seriedade que o Religioso estava dando à sua interpretação – Apenas quis dizer que os recursos tecnológicos da Cidade Avançada decerto já reviveram alguns exemplares destas aeronaves, ou devem estar à beira de fazê-lo.

Novamente, tanto Christabel quanto Sari puderam ler na expressão e nos modos da Dragonesa que aquilo não era necessariamente verdade; antes que Freya pudesse dizer qualquer coisa, no entanto, MadArthur rira com altivez e pouco caso.

_ Não estão nem perto, Irmão Laírton. Quando muito, montaram um carro com asas e acreditaram que velocidade a mais o faria voar. Ah, por favor...

Freya, que desde a demonstração de respeito de Maddock a Seu Dirceu estivera sem sua máscara, olhou para as costas do anfitrião com desagrado e protestou:

_ Se acha tão esperto! Você não sabe nada da Cidade Avançada.

_ E vocês, minha dama, não sabem coisa alguma sobre aeronaves – retorquira Maddock, parecendo finalmente perturbado apesar de manter a postura de realeza. E Christabel ouviu Zero cochichar:

_ Danou. Mexa com o Mad, mas não fale mal do conhecimento dele, ou a coisa fica feia.

_ E por que não interfere? São seus amigos.

_ Por isso mesmo, Christie – Zero murmurara, sorrindo ao olhar para Freya e Maddock, e o silêncio dela bastou. Não entendera a postura dele. Piscando discretamente, ele perguntou:

_ Não parece briga de marido e mulher?

Christabel baixara os olhos, sentindo-se encabulada sem saber porquê e tornando a ouvir com atenção o que Maddock e Freya estavam dizendo.

_ É verdade, admito: nós tivemos alguns acidentes durante experiências. Nada de mais! A história diz que isso era muito comum antigamente!

_ Sim, claro; quando o mundo não tinha a menor noção do que era uma aeronave. Ter todos os dados históricos, ter inúmeras plantas para pesquisar e não atinar com o motivo dos fracassos, entretanto, apenas evidencia quão ignorantes são os seus ditos estudiosos!

_ Ignorantes! Está querendo dizer que sabe algo que todo corpo docente da Cidade Avançada desconhece, ‘Rei Arthur’?

_ Talvez eu esteja, minha dama – ele deteve-se, olhando imperiosamente para ela – E é algo que você poderia aprender também, caso tivesse olhos para enxergar!

_ Enxergar? Do quê está falando?

_ Olhe à sua volta – MadArthur exibiu o cenário ao redor deles com um aceno amplo de mão – Se acredita tanto no seu precioso ‘ensinamento dos cientistas’, diga o que consegue ver aqui que nenhuma das imitações de aeronave produzidas na Avançada jamais teve!

Freya de fato olhara ao redor. Por um momento longo, deu uma volta e olhou para cada peça de tecnologia antiga que sua visão pôde encontrar. E ao encarar Maddock, dissera com desdém:

_ Ferrugem, poeira e teias de aranha. Esqueci alguma coisa?

Maddock obviamente tinha a resposta na ponta da língua, e talvez fosse algo à altura do desdém de Freya, porque Zero finalmente interveio.

_ Opa, parou, olha o nível! Bom lembrar, Milorde, que um rei tem que manter a postura! Deixa essa passar, vai.

MadArthur continuou olhando feio para Freya por um longo momento, antes de dar-lhe as costas e murmurar:

_ Não fosse eu um rei...! Ah, bem. Ao menos agora, sei que espécie de treinamento dão às jovens na Cidade Avançada; não é de se admirar que não saiam do chão.

_ Se tem alguma coisa a dizer...! – Freya começou, e Zero interrompeu a ela:

_ Nah, já deu, Tata. Vai por mim, o cara sabe do que tá falando. Ninguém entende melhor de coisas que voam na terra e no ar do que o Mad.

_ E baseado em quê você diz isso?

_ Bom – ele olhou ao redor e deu de ombros – Quebrados ou não, ele ainda tem muito mais aviões à volta dele do que os gênios da Avançada, isso cê tem que admitir.

Sunday, June 10, 2007

Oi gente saudável! diretamente de casa, ainda convalescendo da gripe da semana passada (quando não é o computador pegando vírus somos nós -_-' Desse jeito não dava nem vontade de entrar na net), saudações do Louco!

Pois é, vamos compensar um pouco da embaçação, terminando este capítulo do Zero com a Christie. Heh, melhor andar logo; a história tá indo pro seu final aqui em casa. Pra vcs... vai demorar mais um tantinho ~_^

Por ora, forte amplexo domingueiro do Louco, e uma semana sem gripe pra todos!

(...)

E Zero contou ao amigo sobre a louca escapada pelo vale, e de terem atraído a atenção das feras e seres míticos que perseguiam Christabel enquanto a própria Rainha permanecia na Cidade Avançada, escondida pelas orações de Laírton e novamente se submetendo aos cuidados do Velho Dirceu, desta vez mais bem sucedido.

_ Acho que posso falar por todo mundo aqui – mostrou os amigos com o caneco erguido – quando digo que espero nunca mais ter que lutar tanto de uma vez só na minha vida. A gente bateu de frente com tudo o que você possa imaginar, Mad, e até algumas coisas que você não tem como imaginar. O plano da Sari funcionou direitinho, os bichos vinham pra cima dela, com o manto da Christie e o Escudo da Li fazendo parecer que ela era Christabel enquanto a verdadeira ficava embaixo da proteção do Laírton. Os doidos da Sucata resolveram sair pra ajudar a gente, apesar de eu ter falado pra aquela mula do Éderson que era assunto nosso...

_ É o que verdadeiros amigos fazem, meu irmão – MadArthur replicou, servindo-se de um gole generoso de seu caneco – Acredito que você não tenha visto qualquer dos seus possíveis desafetos indo em seu auxílio, ou estou enganado?

_ Nah, aí também é querer demais, né Mad?

_ Eles também ficaram em risco, passada a surpresa das criaturas – Sari lembrou – E Zero resolveu que devíamos nos afastar tanto quanto pudéssemos, comprando mais tempo para Seu Dirceu e Christabel. Ele voltou a motocicleta para longe e fugimos com mais velocidade do que eu achava possível...

_ Heh... Minha Unicórnio – Zero sorriu com carinho, erguendo o caneco em saudação à sua moto destruída – Mesmo manobrando, consegui ficar mais rápido do que todos os outros e até achei que dava pra escapar, uma hora. Se a gente tivesse conseguido chegar nas Minas Antigas...! Faltou muito pouco, Mad.

_ Mas fomos interceptados por Sáurio, que cortou nossa fuga – Sari remexeu no que estava bebendo – E não tivemos como continuar fugindo quando os Nove Arcanos chegaram, liderados por Ahl-Tur.

_ Nove deles? – mesmo Christabel voltou-se para Zero e Sari, admirada. Pudera sentir a presença de outros que deveriam ter acompanhado o Mestre dos Arcanos quando fora ao socorro de Zero e Sari, mas não havia como imaginar quantos deles houvera. E Zero acenou que sim.

_ Deviam estar preparados pra te enfrentar, Christie, com ou sem tiara. Meu pai tinha se preparado pra eles, também – puxou uma das balas revestidas com jóias Dragão de Fogo e a exibiu – Munição especial. Ele tava apostando que isso podia até com os Arcanos e, só pra variar, acertou na mosca.

_ ... Mas não foi com isso que os derrotou – Christabel olhou para Zero inquisitivamente, e Sari respondeu:

_ Eu não entendi quando Zero os viu chegando e disse que precisávamos alcançar sua moto caída; não teríamos como fugir deles. E ele a explodiu com tiros depois de abater dois Arcanos com essas balas especiais; os estilhaços da explosão abateram outros quatro e também fizeram o deserto desabar.

_ Não conseguimos alcançar a entrada das Minas Antigas, mas já tínhamos chegado sobre um dos túneis delas – Zero bebeu – Eu não tava esperando que o chão fosse ceder com a gente em cima, sério mesmo. Achei que ia ficar por conta da Sari, não tava pondo muita fé de que eu ia... bom, vocês sabem.

E deu de ombros. Não era preciso explicar tanto.

_ Ao invés, o mundo embaixo de nós despencou e aí sim eu falei ‘Danou. Pelo menos levei esses lazarentos junto’. E não vi mais nada.

_ Apesar do desabamento, eu podia perceber claramente os Arcanos sobreviventes – Sari murmurou, a voz baixa e preocupada relembrando o momento – Também podia sentir a força da vida de Zero diminuindo, e sabia que tinha que me apressar. Fui capaz de pegar um dos sobreviventes de surpresa, mas fui forçada a confrontar os outros dois e, confesso, estava começando a temer não conseguir alcançar Zero a tempo. Foi então que Christabel apareceu, acompanhada pelos Sete Dragões.

_ É onde você entra nessa história, eu presumo, Lady Tata? – Mad voltou-se para Freya com o mesmo ar solene, embora o uso continuado do apelido não tenha passado despercebido.

_ Eu já disse a você...!

_ Ô Mad! – Zero entrou na discussão e quase convencia com seu ar vazio e aborrecido – Se quer ouvir a história direito, vê se pára de provocar a Tata, só um pouquinho? Vai demorar pra caramba desse jeito! Então, de quem é a vez?

_ Acho que posso prosseguir, Zero – Laírton continuou, sorrindo – Ahl-Tur levou sua companheira e desapareceu, e pudemos levar Zero para ser tratado propriamente na Cidade Sucata, mas apenas depois de tê-lo recuperado da inconsciência.

_ ... O mérito foi de Christabel, até onde entendo – Freya comentou, olhando para a Rainha sentada ao lado de Zero – Irmão Laírton e Sari o estavam curando, mas ele não reagia. Não entendo bem como foi, mas parece... que ele esteve à beira da morte.

Christabel olhou ao redor, surpresa, e corou e baixou os olhos quando deparou com o sorriso carinhoso de Zero ao seu lado. Sari desviou o rosto e Melissa, aparentemente alheia ao que estava acontecendo, prosseguiu:

_ Eu fiquei muito assustada quando o Laírton falou dos ossos quebrados do Zero, e que mesmo depois de curar ele ainda podia ter que ficar imóvel por alguns dias. Mas o Seu Dirceu falou que tinha outro jeito, e levou todo mundo pra dentro de casa. Depois é que eu fui entender porque.

_ Meus exoesqueletos – Maddock murmurou, e Zero retomou a narrativa.

_ A idéia do meu pai, acho, era despachar a gente pelo Velocípede e depois liberar a Tata com uma história qualquer; cê sabe, a gente não deixa ninguém saber dos trilhos.

“Provavelmente ele ia convencer os vigias da noite a jurarem que tinham visto nossa turma sair da Sucata de madrugada; a gente faz isso o tempo todo, ninguém ia estranhar. Só que o tal do Caradura pelo jeito não ficou machucado com a explosão da Unicórnio; ele atacou enquanto o Velho Dirceu tava preparando os tubos de propelente pra a gente chegar aqui. Eu ainda quis atirar; tinha munição na Marcadora. Mesmo com os braços fracos, eu tenho certeza que ia conseguir atirar nele, Mad. Mas... daí, eu vi meu pai, ele... ia quebrar a válvula, ia jogar a gente direto nos túneis e não ia subir, não ia vir junto, e eu... a única coisa que eu podia fazer era atirar, mas...”

Christabel pôs a mão gentilmente sobre os lábios de Zero, fazendo-o silenciar. Maddock sem dúvida era capaz de deduzir o restante sozinho. Daniel abraçou Melissa, que estava chorando baixinho, e todos estavam olhando para Zero, subitamente sentindo a garganta presa e sem conseguir continuar. E então, ouviram a voz de Maddock cantando baixo e com voz clara:

Uma canção pra lembrar

Uma canção pra esquecer.

Você nunca vai saber o quanto eu tentei

Te deixar orgulhoso e honrar o seu nome,

Mas você nunca me disse adeus.

Eles se voltaram. Maddock estava de cabeça baixa, mãos unidas sobre os joelhos e cantando de olhos fechados. Zero olhou para ele como se reconhecesse a canção, e seus olhos ficaram marejados enquanto ele também cantou, embora com a voz rouca:

Agora que você se foi, lançando sombras do passado,

Você e todas as lembranças vão restar.

Maddock ergueu os olhos e sorriu carinhosamente para o amigo, acenando que sim com a cabeça e concluindo:

Não chore, ou sofra por mim.

Estarei esperando por você.

Não chore.

Anjos nunca desaparecem.

Vou tomar conta de você.

Te vejo depois.*

Mais de um dos companheiros também ficou comovido ao ver Zero chorando, a cabeça no ombro de Christabel, que afagava seus cabelos. Freya, no entanto, voltou-se para Maddock, e seu sorriso era evidente embora também estivesse chorando. Notando a atenção da Dragonesa, ele deu de ombros.

_ Seu Dirceu cantou essa música inteira para mim quando meu pai morreu – Maddock disse, sorrindo tristemente com os olhos úmidos – Só achei que era a hora de devolver. Você... conhecia bem o Velho Dirceu... Freya?

O sorriso dela ficou mais evidente. Leviano, incômodo, grosseiro como fosse... Hermes Maddock sabia respeitar um momento sério. Ela ergueu seu visor e retirou o capacete, soltando os longos cabelos cacheados e ganhando um olhar admirado dele.

_ Você... pode me chamar de Beatriz.

*(Don’t You Cry – Kamelot)